Thaisa MCS

 

O NĀṭYAŚĀSTRA: UM PROJETO UNIVERSITÁRIO DE TRADUÇÃO PARA A LÍNGUA PORTUGUESA

 

O projeto

 

Tudo começou com um sonho.

 

Em 2016, tive o meu primeiro contato com as danças clássicas indianas. Em uma confraternização assisti uma dançarina de Odissi performando uma linda peça e fui completamente absorvida por aquela performance. Alguns dias depois procurei uma professora e comecei a estudar. Tudo era corporalmente tão desafiador, uma movimentação de muito controle muscular e graciosidade ao mesmo tempo.  Em uma das aulas, a professora comentou sobre a existência do Nāṭyaśāstra, um texto muito antigo que era o codex das artes performáticas indianas. Quanto mais eu aprendia sobre o Nāṭyaśāstra, mais queria saber sobre ele. Descobri que haviam algumas traduções para o inglês, o que facilitava o acesso, mas não o suficiente para que todos os meus colegas pudessem ler. Foi nesse momento que descobri meu propósito, queria viabilizar uma tradução para o português do Brasil para que mais pessoas tivessem acesso aquele material. Mas como concretizar? Indubitavelmente eu precisaria de ajuda. Sem muita esperança, entrei em um grupo de facebook da Faculdade de Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro e postei que estava em busca de algum professor que trabalhasse com tradução. Para minha surpresa, a Dra Janine Pimentel, PhD em Estudos da Tradução, respondeu e me convidou para uma conversa. E assim, o sonho começou a sair do papel.

 

O projeto iniciou em 2017, com uma equipe de nove colaboradores sendo, sete alunos da Faculdade de Letras [UFRJ] colaboradores, uma aluna da Faculdade de Dança [UFRJ] e uma professora [UFRJ]. Como aponta Pimentel [2020], o projeto não teve um perfil apenas de tradução, mas também de didática da tradução e de pesquisa acadêmica. O processo de tradução durou três anos e, durante todo esse período, fomos contemplados com bolsas de estudos, financiados pela Universidade Federal do Rio de Janeiro através de programas como PIBIC e PIBIAC, o que evidencia a relevância do projeto.

 

Com o material totalmente traduzido no início de 2020, as coordenadoras Dr Janine Pimentel e Thaisa MCS passaram a trabalhar no processo de revisão da obra. Trabalho que foi finalizado em 2021. No mesmo ano, entramos em contato com as filhas de Adya Rangacharya, tradutor da obra escolhida para tradução,  Usha Desai and Shashi Deshpande que gentilmente nos cederam os direitos para a publicação da tradução do trabalho da vida de seu pai.  A obra foi lançada em 2022, em evento organizado em parceria com o CEA-UFF, no formato e-book e encontra-se disponível na Amazon.

Fig.1 Evento de lançamento da obra produzido pelo CEA-UFF em 2022. Fonte: CEA-UFF

 

A Tradução

 

O Nāṭyaśāstra trata-se de um dos principais codex das artes performáticas indianas. Datado entre os séculos II A.E.C. e II E.C., sua autoria é dada ao deus Brahma e trazida à humanidade pelo sábio Bharata. A obra compila os ensinamentos a respeito de dança, drama e música e ele é reconhecido como um dos Śilpa Śāstra - obras relevantes para as artes e ofícios, especialmente arquitetura e produção de esculturas [Santos, 2021].

 

 Para nossa tradução, utilizamos o método de tradução indireta, uma vez que utilizamos como fonte do trabalho um texto que já era uma tradução para o inglês e não do sânscrito diretamente, como explica Pimentel [2020]

 

“O tipo de tradução que pretendemos preparar durante o projeto que apresentamos aqui é uma tradução indireta, pois não traduzimos a partir do texto fonte, escrito em sânscrito, mas sim a partir de uma das várias traduções que foram feitas para o inglês. De forma muito simplista, uma tradução indireta pode ser definida como uma tradução de uma tradução já existente [Gambier 1994]. Nas últimas décadas, com a consolidação da disciplina dos Estudos de Tradução e do programa de pesquisa conhecido como Estudos Descritivos da Tradução [Toury 1995], as traduções indiretas começaram a ser estudadas de forma sistemática por pesquisadores e estudiosos”  [PIMENTEL, 2020, p.87].

 

Mas isso afeta o conteúdo da obra? Certamente sim, pois todo processo de tradução acarreta em um pequeno percentual de perda ou de mudança no sentido da obra. Uma tradução indireta pode significar uma perda maior, uma vez que ela passa por um “filtro” anterior que é o primeiro tradutor. Mas um texto tão antigo como o Nāṭyaśāstra e que, como aponta Kavi [1956], passou por tantos processos de reconstrução e revisão para ser compilado nos 36 capítulos que temos hoje, podemos alegar que há uma única fonte real e verdadeira? Acreditamos que, para um primeiro passo em direção a uma tradução latino-americana da obra, desenvolvemos um trabalho que pode auxiliar pesquisadores e praticantes das artes performáticas indianas, falantes da língua portuguesa, a se aproximarem da obra de maneira crítica, abrindo novas questões investigativas.

 

A primeira etapa do projeto foi definir qual obra seria trabalhada, coube a Dra Janine Pimentel essa investigação detalhada das possibilidades existentes e a escolha da que seria mais viável e completa para nosso propósito. Assim, a obra de Rangacharya [1984] foi escolhida, tanto pelo fato do extenso trabalho de estudo do autor, quanto pelas contribuições nos comentários realizados pelo mesmo. Pimentel [2020] explica:

 

“Adya Rangacharya foi ator e professor de sânscrito e de cultura hindu antiga. Escreveu várias obras sobre teatro, entre as quais está a obra Introduction to Bharata’s Natya Shastra, publicada em 1966, que demonstra uma pesquisa aprofundada sobre o Natya Shastra. Entre outros assuntos, o autor chama a atenção para a falta de pesquisa sobre o Natya Shastra, explicando que, depois da independência da Índia, em 1947, não houve nenhum interesse acadêmico pela obra. Na sua tradução publicada em 1984, Rangacharya assina um prefácio e uma introdução intitulada “About the Nāṭyaśāstra”, nas quais explica em que edições se baseou para preparar a tradução e comenta algumas decisões que tomou enquanto tradutor” [PIMENTEL, 2020, p.91]

 

 

Em sua introdução, Rangacharya [1984] explica que a tradução palavra por palavra da compilação dos manuscritos do Nāṭyaśāstra resultaria em uma obra repetitiva, incoerente, e contraditória em muitos momentos. Assim, ele decidiu consultar os principais trabalhos publicados até então e construir uma versão que buscasse trazer os sentidos dos tópicos abordados por Bharata muni. Rangacharya [1984] trabalhou com diversas traduções, mas sua princial fonte foi trabalho a de Ghosh [1951, 1956], especialmente em relação aos comentários e comparações feitas ao longo de toda obra.

 

Observando os capítulos relativo a prática da dança, IV e VIII ao XIII, observamos que Rangacharya decidiu por somente comentar a existência dos Nrtya Hastas, gestos de mão específicos de dança, mas não os trouxe detalhados como seria esperado pelos interessados nas questões do movimento, assim, incluímos na tradução indicações que possam ajudar o pesquisador deste tópico a ir em busca da informação. Essas escolhas de Rangacharya são documentadas por ele, seja no texto ou nos comentários, o que auxilia o pesquisador a continuar buscando em outras fontes.

 

Outro ponto que gostaríamos de destacar no trabalho de Rangacharya é sua construção em prosa e não em ślokas [versos] da obra. Compreendemos que acadêmicos especialistas no Nāṭyaśāstra podem encarar com desconfiança e de maneira negativa tal mudança, mas acreditamos que este tipo de construção auxilia o interlocutor menos acostumado a lidar com a estrutura poética. É importante ressaltar que nosso público alvo não é constituído apenas por pesquisadores acadêmicos, mas sim praticantes das artes performáticas. Não somente a língua mas a estrutura da escrita pode auxiliar na aproximação da obra com o público alvo.

 

A segunda etapa do projeto consistiu na divisão do material para tradução entre os alunos do projeto. É nesse sentido que o projeto adquiriu um perfil de didática da tradução, uma vez que foram os alunos da Faculdade de Letras [UFRJ], sob orientação da Dr Janine Pimentel, que realizaram a tradução de toda a obra. Durante os três anos de projeto, os alunos receberam partes do texto em que ficaram responsáveis por realizar a tradução e compartilhar com a Dra Janine Pimentel. Mensalmente, o grupo se encontrava na Faculdade de Letras [UFRJ] para ler o material coletivamente e discutir as traduções. Esse processo deu a oportunidade para que os alunos desenvolvessem as habilidades técnicas de tradução. O trabalho foi percebido como tão positivo pelos alunos envolvidos que, ao longo de todo o processo, apenas um voluntário precisou se desligar do projeto.

 

Fig.2 Equipe de tradutores durante Semana de Integração Acadêmica em 2018. Da esq. para dir.: Vinicius Amado, Erik Silva, Felipe Vannucci, Luiza Longa, Janine Pimentel, Leticia Sousa, Pérola Pedro, Christian Ignácio e Thaisa MCS. Fonte: foto da autora

 

Além disso, em 2018 os alunos apresentaram trabalhos na Semana de Integração Acadêmica, evento acadêmico organizado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, onde os alunos falaram sobre seus trabalhos para uma banca aleatória formada por professores da instituição. O projeto de tradução foi contemplado com Menção Honrosa pela excelente qualidade do trabalho. Também tivemos alunos que utilizaram a experiência no projeto como tema para o trabalho de conclusão de curso da graduação. Pimentel [2020] explica sobre a proposta de abordagem pedagógica.

 

“Muito resumidamente, a aplicação dessa abordagem pedagógica pressupõe uma dinâmica em que os alunos aprendem a traduzir no contexto de um projeto real que é orientado ou liderado por um professor. É fundamental, aqui, que o professor comente as decisões tomadas pela equipa, traga a relação entre a teoria e a prática, e avalie o desempenho de cada membro da equipa com base na evolução da prática da tradução. O que esse modelo tem de verdadeiramente especial é que ele assenta em visão de ensino que procura buscar uma relação prática e imediata entre o aprender e o fazer. No caso do projeto pedagógico aqui descrito, essa visão de ensino é colocada em prática pela oportunidade que os alunos têm de fazer uma tradução autêntica e real” [PIMENTEL, 2020, p.98].

 

A terceira etapa constituiu na revisão do material completo, realizado pelas organizadoras Dr Janine Pimentel e Thaisa MCS. Nessa fase, foram observados, capítulo a capítulo, se havia algo que poderia ser melhorado semanticamente, principalmente para dar maior dinâmica à leitura, também as questões voltadas à grafia das palavras em sânscrito e a correção de gênero dessas palavras. Devido à situação pandêmica do COVID-19 foi necessário adaptar o cronograma desta fase, que terminou em junho de 2021.  Este material foi enviado para a editora que realizou uma terceira revisão do material completo. Entendemos que esse processo de revisão por muitas pessoas, auxilia na qualidade do material final.  

 

A quarta etapa, foi o processo de elaboração da capa e diagramação do material finalizado. Para a realização da capa, uma artista plástica e uma designer gráfica, que praticam danças clássicas indianas, foram convidadas para desenhar o material. A proposta foi que a capa refletisse artisticamente, a prática da dança indiana. Para a publicação da obra, fomos contemplados com um financiamento do programa de pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Rio de Janeiro para a realização do E-book, publicado em 2022. Para a impressão física, ainda estamos em busca de parcerias.

 

Desafios

 

Em relação aos desafios enfrentados ao longo do processo de tradução destacamos as questões de gênero das palavras como um dos que mais precisaram de atenção e revisão pois, assim como o sânscrito e diferente do inglês, a língua portuguesa tem regras muito específicas em relação ao gêneros femininos, masculinos ou neutro das palavras.  Como partimos do inglês, tivemos que realizar muitas pesquisas no sânscrito para conseguir relacionar corretamente. Como exemplo, em portugues do Brasil palavras terminadas com ‘a’ costumam ser do gênero feminino, o que no inglês tem uma característica neutra com o ‘the’ e no sânscrito a transliteração do ‘a’ curto indica justamente um gênero masculino, então Karaṇa, Rasa, Bhāva, Śiva, Śāstra e etc seriam traduzidos como palavras femininas, o que sabemos que não são. Para tal.

 

Outro desafio foram as diferenças culturais entre o Brasil e a Índia, desde questões simples como, por exemplo,  não saber o que é Ghee, até questões mais complexas como, por exemplo, a escolha de  manter ou não os nomes das regiões descritas no capítulo XX em sânscrito ou tentar traduzir para o português. Nesse sentido, optamos por realizar uma tradução estrangeirizadora, assim como feita por Rangacharya, onde não se traduz os nomes e certas palavras chaves são mantidas no idioma de origem como explica Pimentel [2020].

 

“Os conceitos de Venuti [1995] sobre tradução domesticadora [domesticating translation, tradução que procura ser lida como se fosse um original] e tradução estrangeirizadora [foreignizing translation, tradução que mostra os elementos estrangeiros e estranhos da cultura fonte], bem como os conceitos de tradução explícita [overt translation, tradução que não esconde que é tradução] e tradução velada [covert translation, tradução que cria a ilusão no leitor de ler um original] de Juliane House [2010], entre outros, têm úteis na tomada de decisões ao longo do processo de tradução. De um modo geral, temos seguido uma abordagem que se aproxima mais com o conceito de tradução estrangeirizadora e de tradução explícita, pois temos mantido os termos em sânscrito, as notas de tradução e outros elementos que não escondem que o texto que estamos produzindo é uma tradução. Acreditamos que um público acadêmico e especialista das artes performáticas e da dança se interessará por esses elementos em sânscrito, notas de tradução, entre outros, e que terão plena consciência de que o texto que lerão é uma tradução. Um público-alvo com esse perfil terá, certamente, interesse em contatar diretamente com o Outro, com a diferença, com os elementos estrangeiros presentes em Natya Shastra” [PIMENTEL, 2020, p.95].

           

Por último, gostaríamos de apontar os desafios referente ao financiamento para a publicação da obra. Nós acreditamos que a publicação do material traduzido, tanto no formato de e-book quanto impresso, é fundamental para que o maior número de pessoas tenha acesso ao trabalho. Durante esses quatro anos de projeto tentamos financiamentos públicos através de editais, que fomos contemplados tanto com bolsas acadêmicas quanto para a publicação do e-book, e privadas, onde ainda não tivemos sucesso. A situação pandêmica do COVID-19 agravou, ainda mais, a dificuldade nos investimentos em produções tão específicas como o Nāṭyaśāstra. De qualquer forma, é necessário destacar que continuaremos em busca de investimentos para a publicação do material impresso. Nosso objetivo é disponibilizar cópias impressas nas bibliotecas das universidades públicas brasileiras para facilitar o acesso de pesquisadores ao material.         

 

A dança indiana na cena brasileira

 

Os estudos e práticas de danças clássicas indianas no Brasil vem crescendo desde a década de 90, quando artistas da dança foram estudar na Índia com renomados professores. Aos poucos, esses artistas retornaram ao Brasil e começaram a disseminar o conhecimento adquirido. Atualmente, encontramos artistas brasileiros de reconhecimento internacional que administram escolas de dança como, por exemplo, Silvana Duarte, que dirige a Padmaa, e  oferece um curso de capacitação em Odissi e Susane Travassos, que dirige a Casa Azul, com aulas regulares de Kathak, Bharatanatyam.

 

Outro importante movimento foi a inclusão de pesquisadores nas universidade públicas investigando as danças indianas, destacamos a carreira da prof.a Dra Marília Vieira Soares na Universidade Estadual de Campinas [UNICAMP] onde produziu e orientou diversos trabalhos acadêmicos de mestrado e doutorado especificamente de pesquisas voltadas às artes performáticas indianas.

 

Destacamos também a criação em 2020 do Fórum a Dança Indiana no Brasil, coordenado pelas dançarinas e pesquisadoras Irani Cippiciani, Cassiana Rodrigues, Krishna Sharana e Miriam Lamas Baiak. Onde uma rede de artistas, pesquisadores e interessados em saber mais sobre as danças indianas no Brasil se reúnem para debater assuntos importantes para a cena brasileira. Assim, a tradução do Nāṭyaśāstra para a língua portuguesa do Brasil, chega em um momento oportuno para agregar e fortalecer as muitas reflexões que estão sendo proporcionadas por tais iniciativas.

           

A importância do estudo do Nāṭyaśāstra para o Brasil

 

Compreendemos que o estudo do Nāṭyaśāstra, associado à prática da dança indiana,  nos dá a oportunidade de rever os muitos discursos orientalistas que foram construídos ao longo do período colonial. A obra nos auxilia a repensar as complexas relações artísticas, filosóficas, estéticas, políticas e religiosas partindo de uma perspectiva indiana própria. Como Said [1978] nos explica, esses discursos orientalistas são uma construção de alteridade para fins de manipulação e colonização ocidental. Remover o véu orientalista é questionar os muitos  discursos sobre a Índia exótica, mágica, resiliente, sagrada, dos muitos deuses e deusas, e etc. Para isso acreditamos que seja necessário, cada vez mais, nos voltarmos para as produções Indianas na busca por diferentes epistemologias.

 

Defendemos que o Brasil, país que foi colonizado e sofreu os horrores deste processo assim com a Índia, tem muito a trocar e agregar nessa parceria com cultura Indiana. Os movimentos decoloniais que surgem na américa-latina através de pensadores como Aníbal Quijano [2000], Walter Mignolo [2008, 2018] e outros, nos ajudam a refletir a importância de se criticar as epistemologias, ontologias e hermenêuticas  eurocêntricas, com o objetivo de libertar os diversos campos do conhecimento.

 

A tradução do Nāṭyaśāstra para a língua portuguesa do Brasil tem um papel de democratização ao acesso à obra, e propõe um diálogo intercultural que viabiliza uma sensibilização e  compreensão dos códigos culturais do povo indiano, o que nos ajuda a superar abismos e estabelecer relações. Também nos permite refletir sobre questões de alteridade e identidade uma vez que, ao compreender e respeitar o outro, passamos a compreender e respeitar a nós mesmos.

 

Conclusão

 

Concluímos nosso paper agradecendo a oportunidade de compartilhar o progresso do projeto de tradução do Nāṭyaśāstra. Foram cinco anos de muito aprendizado, descobertas e nos sentimos honrados em conseguir agregar, de alguma forma, na expansão dos conhecimentos deixados por Bharata muni. Agradecemos também a Universidade Federal do Rio de Janeiro que tem proporcionado que esse sonho se torne realidade e a todos os alunos e parceiros envolvidos no projeto.

 

Por fim, acreditamos que o estudo crítico e aprofundado do Nāṭyaśāstra pode agregar na revisão dos muitos discursos que foram impostos sobre ele. Tal como, de forma muito direta e prática, nos apresenta que tradição não é um sinônimo de enrijecimento ou congelamento no tempo e espaço. Também nos mostra uma diferente perspectiva de análise do corpo em movimento, bem como uma complexa teoria estética, e nos evidencia o importante papel das artes no mundo, algo que parece ter sido esquecido nos dias de hoje.

 

Referências

Thaisa MCS Dt. Universidade Federal do Rio de Janeiro/University of Delhi


GHOSH, M. The Nāṭyaśāstra: A Treatise on Hindu Dramaturgy and Histrionics Ascribed to Bharata-Muni Vol. i. Calcutta: Asiatic Society of Bengal, 1951.

GHOSH, M. The Nāṭyaśāstra: A Treatise on Hindu Dramaturgy and Histrionics Ascribed to Bharata-Muni Vol. ii. Calcutta: Asiatic Society of Bengal, 1956. 

MIGNOLO, Walter.. Desobediência epistêmica: a opção descolonial e o significado de identidade em política. Cadernos de Letras da UFF, 34:1, 2008, p. 287-324.

MIGNOLO, Walter D.; WALSH, Catherine E. On decoloniality: Concepts, analytics, praxis. Durham: Duke University Press, 2018.

PIMENTEL, Janine. Natya Shastra: um projeto de tradução. In: La traducción literaria en el contexto de las lenguas ibéricas. Wydawnictwa Uniwersytetu Warszawskiego, 2020. p. 85-101.

RANGACHARYA, Adya, The Nāṭyaśāstra. New Delhi: Munshiram Manoharlar Publishers, 1984.

SAID, E.. Orientalism: Western concepts of the Orient. New York: Pantheon, 1978

SANTOS, Thaisa M. C. “Representações dos 108 Karaṇas: Construção de discursos do passado indiano a partir do corpo, da dança e da materialidade” dissertação de mestrado., Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2021.

 

2 comentários:

  1. Primeiramente, parabéns pelo trabalho! Gostaria de saber se na escolha da versão utilizada para a tradução foi encontrado mais desvantagens em relação a outras além de não ter a descrição das hastas mudras em detalhe? Se sim, quais seriam?

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  2. Oi Miriam! Obrigada pela pergunta!
    Sim, o fato da tradução estar em prosa e não em verso já é uma perda significativa no quesito do conteúdo da obra. Rangacharya fez escolhas no que se refere a redução de repetições ao longo da obra que, para pesquisadores, trata-se de um problema. Se olharmos a tradução de Ghosh (que seguem os slokas), são dois livros enormes! Mas Rangacharya faz correções muito pertinentes também. Assim, eu advogo o uso de mais de uma tradução sempre que formos trabalhar de forma mais profunda. De qualquer forma, acredito que esse é um primeiro passo para nós, falantes da língua portuguesa.

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