Lucas Ciamariconi Munhóz

 

DA ALTERIDADE À IDENTIDADE: REPRESENTAÇÕES DO ATÔMICO NOS MANGÁS E NA CULTURA POP JAPONESA

 

Os bombardeios das cidades de Hiroshima e Nagasaki, aconteceram, respectivamente, nos dias 6 e 9 de agosto de 1945. Hiroshima foi selecionada como alvo da bomba Little Boy por sua relevância militar e industrial. Segundo dados coletados pelo Museu Memorial da Paz de Hiroshima, o armamento foi lançado pelo avião bombardeiro B-29 de codinome Enola Gay, no dia 6 de agosto, às 8h15 da manhã, explodindo a 600 metros em relação ao solo, acima do Hospital Shima, região central da cidade. A explosão meticulosamente calculada em testes anteriores liberou uma energia de 16 quilotons de TNT, criando um raio de explosão de 1,6 quilômetros, envolvendo 11 quilômetros quadrados da cidade em chamas. Por sua vez, Nagasaki foi uma escolha de segunda ordem, após a confirmação de que o alvo primário, Kokura, não possuía condições climáticas que garantissem a completa efetividade do bombardeio. A bomba Fat Man foi lançada as 11h02 da manhã do dia 9 de agosto. Mais de cem mil pessoas morreram em decorrência da explosão direta dos armamentos, mas também nos anos subsequentes do pós-guerra, devido aos efeitos da exposição à radiação no corpo humano [HIROSHIMA PEACE MEMORIAL MUSEUM, 1960].

 

Em resposta aos bombardeios das cidades japonesas, ao esgotamento de suas forças militares e a invasão soviética da Manchúria em 8 de agosto de 1945, o então Imperador Hirohito assinou os termos de rendição da nação no conflito, oficializando a Declaração de Potsdam (1945), e o final da Segunda Guerra Mundial e das disputas na bacia do Pacífico. Como acordado pela negociação de rendição, Hirohito obteve sucesso em garantir a permanência do poder imperial, ao preço de desmilitarizar totalmente a nação, bem como responder ao governo de ocupação americano e as forças aliadas, até sua retirada oficial em 1952, estipulada pelo Tratado de Paz com o Japão, no dia 28 de abril do mesmo ano. Entretanto, mesmo após o fim da ocupação, os temores acerca dos armamentos nucleares eram visivelmente presentes no país, principalmente impulsionados pelos desdobramentos da Guerra Fria, e dos conflitos entre Estados Unidos e União Soviética [IGARASHI, 2011].

Realizados tais apontamentos, a intenção do presente artigo parte de um dos questionamentos feitos pelo pesquisador Toshio Miyake, professor associado da Universidade de Veneza, e especialista em estudos asiáticos. O mesmo indaga:

“Como foi possível chegar a um consenso hegemônico sobre as políticas de energia nuclear no Japão do pós-guerra, quando era o único país do mundo a ter sofrido bombardeios atômicos em suas cidades? Como foi possível construir 54 reatores nucleares num arquipélago pequeno, densamente povoado, e com um risco sísmico tão elevado? E por último, como foi possível que mesmo os residentes que viviam perto das plantas nucleares os percebiam como lugares luminosos, amigáveis e tecnológicos?” [MIYAKE, 2012, p. 71]

 

Como o próprio Miyake aponta, é fato que o Japão institucionaliza políticas nucleares desde o pós-guerra nas mais diversas esferas da sociedade, da cultura e da economia. Entretanto, buscar respostas apenas em estruturas políticas não parece esclarecer de fato, como a sociedade japonesa se relaciona e compreende a questão atômica. Os bombardeios das cidades de Hiroshima e Nagasaki não foram as únicas experiências negativas que a nação sofreu com a energia nuclear. Em março de 1954, a embarcação de pesca de Atum, Lucky Dragon No. 5 foi exposta a um trecho de radiação na região do Atol de Biquini, local em que os americanos realizaram testes nucleares. A morte súbita de um dos pescadores, Aikichi Kuboyama soou como um alerta sobre os perigos nucleares para os japoneses [MASASHI, 2011].

 

Em 2011, o Japão foi atingido por um terremoto grande magnitude, ocasionando um tsunami que atingiu a usina nuclear de Fukushima, explodindo 3 de seus reatores, liberando uma grande quantidade de radiação na região. Na ocasião, ativistas de direita, como Tamogami Toshio e Kasaka Kimindo, defendiam que a radiação liberada na área era irrisória e que não era necessária grande preocupação. Enfatiza-se que essas mesmas figuras, na época, eram representantes da Associação das Vítimas das Bombas Atômicas, e que eram politicamente controversos, negando ativamente o Massacre de Nanquim e agressões japonesas contra nações asiáticas durante seu período de expansionismo imperialista, principalmente durante as duas Guerras Sino-Japonesas [PENNEY, 2012].

 

Mesmo após todos os incidentes citados, a sociedade japonesa parece ter uma relação de ambiguidade com as bombas atômicas e com o uso de energia nuclear, que perpassa o campo político, e se conecta com a (re)construção da identidade japonesa no pós-guerra, com os discursos históricos construídos em comunhão entre Japão e Estados Unidos, e com aparatos midiáticos, sociais e culturais que os disseminaram, como é o caso da cultura pop japonesa e dos mangás.

 

Durante o pós-guerra imediato, prevaleceu a imagem de que o Japão foi uma trágica vítima dos perigos atômicos, ao mesmo passo em que a reconstrução da nação era pautada na incorporação de códigos culturais ocidentais, na democracia, no pacifismo e em uma economia progressista. Entretanto, esse mesmo discurso era embasado em narrativas históricas negacionistas, principalmente em relação aos crimes de guerra do Japão, e os reais efeitos das bombas atômicas. Para que isso fosse possível, o Discurso Fundador, nome que o historiador Yoshikuni Igarashi dá a narrativa oficial propagada, envolveu uma transformação radical da identidade japonesa, estimulada por um processo voluntário de ocultação das memórias e traumas de guerra da sociedade nipônica. O autor aprofunda:

 

“O Japão do pós-guerra naturalizou a ausência e o silêncio do passado ao erradicar sua própria luta para lidar com suas memórias. Pode parecer que a sociedade do pós-guerra facilmente deixou suas experiências para trás na busca por sucesso econômico. Entretanto, o progresso atual de esquecimento da perda não foi fácil: isto envolveu uma luta constante para transformar as memórias de guerra em uma forma nostálgica e benigna.” [IGARASHI, 2011, p. 40]

 

Com o avanço do pós-guerra e o recuo da censura, posições contrárias as narrativas oficiais ganharam espaço, internacionalizaram-se e complexificaram o debate acerca do papel japonês na guerra, e da questão nuclear [NETO, 2021]. Nesse sentido, a cultura midiática exerceu grande influência na percepção dos japoneses sobre o uso da energia atômica. Amparado nesses instrumentos, na legislação de políticas como a Lei de Energia Atômica (1955), e na declaração dos Três Princípios Não Nucleares (1971), é que se tornou possível a pesquisa do uso de energia atômica, resultando na construção de usinas e reatores nucleares em diversas áreas do Japão [MIYAKE, 2012].

 

De acordo com Hirofumi Utsumi (2012), o que proporcionou o surgimento de uma dupla narrativa nuclear no Japão foi exatamente a institucionalização desses dois discursos a um nível não somente político, mas social e cultural. Ainda explica que, esses dois universos discursivos, deveriam fundamentalmente permanecer separados, para evitar o renascimento de contradições históricas enraizadas pelo Discurso Fundador, e que conduziram o Japão ao seu suposto milagre econômico e estabilidade social, sob a sombra e a tutela dos Estados Unidos. O autor explica cada um:

 

“O primeiro discurso é o nuclear como alteridade, como perigo iminente, como uma arma maligna, fonte de destruição em massa e contaminação letal. Esta alteridade foi em grande parte removida e exorcizada projetando-a no passado (Segunda Guerra Mundial) ou em algo de origem estrangeira, monstruosa ou alienígena (os EUA, a URSS, e em monstros como o Godzilla). O segundo discurso é o nuclear como identidade, como energia pacífica, segura, limpa e boa, projetada diretamente no Japão atual, expressando a ideia de um país pacífico, tecnológico e rico” [UTSUMI, 2012, p. 180]

 

A apropriação da cultura midiática para a disseminação e legitimação de discursos como esses não é algo inaugurado no pós-guerra, vide que o próprio Japão se utilizou muitas vezes do cinema, da fotografia, e dos mangás como propaganda de guerra. É nesse sentido que o já citado Miyake (2012) aponta que o mangá desempenhou um papel histórico e paradigmático na formação da mídia vigente no Japão do pós-guerra, transformando a nação numa espécie de paraíso dos quadrinhos. É durante a década de 1990 que o mangá teve seu período de maior difusão como mídia impressa, onde suas vendas alcançaram mais de 40% das publicações do país [SCHODT, 1996]. O quadrinho nipônico foi e ainda é um dos principais meios da cultura popular japonesa, fornecendo a referência original para uma cadeia de subprodutos e adaptações de suas narrativas, em animês, filmes, jogos, Light Novels e produtos de consumo diversos [PINK, 2007].

 

O alcance e a circularidade dos mangás é amplamente apropriado por diversos grupos construtores de discursos políticos, históricos e sociais. Desse modo, a construção dos discursos de alteridade e identidade atômica também foram fortemente influenciados por narrativas gráficas e personagens específicos que acabaram se tornando ícones da cultura pop japonesa. Podemos citar como exemplo do discurso de alteridade, o mangá Gen Pés Descalços, do quadrinista e hibakusha (sobrevivente da bomba de Hiroshima), Keiji Nakazawa.

 

O mangá narra a história do protagonista Gen Nakaoka, um menino de cinco anos que sobrevive à explosão da bomba em Hiroshima. A narrativa, apesar de ser uma obra de ficção, apresenta memórias e testemunhos do autor, como hibakusha. A obra conta com mais de dez milhões de cópias vendidas, foi traduzida para mais de onze línguas, e já foi adaptada para diversos tipos de mídia e arte. É mundialmente reconhecida, e também está presente no ensino de história em escolas japonesas. Foi publicado pela primeira vez pela editora Shonen Jump (MASASHI, 2011). Gen se consagrou dentro e fora do Japão como um dos principais mangás que retratam a bomba atômica, e até hoje é utilizado no ensino de História em escolas japonesas. De acordo com uma pesquisa feita por Ito (2006), das 152 escolas que ele entrevistou, 90% possuía Gen em seu acervo. A narrativa sequencial acabou se tornando um ícone da literatura atômica no Japão.

 

Nakazawa buscou comunicar a seus leitores sobre as ameaças da guerra e os perigos das armas nucleares. De mesma maneira, apresentou eventos e memórias excluídas das narrativas oficiais, e da maioria das obras sobre armas nucleares no período estudado. Gen Pés Descalços retrata diversas temáticas relevantes ao pós-guerra, como por exemplo o passado imperialista japonês, os experimentos humanos realizados pela Unidade 731, a escravidão sexual de mulheres asiáticas institucionalizada pelos militares japoneses, o mercado negro, e a prostituição no pós-guerra. Como indica o historiador Maxtom Moreira Filho:

 

“Keiji Nakazawa se utiliza de sua arte para lutar contra a classe dominante, que se apropria do passado, e sem preocupação com seu cortejo triunfante soterram os derrotados da História. A rendição do Japão, para o Imperador e as elites significou continuar no poder da nação. Para as vítimas, significou o esquecimento e a culpa” [FILHO, 2022, p. 9]

 

Apesar do sucesso da obra e de sua incorporação em materiais de ensino, o mangá passou por uma série de polêmicas e ataques pelo seu próprio conteúdo. Se por um lado Gen Pés Descalços representa o sofrimento dos hibakushas e todo o potencial de destruição atômico, por outro se constitui como contraponto as narrativas negacionistas presentes no Japão do pós-guerra, que ainda são apropriadas por grupos políticos neonacionalistas. A crítica que Nakazawa tece sobra o imperialismo japonês e suas ações contra nações asiáticas não passaram despercebidas, e desde suas primeiras publicações o mangá sofreu com pressões políticas e sociais [NAKAZAWA, 2010].

 

Desde a implementação do Material de Ensino Para a Paz (2013), instituições de vários locais do país foram pressionadas a retirar Gen Pés Descalços de seus materiais didáticos. O que se sabe até o presente momento, é que em 2023 o mangá foi retirado das escolas de Hiroshima, e assim segue. A retirada da obra foi marcada por protestos locais e pela ação de grupos que promovem o uso do mangá no ensino da guerra, como é o caso do Barefoot Promotion Group [SHIRASAKI, 2023]. A despeito de qualquer perseguição que o mangá tenha sofrido, fica claro que sua narrativa não só é contrária aos discursos negacionistas citados, mas que em certa medida, influenciou e contribuiu para a construção da ideia do nuclear como alteridade, contra os armamentos atômicos e contra a guerra. Toshio Miyake completa esse pensamento:

 

“Apesar das dificuldades iniciais em garantir a continuidade da publicação da obra, devido ao seu realismo gráfico brutal, a aclamação crítica generalizada, especialmente por movimentos de paz, tanto nacionais como internacionais, marcaram a entrada do mangá como material didático nas bibliotecas escolares. Em outras palavras, Gen Pés Descalços contribuiu para a legitimação institucionalizada do mangá ao status de cultura ou cultura séria no início dos anos 1980, como um meio não necessariamente redutível ao entretenimento comercializado ou meramente esvaziado” [MIYAKE, 2012, p. 77]

 

Em contrapartida ao discurso de Gen Pés Descalços, outras narrativas que surgem desde 1952 buscam construir o nuclear como identidade, com a visão de que a energia nuclear é algo sustentável, lucrativo, bom e tecnológico, se alinhando com a ideia de nação progressista construída no pós-guerra. É possível citar como exemplo as Hiroshima Otome (Donzelas de Hiroshima, Tetsuwan Atomu (Astroboy), ícones da cultura kawaii e hiper sexualizada do Japão, e até mesmo iniciativas estatais de construir centros de lazer e consumo dentro de plantas nucleares, com o intuito de aproximar a nação da identidade nuclear que era necessária ser incorporada na sociedade [MURAKAMI, 2005].

 

De acordo com Sawaragi (2005) e Igarashi (2011), o fortalecimento do negacionismo em narrativas oficiais, e a remoção da discussão pública relacionadas ao passado imperialista japonês e seus crimes de guerra, as contradições da Constituição da Paz, o papel do Imperador na guerra, e sobre os bombardeios atômicos causados pelos Estados Unidos, causaram uma “espécie de condição histórica distorcida: uma cápsula vazia a-histórica chamada Japão” [SAWARAGI, 2005]. De acordo com Miyake:

 

“Depois da década de 1970, toda a ansiedade, medos, traumas e sentimento de culpa desencadeados pela Guerra do Pacífico foram removidas do campo público, e foram deslocados e depois liberados nos campos menos controlados das subculturas. É por isso que as culturas populares desenvolveram um estilo visual tão completo de excessos, exageros, distorções: hiper infantilismo, hipersexualidade, hiperviolência. Uma cultura visual explosiva alimentada pela sua suspensão da realidade histórica e empírica. Em outras palavras, a questão não resolvida dos bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki tornou-se um tema ambivalente, de convenções estéticas transversais e das plataformas de mídia japonesa das culturas populares” [MIYAKE, 2012, p. 79]

 

Feito tais apontamentos, concluímos que é essencial uma análise minuciosa e aprofundada das culturas populares japonesas, em nosso caso, enfatizando a literatura atômica produzida pelos mangás, para compreender de fato, como a memória do pós-guerra foi construída, incorporada e comunicada pela sociedade japonesa. O quadrinho nipônico é uma das principais mídias que estruturam uma cadeia de adaptações, produtos e narrativas. Por essa característica, o embate histórico, político e social também acontece pelo uso desse dispositivo de comunicação. Para decifrar as narrativas de alteridade e identidade nuclear é necessário olhar para aqueles que foram apagados das narrativas oficiais, assim como compreender como os mangás e a cultura pop japonesa influenciaram a construção de discursos, ícones e representações que fazem parte da identidade japonesa, e do entendimento dos japoneses sobre seu passado.

 

Referências

Lucas Ciamariconi Munhóz é licenciado em História e mestrando em História Social pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Atualmente é bolsista pela CAPES, membro do Laboratório de Pesquisa de Culturas Orientais (LAPECO), e membro do corpo editorial do periódico semestral Prajna: Revista de Culturas Orientais.

 

FILHO, Maxtom Moreira. O eco no silêncio: Hadashi no Gen como contraponto a narrativa fundadora. ANPUH, 2022.

 

HIROSHIMA PEACE MEMORIAL MUSEUM. Hiroshima Genbaku Sensaishi. Hiroshima, 1960. Disponível em: https://hpmm-db.jp/book_en/

 

IGARASHI, Yoshikuni. Corpos da memória: narrativas do pós-guerra na cultura japonesa (1945 – 1970). São Paulo: Annablume, 2011.

 

IGARASHI, Yoshikuni. Tsuge Yoshiharu and postwar Japan: travel, memory and nostalgia. Mechademia, University of Minnesota Press. v.6 p. 271 – 285, 2011.

 

ITO, Y. Folklore of Hadashi no Gen. In Hadashi no Gen ga Ita Fuukei, 2006.

 

MASASHI, Ichiki. Embracing the victimhood: a history of a-bomb manga in Japan. IJAPS, Vol. 7, No. 3, Japan, 2011.

 

MIYAKE, Toshio. Popularising the nuclear: mangaesque convergence in post-war Japan. Universidade de Veneza, Itália, 2014.

 

Murakami, Takashi (ed.). Little boy: The arts of Japan’s exploding subculture. New Haven-London: Yale University Press, 2005.

 

NETO, Mario Marcello. Entre a bomba atômica e os crimes de guerra: o negacionismo e a historiografia japonesa em perspectiva. São Paulo: Revista Brasileira de História, vol. 41, n. 87, 2021.

PENNEY, Matthew. Neo-nationalists target Barefoot Gen. The Asia-Pacific Journal, v.10, 2012.

Sawaragi, Noi. On the battlefield of ‘superflat’: Subculture and art in post-war Japan. In: Murakami, Takashi (ed.), Little Boy: The arts of Japan’s exploding subculture. New Haven-London: Yale University Press, pp. 187-207, 2005.

 

Schodt, Frederik L. Dreamland Japan: Writings on modern manga.

Berkeley: Stone Bridge Press, 1996.

 

SHIRASAKI, Yoshiaki. Statement calling for continued use of "Barefoot Gen" as a school textbook in Hiroshima City. Barefoot Gen Promotion Association (NPO), 2023. Disponível em: https://hadashinogen.jp/

 

UTSUMI, Hirofumi. Nuclear power plants in ‘the only A-bombed country’: Images of nuclear power and nation’s changing self-portrait in post-war Japan. In: Van Lente, Dick (ed.), The nuclear age in popular media: A transnational history. Basingstoke: Palgrave MacMillan, pp. 175-202, 2012.

 

 

3 comentários:

  1. Bom dia, Lucas

    O texto sobre sua pesquisa, levantou de forma bem concisa e clara as narrativas acerca de como se contruiu (e constroem) memórias sobre o lançamento e os efeitos das bombas nucleares em Hiroshima e Nagasaki. Acredito, pela minha vivencia aqui, que 1) essa narrativa “negacionista” sempre esteve na ordem do dia por aqui, se transformando em um “vitimismo” manipulado pelo governo para apagar as atrocidades que levaram a essa tragédia atômica e 2) a publicação da série “Hadashi no gen” a partir de 1973 até 1985, diz muito sobre ao contexto histórico vivido pelo Japão no período (segunda economia do mundo, otimismo, consumismo, publicações mais liberais). Por isso gostaria de saber se você teve contato com a obra “Hiroshima notes” do Kenzaburo Oe ? E caso sim, como ela dialogaria com a o mangá “Hadashi no gênero”? Obrigado e um abraço!
    Rogerio A. Dezem

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  2. Respostas
    1. Boa noite, Rogério!

      Primeiramente agradeço pelos apontamentos positivos acerca da pesquisa, ainda mais considerando que nesse texto lidei com fontes relativamente novas (no sentido do meu acesso a elas).

      De fato, concordo com suas duas colocações, e é pensando nesses aspectos que busco investigar como os mangás de temática atômica influenciaram a construção desse discurso vitimista e de uma narrativa negacionista, principalmente no que diz respeito ao passado imperialista japonês. De mesma forma, evidenciar como narrativas gráficas, como é o caso de minha fonte primária (Hadashi no Gen) surgem como contraponto a narrativa oficial, criando o ambiente de ambiguidade que cito, acerca do entendimento sobre o nuclear na sociedade japonesa do pós-guerra. E obviamente esses apontamentos são levantados a partir das obras que cito durante o texto, principalmente na conceituação que Hirofumi Utsumi (2012) faz sobre esses discursos antagônicos, classificando um como alteridade, e outro como identidade atômica.

      No que diz respeito a obra de Kenzaburo Oe, eu a conheço há algum tempo, o que despertou meu interesse de cara, principalmente no que você pontuou sobre estabelecer um diálogo entre a obra de Nakazawa e o Hiroshima Notes. Entretanto, eu não consegui achar a obra para a venda no Brasil, e acredito que nem tenha sido publicada em português. A língua inglesa não é um problema para mim na maioria dos casos, mas o único acesso a obra que encontrei foi via importação. De qualquer maneira, ela segue em minha bibliografia, e com certeza será incorporada em minhas referências futuras. Acredito que esse será um tema que trataremos num futuro breve, e espero poder te trazer novas informações e reflexões acerca das duas obras.

      Grande abraço!
      Lucas Ciamariconi Munhóz.

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