Manuel Henrique Vieira Matrangolo

 

O MOTIVO DO INFANTE EXPOSTO: UMA ANÁLISE MORFOLÓGICA DAS NARRATIVAS DE EXPOSIÇÃO NA EURÁSIA ANTIGA


Introdução

Narrativas sobre o abandono e o subsequente resgate de crianças recém-nascidas são um fenômeno recorrente em diversas culturas da Antiguidade Eurasiática, do Mediterrâneo até a China. Tal estrutura, nomeada o “Motivo do Infante Exposto”, aparece em histórias tão distintas como as de Sargão da Acádia, Moisés, Karna e Rômulo e Remo. Essas histórias, embora pertencentes a tradições literárias de povos distantes em termos de cultura, espaço e tempo, compartilham uma estrutura narrativa comum: um infante, no geral de nascimento profetizado e destinado a grandes feitos, é abandonado em um local inóspito, tipicamente um rio ou mata selvagem, porém é protegido por forças sobrenaturais e logo em seguida é resgatado e adotado. Mesmo possuindo uma estrutura que contém um começo, um meio e um fim, o Motivo raramente constitui uma história por si só. Aparece principalmente como parte de narrativas maiores de figuras históricas ou mitológicas de grande importância cultural, às quais são creditados grandes feitos.

Este trabalho é derivado da pesquisa previamente desenvolvida na monografia O Motivo do Infante Exposto: uma análise morfológica das narrativas de exposição na Eurásia Antiga (MATRANGOLO, 2023) e visa investigar a estrutura do Motivo do Infante Exposto através de uma abordagem morfológica, com base nos métodos de Vladimir Propp. Ao decompor essas narrativas em funções e estudar suas recorrências e variações, buscamos entender como um mesmo motivo literário pode ser adaptado em contextos culturais distintos.

Fundamentação teórica e método

A análise do Motivo é feita segundo a metodologia morfológica de Propp (2001), que gira ao redor das funções dos personagens. Inspirado nas ciências biológicas e físico-matemáticas, o método morfológico consiste em isolar, através da comparação textual, as partes constituintes das narrativas, diferenciando grandezas variáveis (aquelas que mudam entre narrativas, como nomes ou atributos de personagens) e grandezas constantes (que permanecem iguais em diferentes histórias, as ações dos personagens, suas funções). O objetivo é obter uma morfologia, uma descrição dos elementos que constituem o Motivo e das relações destas partes entre si e com o conjunto.

O principal interesse jaz sobre as funções, elementos básicos, constantes e independentes dos personagens, que possuem as seguintes características descritas por Propp (2001, p. 16–18). As funções representam as ações realizadas nas narrativas, sendo que diferentes personagens podem realizar uma mesma ação, isto é, uma mesma ação pode ser realizada por diferentes meios, sem que se altere a ação em si. Além disso, o número de funções é limitado, sendo justamente esse número restrito combinado as quase infinitas possibilidades de personagens que geram narrativas simultaneamente diversas e em grande parte uniformes e repetíveis. As funções também se organizam em uma sequência de acontecimentos regida por regras particulares e específicas, que permanece a mesma mesmo que nem todas as funções estejam presentes. Quaisquer alterações a essa sequência são limitadas e seguem regras que podem ser precisamente determinadas. Uma vez que a sequência das funções é a mesma e a ausência de uma função não altera a disposição das demais, as funções constroem um relato único, monotípico, sem desviar da série ou se excluírem mutualmente.

Dois outros pontos relevantes são, primeiro, o Motivo é caracterizado pela exposição de recém-nascidos, sendo que histórias sobre crianças mais velhas compõem um fenômeno distinto (LEWIS, 1980, p. 197). E a exposição é um tipo particular de abandono caracterizado pela intencionalidade; seja o objetivo salvar ou eliminar o recém-nascido, a exposição é sempre deliberada, nunca acidental.

Vale ressaltar também que a presença do Motivo a Antiguidade restringe-se a Eurásia. Algumas narrativas com similaridades ao Motivo podem ser encontradas no Egito, porém, ou elas não constituem paralelos reais apesar das semelhanças ou elas são posteriores ao período greco-romano, em que houve grande interinfluência das literaturas clássica e hebraica com a egípcia, não podendo ser consideradas evidências solidas da existência de mitos egípcios mais antigos contendo o Motivo (REDFORD, 1967, p. 219–224).

Análise das Funções e Estrutura Morfológica

A análise morfológica do Motivo do Infante Exposto revelou dez funções: previsão; proibição; concepção; ocultamento; descoberta; nascimento; preparação; exposição; proteção; e resgate, que podem ser agrupadas em três blocos: Gestação, Abandono e Acolhimento. Dentre as funções, foram identificados dois conjuntos de funções pares proibição-concepção e ocultamento-descoberta, estando diretamente relacionadas em suas manifestações nas narrativas.

A ordem exposta é apenas um padrão, a posição das funções não é estática, podendo desviar-se dessa disposição conforme a narrativa, porém apenas dentro de seus respectivos grupos. Tais desvios não representam novos sistemas ou eixos de composição, existindo dentro do modelo único, não alterando a disposição das demais funções.

Dois outros elementos morfológicos que não constituem funções estão presentes nas narrativas, cuja função é adicionar detalhes: situação inicial (α) e enaltecimento (β); localizada no início, α apresenta os elementos necessários para a compreensão da história (personagens, cenário etc.), enquanto β pode ser inicial (βi), onde apresenta o herói e os feitos que o tornaram notável, justificando a narrativa, ou final (βf), servindo de síntese da continuação da história do infante, destacando alguns de seus feitos futuros além da narrativa do nascimento.

Gestação (Previsão, Proibição, Concepção)

Aqui são detalhadas as circunstâncias precedentes à chegada do herói. A previsão representa o anúncio de um nascimento que trará grandes mudanças por meio da divinação ou profecia, como ocorre na história de Paris, com sua mãe sonhando dar à luz à tocha que incendiaria Tróia e por isso abandona a criança, ou pela expectativa independente do sobrenatural, como aquela que motiva Amúlio a expor Rômulo e Remo, filhos de sua sobrinha, que poderiam buscar vingar o avô e reivindicar o trono usurpado por Amúlio.

Segue-se a proibição, a imposição de obstáculo para o nascimento do herói. Esses limites podem se constituir de forma excepcional, projetados excepcionalmente para o nascimento, como é o caso de Dânae sendo encarcerada em uma câmara de bronze por um Acrísio temeroso do nascimento de Perseu, assim como podem ser limitações existentes a priori, normalmente na forma de estigmas sociais, tal qual na história de Karna, em que a princesa Kunti recusa deitar-se com Surya pois fazê-lo sem a permissão de seus pais ou dos anciões seria considerada uma desonra.

A forma da concepção depende da proibição. Caso haja proibição, ela representa a transgressão das regras impostas, por exemplo, Dânae engravidando mesmo em sua prisão. Em algumas narrativas a proibição se encontra subtendida, por tratar de normas sociais que seriam parte do imaginário de seus interlocutores, logo não necessitando torná-las explícitas; nesses casos, a concepção quebra com normas implícitas, ganhando caráter mais sútil na narrativa. É possível também a concepção se dar na ausência de impedimentos, como ocorre na história de Cybele, em que a gravidez resulta de matrimonio legitimo.

Abandono (Ocultamento, Descoberta, Nascimento)

O segundo grupo de funções foca nos eventos que cercam o nascimento do herói, começando pelo ocultamento, os esforços para esconder a gravidez, motivada por múltiplos fatores narrativos. A forma pela qual se dá também é variável, ocasionalmente resumida à mera menção de que a gravidez fora ocultada, sem muitos detalhes. É o que ocorre na história de Neleus e Pélias, em que apenas diz-se que Tiro gestou os gêmeos às ocultas.

Em par com o ocultamento está a descoberta, sendo a forma que a gravidez é descoberta dependente dos esforços para ocultá-la. Esta destaca-se como a função de menor presença.

Segue-se o nascimento, momento de introdução do herói. Porém, contrário ao que a intuição poderia sugerir, ele tem um caráter quase secundário, sendo frequentemente relatado de forma resumida, sem apresentar muitos detalhes.

Acolhimento (Preparação, Exposição, Proteção, Resgate)

O último grupo trata da exposição e posterior resgate do infante. Na preparação estão os passos que precedem a exposição, podendo tratar-se da confecção de um receptáculo para colocar a criança, como na história de Moisés, na qual constrói-se um cesto de juncos revestido com betume; da seleção de um indivíduo para expor o infante, tal qual a história de Ciro, onde Hárpago é convocado para que exponha o bebê; ou do designo de responsáveis por vigiar o infante após a exposição e certificar sua morte, como ocorre na história de Agátocles, com Carcino ordenando que homens vigiassem o infante exposto até que morresse.

Ponto central do Motivo, a exposição pode se dar de duas formas: o infante pode ser exposto em um corpo de água corrente ou pode ser exposto em uma região selvagem ou erma. Histórias como Sargão, Karna e Moisés são exemplos da primeira forma de exposição, enquanto as narrativas de Semiramis, Kun-mo e Atalanta apresentam a segunda. Há um único caso de exposição em local diferente, com a criança exposta em uma estrada, presente na história de Habis, que também contêm o único caso observado de exposição múltipla.

A proteção pode ser realizada através da intervenção de um agente divino, de forma direta ou indireta. Um exemplo claro deste tipo encontra-se na história hitita do Mestre Bom e Mestre Mau (uma das mais antigas encontradas, datando de c. XIII AEC), em que o deus-sol, vendo o infante indefeso no prado após seu nascimento ordena que um de seus servos o colocasse em uma rocha às margens do rio para que seja encontrado por pescadores. A proteção também pode corresponder a animais que, por conta própria, se aproximam e protegem a criança, como ocorre na história de Kun-mo, em que a criança exposta no campo é alimentada por pássaro e lobos.

Por fim, há o resgate. Tal qual a proteção, pode ser uma intervenção divina, como Apolo ordenando que Hermes proteja seu filho na história de Ion. Pode acontecer por mero acaso, como os caçadores que encontram e adotam Atalanta após encontrarem-na exposta na mata. O infante pode ser também resgatado por seu expositor, após ser constatado que sobrevivera às intempéries, como acontece na narrativa de Hiero, cujo pai, avisado por seus adivinhos que a sobrevivência da criança indicava seu grande poder, resgata o filho.

Essas funções estruturais fornecem uma base para a análise comparativa entre narrativas de diferentes culturas, permitindo-nos perceber como cada história adapta o motivo às suas particularidades locais, ao mesmo tempo em que preserva uma sequência comum de eventos.

Morfologia das histórias de Karna, Kun-mo, Rômulo e Sargão

Para ilustrar a aplicação da morfologia ao Motivo do Infante Exposto, analisemos as histórias de Karna, Kun-mo, Rômulo e Sargão, pertencentes a contextos culturais distintos: o subcontinente indiano, a China, Roma e o Oriente Próximo. Essas narrativas, apesar das diferenças geográficas, temporais, culturais e estilísticas, compartilham uma estrutura subjacente que pode ser analisada morfologicamente. A seguir, apresentamos um resumo de cada história antes de analisá-las comparativamente.

Na história do nascimento de Karna, parte do épico Mahabharata (c. 400 AEC – 400 EC), um brâmane presenteia a princesa Kunti com um mantra capaz de invocar deuses. Movida pela curiosidade, Kunti invoca Surya para testar o poder do mantra. Surya compreende o erro, mas recusa ser invocado em vão. Então, exige que Kunti deite-se com ele, prometendo-lhe um filho heroico e de poder incomparável. Porém, segundo a tradição, apenas seus pais e os anciões poderiam conceder o corpo da garota. Para contornar a regra, Surya promete que Kunti permanecerá virgem, convencendo-a a conceber a criança e parte, deixando como presentes ao filho brincos e uma armadura encantados. Kunti fica gravida durante dez meses, período no qual ela esconde a gravidez recolhendo-se aos espaços restritos às virgens. Após a gestação, nasce um garoto, Karna, vestindo a armadura e os brincos. E assim que a criança nasce, Kunti e sua enfermeira deitam-na em uma cesta vedada com cera de abelha e colocam-na no rio Ashva. A cesta é encontrada por um casal nobre, que adota o garoto. Karna rapidamente demonstra sua força e potencial (JOHNSON, 2005, p. 233–263).

Nesse caso, a situação inicial (α) apresenta o contexto que leva Kunti a receber o mantra do brâmane por sua hospitalidade. Identificamos as funções de previsão, quando Surya promete um filho extraordinário; Proibição, no tabu que impede Kunti de engravidar; concepção, quando Surya se deita com Kunti, garantindo a ela que sua virgindade seria preservada; ocultamento, ao Kunti recolher-se aos aposentos das virgens; preparação, no vedar da cesta com cera; exposição, com o abandono do bebê no rio; e resgate, com a adoção pelo casal nobre. No enaltecimento final (βf), é apresentado como Karna desenvolve sua força ímpar.

A história de Kun-mo aparece no Shiji, de Sima Qian, coletada por Zhang Qian enquanto vivia entre os xiongnu; as viagens e o Shiji datam do século II AEC. Era filho do rei de um pequeno país que fora atacado pelos xiongnu. Seu pai fora morto e Kun-mo, ainda recém-nascido, fora deixado em um campo, onde pássaros e lobos sustentaram-no. Maravilhado com a cena e acreditando tratar-se de um deus, o governante dos xiongnu adota o garoto (GONÇALVES, 1971, p. 88; SIMA, 1961, p. 271).

Aqui, α relata o passado de Kun-mo brevemente. Essa história contém apenas o Acolhimento. Temos as funções exposição, com Kun-mo abandonado no campo; proteção, com animais selvagens cuidando do bebê; e resgate, quando o líder dos xiongnu, acreditando-o um ser divino, resgata e adota o infante. A ausência dos grupos Gestação e Abandono pode ser explicada por tratar-se de um relato feito por um estrangeiro e não a narrativa original.

A versão de Rômulo narrada por Plutarco em suas Vidas Paralelas (II EC), começa pela usurpação do trono de Numitor por seu irmão Amúlio. Temeroso que a sobrinha viesse a ter filhos que reivindicassem o trono, obriga-a a tornar-se Vesta. Não muito depois, porém, ela engravida e passa a ser mantida em cativeiro. Quando os gêmeos nascem, Amúlio ordena que sejam mortos. Um servo os leva até o Tibre, porém o rio encontrava-se agitado, portanto, deixa a cesta com os bebês às margens. Ela é carregada pelas correntes, sendo depositada em local seguro, onde uma loba encontra os infantes, amamentando-os e protegendo-os até seu eventual resgate. Ao final, são destacadas as qualidades físicas e mentais dos gêmeos, sobretudo Rômulo e sua proeza política (PLUTARCO, 2008, p. 116–121).

Nessa narrativa, temos α, em Amúlio usurpando o trono de seu irmão; previsão, com Amúlio temendo possíveis herdeiros de Numitor; Proibição, com a imposição do sacerdócio à sobrinha; descoberta, descobrindo-se a gravidez em violação aos ditames vestais; nascimento, exaltando a beleza e o tamanho dos bebês; preparação, sendo designado um servo para eliminar as crianças; exposição, com os gêmeos colocados às margens do Tibre; proteção, representada na loba; e resgate, com Fáustulo recolhendo-os. Há também βf, destacando brevemente suas qualidades e proezas na juventude.

A Lenda de Sargão (c. XIII – VIII AEC) é apresentada como uma autobiografia. Começa com afirmando que é escrita por Sargão, o poderoso rei da Acádia, cuja mãe era uma alta sacerdotisa e cujo pai era desconhecido. Sua mãe concebera-o em segredo. Após seu nascimento o colocara em um cesto de junco vedado com betume e lançara-o ao rio Eufrates. As águas carregam-no até Akki, o jardineiro real da cidade de Kish, que resgata e adota o garoto. Sargão torna-se jardineiro como seu pai adotivo e, enquanto trabalha, recebe o amor da deusa Ishtar e então se torna rei (SPEISER, 1974).

A Lenda começa com enaltecimento inicial (βi), ressaltando que é escrita por Sargão, o poderoso rei da Acádia, e α, apresentado as relações familiares dele e reforçando a posição de sua mão como sacerdotisa. Apresenta as funções proibição, ao destacar o sacerdócio de sua mãe; ocultamento, com a gravidez e o nascimento ocorrendo em segredo; preparação, no preparo do cesto vedado; exposição, com Sargão lançado no Eufrates; resgate, quando Akki recolhe o cesto e adota a criança. Também contém βf quando Ishtar apaixona-se por Sargão e ele se torna rei, narrando suas proezas.

Essas histórias ilustram o padrão morfológico único do Motivo do Infante Exposto, demonstrando uma estrutura constante que subjaz narrativas de contextos culturais distintos. Além disso, evidenciam que a omissão de uma ou mais funções não compromete a sequência das demais, reafirmando o princípio morfológico de que funções mantêm sua ordem, mesmo com ausências ou deslocamentos.

Considerações Finais

A análise morfológica nos possibilita abordar as histórias para além da mera constatação de semelhanças e diferenças. O elo entre as narrativas de Karna, Rômulo e Sargão não se limita ao fato de todos serem colocados em rios após nascerem, assim como a história de Kun-mo não se dissocia das demais apenas pela ausência de um rio, substituído pelo campo. O que verdadeiramente as conecta é a estrutura morfológica subjacente: uma criança, por vezes profetizada – positivamente, como no caso de Karna, ou negativamente, como Rômulo –, nasce apesar das adversidades, é exposta, mas sobrevive às intempéries, sendo resgatada para, enfim, cumprir seu destino heroico.

Essa conexão estrutural vai além de aspectos superficiais, como a motivação do expositor ou o meio físico da exposição, e revela um padrão morfológico que transcende culturas. O rio e o campo são, ao mesmo tempo, diferentes e equivalentes em suas funções narrativas. Simbolizam o limiar entre a morte iminente e a sobrevivência extraordinária, enfatizando o caráter excepcional do protagonista. A análise morfológica, assim, não apenas identifica os elementos comuns às histórias, mas também ilumina como contextos variados adaptam e utilizam os mesmos fundamentos narrativos para refletir seus valores e simbolismo únicos. 

Referências

Manuel Henrique Vieira Matrangolo é graduado em História pela Universidade de Brasília (UnB). Email: manuelmatrangolo@gmail.com.

GONÇALVES, Ricardo Mário. A viagem de Chang Ch’ien e o início do controle chinês da rota da seda. Em: PAULA, E. S. DE (Ed.). Portos, rotas e comércio. São Paulo: FFLCH-USP, 1971. p. 79–105.

JOHNSON, William John. (ED.). Mahābhārata. 3,4: Book three, the Forest / transl. by W. J. Johnson. 1. ed. New York: New York Univ. Press, 2005.

LEWIS, Brian. The Sargon Legend: a study of the Akkadian text and the tale of the hero who was exposed at birth. Cambridge, MA: American Schools of Oriental Research, 1980.

MATRANGOLO, Manuel H. V. O nascimento do herói eurasiático: o motivo do infante exposto a partir de uma perspectiva morfológica. Monografia—Brasília: Universidade de Brasília (UnB), 21 dez. 2023.

PLUTARCO. Vidas Paralelas Teseu e Rómulo. Tradução: Delfim F. Leão; Tradução: Maria do Céu Fialho. 1. ed. Coimbra: Centro de Estudos Clássicos e Humanísticos, 2008.

PROPP, Vladimir I. Morfologia do Conto Maravilhoso. [s.l.] CopyMarket.com, 2001.

REDFORD, Donald B. The Literary Motif of the Exposed Child (Cf. Ex. ii 1-10). Numen, v. 14, n. 3, p. 209–228, nov. 1967.

SIMA QIAN. The Account of Ta-yüan. Em: WATSON, B. (Ed.). Records of the Grand Historian of China. Tradução: Burton Watson. New York, London: Columbia University Press, 1961. p. 264–289.

SPEISER, E. A. The Legend of Sargon. Em: PRITCHARD, J. B. (Ed.). Ancient Near Eastern texts: relating to the Old Testament. 3rd edition with supplement ed. Princeton, N.J: Princeton University Press, 1974. p. 119.

 

3 comentários:

  1. Ola Manuel! Muito legal a análise morfológica das narrativas que você realizou.

    Pensando nas questões que você muito bem pontuou sobre a estruturação formal dessas narrativas, não consigo deixar de pensar em possíveis motivos (razões, explicações, suposições etc.) para elas serem como são. Isto é, eu entendo a argumentação que você trabalha em seu texto que vincula a expressão de valores e simbolismos únicos e diversos à uma estrutura narrativa algo que geral (nesse sentido, quase uma "superestrutura" já que seria constante e os valores/simbolismos que podem ser mobilizados através dela, não). Mas não consigo deixar de pensar nas razões que formatam a própria estrutura. Você tem algum comentário sobre essa questão que inquere a própria estrutura sobre suas razões e motivações? Não sei se é um debate pertinente para o tipo de trabalho que você desenvolve, mas é um dúvida genuína minha e ficaria feliz em saber se há algo no horizonte da sua pesquisa que pense a questão.

    Felipe Chaves Gonçalves Pinto

    ResponderExcluir
  2. Manuel Henrique Vieira Matrangolo3 de dezembro de 2024 às 10:55

    Obrigado pela pergunta, Felipe.

    Questões sobre as origens do Motivo do Infante Exposto não são o foco principal da minha pesquisa, que se concentra mais no funcionamento interno do Motivo e em suas variações morfológicas. No entanto, é possível refletir sobre algumas razões que poderiam explicar sua forma específica.

    Primeiramente, o abandono de infantes por meio da exposição – seja como forma de infanticídio ou como uma alternativa a ele, esperando que o infante fosse adotado por estranhos em melhores condições que os pais – era uma prática real em algumas das regiões em que o Motivo pode ser encontrado, tal qual a China Han, o Império Romano e a Grécia Antiga. Então, muito provavelmente o Motivo representa uma elaboração narrativa fantástica de práticas reais.

    Dito isso, tenho duas hipóteses complementares sobre o porquê da forma específica do Motivo. Primeiro, acredito que sua base se encontra na simples observação da natureza: tanto o lançar na água, como o abandonar na mata são formas práticas de desfazer de algo – ou no caso do Motivo, alguém – indesejado. Se o infante é lançado nas águas de um rio, a correnteza levará embora; se ele é abandonado na mata, estará perdido e possivelmente será devorado por animais.

    Em termos literários, a exposição teria o propósito de exaltar o herói em sua jornada, colocando-o no limiar entre a vida e a morte. Essa situação destaca seu caráter excepcional, seu caráter excepcional, seu destino grandioso ou sua conexão com o divino.

    Ainda, Otto Rank (1914, p. 68–70), influenciado pela psicanálise freudiana, interpreta o mito como um sonho coletivo das massas. Segundo ele, as histórias de exposição de heróis representariam o desejo inconsciente da criança por independência e a ruptura com os pais. Pessoalmente, considero-a limitada, especialmente à luz das evidências históricas que indicam que a exposição infantil era uma prática concreta, e não apenas simbólica.

    Espero que essa reflexão contribua para responder à sua dúvida, mesmo que essas explicações não sejam exaustivas nem definitivas.

    Manuel Henrique Vieira Matrangolo

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Olá, Manuel!
      Muito obrigado pela resposta detalhada. Gostei muito da sua abordagem do tema e espero que a pesquisa ainda dê muitos frutos!
      abraços,
      felipe

      Excluir

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.