Maria Aparecida Stelzer Lozório

 A RESISTÊNCIA CULTURAL COREANA ATRAVÉS DA ALIMENTAÇÃO DURANTE A DOMINAÇÃO JAPONESA (1910-1945)

 

Entre 1910 e 1945, a Coreia esteve sob domínio japonês, um período marcado pela tentativa de erradicação sistemática da identidade cultural coreana. Essa ocupação, mais do que política ou econômica, visava desmantelar os pilares culturais da Coreia e substituí-los por uma identidade nipônica. A imposição do idioma japonês nas escolas, a proibição de roupas tradicionais, a obrigatoriedade de adotar nomes japoneses para os coreanos que fossem trabalhar no Japão e o confisco do arroz para exportação exemplificam a profundidade dessa repressão e tentativa de niponização.

Mas a culinária coreana resistiu como um espaço de preservação cultural e identidade. Diante de um cenário de total repressão a elementos da cultura coreana, o interior das casas e o ambiente familiar se revelaram como locais de resistência cultual, já que dentro das casas a língua coreana continuava a ser utilizada, e nas cozinhas as práticas ancestrais continuaram a ser transmitidas para as novas gerações.

Mesmo com toda dificuldade em conseguir os alimentos básicos, durante a ocupação japonesa, e a alimentação coreana afetada por políticas de exploração e escassez de alimentos, a culinária tradicional coreana continuou a ser produzida, como o kimchi.

Este artigo investiga como a alimentação funcionou como um bastião de resistência cultural durante a ocupação japonesa. Como metodologia elegemos a Análise de Conteúdo elaborada por Laurence Bardin (2016). A análise destaca o papel central da alimentação na cultura coreana, e demonstra como a cozinha das casas coreanas se tornou um espaço subversivo e de resistência silenciosa.

 

A cozinha como local de resistência à dominação japonesa

A Coreia do Sul como conhecemos hoje, territorialmente, traz na sua história uma formação complexa que se entrelaça a história de diversos países da Ásia, principalmente da China, da Mongólia e do Japão. Segundo Im Yun Jung, professora da Universidade Estadual de São Paulo (USP), no território coreano, por volta de 6.000 anos AEC, já há registro de potes de barro, artefatos de pedra e osso para a obtenção e o manuseio de alimentos, o que já indicava um certo “tratamento da comida”.

Ainda segundo Im o registro histórico em texto, mais antigo que registra o povo coreano, se encontra no Records of the Three Kingdons, texto em chinês datando do século III, que cobre a história entre os anos 184 e 220, relatando o final da Dinastia Han e o período dos três reinos: Wei, Shu e Wu. O texto chinês é dividido em três livro, cada um trazendo a história de cada um dos referidos reinos.

No chamado Book de Wei (2004), que relata a história do reino de Wei, há uma menção aos povos do leste, que gostavam de comer, beber, cantar e dançar, esses povos atualmente são chamados de coreanos. Para Im a comida sempre esteve no dia a dia dos coreanos como parte integrante da identidade desse povo.

A culinária coreana evoluiu ao longo de séculos, sendo moldada por fatores geográficos, culturais, políticos e econômicos. A Coreia, localizada entre a China e o Japão, foi influenciada por esses dois países, além de desenvolver suas próprias tradições culinárias. A china teve grande influência na culinária coreana, quer seja pela proximidade geográfica e cultural, como também por relações comerciais e políticas tecidas ao longo dos séculos. Para Chon (2008) a China trouxe os métodos de cozimento, técnicas de refogar, cozinhar no vapor, fritar, além do molho de soja, o chá e sua etiqueta, introduzidos pelo confucionismo.

O Budismo para Chon (2008) a culinária coreana é profundamente enraizada em filosofias como o budismo e o confucionismo, que moldaram seus hábitos alimentares ao longo dos séculos. O budismo, introduzido na Coreia durante o período dos Três Reinos (57 a.C – 668 d.C.), influenciou a culinária ao enfatizar práticas vegetarianas e a simplicidade nos pratos e evitando o consumo de carne. Muitos pratos tradicionais coreanos, como sopas de vegetais e acompanhamentos fermentados, refletem essa herança.

O confucionismo, por sua vez, consolidou a comida como um elemento central nas interações sociais e nos rituais familiares. Durante a Dinastia Joseon (1392-1897), as refeições eram cuidadosamente preparadas e servidas como parte de cerimônias que honravam os ancestrais, refletindo valores como o respeito e a harmonia. Esse legado filosófico reforçou a importância simbólica da cozinha, tornando-a um espaço sagrado de preservação cultural.

Ainda segundo Chon (2008) durante a dominação japonesa, a alimentação tradicional coreana foi altamente afetada por imposições e proibições japonesas. Havia uma escassez de alimentos, principalmente de arroz, que era a base da alimentação coreana. Os recursos agrícolas da Coreia foram alvo de exploração intensiva da política econômica colonial que impactou diretamente a culinária.

A anexação da Coreia pelo Japão foi formalizada pelo Tratado de 1910, que marcou o início de um regime colonial autoritário, transferindo a soberania coreana para o imperador japonês, e durando até 1945, com a derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial. O objetivo japonês era integrar a península coreana à esfera cultural e econômica do Japão, apagando qualquer traço de autonomia e identidade cultural. Neste período há diversas proibições da cultura coreana e a imposição de elementos da cultura japonesa.

Medidas repressivas foram impostas para concretizar essa agenda. Em 1911, o Decreto Nº 41 regulamentou o sistema educacional, exigindo o uso exclusivo do japonês nas escolas e marginalizando o hangul, o alfabeto coreano. Roupas tradicionais, como o hanbok, foram desencorajadas, enquanto o uso de nomes japoneses tornou-se obrigatório por meio do Decreto de Mudança de Nome (1939). Na relação de colonização e dominação Japão -Coreia os discursos hegemônicos justificavam a inferioridade corana frente ao Japão. Essas ações tinham o objetivo de desmantelar os símbolos visíveis da identidade coreana, mas encontraram resistência nos espaços domésticos, especialmente na alimentação.

A política colonial japonesa na Coreia foi além da exploração econômica; ela buscava desarticular os alicerces da identidade coreana. O sistema educacional foi reconfigurado para excluir o coreano como idioma de instrução, substituído pelo japonês, enquanto os rituais e tradições eram proibidos por decretos rigorosos. As vestimentas tradicionais, como o hanbok também foram suprimidas.

Elias e Scotson (2000) abordam o conceito de identidade dentro do contexto das relações de poder e dinâmica social entre grupos. Caracterizam a identidade como sendo formada e reforçada pelas relações que um grupo estabelece com outros grupos, sendo resultado de um processo contínuo de diferenciação e exclusão. Assim, a identidade individual e coletiva é moldada pelas estruturas de poder, pela aceitação ou rejeição social, e pelas relações de interdependência entre os grupos.

Na Coreia dominada, essa narrativa se manifestou em discursos que retratavam a cultura coreana como inferior, reforçando a necessidade de assimilação. Durante a ocupação japonesa, os coreanos se tornaram os "outsiders" enquanto os japoneses assumiram a posição dos "estabelecidos". O Japão, como potência ocupante, tentou impor sua cultura, língua e valores aos coreanos, desvalorizando e reprimindo elementos culturais coreanos. Essa dominação tinha como objetivo não só o controle político e econômico, mas também a assimilação cultural, de modo que os coreanos perdessem sua identidade própria e se tornassem submissos ao domínio japonês.

Nesse sentido, a resistência coreana, que incluiu a preservação da língua, dos costumes e da culinária (muitas vezes de forma privada e oculta), foi uma forma de manter e reforçar sua identidade contra a tentativa de assimilação dos "estabelecidos".

Michel de Certeau (1996), destaca que práticas do dia a dia, como cozinhar, podem se tornar atos subversivos em contextos de repressão, pois permite aos indivíduos a não cumprirem imposições externas. Na Coreia, as cozinhas domésticas foram transformadas em espaços de resistência, onde as mulheres, principais responsáveis pelo preparo dos alimentos, preservavam receitas e técnicas transmitidas por gerações.

A cozinha, enquanto espaço do cotidiano, é um lugar onde se reproduzem tradições, valores e costumes que fazem parte da identidade cultural. O ato de cozinhar, com suas técnicas, receitas e ingredientes específicos, é uma prática que conecta o presente ao passado e reforça as tradições de um grupo. Mesmo em períodos de repressão ou dominação cultural, como foi o caso dos coreanos durante a ocupação japonesa, a cozinha permanece um espaço íntimo e privado onde as práticas culturais podem ser preservadas e transmitidas entre gerações.

No contexto coreano, apesar das tentativas do Japão de suprimir a identidade cultural coreana, muitas tradições culinárias foram mantidas e transmitidas dentro dos lares. A cozinha se tornou um espaço de resistência, onde a identidade cultural coreana pôde sobreviver e se fortalecer. Isso se alinha às ideias de Certeau (1996), que enfatiza a importância das práticas cotidianas como formas de resistência e invenção cultural, revelando como a cultura é mantida viva através das pequenas ações e do dia a dia das pessoas.

O cozinhar transforma ingredientes brutos em pratos elaborados, e essa transformação é um ato que conecta o passado (receitas transmitidas), o presente (a preparação em si) e o futuro (a refeição compartilhada). Assim, a prática de cozinhar no interior das casas contribui significativamente para a manutenção da identidade cultural de um povo, funcionando como um espaço de resistência e preservação em meio às transformações e pressões externas.

Pierre Bourdieu (1989), argumenta que práticas culturais carregam significados profundos, funcionando como marcadores de identidade e arenas de poder e resistência, como o preparo de alimentos, não são neutras, mas carregadas de significados sociais e políticos. No contexto coreano, o ato de preparar pratos tradicionais, mesmo com ingredientes escassos, reafirmava a cultura nacional em oposição à imposição japonesa.

Massimo Montanari, em Comida como Cultura (2008), argumenta que a comida não é apenas um meio de subsistência, mas também uma forma de expressão cultural, transcendendo a função biológica. Na Coreia, a continuidade dessas tradições alimentares durante a ocupação japonesa demonstrou a resiliência de uma cultura que, mesmo sob ataque, permaneceu fiel às suas raízes.

Um exemplo emblemático dessa resistência é o kimchi, um prato icônico da Coreia. Feito a partir de vegetais fermentados, ele é simultaneamente um alimento básico e uma expressão cultural. Durante a ocupação, o kimchi simbolizou a resiliência coreana, pois sua preparação exigia técnicas específicas e um senso de comunidade. Famílias e vizinhos se reuniam para preparar grandes quantidades de kimchi, fortalecendo os laços sociais e preservando tradições em um período de adversidade.

O kimchi não só oferece uma solução nutritiva em tempos de privação, mas também preserva técnicas culinárias ancestrais. O preparo do kimchi envolve práticas comunitárias, com famílias e vizinhos reunidos para fazer grandes quantidades que durariam meses. Esse ato não era apenas uma necessidade alimentar, mas também um ritual que fortalecia os laços comunitários e a identidade cultural

 

O Eumsikdimibang: primeiro livro de receitas escrito em coreano

O primeiro livro de receitas escrito em hangul, a língua coreana, escrito por volta de 1677, o Eumsikodimibang, por Jang Gye-hyang, filha de um nobre, é considerado também o primeiro livro de receitas escrito por uma mulher na Ásia. Ao nos debruçarmos sobre essa fonte, poderemos analisar receitas antigas que quase se perderam. Entretanto, este livro também denota sua importância não apenas pelo fato que trazer 146 receitas, entre preparação de alimentos e bebidas alcoólicas, mas também traz formas de armazenamento de frutas, legumes e carne seca.

O livro traz receitas de como cozinhar legumes que estão fora de época, o que tem levado a pesquisadores como o professor Yi Seong-Wu (2024), especialista em história da alimentação coreana, a levantar a hipótese de que havia estufas para plantio de legumes. O livro faz menção a utensílios e louças usadas na cozinha da época.

O Eumsikdimibang é uma obra pioneira na história da culinária coreana. Este livro documenta receitas e técnicas culinárias coletadas em aldeias rurais, destacando a diversidade e a riqueza da alimentação coreana. As receitas coletadas trazem pratos do dia a dia, preparados nas pequenas cozinhas, com práticas que passavam de geração a geração, mantendo essa identidade da cozinha coreana.

A análise do Eumsikodimibang e suas receitas nos apontam para uma arte da cozinha já bem demarcada em Joseon – nome do território coreano anterior a dominação japonesa – o que pode ter favorecido a permanência e resistência da alimentação como fator e identidade coreana frente as determinações do império japonês.

 

A transmissão intergeracional da cultura alimentar

A escassez de arroz durante a ocupação japonesa levou as famílias coreanas a buscarem alternativas, como cevada, batata-doce e milho. Essa adaptação forçada ilustra o que Michel de Certeau (1996) chama de "bricolagem cultural" – a habilidade de reinventar tradições com os recursos disponíveis subvertendo assim estruturas opressoras. A cozinha tornou-se um espaço onde a criatividade e a memória coletiva mantiveram viva a cultura coreana, mesmo sob condições adversas.

Apesar das mudanças nos ingredientes, a estrutura das refeições coreanas permaneceu intacta. Pratos como sopas, guisados e acompanhamentos fermentados continuaram a ser preparados, preservando os sabores e os significados culturais associados à culinária coreana. Essa resiliência demonstra como a alimentação pode ser um meio de resistência e um marcador de identidade em tempos de repressão.

Pierre Bourdieu (1989) argumenta que práticas culturais como a alimentação carregam um "habitus" – disposições internalizadas que moldam o comportamento. No contexto coreano, o habitus alimentar foi fundamental para resistir às tentativas de assimilação japonesa, reforçando a identidade nacional mesmo em circunstâncias adversas.

Além de preservar a identidade cultural no presente, a culinária coreana também funcionou como um meio de transmissão intergeracional. As receitas e técnicas culinárias eram ensinadas às crianças, garantindo que a próxima geração permanecesse conectada às suas raízes culturais.

Essa transmissão intergeracional é particularmente significativa no contexto da ocupação japonesa, pois os jovens eram expostos a uma educação que buscava aliená-los de sua cultura de origem. Dentro das cozinhas, no entanto, aprendiam valores e tradições que reforçavam sua identidade coreana.

As mulheres desempenharam um papel central na preservação da cultura alimentar coreana. Como guardiãs das receitas e práticas culinárias, foram elas que, dentro de suas cozinhas, garantiram a continuidade das tradições. Montanari (2008) destaca que as práticas alimentares são, muitas vezes, transmitidas oralmente, perpetuando-se como uma memória viva. No contexto coreano, as mulheres representaram uma resistência ativa, utilizando a cozinha como um espaço de reafirmação cultural.

Certeau (1996) enfatiza o papel da cozinha como um espaço de trabalho doméstico que envolve a organização do tempo e dos recursos disponíveis. Esse espaço, apesar de aparentemente banal, revela relações de poder, gênero e cultura. Tradicionalmente associado ao feminino, o trabalho na cozinha também representa um campo de resistência contra a homogeneização da cultura e a padronização alimentar, mantendo vivas as particularidades culturais através de receitas e práticas locais.

 

Considerações Finais

A ocupação japonesa na Coreia demonstrou uma tentativa deliberada de apagar a identidade cultural do país, mas encontrou resistência em espaços inesperados, como a cozinha doméstica. A alimentação, carregada de significados simbólicos e sociais, emergiu como um dos principais fatores de preservação cultural durante esse período, desempenhou um papel crucial na resistência cultural coreana. Apesar das políticas de assimilação e repressão, a cozinha tornou-se um espaço de preservação da identidade, onde práticas ancestrais, influenciadas por valores budistas e confucianos, foram mantidas.

Diante de um cenário de total repressão a elementos da cultura coreana, o interior das casas e o ambiente familiar se revelaram como locais de resistência cultual, já que dentro de casa a língua coreana continuava a ser utilizada e mesmo com toda dificuldade em conseguir os alimentos básicos, pois durante a ocupação japonesa, a alimentação coreana foi profundamente afetada por políticas de exploração e escassez de alimentos.

Apesar da escassez de alimentos durante a dominação coreana pelo Japão e mesmo com toda a censura, proibição e vigilância japonesa no cumprimento dos seus decretos que tinham como objetivo o isolamento e o esquecimento da cultura do povo, ainda assim a alimentação/culinária foi o fator principal que manteve a identidade cultural coreana. Pois a cozinhar sempre foi elemento familiar, que compôs ao longo dos séculos o cotidiano de cada família, desta forma dentro de cada casa, na intimidade de cada lar os elementos identitários continuaram a ser exércitos e passados de geração para geração.

Apesar dessas dificuldades, os coreanos preservaram muitos aspectos de sua cultura alimentar tradicional, usando a culinária como uma forma de resistência à dominação estrangeira. A comida continuou a ser um símbolo poderoso da identidade nacional coreana, mesmo em tempos de opressão.

Em tempos de globalização, a cozinha coreana continua a ser uma expressão vibrante de sua cultura, um testemunho da resiliência de um povo que, mesmo diante de adversidades extremas, manteve vivas suas tradições e valores. A narrativa histórica da ocupação japonesa é, portanto, também a narrativa da força cultural da alimentação como símbolo da identidade coreana.

 

Referências

Maria Aparecida Stelzer Lozório

Mestre em História - PPGHIS Ufes

 

Fontes

陳壽. 三國志: 三國志/30. China, [2--]. Disponível em: https://zh.wikisource.org/wiki/%E4%B8%89%E5%9C%8B%E5%BF%97/%E5%8D%B730. Acesso em: 15 jul. 2024. (Três Reinos: Livro de Wei, em chinês)

CHEN, Shou. The Records of the three kingdoms: book of Wei. Tradução Nianzhao Wei. 2024. (ebook edição Kindle, em inglês).

JANG, Gye-hyang. Eumsikdimibang. Joseon, [167-]. Disponível em: https://artsandculture.google.com/story/nAWBzvRy_teEJQ?fbclid=IwY2xjawE4k9pleHRuA2FlbQIxMQABHQQr9UQrpeLgYKeFVLNMw0PKEnthLK726JHDNVENQ8P6HifFcvVMKBZmvA_aem_Z6Ar6AOrQ-gG5aaOKf64hg. Acesso em: 10 jun. 2024.

 

Bibliografias

BARDIN, L. Análise de Conteúdo. Lisboa: Edições 70, LDA, 2016.

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Difel/Bertrand Brasil, 1989.

CERTEUA, Michel de; GIARD, Luce; MAYOL, Pierre. A invenção do cotidiano: Morar, cozinhar. Petrópolis: Vozes, 1996.

CHON, Deson. Culinária e Cultura Alimentar coreana. Exploring the Flow of East Asian Food Culture, Edição Especial, 2008.

ELIAS, Norbert; SCOTSON, John. Os estabelecidos e os outsiders: sociologia das relações de poder a partir de uma pequena comunidade. Rio de Janeiro: Zahar, 2000.

MONTANARI, Massimo. Comida como cultura. São Paulo: Ed. Senac, 2008.

YI, Seong-Wu. Eumsikdimibang: o primeiro livro de receitas escrito por uma mulher no leste asiático. Google Arts & Culture, 2024.

12 comentários:

  1. Ana Paula Sanvido Lara3 de dezembro de 2024 às 11:32

    Bom dia! Parabéns pelo artigo.

    Como trabalhar questões culturais específicas em sala de aula, com uma programação que não permite entrar em muitos detalhes? Considero muito importante que os alunos conheçam sobre diferentes culturas e formas de resistência à imposições culturais, porém quase não temos tempo dentro da programação para isso, principalmente quando se trata de História Oriental, que é praticamente só citada ao longo dos materiais.

    Ana Paula Sanvido Lara

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    1. Maria Aparecida Stelzer Lozorio5 de dezembro de 2024 às 21:32

      Boa noite Ana Paula! Obrigada pelo comentário! Realmente trabalhar questões culturais em sala de aula com uma programação "apertada" é desafiador. A História Oriental é quase nula nos conteúdos, o que torna o desafio ainda maior. A questão cultural da Coreia do Sul (que é minha área de pesquisa) pode ser abordada através do k-pop, você pode escolher uma músicas onde a letra te permita trabalhar questões da sociedade e história coreana. Você pode criar uma playlist para que os alunos escutem em casa, utilizem a internet para buscar a tradução das letras e depois abrir discussão em sala de aula. Existem alguns HQ coreanos que tem no formato e-book (mais acessíveis), que trabalham questões específicas da história coreana no período de dominação e guerra como as obras "Grama" e "Espera". O HQ é um formato bem aceito por alunos de várias idades. É possível também trabalhar a questão cultural através da alimentação, a escola pode se organizar para em um dia fazer um evento gastronômico com pratos de vários países, ou de um país específico, proporcionar a experiência de comer com hashi, temperos diferentes, tofu, shoyo, etc. Alimentos que normalmente não fazem parte da rotina alimentar do aluno. Dependendo da idade até mesmo pequenos trechos de K-dramas podem ser utilizados, mostrando hábitos diferentes do nossos. E tudo sempre contextualizado historicamente e socialmente.

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  2. Boa tarde, parabéns pelo artigo. Acho muito interessante abordar a gastronomia, a tentativa de manter a identidade através da culinária de um povo. Na atualidade eles ainda preservam a culinária original ou aconteceram adaptações?

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    1. Maria Aparecida Stelzer Lozorio6 de dezembro de 2024 às 00:00

      Olá Inês!! Obrigada pelo comentário!
      A culinária coreana sofreu ao longo dos séculos várias influências, como da China, Mongólia, Japão, do Budismo, do Confucionismo e mais recentemente dos EUA, que se fez muito presente na Coreia do Sul com o período da Guerra Fria, e que tem no frango frito sua maior contribuição para a gastronomia sul coreana. Cada uma dessa influências deixou um prato, um ingrediente, uma forma de fazer, e isso é normal em toda cultura. Mas a culinária coreana ainda preserva muito da sua culinária original, sendo o kimchi o alimento mais conhecido, e o soju a bebida de maior destaque.

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  3. Que texto incrível! Muito legal ver que mesmo diante de tanta imposição, os coreanos conseguiram manter viva sua cultura, principalmente através da culinária. Pratos como o kimchi são valorizados até hoje em sua gastronomia. E uma coisa que acho legal nos coreanos é que eles expressam sua preocupação com o próximo através da culinária. É como a gente fala 'bom dia, tudo bem?', eles expressam o cuidado com perguntas 'já comeu?', 'posso fazer uma refeição para você?'. Ao ler o seu texto, me chamou a atenção a respeito de com a escassez do arroz, os coreanos procuraram ingredientes substitutos, mas sem perder a essência do prato e ali você menciona a batata doce. A batata doce hoje é bem presente na gastronomia coreana, ela foi incorporada nesse período da ocupação japonesa em sua culinária, ou ela já era presente na gastronomia coreana antes da ocupação japonesa?

    Suelen Bonete de Carvalho

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    1. Maria Aparecida Stelzer Lozorio6 de dezembro de 2024 às 00:24

      Olá Suelen!! A batata-doce chega ao sudeste asiático mais ou menos no século XVIII, e vai ser introduzida tanto na China, Coreia e Japão. Então anteriormente a dominação japonesa, a Coreia já fazia uso da batata-doce em sua culinária, e em ambos os países ela foi inserida com sucesso na dieta, e se mantém até hoje presente.

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  4. Olá, Maria!
    Achei o seu texto muito interessante! A minha pesquisa também aborda a perda da identidade cultural coreana devido a ocupação colonial japonesa.
    Por conta disso, vi ao longo da minha pesquisa que práticas culturais como o Jesa (제사), o ritual para homenagear os antepassados, foram proibidas pelo império nipônico. Também descobri que, em termos religiosos, o cristianismo sob a vertente protestante também proibia essa prática, entretanto o cristianismo sob a vertente católica aceitava, e ainda aceita, a prática do Jesa (제사) como uma característica cultural coreana não religiosa.
    Em diversos casos, a comida oferecida no ritual era a favorita do antepassado em questão e, mesmo que os outros não se alimentem desses pratos específicos, todos que cozinhavam se atentavam a receita original e as práticas culturais relacionadas ao seu preparo.
    Em virtude disso, para além da questão religiosa, você acredita que o Jesa (제사) pode ser considerado uma prática cultural coreana alimentar sendo utilizado como uma resistência doméstica ao domínio japonês?
    Desde já agradeço,
    Gabrielly Fernanda Spizamilio Silva.

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    1. Maria Aparecida Stelzer Lozorio6 de dezembro de 2024 às 00:11

      Boa noite Gabrielly!!
      Sim, acredito que os rituais em homenagem aos antepassados, também se caracterizam como formas de resistência a dominação japonesa e sua niponização. Os coreanos fazem suas reverência ao familiar ou ente querido falecido oferecendo o que o falecido mais gostava de comer. Para que esse ritual aconteça as pessoas passam o dia anterior e o dia do ritual preparando as comidas, e depois do ritual, as pessoas comem em homenagem a quem se foi. Desta forma essa prática cultural perpetua as formas de fazer, de cozinhar, de comer. e assim também foi durante a dominação japonesa. Esses rituais ocorrem dentro de casa, local propício e mais escondido para burlar a proibição nipônica.

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  5. Maria Carolina Stelzer Campos5 de dezembro de 2024 às 19:40

    Que texto incrível!!!
    Queria saber como o kimchi, considerado um símbolo de identidade nacional coreana, pode ser interpretado como um 'ato de resistência' cultural durante a ocupação japonesa, e o que isso revela sobre a força da culinária como ferramenta de preservação histórica e identidade?

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    1. Maria Aparecida Stelzer Lozorio6 de dezembro de 2024 às 00:35

      Obrigada Carolina!!! Interessante a sua pergunta. A culinária sempre será uma ferramenta importante de preservação histórica e de identidade, pois é passada de geração em geração, em todas as casas, e fora das casas em ambiente coletivos também. O kimchi pode sim ser interpretado como um ato de resistência pois normalmente ele é preparado antes do inverno, para que dure todo o período de inverno. E sua preparação envolve toda a família e muitas vezes vizinhos, que se juntam para preparar uma grande quantidade e variedade de kimchi. No K-drama "Desgraça ao seu dispor" a família da protagonista que está doente e tem poucos dias de vida, se reúne para fazer kimchi, como uma despedida familiar, se reúnem para fazer o que mais une as famílias: o cozinhar e o se alimentar. E mais uma vez a cozinha e o interior das casas eram locais de resistência a dominação japonesa. E assim o kimchi sobreviveu a rigorosa e perversa niponização.

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  6. Tema bastante interessante! Parabéns!
    Tratar sobre história da alimentação sempre rende olhares tão singulares sobre elementos tão comuns para nós quanto a comida. Minha pergunta é se houve, em algum momento, a repressão ou proibição de certos tipos de pratos (como mencionado com o confisco do arroz) sem que estivesse atrelado a épocas de secas e más colheitas?

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    1. Olá Hannah!!! Obrigada pelo comentário!!!
      Além do confisco do arroz , que levou os coreanos a utilizarem outros alimentos, o Japão forçou a introdução e substituição de vários elementos marcantes da culinária coreana, mas felizmente não conseguiu. Claro que muitos elementos foram sendo incorporados, como em qualquer troca cultural. Mas o kimchi é um exemplo de resistência, pois o Japão não conseguiu introduzir outro alimento para substituí-lo, pois assim como o arroz o kimchi está presente em todas as refeições coreanas.

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