BREVE CRONOLOGIA DAS DISCUSSÕES FEMINISTAS ENTRE O IMPÉRIO MEIJI E
TAISHÔ
Com a entrada da discussão do sufrágio
ocidental, a primeira onda do feminismo no Japão se iniciava no Império Meiji
[1868-1912]. Entre vários decretos, o governo do período proibia às mulheres o
acesso à educação, ao voto e à participação política, tal como sua presença em
reuniões partidárias e em discussões que questionavam o império. Kusunose Kita
[1833-1920], por exemplo, desde 1878, protestava junto ao Movimento popular do
Japão, a favor do voto feminino. A partir da Democracia de Taishô [1912-1926],
a participação das mulheres na sociedade, suas manifestações, tal como
organizações políticas voltaram a ser permitidas, e a possibilidade de líderes
contemporâneas estarem na bancada do parlamento, Ichikawa Fusae [1893–1981],
por exemplo, uma das feministas que articulavam pelos direitos reprodutivos,
pelo direito ao aborto e pela legislação da prostituição.
Mulheres pobres, mais ou menos privilegiadas,
ou mesmo geishas, todas passavam pela exploração característica do sistema
familiar, ie, mesmo que em maior ou menor grau. Não tinham acesso à educação e
empregos dignos mas tinham o dever de dedicar-se integralmente à família e à
casa, sendo treinadas como “boas esposas e mães sábias” [princípio ryôsai
kenbo, instituído em 1897, ideal tradicional para a feminilidade no leste da
Ásia, incluindo Japão, China e Coréia, cunhada pelo supervisor de educação,
Nakamura Masanao, em 1875]. Mesmo em um cenário desfavorável, mulheres como
Higuchi Ichiyo [1872–1896] e Toshiko Kishida [1864–1901], que tinham acesso à educação,
conseguiram escrever sobre temas como os direitos das mulheres. Ichiyo, por
exemplo, trabalhava a autoconsciência das mulheres através da literatura,
delineando problemas ligados à pobreza e à prostituição forçada em seus livros
de ficção [Kikuchi, 2020].
Já Toshiko Kishida, que tinha uma abordagem
política e mais direta, trabalhou para a corte imperial e viajou pelo Japão nos
anos de 1880, discursando sobre temas como: "O governo como força sobre os
homens e os homens como força sobre as mulheres", “As mulheres não podem
deixar de combinar 'o rígido e o flexível’", e "Suportar o que não
precisa ser suportado e se preocupar com o que não precisa ser uma preocupação:
esses não são deveres das mulheres". Esses eram pronunciamentos que
indicavam seu interesse em “elevar” o status marginalizado da mulher na
sociedade. Em outubro de 1883, Toshiko Kishida foi presa, multada e julgada,
após seu discurso proferido sem permissão “Filhas em caixas”, em Ōtsu. A
militante questionava a diferença de tratamento entre os gêneros no contexto
familiar ao educar suas filhas e apresentava três “caixas” presentes nas
famílias japonesas, as quais representavam limitações mentais e emocionais.
Essa fala analisava e criticava a sociedade japonesa, de forma a responsabilizá-la
pelos maus-tratos das garotas, inspirando diversos movimentos reformistas e
feministas [Kishida, 2007]. O que observamos é que, mesmo com diversas
polêmicas negativas e sua prisão, Kishida Toshiko não deixou de levar a público
o que acreditava. Quase um ano depois, Kishida publicou o artigo “Dôho shimai
ni tsugu” [“Chamada às minhas irmãs”] no jornal Jiyû no tomoshibi, “Luz da
liberdade”.
A literatura era o principal meio de
comunicação entre as mulheres na sociedade. Entre 1885 até 1904, a Jogaku zasshi
[Revista de Educação para Mulheres], esteve em publicação, voltada para um
público de mulheres japonesas cristãs, trazendo estilos de vida ocidentais,
devido à entrada da era “moderna” no país. A revista teve 526 edições e, apesar
de ter predominantemente temas voltados a tarefas domésticas, maternidade e
bons hábitos no matrimônio, ela também apresentava artigos disruptivos para a
época, como foi o caso da entrevista de Ogino Ginko dada à revista. Ogino foi a
primeira mulher a obter a licença para praticar medicina ocidental no Japão, em
setembro de 1884. Como pioneira, ela se tornou um modelo para outras mulheres
da área médica e da educação. Tanto apelo da época culminou na sua entrevista
dada à Jogaku zasshi e a publicação de seu ensaio “O Passado e o futuro das
médicas no Japão”, onde explicava a necessidade de mais mulheres na medicina
[Nakamura, 2008].
Em janeiro de 1891, Shimizu Shikin [1868-1933]
publicou seu artigo “Koware yubiwa”, [“o anel quebrado”] [Copeland, 1994]. O
texto foi uma inovação na escrita japonesa da época porque buscava conversar
com o público feminino no mesmo tom que já se conversava com o público em
geral. Seu texto convocava mulheres a reverem o próprio casamento a partir de
uma perspectiva íntima. Shimizu Shikin foi uma das primeiras jornalistas do
Japão, além de ser uma leitora e escritora assídua pelos direitos das mulheres
[Essertier, 2015]. Ela apresentou uma petição contra a condenação assimétrica
por adultério cometida por mulheres, em uma época que homens não eram penalizados
publicamente por traírem suas esposas.
Em 1900, devido à instituição da segunda lei
proibicionista às mulheres, Chian Keisatsu-hô, que as limitaria de criarem
associações políticas, provocou-se uma efervescência nos questionamentos
sociais da época. Por exemplo, Akiko Yosano, que já era conhecida por seus
artigos e comentários socialistas, onde criticava o militarismo do Japão e
promovia pontos de vista feministas, publicava em 1901, seu primeiro volume de
poemas, “Midaregami”, que fazia apelo à liberdade sexual da mulher e subvertia
as normas de gênero [Copeland, 2000]. Seu trabalho sofreu fortes críticas, mas
fomentou a produção literária e a atuação democrática do Movimento popular do
Japão, que lutava pela homologação de petições em favor da legislação e
regulamentação dos direitos trabalhistas sobre a condição de prostituição no
país. Mas o caos foi se instaurando e congelando discussões públicas quando a
guerra russo-japonesa estourou em 1904.
Todo esse cenário de tensão foi o estopim para
diversas organizações de mulheres virem à tona, como por exemplo a fundação da
“Associação de mulheres socialistas”, Shakaishugi fujinkai, em 1906, por Fukuda
Eiko, Sakai Tameko e Kôtoku Chiyoko. Com a ajuda da edição executada pela
Associação, Fukuda Hideko criou o jornal Sekai Fujin, “Mulheres do mundo”, em
1907. Sekai fujin foi o primeiro jornal voltado para mulheres socialistas e
tinha a intenção de empoderar mulheres e inspirá-las para o movimento de
reforma no regime do Império Meiji, informando-as sobre o que acontecia
internacionalmente [Horimoto, 1999]. Juntamente com o outro editor, Ishikawa
Sanshiro [1876-1956], Fukuda propunha discussões em torno das ideias de Karl
Marx, Peter Kropotkin, Maxim Gorky e Guy de Maupassant. Com o boom econômico do
pós-guerra, o governo começou a perseguir grupos socialistas com maior vigor:
as revoltas trabalhistas foram violentamente reprimidas, o partido socialista
foi banido, progrediu-se a repressão contra Sekai Fujin e o jornal acabou sendo
proibido de discutir os eventos atuais. Quando o co-fundador Ishikawa Sanshiro
foi preso, o jornal foi forçado a fechar em 1909.
Anos depois, mas ainda mantendo condutas
emergenciais, o governo condenou à morte 24 militantes, por planejarem o
assassinato do imperador, Taigyaku jiken, em 18 de janeiro de 1911. A sentença
foi comutada em prisão perpétua para metade dos ativistas e os outros seriam
executados. Kanno Suga [1881–1911], estava entre eles, uma anarcofeminista
jornalista, autora de uma série de escritos em torno da opressão das mulheres e
da defesa por sua igualdade de direitos e liberdades entre os gêneros. Kanno
Suga teve uma infância bastante difícil e encontrou o socialismo como um
acolhimento para vítimas de abusos sexuais. Ao se tornar jornalista, também
conheceu a Sociedade de Temperança e passou a se posicionar publicamente contra
o sistema de prostituição. Afirmava que a tarefa mais urgente das mulheres era
alcançar o autoquestionamento e autoconsciência, para deixar o estado de
propriedade e escravidão o qual o Japão as colocava [Suga, 2003]. Foi assim que
passou a desafiar o poder do governo e se envolveu na produção da bomba de
1911, acontecimento que também foi chamado de “The High Treason Incident”. A
ativista foi a primeira mulher a ser executada por motivos políticos.
Fomentando um cenário de efervescência
política, a revista Seitô surgiria meses depois do mesmo ano, defendendo,
através da literatura, a independência e a autoconsciência femininas – esse foi
o principal objetivo da criação da revista, fundada por Hiratsuka Raichô,
Yasumochi Yoshiko, Mozume Kazuko, Kiuchi Teiko e Nakano Hatsuko.
Seitô
Seitô, a primeira revista literária criada
unicamente por mulheres e para mulheres no Japão, teve esse nome [“Meias
Azuis”], pois a palavra se referia a mulheres que faziam coisas novas, as quais
supostamente não deveriam, mas que ainda estariam em uma certa classe social de
privilégio para poder fazê-lo [Suzuki, 2000].
A intenção de uma das fundadoras, Hiratsuka
Raichô, era dar vazão à expressão das mulheres da época, que eram privadas de
toda e qualquer forma de liberdade, seja essa financeira, educativa, enfim,
expressiva em geral. Seu então mentor, Ikuta Chôkô [1882-1936], tinha a
encorajado para criar uma revista unicamente com a intenção de incentivar uma
escrita literária de mulheres – existiria um “gênero textual feminino”? – mas
Raichô discordava e queria que essa criação fosse em prol da conscientização
das mulheres [Levy, 2014]. Dessa maneira, Raichô estabeleceu, com a revista, um
espaço de discussão para assuntos sociais considerados muito polêmicos para a
época, como divórcio, traição, educação inclusiva e igualitária, relações de
respeito no casamento e na família e anticapitalismo.
Suas fundadoras estavam na casa dos 20 anos,
solteiras, com educação de segundo grau, pertencentes à classe alta. A maioria
das participantes não trabalhava, mas havia entre elas, sim, jornalistas e
professoras. Apesar de muitos acreditarem que se tratava de uma sociedade
feminista, esse não era seu objetivo, tampouco se identificavam dessa maneira.
Seus maiores feitos foram, através da literatura, unir mulheres que estavam
interessadas em sair do círculo de controle masculino. A revista teve 52
edições, entre setembro de 1911 e fevereiro de 1916. No auge do seu sucesso,
Seitô tinha 150 assinantes e muitas das leitoras eram membras da Universidade
para Mulheres do Japão e viviam em Tóquio, mas também havia muitas leitoras e
escritoras que eram de outras regiões.
O repertório de Seitô continha toda forma
possível de escrita literária japonesa dos anos 1910. Poesia experimental,
haiku, waka clássico, entre outros. Os inúmeros dramas presentes refletem a
forma escrita que estava em voga, tanto como a euforia que se gerava pelas
primeiras performances das peças europeias modernas no Japão. As pequenas
ficções publicadas sempre traziam um estilo confessional também conhecido como
watakushi shosetsu ou shi-shôsetsu [ficção pessoal].
Os ensaios da Seitô também tinham,
frequentemente, um tom intenso e pessoal, especialmente quando eles tomavam a
forma de um fluxo livre do kansô [ensaio impressionista] e adotavam uma
tonalidade de “cartas pessoais”. Quando se contradizia em volta dos tópicos da
“nova mulher”, como casamentos e abortos, por exemplo, as Seitô debatiam entre
si e publicavam críticas bem embasadas, às vezes, até mesmo em outras revistas.
Tanta atenção para as ideias ocidentais indicavam que as “novas mulheres”
buscavam um misto entre a modernidade japonesa com uma intelectualidade que se
estendia para além das fronteiras do país.
Seitô fazia eco de um cenário mundial que
tinha sido afetado pelas ideias modernas e, com elas, o sufrágio ocidental.
Rapidamente, a revista se tornou o centro dos debates sobre o que viria a ser a
“nova mulher”. Mas, embora bastante consumida pelo público, a recepção da
revista pelo governo não foi tão positiva. Várias das suas publicações sofreram
com a censura e foram banidas do Japão. Entre elas, encontramos:
1. Setembro
de 1911. A primeira edição da revista, censurada por conta do artigo “Ikichi”
[“Sangue da vida”] de Tamura Toshiko [1884-1945], uma pequena história que
descrevia, de forma erótica, as reminiscências de uma mulher que passou a noite
anterior em um hotel com um homem.
2. Abril
de 1912, com o artigo de Araki Iku [1890-1943] chamado “A Carta”, um poema
sobre o adultério cometido por uma mulher; a mesma edição também foi censurada
com o artigo “Anto” [“Conflito secreto”], de Iwano Kiyoko, uma história sobre o
confrontamento de uma esposa com a amante de seu marido e seu desejo de
separação pela falta de respeito com as mulheres.
3. Janeiro
de 1913, com o artigo “Shuppon” [“O caminho da nova mulher”], de Itô Noe
[1895-1923], uma história que circunda os pensamentos de uma mulher que quer
escapar do casamento arranjado e acaba sendo traída pela mesma pessoa com a
qual gostaria de fugir.
4. Fevereiro
de 1913, com o artigo de Fukuda Hideko “A Solução para a questão da mulher” que
falava não apenas sobre o feminismo, mas sobre a repressão e a censura,
partindo de um ponto de vista socialista.
5. Abril
de 1913, com o artigo “Yo no Fujintachi ni” [“Para as mulheres do mundo”], de
Hiratsuka Raichô, um ensaio desafiando o sistema iê.
6. Julho
de 1915, com o artigo de Harada Satsuki, chamado “Para o meu amor, de uma
mulher aprisionada”, sobre uma mulher que queria e defendia a necessidade do
próprio aborto.
Além de encontrar o obstáculo da censura da
época, a revista levantou muitas polêmicas entre outras revistas, que eram
consideradas “femininas” e, portanto, eram suas “concorrentes”. Em março de
1913, formou-se a Shin Shin Fujinkai, a “Associação das novas mulheres reais”,
para contrariar as escritoras da Seitô que eram chamadas de “Novas mulheres”. A
organização foi fundada por Nishikawa Fumiko, que já era conhecida por sua
militância socialista. Apesar dos jornais se aproveitarem dessa rivalidade para
vender primeiras páginas, o que a “Associação das novas mulheres reais” queria
era, junto com seus membros também socialistas, promover oportunidade de
trabalho para mulheres, igualdade de gênero e sufrágio feminino. Devido a essa
rixa, a Associação ficou ofuscada, e mesmo Hiratsuka chegou a duvidar dos reais
motivos de sua criação.
Mulheres conectadas à Seitô, frequentemente se
tornavam alvo da mídia e foi se criando um conceito popular de “nova mulher” de
maneira diminutiva, especialmente por homens influentes da época. Hiratsuka
chegou a publicar um ensaio chamado “New Woman” para a revista Chuô Kôron:
Eu sou uma nova mulher. Dia após dia eu busco
e me esforço para ser a verdadeira nova mulher que eu quero ser. A única coisa
que se renova verdadeira e eternamente é o Sol. Eu sou o Sol. Dia após dia
busco e me esforço para ser o Sol que quero ser... Uma nova mulher amaldiçoa o
“ontem”. Ela não pode mais suportar silenciosa e obedientemente trilhar o
caminho que uma velha oprimida e antiquada, que se tornou ignorante, que foi
escrava de um homem e que foi tratada como nada além de um pedaço de carne pelo
egoísmo masculino. Uma nova mulher deseja destruir a velha moral e as leis, que
foram criadas para a conveniência dos homens... Uma nova mulher não apenas
tenta destruir a velha moral e as leis que foram construídas a partir do
egoísmo masculino, mas dia após dia ela tenta criar um novo reino. [TOMIDA,
2016, tradução da autora]
Declínio e efeitos na sociedade
Embora Seitô inicialmente tenha causado muita
consternação, a eclosão da Primeira Guerra Mundial afetou negativamente suas
vendas e sua popularidade. Muitos outros jornais cresciam com pautas urgentes,
sobre a guerra declarada, por exemplo. Consequentemente, o declínio da
circulação de Seitô parecia inevitável, já que a revista era comumente
apolítica e suas escritoras bastante apáticas em relação a questões políticas
em geral.
Após o fim das publicações da revista Seitô,
observamos que o movimento de mulheres se reunirem para discutir política e
publicarem seus pontos de vista, se tornou mais comum e mais “aceitável” para a
sociedade japonesa. No mesmo ano, em 1916, surgiu o primeiro número de Fujin
kôron, a revista “Debate público das mulheres” que abordaria uma série de
debates iniciados pela Seitô, tratando sobre maternidade, questões
trabalhistas, casamento amoroso, direitos políticos das mulheres etc. A revista
está ativa até hoje e pode ser acessada em http://www.fujinkoron.jp. Foi também em 1916 que a publicação periódica do sindicato dos
trabalhadores de fábrica ganhou uma seção feminina, a Yûai Fujin, para falar
das mulheres trabalhadoras. Inaba Aiko se tornava a responsável do
gerenciamento da seção com mais de 1658 membros.
Em abril de 1918, criou-se um “Comitê central”, chûôbu, para gerenciar as
“Organizações de moças”, shojo-kai. Ao fim de 1920, o ministério do interior
computou 6158 shojo-kai, com mais de 870 mil membros. No mesmo ano, surge a
Shin-fujin kyokai, “Nova associação das mulheres”, fundada por Hiratsuka
Raichō, Ichikawa Fusae e Oku Mumeo. A organização já tinha 63 membros ativos e
300 associadas – permitindo também a entrada de homens.
Um ano depois, em 1921, Itô Noe, Yamakawa
Kikue e Sakai Tameko criaram a “Sociedade da Onda Vermelha”, Seikirankai. Com
42 membros e 17 ativas que, entre outras atividades, também publicavam na
Omedetashi [revista Auspiciosa]. Durante o evento nacional do 1º de Maio em
comemoração ao dia do trabalhador, 20 associadas de Sekirankai carregavam
bandeiras vermelhas e pretas com as letras “R”e “W” [Red Wave] e panfletavam um
manifesto sobre os problemas do capitalismo, a partir de um ponto de vista
feminista. Todas as mulheres foram presas e a imprensa divulgou amplamente o
acontecido.
Em julho do mesmo ano, Yamakawa Kikue publicou
um artigo criticando a “Nova associação das mulheres”, em especial Hiratsuka
Raichô, advogando que se posicionavam apenas em pró das mulheres de classe
alta, argumentando que a questão da mulher assola pertencentes de todas as
classes. No final do mesmo ano, por conta da forte perseguição do governo às
mulheres e aos socialistas que se reuniam para debater política, a associação
se diluiu. Outros grupos mais tarde se formaram para prosseguir com os ideais
da associação, como Suiyōkai [Sociedade da Quarta-feira] e Yōkakai [Sociedade
do 8º dia]. Em 1922, a “Lei Policial de Paz Pública” foi revisada e as mulheres
passaram a ser permitidas, finalmente, a criarem e participarem de grupos
políticos.
Conclusão
Quando a Seitô surgiu, boa parte das mulheres
do país já se reuniam pela legislação do trabalho, pela regulação do trabalho
sexual, com reivindicações a piso salarial, condições dignas de serviço,
diminuição da jornada e dissolução de áreas de prostituição. As membras da
Seitōsha endossaram a discussão de gênero no meio intelectual, estimulando a
produção de sentido, autoconsciência e pensamento crítico de suas leitoras.
Esse cenário proporcionou a abertura de portas para discussão de direitos
igualitários e novas políticas.
Apresentando os temas abordados pelas autoras
da revista Seitô, demonstramos cronologicamente seus interesses se expandindo
para além do ambiente privado, para além das próprias inclinações, observando
suas preocupações e comunicações com o restante da sociedade. Essas são pistas
que direcionam uma pesquisa maior, que investiga formas de organização entre
mulheres que utilizam da fabulação, da comunicação e da arte para serem ouvidas
e reconhecidas.
Referências
Laura Cecilio é doutoranda no programa de
pós-graduação de Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo [2025], onde também fez mestrado [2020]. Possui graduação em
Comunicação e Multimeios pela Universidade Estadual de Maringá [2017].
COPELAND, Rebecca L. Lost Leaves: Women Writers of Meiji Japan.
Honolulu, Hawaii: University of Hawaii Press, 2000.
COPELAND, Rebecca L. Shimizu Shikin’s ‘The Broken Ring’: A Narrative of
Female Awakening: May I Never Be Born Again a Woman! (Namiko’s Dying Utterance
in Hototogisu, 1899) Most Pitiful Indeed Is the Life of Those Who Lack the
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vol. 6, pp. 38–47, 1994.
ESSERTIER, Joseph. A Pioneering Feminist with a Pioneering Writing
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KISHIDA, Toshiko. "Daughters in Boxes". Eds. Estelle Freedman.
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LÉVY, Christine. Genre et modernité au Japon. La revue Seitô et la Femme nouvelle. France: Presses Universitaires de Rennes,
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NAKAMURA, Ellen. Ogino Ginko’s Vision: “The Past and Future of Women
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TOMIDA, Hiroko. The legacy of the Japanese bluestocking society: its
influence upon literature, culture and women’s status. Language, culture and communication. N. 48, 2016.
Ola Laura Cecílio. Agradeço pela oportunidade de ler seu texto!
ResponderExcluirTenho duas questões e um comentário mais geral sobre seu texto.
1) Primeiro gostaria de saber o motivo que te leva a considerar a Seitô como "comumente apolítica" e as pessoas que a compunha como "apáticas em relação a política em geral". Isto é, entendo que elas não tratavam diretamente do tema da guerra, por exemplo, mas penso que a afirmação pode ser um tanto complicada de se manter quando observa-se, por exemplo, que elas estavam ativamente debatendo questões que envolviam diretamente os diretos das mulheres etc.
2) Sei que o texto possui limites de palavras e, talvez por isto, você tenha tido que reduzir bastante as informações. Pensando nisso, gostaria de saber o que você acha da abertura temática generalizada que Itô Noe promoveu na Seitô quando ela se tornou editora chefe da revista. A pergunta surge devido ao contexto em que essa abertura se deu e o impacto que ela teve na revista já que logo em seguida ela foi descontinuada, Kamichika Ichiko tentou esfaquear Ôsugi Sake, então companheiro de Itô etc.
Por fim, gostaria de te apresentar uma iniciativa que busca traduzir textos contra-hegemonicos japoneses diretamente para o português. Tratar-se da Arroz e Flores (https://arrozeflores.art.br/). Lá tem textos traduzidos diretamente para o português de Itô Noe, Kan'no Sugako, Higuchi Ichiyô, Kaneko Fumiko, Sakai Toshihiko (que foi um autor que escreveu para a Sekai Fujin, por exemplo), Tsuji Jun (companheiro de Itô no período primeiro que ela estava na Seitô), Ôsugi Sake (companheiro seguinte de Itô) etc. Não sei se você conhece, mas é uma iniciativa recente e acredito que possa te interessar! O projeto também tem uma página no Instagram (https://www.instagram.com/a.rrozeflores/profilecard/?igsh=bzE3ZXpweWZzbHMx). Espero que te agrade!
volto a agradecer a oportunidade de ler seu texto e espero que sua pesquisa prospere muito!
Felipe Chaves Gonçalves Pinto
Olá Felipe Gonçalves! Obrigada pelo comentário! Vamos lá:
Excluir1. Seitô foi uma revista muito visibilizada e até hoje considerada como uma das precursoras da discussão feminista no Japão. Ao mesmo tempo, ela recebia muitas críticas políticas e muitas pessoas do movimento comunista do Japão cobravam-nas um posicionamento, não apenas sobre a guerra, mas sobre a exploração sexual, uma constituição legal pelos direitos das trabalhadoras sexuais, um posicionamento fervoroso sobre o direito ao corpo, um posicionamento sobre mulheres rurais e sua exploração etc. Todas as suas discussões, geralmente, circulavam temas da vida privada, como casamento interclasses, direito
Oi Laura!
ExcluirMuito obrigado pela resposta cuidadosa e pelas recomendações!! Já estou me aventurando pelo site das zines!
Entendi perfeitamente seus pontos! Espero que haja outras oportunidades em que mais pessoas possam acessar sua pesquisa e somar na discussão desse movimento!!
um abraço,
felipe
Oi Laura!! Sensacional o seu trabalho, adorei! Queria te perguntar como vc vê a questão da democracia Taisho e como ela se relaciona com a sua pesquisa. Você mencionou brevemente no início do texto mas acabou não falando muito mais sobre. Como você é de outra área imagino que talvez nem esteja ciente do quanto sua pesquisa tem potencial de contribuir grandemente para um debate histográfico que tem se desenrolado nos últimos tempos a respeito do quão democrática era a Democracia Taisho de fato.
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