Laura Cecilio

 

BREVE CRONOLOGIA DAS DISCUSSÕES FEMINISTAS ENTRE O IMPÉRIO MEIJI E TAISHÔ


Com a entrada da discussão do sufrágio ocidental, a primeira onda do feminismo no Japão se iniciava no Império Meiji [1868-1912]. Entre vários decretos, o governo do período proibia às mulheres o acesso à educação, ao voto e à participação política, tal como sua presença em reuniões partidárias e em discussões que questionavam o império. Kusunose Kita [1833-1920], por exemplo, desde 1878, protestava junto ao Movimento popular do Japão, a favor do voto feminino. A partir da Democracia de Taishô [1912-1926], a participação das mulheres na sociedade, suas manifestações, tal como organizações políticas voltaram a ser permitidas, e a possibilidade de líderes contemporâneas estarem na bancada do parlamento, Ichikawa Fusae [1893–1981], por exemplo, uma das feministas que articulavam pelos direitos reprodutivos, pelo direito ao aborto e pela legislação da prostituição.

 

Mulheres pobres, mais ou menos privilegiadas, ou mesmo geishas, todas passavam pela exploração característica do sistema familiar, ie, mesmo que em maior ou menor grau. Não tinham acesso à educação e empregos dignos mas tinham o dever de dedicar-se integralmente à família e à casa, sendo treinadas como “boas esposas e mães sábias” [princípio ryôsai kenbo, instituído em 1897, ideal tradicional para a feminilidade no leste da Ásia, incluindo Japão, China e Coréia, cunhada pelo supervisor de educação, Nakamura Masanao, em 1875]. Mesmo em um cenário desfavorável, mulheres como Higuchi Ichiyo [1872–1896] e Toshiko Kishida [1864–1901], que tinham acesso à educação, conseguiram escrever sobre temas como os direitos das mulheres. Ichiyo, por exemplo, trabalhava a autoconsciência das mulheres através da literatura, delineando problemas ligados à pobreza e à prostituição forçada em seus livros de ficção [Kikuchi, 2020].

 

Já Toshiko Kishida, que tinha uma abordagem política e mais direta, trabalhou para a corte imperial e viajou pelo Japão nos anos de 1880, discursando sobre temas como: "O governo como força sobre os homens e os homens como força sobre as mulheres", “As mulheres não podem deixar de combinar 'o rígido e o flexível’", e "Suportar o que não precisa ser suportado e se preocupar com o que não precisa ser uma preocupação: esses não são deveres das mulheres". Esses eram pronunciamentos que indicavam seu interesse em “elevar” o status marginalizado da mulher na sociedade. Em outubro de 1883, Toshiko Kishida foi presa, multada e julgada, após seu discurso proferido sem permissão “Filhas em caixas”, em Ōtsu. A militante questionava a diferença de tratamento entre os gêneros no contexto familiar ao educar suas filhas e apresentava três “caixas” presentes nas famílias japonesas, as quais representavam limitações mentais e emocionais. Essa fala analisava e criticava a sociedade japonesa, de forma a responsabilizá-la pelos maus-tratos das garotas, inspirando diversos movimentos reformistas e feministas [Kishida, 2007]. O que observamos é que, mesmo com diversas polêmicas negativas e sua prisão, Kishida Toshiko não deixou de levar a público o que acreditava. Quase um ano depois, Kishida publicou o artigo “Dôho shimai ni tsugu” [“Chamada às minhas irmãs”] no jornal Jiyû no tomoshibi, “Luz da liberdade”.

 

A literatura era o principal meio de comunicação entre as mulheres na sociedade. Entre 1885 até 1904, a Jogaku zasshi [Revista de Educação para Mulheres], esteve em publicação, voltada para um público de mulheres japonesas cristãs, trazendo estilos de vida ocidentais, devido à entrada da era “moderna” no país. A revista teve 526 edições e, apesar de ter predominantemente temas voltados a tarefas domésticas, maternidade e bons hábitos no matrimônio, ela também apresentava artigos disruptivos para a época, como foi o caso da entrevista de Ogino Ginko dada à revista. Ogino foi a primeira mulher a obter a licença para praticar medicina ocidental no Japão, em setembro de 1884. Como pioneira, ela se tornou um modelo para outras mulheres da área médica e da educação. Tanto apelo da época culminou na sua entrevista dada à Jogaku zasshi e a publicação de seu ensaio “O Passado e o futuro das médicas no Japão”, onde explicava a necessidade de mais mulheres na medicina [Nakamura, 2008].

 

Em janeiro de 1891, Shimizu Shikin [1868-1933] publicou seu artigo “Koware yubiwa”, [“o anel quebrado”] [Copeland, 1994]. O texto foi uma inovação na escrita japonesa da época porque buscava conversar com o público feminino no mesmo tom que já se conversava com o público em geral. Seu texto convocava mulheres a reverem o próprio casamento a partir de uma perspectiva íntima. Shimizu Shikin foi uma das primeiras jornalistas do Japão, além de ser uma leitora e escritora assídua pelos direitos das mulheres [Essertier, 2015]. Ela apresentou uma petição contra a condenação assimétrica por adultério cometida por mulheres, em uma época que homens não eram penalizados publicamente por traírem suas esposas.

 

Em 1900, devido à instituição da segunda lei proibicionista às mulheres, Chian Keisatsu-hô, que as limitaria de criarem associações políticas, provocou-se uma efervescência nos questionamentos sociais da época. Por exemplo, Akiko Yosano, que já era conhecida por seus artigos e comentários socialistas, onde criticava o militarismo do Japão e promovia pontos de vista feministas, publicava em 1901, seu primeiro volume de poemas, “Midaregami”, que fazia apelo à liberdade sexual da mulher e subvertia as normas de gênero [Copeland, 2000]. Seu trabalho sofreu fortes críticas, mas fomentou a produção literária e a atuação democrática do Movimento popular do Japão, que lutava pela homologação de petições em favor da legislação e regulamentação dos direitos trabalhistas sobre a condição de prostituição no país. Mas o caos foi se instaurando e congelando discussões públicas quando a guerra russo-japonesa estourou em 1904.

 

Todo esse cenário de tensão foi o estopim para diversas organizações de mulheres virem à tona, como por exemplo a fundação da “Associação de mulheres socialistas”, Shakaishugi fujinkai, em 1906, por Fukuda Eiko, Sakai Tameko e Kôtoku Chiyoko. Com a ajuda da edição executada pela Associação, Fukuda Hideko criou o jornal Sekai Fujin, “Mulheres do mundo”, em 1907. Sekai fujin foi o primeiro jornal voltado para mulheres socialistas e tinha a intenção de empoderar mulheres e inspirá-las para o movimento de reforma no regime do Império Meiji, informando-as sobre o que acontecia internacionalmente [Horimoto, 1999]. Juntamente com o outro editor, Ishikawa Sanshiro [1876-1956], Fukuda propunha discussões em torno das ideias de Karl Marx, Peter Kropotkin, Maxim Gorky e Guy de Maupassant. Com o boom econômico do pós-guerra, o governo começou a perseguir grupos socialistas com maior vigor: as revoltas trabalhistas foram violentamente reprimidas, o partido socialista foi banido, progrediu-se a repressão contra Sekai Fujin e o jornal acabou sendo proibido de discutir os eventos atuais. Quando o co-fundador Ishikawa Sanshiro foi preso, o jornal foi forçado a fechar em 1909.

 

Anos depois, mas ainda mantendo condutas emergenciais, o governo condenou à morte 24 militantes, por planejarem o assassinato do imperador, Taigyaku jiken, em 18 de janeiro de 1911. A sentença foi comutada em prisão perpétua para metade dos ativistas e os outros seriam executados. Kanno Suga [1881–1911], estava entre eles, uma anarcofeminista jornalista, autora de uma série de escritos em torno da opressão das mulheres e da defesa por sua igualdade de direitos e liberdades entre os gêneros. Kanno Suga teve uma infância bastante difícil e encontrou o socialismo como um acolhimento para vítimas de abusos sexuais. Ao se tornar jornalista, também conheceu a Sociedade de Temperança e passou a se posicionar publicamente contra o sistema de prostituição. Afirmava que a tarefa mais urgente das mulheres era alcançar o autoquestionamento e autoconsciência, para deixar o estado de propriedade e escravidão o qual o Japão as colocava [Suga, 2003]. Foi assim que passou a desafiar o poder do governo e se envolveu na produção da bomba de 1911, acontecimento que também foi chamado de “The High Treason Incident”. A ativista foi a primeira mulher a ser executada por motivos políticos.

 

Fomentando um cenário de efervescência política, a revista Seitô surgiria meses depois do mesmo ano, defendendo, através da literatura, a independência e a autoconsciência femininas – esse foi o principal objetivo da criação da revista, fundada por Hiratsuka Raichô, Yasumochi Yoshiko, Mozume Kazuko, Kiuchi Teiko e Nakano Hatsuko.

 

Seitô

Seitô, a primeira revista literária criada unicamente por mulheres e para mulheres no Japão, teve esse nome [“Meias Azuis”], pois a palavra se referia a mulheres que faziam coisas novas, as quais supostamente não deveriam, mas que ainda estariam em uma certa classe social de privilégio para poder fazê-lo [Suzuki, 2000].

 

A intenção de uma das fundadoras, Hiratsuka Raichô, era dar vazão à expressão das mulheres da época, que eram privadas de toda e qualquer forma de liberdade, seja essa financeira, educativa, enfim, expressiva em geral. Seu então mentor, Ikuta Chôkô [1882-1936], tinha a encorajado para criar uma revista unicamente com a intenção de incentivar uma escrita literária de mulheres – existiria um “gênero textual feminino”? – mas Raichô discordava e queria que essa criação fosse em prol da conscientização das mulheres [Levy, 2014]. Dessa maneira, Raichô estabeleceu, com a revista, um espaço de discussão para assuntos sociais considerados muito polêmicos para a época, como divórcio, traição, educação inclusiva e igualitária, relações de respeito no casamento e na família e anticapitalismo.

 

Suas fundadoras estavam na casa dos 20 anos, solteiras, com educação de segundo grau, pertencentes à classe alta. A maioria das participantes não trabalhava, mas havia entre elas, sim, jornalistas e professoras. Apesar de muitos acreditarem que se tratava de uma sociedade feminista, esse não era seu objetivo, tampouco se identificavam dessa maneira. Seus maiores feitos foram, através da literatura, unir mulheres que estavam interessadas em sair do círculo de controle masculino. A revista teve 52 edições, entre setembro de 1911 e fevereiro de 1916. No auge do seu sucesso, Seitô tinha 150 assinantes e muitas das leitoras eram membras da Universidade para Mulheres do Japão e viviam em Tóquio, mas também havia muitas leitoras e escritoras que eram de outras regiões.

 

O repertório de Seitô continha toda forma possível de escrita literária japonesa dos anos 1910. Poesia experimental, haiku, waka clássico, entre outros. Os inúmeros dramas presentes refletem a forma escrita que estava em voga, tanto como a euforia que se gerava pelas primeiras performances das peças europeias modernas no Japão. As pequenas ficções publicadas sempre traziam um estilo confessional também conhecido como watakushi shosetsu ou shi-shôsetsu [ficção pessoal].

 

Os ensaios da Seitô também tinham, frequentemente, um tom intenso e pessoal, especialmente quando eles tomavam a forma de um fluxo livre do kansô [ensaio impressionista] e adotavam uma tonalidade de “cartas pessoais”. Quando se contradizia em volta dos tópicos da “nova mulher”, como casamentos e abortos, por exemplo, as Seitô debatiam entre si e publicavam críticas bem embasadas, às vezes, até mesmo em outras revistas. Tanta atenção para as ideias ocidentais indicavam que as “novas mulheres” buscavam um misto entre a modernidade japonesa com uma intelectualidade que se estendia para além das fronteiras do país.

 

Seitô fazia eco de um cenário mundial que tinha sido afetado pelas ideias modernas e, com elas, o sufrágio ocidental. Rapidamente, a revista se tornou o centro dos debates sobre o que viria a ser a “nova mulher”. Mas, embora bastante consumida pelo público, a recepção da revista pelo governo não foi tão positiva. Várias das suas publicações sofreram com a censura e foram banidas do Japão. Entre elas, encontramos:

 

1.         Setembro de 1911. A primeira edição da revista, censurada por conta do artigo “Ikichi” [“Sangue da vida”] de Tamura Toshiko [1884-1945], uma pequena história que descrevia, de forma erótica, as reminiscências de uma mulher que passou a noite anterior em um hotel com um homem.

 

2.         Abril de 1912, com o artigo de Araki Iku [1890-1943] chamado “A Carta”, um poema sobre o adultério cometido por uma mulher; a mesma edição também foi censurada com o artigo “Anto” [“Conflito secreto”], de Iwano Kiyoko, uma história sobre o confrontamento de uma esposa com a amante de seu marido e seu desejo de separação pela falta de respeito com as mulheres.

 

3.         Janeiro de 1913, com o artigo “Shuppon” [“O caminho da nova mulher”], de Itô Noe [1895-1923], uma história que circunda os pensamentos de uma mulher que quer escapar do casamento arranjado e acaba sendo traída pela mesma pessoa com a qual gostaria de fugir.

 

4.         Fevereiro de 1913, com o artigo de Fukuda Hideko “A Solução para a questão da mulher” que falava não apenas sobre o feminismo, mas sobre a repressão e a censura, partindo de um ponto de vista socialista.

 

5.         Abril de 1913, com o artigo “Yo no Fujintachi ni” [“Para as mulheres do mundo”], de Hiratsuka Raichô, um ensaio desafiando o sistema iê.

 

6.         Julho de 1915, com o artigo de Harada Satsuki, chamado “Para o meu amor, de uma mulher aprisionada”, sobre uma mulher que queria e defendia a necessidade do próprio aborto.

 

Além de encontrar o obstáculo da censura da época, a revista levantou muitas polêmicas entre outras revistas, que eram consideradas “femininas” e, portanto, eram suas “concorrentes”. Em março de 1913, formou-se a Shin Shin Fujinkai, a “Associação das novas mulheres reais”, para contrariar as escritoras da Seitô que eram chamadas de “Novas mulheres”. A organização foi fundada por Nishikawa Fumiko, que já era conhecida por sua militância socialista. Apesar dos jornais se aproveitarem dessa rivalidade para vender primeiras páginas, o que a “Associação das novas mulheres reais” queria era, junto com seus membros também socialistas, promover oportunidade de trabalho para mulheres, igualdade de gênero e sufrágio feminino. Devido a essa rixa, a Associação ficou ofuscada, e mesmo Hiratsuka chegou a duvidar dos reais motivos de sua criação.

 

Mulheres conectadas à Seitô, frequentemente se tornavam alvo da mídia e foi se criando um conceito popular de “nova mulher” de maneira diminutiva, especialmente por homens influentes da época. Hiratsuka chegou a publicar um ensaio chamado “New Woman” para a revista Chuô Kôron:

 

Eu sou uma nova mulher. Dia após dia eu busco e me esforço para ser a verdadeira nova mulher que eu quero ser. A única coisa que se renova verdadeira e eternamente é o Sol. Eu sou o Sol. Dia após dia busco e me esforço para ser o Sol que quero ser... Uma nova mulher amaldiçoa o “ontem”. Ela não pode mais suportar silenciosa e obedientemente trilhar o caminho que uma velha oprimida e antiquada, que se tornou ignorante, que foi escrava de um homem e que foi tratada como nada além de um pedaço de carne pelo egoísmo masculino. Uma nova mulher deseja destruir a velha moral e as leis, que foram criadas para a conveniência dos homens... Uma nova mulher não apenas tenta destruir a velha moral e as leis que foram construídas a partir do egoísmo masculino, mas dia após dia ela tenta criar um novo reino. [TOMIDA, 2016, tradução da autora]

 

Declínio e efeitos na sociedade

Embora Seitô inicialmente tenha causado muita consternação, a eclosão da Primeira Guerra Mundial afetou negativamente suas vendas e sua popularidade. Muitos outros jornais cresciam com pautas urgentes, sobre a guerra declarada, por exemplo. Consequentemente, o declínio da circulação de Seitô parecia inevitável, já que a revista era comumente apolítica e suas escritoras bastante apáticas em relação a questões políticas em geral.

 

Após o fim das publicações da revista Seitô, observamos que o movimento de mulheres se reunirem para discutir política e publicarem seus pontos de vista, se tornou mais comum e mais “aceitável” para a sociedade japonesa. No mesmo ano, em 1916, surgiu o primeiro número de Fujin kôron, a revista “Debate público das mulheres” que abordaria uma série de debates iniciados pela Seitô, tratando sobre maternidade, questões trabalhistas, casamento amoroso, direitos políticos das mulheres etc. A revista está ativa até hoje e pode ser acessada em http://www.fujinkoron.jp. Foi também em 1916 que a publicação periódica do sindicato dos trabalhadores de fábrica ganhou uma seção feminina, a Yûai Fujin, para falar das mulheres trabalhadoras. Inaba Aiko se tornava a responsável do gerenciamento da seção com mais de 1658 membros.

 

Em abril de 1918, criou-se um “Comitê central”, chûôbu, para gerenciar as “Organizações de moças”, shojo-kai. Ao fim de 1920, o ministério do interior computou 6158 shojo-kai, com mais de 870 mil membros. No mesmo ano, surge a Shin-fujin kyokai, “Nova associação das mulheres”, fundada por Hiratsuka Raichō, Ichikawa Fusae e Oku Mumeo. A organização já tinha 63 membros ativos e 300 associadas – permitindo também a entrada de homens.

 

Um ano depois, em 1921, Itô Noe, Yamakawa Kikue e Sakai Tameko criaram a “Sociedade da Onda Vermelha”, Seikirankai. Com 42 membros e 17 ativas que, entre outras atividades, também publicavam na Omedetashi [revista Auspiciosa]. Durante o evento nacional do 1º de Maio em comemoração ao dia do trabalhador, 20 associadas de Sekirankai carregavam bandeiras vermelhas e pretas com as letras “R”e “W” [Red Wave] e panfletavam um manifesto sobre os problemas do capitalismo, a partir de um ponto de vista feminista. Todas as mulheres foram presas e a imprensa divulgou amplamente o acontecido.

 

Em julho do mesmo ano, Yamakawa Kikue publicou um artigo criticando a “Nova associação das mulheres”, em especial Hiratsuka Raichô, advogando que se posicionavam apenas em pró das mulheres de classe alta, argumentando que a questão da mulher assola pertencentes de todas as classes. No final do mesmo ano, por conta da forte perseguição do governo às mulheres e aos socialistas que se reuniam para debater política, a associação se diluiu. Outros grupos mais tarde se formaram para prosseguir com os ideais da associação, como Suiyōkai [Sociedade da Quarta-feira] e Yōkakai [Sociedade do 8º dia]. Em 1922, a “Lei Policial de Paz Pública” foi revisada e as mulheres passaram a ser permitidas, finalmente, a criarem e participarem de grupos políticos.

 

Conclusão

Quando a Seitô surgiu, boa parte das mulheres do país já se reuniam pela legislação do trabalho, pela regulação do trabalho sexual, com reivindicações a piso salarial, condições dignas de serviço, diminuição da jornada e dissolução de áreas de prostituição. As membras da Seitōsha endossaram a discussão de gênero no meio intelectual, estimulando a produção de sentido, autoconsciência e pensamento crítico de suas leitoras. Esse cenário proporcionou a abertura de portas para discussão de direitos igualitários e novas políticas.

 

Apresentando os temas abordados pelas autoras da revista Seitô, demonstramos cronologicamente seus interesses se expandindo para além do ambiente privado, para além das próprias inclinações, observando suas preocupações e comunicações com o restante da sociedade. Essas são pistas que direcionam uma pesquisa maior, que investiga formas de organização entre mulheres que utilizam da fabulação, da comunicação e da arte para serem ouvidas e reconhecidas.

 

Referências

Laura Cecilio é doutoranda no programa de pós-graduação de Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo [2025], onde também fez mestrado [2020]. Possui graduação em Comunicação e Multimeios pela Universidade Estadual de Maringá [2017].

 

COPELAND, Rebecca L. Lost Leaves: Women Writers of Meiji Japan. Honolulu, Hawaii: University of Hawaii Press, 2000.

 

COPELAND, Rebecca L. Shimizu Shikin’s ‘The Broken Ring’: A Narrative of Female Awakening: May I Never Be Born Again a Woman! (Namiko’s Dying Utterance in Hototogisu, 1899) Most Pitiful Indeed Is the Life of Those Who Lack the Beard. (Tsubouchi Shōyō, Saikun, 1889). Review of Japanese Culture and Society, vol. 6, pp. 38–47, 1994.

 

ESSERTIER, Joseph. A Pioneering Feminist with a Pioneering Writing Style: Shimizu Shikin's Broken Ring (Koware yubiwa, 1891). Nagoya Institute of Technology Repository: New Directions, vol. 33, 2015.

 

HORIMOTO, Fumiko. Pioneers of the women's movement in Japan, Hiratsuka Raicho and Fukuda Hideko seen through their journals, Seito and Sekai fujin. Thesis for Master of Arts. Department of East Asian Studies, University of Toronto, 1999.

 

KIKUCHI, Wataru. A Escola e o estabelecimento da hierarquia na sociedade japonesa. Cadernos CERU, Série 2, Vol. 31, n. 2, dez. 2020.

 

KISHIDA, Toshiko. "Daughters in Boxes". Eds. Estelle Freedman. The Essential Feminist Reader. New York: Modern Library, 2007.

 

LÉVY, Christine. Genre et modernité au Japon. La revue Seitô et la Femme nouvelle. France: Presses Universitaires de Rennes, 2014.

 

NAKAMURA, Ellen. Ogino Ginko’s Vision: “The Past and Future of Women Doctors in Japan” (1893). U.S.-Japan Women’s Journal, no. 34, 2008, pp. 3–18. JSTOR, http://www.jstor.org/stable/42771973. Acesso em: 15 Jun 2023.

 

SUGA, Kano at al. Under the Yoke of the State: Selected Anarchist Responses to Prison and Crime. Kate Sharpley Library, 2003.

 

SUZUKI, Shinobu. Hiratsuka's “Editor's Introduction to the First Issue of Seito”: Where “Feminine Style” Intersects High-Context Communication, Women's Studies in Communication, 23:2, 182-208, 2000. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1080/07491409.2000.10162568. Acesso em: 15 maio 2023

 

TOMIDA, Hiroko. The legacy of the Japanese bluestocking society: its influence upon literature, culture and women’s status. Language, culture and communication. N. 48, 2016.

4 comentários:

  1. Ola Laura Cecílio. Agradeço pela oportunidade de ler seu texto!

    Tenho duas questões e um comentário mais geral sobre seu texto.

    1) Primeiro gostaria de saber o motivo que te leva a considerar a Seitô como "comumente apolítica" e as pessoas que a compunha como "apáticas em relação a política em geral". Isto é, entendo que elas não tratavam diretamente do tema da guerra, por exemplo, mas penso que a afirmação pode ser um tanto complicada de se manter quando observa-se, por exemplo, que elas estavam ativamente debatendo questões que envolviam diretamente os diretos das mulheres etc.

    2) Sei que o texto possui limites de palavras e, talvez por isto, você tenha tido que reduzir bastante as informações. Pensando nisso, gostaria de saber o que você acha da abertura temática generalizada que Itô Noe promoveu na Seitô quando ela se tornou editora chefe da revista. A pergunta surge devido ao contexto em que essa abertura se deu e o impacto que ela teve na revista já que logo em seguida ela foi descontinuada, Kamichika Ichiko tentou esfaquear Ôsugi Sake, então companheiro de Itô etc.

    Por fim, gostaria de te apresentar uma iniciativa que busca traduzir textos contra-hegemonicos japoneses diretamente para o português. Tratar-se da Arroz e Flores (https://arrozeflores.art.br/). Lá tem textos traduzidos diretamente para o português de Itô Noe, Kan'no Sugako, Higuchi Ichiyô, Kaneko Fumiko, Sakai Toshihiko (que foi um autor que escreveu para a Sekai Fujin, por exemplo), Tsuji Jun (companheiro de Itô no período primeiro que ela estava na Seitô), Ôsugi Sake (companheiro seguinte de Itô) etc. Não sei se você conhece, mas é uma iniciativa recente e acredito que possa te interessar! O projeto também tem uma página no Instagram (https://www.instagram.com/a.rrozeflores/profilecard/?igsh=bzE3ZXpweWZzbHMx). Espero que te agrade!

    volto a agradecer a oportunidade de ler seu texto e espero que sua pesquisa prospere muito!


    Felipe Chaves Gonçalves Pinto

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    1. Olá Felipe Gonçalves! Obrigada pelo comentário! Vamos lá:

      1. Seitô foi uma revista muito visibilizada e até hoje considerada como uma das precursoras da discussão feminista no Japão. Ao mesmo tempo, ela recebia muitas críticas políticas e muitas pessoas do movimento comunista do Japão cobravam-nas um posicionamento, não apenas sobre a guerra, mas sobre a exploração sexual, uma constituição legal pelos direitos das trabalhadoras sexuais, um posicionamento fervoroso sobre o direito ao corpo, um posicionamento sobre mulheres rurais e sua exploração etc. Todas as suas discussões, geralmente, circulavam temas da vida privada, como casamento interclasses, direito

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    2. Oi Laura!
      Muito obrigado pela resposta cuidadosa e pelas recomendações!! Já estou me aventurando pelo site das zines!
      Entendi perfeitamente seus pontos! Espero que haja outras oportunidades em que mais pessoas possam acessar sua pesquisa e somar na discussão desse movimento!!
      um abraço,
      felipe

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  2. Oi Laura!! Sensacional o seu trabalho, adorei! Queria te perguntar como vc vê a questão da democracia Taisho e como ela se relaciona com a sua pesquisa. Você mencionou brevemente no início do texto mas acabou não falando muito mais sobre. Como você é de outra área imagino que talvez nem esteja ciente do quanto sua pesquisa tem potencial de contribuir grandemente para um debate histográfico que tem se desenrolado nos últimos tempos a respeito do quão democrática era a Democracia Taisho de fato.

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