Maurício Luiz Borges Ramos Dias

 

O ACORDO DAS MULHERES DE CONFORTO DE 2015 ENTRE COREIA DO SUL E JAPÃO: UMA TRAJETÓRIA DE INSUFICIÊNCIAS E RUPTURAS

 

INTRODUÇÃO

Ao longo da colonização da Coreia pelo Império do Japão, entre 1910 e 1945, em diferentes conjunturas históricas deste período, a população sofreu com tentativas de assimilação cultural, cerceamento da liberdade de imprensa, alastramento da fome, obrigatoriedade de utilização de nomes japoneses, trabalhos forçados em fábricas, bem como outras atividades de dominação e violência (Dias, 2022; Cumings, 2005; Caprio, 2009). Dentre elas, destaca-se a aplicação do abominável “sistema de conforto”, entre 1932 a 1945, no qual, nos diversos territórios asiáticos ocupados, o império japonês promoveu a escravização sexual militar de cerca de 200.000 jovens e mulheres, sendo estimado que 80% eram de origem coreana (Norma, 2016; Min, 2003).

Comumente, as vítimas desse sistema brutal são chamadas, eufemisticamente, de “mulheres de conforto”. No entanto, neste trabalho, em respeito à forma como a população sul-coreana, carinhosa e respeitosamente, as denomina, me referenciarei a esse termo como Halmoni – “Avó”, em coreano – no singular e Halmonis quando no plural.

Apesar dessa violência ter ocorrido durante a colonização, somente em 1991, em meio à democratização da Coreia do Sul e de maiores debates sobre a escravização sexual militar, a Halmoni Kim Hak-sun foi a responsável por quebrar um ciclo de silenciamento estrutural, fortalecido tanto pela vergonha e estigmatização das mulheres vitimadas quanto pela memória traumática, ao expor nacionalmente na televisão as suas vivências dolorosas perpetradas pelos soldados japoneses. A partir de Kim Hak-sun, outras Halmonis, doméstica e internacionalmente, relataram sobre suas experiências, fortalecendo o chamado por justiça de frente ao Japão. Além disso, na Coreia do Sul, em 1992, iniciaram-se as Demonstrações de Quarta-feira, em que, toda semana, manifestações em frente à Embaixada do Japão em Seul são realizadas até hoje, exigindo, por exemplo, pedidos de desculpas, reparações às mulheres vitimadas, o reconhecimento da escravização sexual militar como um crime de guerra e a memorialização dos atos perpetrados para que nunca mais se repitam na história.  

Em um tema riquíssimo em detalhes e que permeia a contemporaneidade, é interessante refletirmos pontos, tais como, de qual forma corpos idosos possuem agência política e podem liderar processos de reparação? Como a colonização japonesa afeta a relação do Japão com a Coreia do Sul e também com outras nações? De que maneira é possível estabelecer uma reconciliação bilateral sólida quando parte das vítimas, com o passar do tempo, não se encontram mais em vida? Como a diplomacia pode dialogar com as bibliografias sobre política das emoções em temáticas permeadas pelo ressentimento e luto? Enfim, pontos para debate e futuras pesquisas não faltam. Para esse curto trabalho, buscarei responder o seguinte questionamento: como o chamado Acordo das Mulheres de Conforto de 2015 foi alcançado e quais são as suas limitações na solução do caso das Halmonis?

A INTENSIFICAÇÃO DO DEBATE SOBRE AS HALMONIS A PARTIR DE 2011

Ainda que essa questão continuasse permeando a relação bilateral nipo-sul-coreana em diferentes intensidades, somente em 2011 que se fortaleceu uma nova guinada por exigências por reparações às senhoras vitimadas pela escravização sexual militar perpetrada pelo Império do Japão. Afinal, no dia 30 de agosto daquele ano, a Corte Constitucional da Coreia do Sul determinou: 1) a inadequação da sessão 1 do artigo 2º do Acordo sobre a resolução de problemas relativos à propriedade e reivindicações e em cooperação econômica, que sem um debate sobre o passado colonial, determinou que os nacionais de ambas as partes tinham suas reivindicações solucionadas completamente no momento de sua assinatura em 1965; 2) e que a inação do governo sul-coreano em requerer, com sucesso, compensações japonesas aos danos causados às Halmonis poderia se configurar como um ato inconstitucional (Coreia do Sul, 2011). 

Dentre os desdobramentos dessa decisão, ressaltam-se os protestos realizados na milésima semana da Demonstração de Quarta-feira, no dia 14 de dezembro de 2011, no qual uma estátua de bronze imponente, representando uma menina vitimada pela escravização sexual militar nipônica, foi posicionada em frente à embaixada do Japão em Seul. Como Dwyer e Alderman (2008) ressaltam, em uma intersecção mutuamente constitutiva entre memória e paisagem, o passado pode ser materializado em determinados espaços e implicar no direcionamento de construção de futuros alternativos, mediante memoriais, performances e o ato de dar voz a quem ou a assuntos que foram silenciados no passado. 

Nessa perspectiva, essa estátua, em sua simbologia e materialidade itinerante entre o passado, o presente e o futuro, substancializou, diariamente, um olhar reivindicador ao Japão (Ching, 2019) e convidou o público geral a relembrar e, ao mesmo tempo, a jamais esquecer as violências perpetradas a essas garotas e mulheres, bem como trouxe à tona o papel da sociedade em refletir sobre formas de continuar os legados das Halmonis para as próximas gerações (Son, 2018).

Já no âmbito estatal, o presidente em exercício, Lee Myung-bak (2008-2013), abarcou o debate sobre o passado colonial em sua política externa, inclusive como maneira de instrumentalizar o nacionalismo sul-coreano a favor de sua gestão que sofreu instabilidades diante de crises, tais como, por exemplo, casos de corrupção. Dessa forma, em sua investida, em 2012, Lee visitou as ilhas Dokdo/Takeshima, cuja soberanias são contestadas bilateralmente, e declarou que o imperador japonês não seria bem-vindo à Coreia do Sul enquanto não se desculpasse às Halmonis (Tatsumi, 2020), alimentando ressentimentos e distanciamentos bilaterais, como foi possível verificar na impossibilidade de avanços nas negociações do Acordo Geral de Segurança de Informações Militares com o Japão.  

O CAMINHO PARA O ACORDO DAS MULHERES DE CONFORTO

Manter um olhar nas relações exteriores entre Seul e Tóquio se torna necessário, pois, anos mais tarde, em 2015, elas contribuíram para o falido Acordo das Mulheres de Conforto. Nesse sentido, continuando a discussão, destaca-se que o impasse bilateral com raízes coloniais também foi aguçado pela presidente Park Geun-hye (2013-2017), desde o período das eleições presidenciais até parte de sua gestão na Coreia do Sul. Afinal, a mídia sul-coreana considerava o governo do primeiro-ministro japonês Shinzō Abe (2007-2008/2012-2020) como ultraconservador (Nishino, 2014) e Park acompanhava as suas medidas políticas com atenção, devido ao receio de uma possível reencarnação do ultranacionalismo do Japão (Sohn, 2019), em meio a um governo nipônico empenhado, inclusive, em impulsionar suas capacidades militares (Dias; Carletti, 2020). Por intermédio das contribuições acadêmicas da pesquisadora Minseon Ku (2016), compreende-se esse cenário como o Japão evocando na identidade sul-coreana uma noção de insegurança ontológica, na qual disputas contemporâneas permeadas pela colonização japonesa e o período pré-colonial, por vezes, têm a capacidade de definir a identidade nipônica como militarista, agressiva e, ou, imperialista.

Nesse encaminhamento, o posicionamento de Park Geun-hye foi de que a identidade sul-coreana aplicada em sua política externa teria o anticolonialismo frente ao Japão como um pilar, determinando que as relações bilaterais não seriam desenvolvidas sem o reconhecimento japonês dos efeitos do passado colonial (Snyder, 2016). De outro lado, Shinzō Abe trabalhou para tentar renovar a identidade nacional do Japão em direção a uma suposta recuperação da dignidade da história japonesa, que estaria manchada pelos reconhecimentos prévios e julgamentos, tais como o Tribunal de Tóquio (1946-1948), relacionados ao passado imperialista do país (Shibata, 2018). Em um movimento revisionista e, portanto, de redefinição da memória oficial da Terra do Sol Nascente, entre 2013 e 2014, Abe e Suga Yoshihide, que se tornaria primeiro-ministro em 2020, inclusive, justificaram a necessidade de estudos serem levados a cabo para corroborar se, de fato, os testemunhos das ex-mulheres de conforto eram verídicos, contestando, assim, a legitimidade da Declaração Kōno de 1993, que reconheceu a participação militar no sistema de escravização sexual militar e na qual o Estado japonês se desculpou às mulheres vitimadas por suas ações.

Consequentemente, afastamentos entre Coreia do Sul e Japão foram propiciados, sendo exemplificados pela falta de avanços significativos em cooperações desde bilaterais a regionais e pela inexistência de encontros oficiais entre Park e Abe até novembro de 2015. Essa conjuntura se transformou mediante a atuação de Barack Obama (2008-2017), presidente dos Estados Unidos, que, preocupado em como essa fricção interferiria em seus interesses na Ásia e possibilitaria o fortalecimento chinês, pressionou os seus dois aliados asiáticos a superarem suas controvérsias históricas.

A partir disso, no dia 28 de dezembro de 2015, Seul e Tóquio celebraram o Acordo das Mulheres de Conforto, no qual: 1) Fumio Kishida, ministro das Relações Exteriores na época, realizou um pedido de desculpas, em nome do primeiro-ministro, direcionado às vítimas, levando em consideração suas imensuráveis e incuráveis feridas psicológicas e físicas perpetradas pelo Império do Japão; 2) mais uma vez, foi reconhecida a participação do exército imperial nas atividades sexuais compulsórias; 3) relatou-se que o Estado japonês financiaria a criação de uma fundação de amparo às vítimas na Coreia do Sul; 4) ambas nações comprometeram-se a não se criticarem sobre essa temática na comunidade internacional; 5) e, por fim, a irreversibilidade desse acordo e o encerramento oficial da questão das mulheres de conforto (Japão, 2015).

Embora possa parecer uma conquista, o Acordo das Mulheres de Conforto é altamente contestável e não foi bem recebido pelas Halmonis, ativistas e parcela da população sul-coreana. A partir de Chun (2019) e de Dolan (2022), pode-se problematizar essa resolução pelos seguintes motivos: 1) nenhuma Halmoni foi contatada durante os processos de negociação, negando a essas senhoras suas capacidades de autonomia e agência política; 2) o Estado japonês não assumiu responsabilidades legais, tendo, até mesmo, reforçado que o fundo para a construção da instituição de amparo, que se chamaria no futuro Fundação de Reconciliação e Cura, não era uma compensação legal; 3) a ausência de compromissos futuros que deveriam ser adotados pelo Japão, tais como discutir o passado colonial em suas escolas; 4) e a percepção, diante dessas debilidades apresentadas, de que a declaração foi apenas um movimento pragmático de política internacional benéfico somente para os Estados envolvidos. Ainda, a credibilidade do Acordo das Mulheres de Conforto, sem uma abordagem orientada às senhoras vitimadas, torna-se diminuta, perante sua tentativa de silenciamento de qualquer contestação sobre suas decisões.

Como efeito imediato, a Demonstração de Quarta-feira, no dia 30 de dezembro de 2015, foi maior que o usual. De acordo com Elizabeth Son (2018), com cerca de 1000 manifestantes, esse protesto em frente à Embaixada do Japão em Seul foi marcado pelo exercício de relembrar as nove Halmonis que haviam falecido naquele ano e pelo Acordo das Mulheres de Conforto extremamente reprovável a parcela da população e, principalmente, às senhoras vitimadas. Para uma decisão que finalizaria essa discussão de forma permanente, era necessária a aplicação de medidas atentas a como suavizar, minimamente, as dores, traumas e perdas das Halmonis.

Ao invés de construir um rumo para a superação das feridas do passado traumático da escravização sexual militar perpetrada pelo Japão, o Acordo das Mulheres de Conforto ensejou a mobilização sul-coreana e o luto como luta política para que as demandas das Halmonis fossem, de fato, atendidas. Em dezembro de 2016, por exemplo, uma nova estátua foi erguida em frente ao Consulado do Japão em Busan. Nessa ocorrência, as fricções diplomáticas chegaram ao ponto de, momentaneamente, o Embaixador em Seul e o Cônsul em Busan terem retornado ao Estado japonês. Em meio aos protestos contra a gestão de Park Geun-hye e seu impeachment de 2017 motivado por tráfico de influência, nenhum avanço significativo por parte do executivo sul-coreano foi verificado na pauta das Halmonis.

A INVALIDEZ DO ACORDO DAS MULHERES DE CONFORTO

Iniciando o seu mandato em maio de 2017, o presidente Moon Jae-in (2017-2022) estruturou a sua gestão atento a promover uma imagem de governo transparente com as necessidades da população. Como postura tradicional da ala progressista sul-coreana de ser crítica ao Japão em temáticas vinculadas ao passado colonial, rapidamente a pauta das Halmonis foi incorporada por Moon. Dessa forma, no final de julho, foi inaugurado o Grupo de Trabalho sobre a Revisão do Acordo Coreia-Japão sobre a Questão das “Mulheres de Conforto” Vitimadas.

Dentre seus resultados publicados no dia 27 de dezembro do mesmo ano, o Grupo de Trabalho concluiu que: 1) as negociações e o documento final do Acordo das Mulheres de Conforto de 2015 tiveram uma abordagem insuficientemente centrada nas vítimas; 2) era necessário que a diplomacia sul-coreana tivesse levado em consideração as opiniões da população para aplicá-las nas conversas bilaterais; 3) a política externa de Park Geun-hye ao desejar, repentina e precipitadamente, não ter mais reveses com o Japão, acabou exacerbando as relações bilaterais de forma confusa e sem considerar os impactos que aspectos coloniais podem causar; 4) e, por último, uma atuação apropriada no caso foi comprometida mediante a falta de comunicação entre Park, negociadores e integrantes do Ministério das Relações Exteriores (Coreia do Sul, 2017).

De prontidão, no mesmo dia, o governo japonês atestou que se a Coreia do Sul, baseada nesse relatório, tentasse alterar o acordo que já havia sido implementado, as relações bilaterais se tornariam intratáveis, ao passo que era inaceitável não finalizar essa pauta final e irreversivelmente, como outrora havia se concertado (Japão, 2017). Se de um lado Moon Jae-in manter-se-ia firme no diagnóstico das debilidades do Acordo das Mulheres de Conforto que deveria ser revisado e daria cabo ao fechamento da Fundação de Reconciliação e Cura, do outro, Shinzō Abe adotaria uma postura resolutamente contrária a quaisquer demandas pelo passado colonial e, junto aos governantes japoneses, consideraria a Coreia do Sul como incapaz de adotar uma diplomacia orientada para o futuro (Tamaki, 2019). 

Em 2018, os embates coloniais escalaram a um novo patamar quando a Suprema Corte da Coreia do Sul determinou a necessidade do Japão pagar compensações a quatro trabalhadores que requereram um processo contra o Estado japonês por terem sido obrigados a trabalharem em fábricas no arquipélago nipônico durante a colonização. Gradativamente, a relação bilateral desmoronaria até o final do governo de Moon Jae-in, sendo permeada por tensões nipo-sul-coreanas nos casos das Halmonis e dos trabalhos forçados; disputas comerciais; ampliação do ressentimento sul-coreano ao Japão, incluindo movimentos organizados para o boicote a produtos japoneses; contratempos em debates securitários; e incapacidade de cooperação bilateral até mesmo frente à pandemia de Covid-19 (Dias, 2022; Deacon, 2022). Nessa conjuntura complexa, as reivindicações das Halmonis continuaram presentes, porém sem a possibilidade de diálogos benéficos com o Japão. 

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao final deste trabalho, compreende-se que a trajetória do Acordo das Mulheres de Conforto de 2015 foi um encaminhamento relacionado tanto ao processo de escalonamento de tensões na relação bilateral nipo-sul-coreana, prévia e posteriormente à sua assinatura, quanto uma dificuldade de Park Geun-hye, cujo governo foi responsável pela aprovação dessa declaração, em dialogar com as Halmonis e alcançar um acordo condizente com as dores, memórias, traumas e reivindicações das mulheres vitimadas e de parcela da população sul-coreana. Almejando não enfraquecer as relações bilaterais por meio de contratempos, Park perdeu a oportunidade de barganhar com o Japão propostas reparativas que fossem, minimamente, suficientes e em direção a uma abordagem centrada nas Halmonis, em um contexto no qual ambas as nações estavam sendo pressionadas pelos Estados Unidos a solucionar suas desavenças.

Como resultado, esse acordo não foi celebrado pelas principais interessadas, que deveriam aprová-lo, as Halmonis. Para além dessa declaração ser insuficiente em relação às demandas das senhoras vitimadas, seu questionamento e desejo por revisão por parte de Moon Jae-in, que estava correto em uma perspectiva de alcançar os objetivos das vítimas, acabou contribuindo para ocasionar a ignição de demais rupturas por vir, em diversas escalas, na relação bilateral nipo-sul-coreana.

Ou seja, o Acordo das Mulheres de Conforto foi negativo tanto para as Halmonis quanto para a Coreia do Sul, especialmente, e o Japão como Estados, ao passo que a manutenção dessa ferida colonial impediu uma reconciliação benéfica para ambos. No entanto, é interessante verificar que o Estado japonês conseguiu fortalecer a narrativa conservadora de que os pedidos de desculpa nipônicos nunca serão o suficiente para a Coreia do Sul, sendo isso uma conquista para Shinzō Abe. A reparação estatal japonesa para a Halmonis vivas é fundamental para que essa questão colonial seja solucionada, porém o Acordo das Mulheres de Conforto de 2015 tornou esse processo mais penoso e, por conseguinte, ainda mais urgente. 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Maurício Luiz Borges Ramos Dias é doutorando e mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Relações Internacionais San Tiago Dantas (UNESP-UNICAMP-PUC/SP). É bacharel em Relações Internacionais pela Universidade Federal do Pampa (UNIPAMPA). Integrante do Observatório de Regionalismo (ODR), do Núcleo de Pesquisa em Relações Internacionais da Universidade de São Paulo (NUPRI USP), da Curadoria de Assuntos do Japão da Coordenadoria de Estudos da Ásia da Universidade Federal de Pernambuco (CEÁSIA-­UFPE) e do Grupo de Estudos de Índia e Ásia Oriental -­ GesIAO. E-mail: mauriciolbrdias@gmail.com.

 

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12 comentários:

  1. Se tratando da reconciliação interna da Coreia do Sul com as Halmonis, houve alguma remuneração financeira entregue pelo governo coreano para elas, mesmo diante do posicionamento negativo do Japão?
    Emilly Karoline Martins de Oliveira

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    1. Maurício Luiz Borges Ramos Dias6 de dezembro de 2024 às 10:50

      Olá, Emilly! Muitíssimo obrigado pela sua pergunta!! Ela traz um ponto muito importante.

      O governo sul-coreano já implementou algumas medidas para destinar um aporte financeiro às Halmonis. Podemos citar dois momentos, sendo eles o Fundo de Apoio Governamental de 1993, que até mesmo incluia despesas médicas, e o próprio Fundação para a Reconciliação, criado em 2016 após o Acordo das Mulheres de Conforto.

      Entretanto, vale ressaltar que essas medidas não se enquadram como indenizações, que é o que as Halmonis desejam do Estado japonês, ao passo que não são realizadas oficialmente pelo governo do Japão.

      Um abraço!
      Maurício Luiz Borges Ramos Dias.

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  2. CAMILLY EVELYN OLIVEIRA MACIEL1 de dezembro de 2024 às 14:45

    Olá, Maurício! Parabéns pelo trabalho desenvolvido.

    Alguns críticos acreditam que o Japão evita revisitar o caso das “mulheres de conforto”, talvez contando com o tempo para diminuir a pressão pública, já que as sobreviventes estão envelhecendo e, infelizmente, muitas já faleceram. O que você acha? Acredita que ainda há a possibilidade de um acordo entre as partes por agora?

    Atenciosamente, Camilly Evelyn Oliveira Maciel

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    1. Maurício Luiz Borges Ramos Dias6 de dezembro de 2024 às 11:03

      Oiê, Camilly! Muito obrigado pela pergunta e apoio!

      Concordo com o seu ponto de que o Japão considera que, com o tempo e o falecimento das "mulheres de conforto", a pressão pública irá diminuir. Inclusive, é até um esforço que os diferentes movimentos de reivindicações estão se realizando para manter a memória e luta das "mulheres de conforto", mesmo depois de falecidas. Um caso, por exemplo, é Taiwan, cuja última "mulher de conforto" sobrevivente faleceu ano passado.

      Nesse sentido, de fato, o tempo e o limite do corpo humano são fatores a favor do Japão.

      A possibilidade de acordo entre ambas as partes está bem nublada atualmente. De um lado, temos o Japão com uma aversão a se desculpar e tomar medidas reparativas relacionadas ao passado colonial. Além disso, com Ishiba Shigeru, novo primeiro-ministro japonês, com menos suporte político do que imaginado, a tendência é ele se afastar dessa discussão para não se comprometer com a ala conservadora.

      Já por parte da Coreia do Sul, o governo atual (e com certa instabilidade) de Yoon Suk-yeol adota uma postura pragmática e acrítica sobre as feridas coloniais em relação ao Japão. Logo, embora a população demande, nada é feito de forma efetiva. Inclusive, o próprio governo se dispôs a pagar compensações aos trabalhadores forçados pelo Japão a trabalhar em fábricas, eximindo o Estado japonês de qualquer culpa.

      É um cenário complexo que exige mobilização, ainda maior debate em ambos países e internacionalmente, bem como apoio às Halmonis.

      Um abraço!
      Maurício Luiz Borges Ramos Dias.

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  3. Olá, Mauricio.
    Interessante que o caso foi resolvido por homens/governos, sem perguntar a opinião das mulheres envolvidas, há um filme que fala bem disso (I Can Speak), onde uma senhora aprende a falar ingles, justamente para poder falar nesses encontros dos governos. O que me assusta é a revisão histórica do Japão, evitar falar e até mesmo tentar apagar esse passado, não ajuda a resolver a situação. Mas fico pensando, se fosse as mulheres japonesas, será que eles manteriam esse silencio?

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    1. Maurício Luiz Borges Ramos Dias6 de dezembro de 2024 às 11:11

      Olá, J/Anny! Muito obrigado pela pergunta!

      Que interessante esse caso que você relatou! Não conhecia esse filme. Vou procurar para assistir!!

      Um ponto interessante que sua pergunta traz e que não mencionei anteriormente é que houveram também japonesas exploradas pela escravização sexual militar do Japão!! Ou seja, o "sistema de conforto" violentava tanto japonesas quanto jovens e garotas de outras nacionalidades. Nesse âmbito, percebemos já um silêncio do governo japonês para uma violência imposta às suas nacionais ao não discutir a questão da escravização sexual militar, de forma crítica e ampla, nas escolas e demais espaços.

      Creio que se tivesse sido outro país que tivesse perpetrado tamanha violência ao Japão, o Estado japonês não iria manter seu silêncio. Todavia, essa postura, como agressor, é benéfica ao país.

      Abraços,
      Maurício Luiz Borges Ramos Dias.

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  4. Com as recentes mudanças no cenário político japonês, incluindo a queda na popularidade do primeiro-ministro Fumio Kishida e de parte da ala conservadora do PLD, surgem indícios de que pode haver espaço para a discussão de novos acordos ou políticas entre Coreia do Sul e Japão, abordando reparações ou desculpas genuínas às mulheres de conforto?

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    1. Maurício Luiz Borges Ramos Dias6 de dezembro de 2024 às 11:16

      Oiê, Denilson!! Muito obrigado por sua pergunta!!

      Assim como respondido em outra pergunta, creio que, por hora, não temos indícios de uma nova discussão abordando reparações ou desculpas genuínas às Halmonis.

      No caso do Japão, tem-se uma aversão a se desculpar e tomar medidas reparativas relacionadas ao passado colonial. Além disso, com Ishiba Shigeru, com menos suporte político do que imaginado, a tendência é ele se afastar dessa discussão para não se comprometer com a ala conservadora.

      Já por parte da Coreia do Sul, o governo atual (e com certa instabilidade) de Yoon Suk-yeol adota uma postura pragmática e acrítica sobre as feridas coloniais em relação ao Japão. Logo, embora a população demande, nada é feito de forma efetiva.

      Para discussões sobre o caso irem em frente, necessita-se que o âmbito executivo dos Estados desejem superar essa questão e um cenário internacional propício para tal ação.

      Abraços,
      Maurício Luiz Borges Ramos Dias.

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  5. Suéllen Sulamita Gentil de Oliveira5 de dezembro de 2024 às 21:23

    Olá, Maurício!

    Primeiramente, parabéns pelo excelente trabalho. É sempre um prazer ler seus textos. :)

    Gostei muito de você ter mencionado a relevância da estátua em frente à Embaixada do Japão como uma simbologia de retorno ao passado que, ao mesmo tempo, reivindica reparação e rememora aquilo que não pode ser esquecido.

    Tenho refletido bastante sobre a arte como instrumento de engajamento e conscientização política e fiquei curiosa: houve outras manifestações artísticas marcantes nesse período que contribuíram para amplicar a voz da pressão popular?

    Outra questão que sempre me chama a atenção é a interferência dos Estados Unidos nesses assuntos por interesses próprios. Em sua visão como especialista, como avalia a atuação do atual governo estadunidense nessas relações? Acredita que pressionarão para que os governos sul-coreano e japonês cheguem a um acordo, como ocorreu na época de Obama?

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    1. Maurício Luiz Borges Ramos Dias6 de dezembro de 2024 às 10:33

      Oiê, Suéllen!! Que felicidade encontrá-la por aqui e receber duas perguntas interessantes suas!! Muito obrigado pelo apoio! Vamos lá para as respostas:

      1) As manifestações sobre a questão da escravização sexual militar ocorrem a pouco mais de 30 anos. Nesse processo, a pauta, de caráter transnacional, foi manifestada de diversas formas. Dessa maneira, diversas cidades ao redor do mundo também possuem estátuas representando as garotas e mulheres vitimadas pelo Japão. Essas estátuas podem ser encontradas/foram expostas em diversas localidades como, por exemplo, nas Filipinas, Taiwan, Hong Kong, Estados Unidos, Alemanha e, a mais recente de todas, na Itália em 2024. São estátuas diferentes entre si que possuem detalhes com variados significados. As estátuas são bem potentes e recomendo conhecer suas imagens. Você irá gostar!!

      Além disso, as manifestações na Coreia do Sul (creio que em demais localidades também) possuem características artísticas para além das estátuas. Dessa forma, já foram feitas espécies de peças teatrais curtas represetando o período colonial, ações com mapas, dentre outros. No artigo "Melancholia is (geo)political!: Postcolonial geography in the wednesday demonstration in Seoul", a Lee (2022) apresenta muito bem sobre isso, usando reflexões de sua pesquisa de campo nas Demonstrações de Quarta-feira.

      2) Os Estados Unidos, de fato, possuem influência sobre as decisões de política internacional da Coreia do Sul e do Japão. Todavia, eles prezam, por vezes, mais pelo pragmatismo e estabilidade da relação de seus parceiros asiáticos, do que na resolução efetiva da questão das "mulheres de conforto" em si. Agora que estamos retornando para um governo estadunidense liderado por Donald Trump, creio que o debate colonial não terá um espaço ensejado pela potência estadunidense. Pelo contrário, creio que o pragmatismo falará mais alto, tendo como objetivo cercear a China. Vejamos os próximos capítulos dessa história.

      Um abraço!
      Maurício Luiz Borges Ramos Dias.

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  6. Olá, Maurício! Tudo bem? Parabéns por abordar um tema de muita importância. É notório que o Japão tem sérios problemas em reconhecer as atrocidades cometidas contra as nações vizinhas na primeira metade do século XX. Você acredita que se os japoneses se comprometessem a indenizar e tratar esse período histórico com mais respeito, as relações geopolíticas seriam diferentes com os países vizinhos, especialmente a Coreia do Sul?

    Flavio de Souza.

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    1. Maurício Luiz Borges Ramos Dias6 de dezembro de 2024 às 10:41

      Olá, Flavio! Tudo ótimo!! E com você? Muito obrigado por sua pergunta!!

      Flavio, em minhas pesquisas, eu apresento que as feridas coloniais são o principal fator que mina e desestabiliza as relações bilaterais nipo-sul-coreanas, em diferentes momentos na história diplomática de ambos países. No caso da Coreia do Sul, o caráter colonial ganha mais força, pois, gradativamente, o país está se desenvolvendo cada vez mais e mais, permitindo-o a negociar e reivindicar seus interesses frente ao Japão.

      No caso dos países do Sudeste Asiático, que não possuem um desenvolvimento equivalente à Coreia do Sul, o nível de reivindicação sobre o passado colonial acaba não encontrando tanto ressoamento na política internacional.

      Ainda assim, de forma geral, considero que se o Japão tivesse indenizado as pessoas vitimadas (conforme as demandas das vítimas) e tratado, de maneira sólida, o passado colonial como uma atrocidade que deve ser reparada, as relações geopolíticas com o Nordeste Asiático (Coreia do Sul, Coreia do Norte, China e Japão) e Sudeste Asiático poderiam ser diferentes, ao menos com um número reduzido de entraves. Sobre a Coreia do Sul, ainda, considero que o caminho para a melhora das relações bilaterais está justamente em reconhecer e reparar o passado colonial.

      Um abraço!
      Maurício Luiz Borges Ramos Dias.

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