BATALHA DE TALAS 751 D.C.: UMA ANÁLISE SOBRE
O DECLÍNIO DO BUDISMO E A ASCENSÃO DO ISLAMISMO NA ÁSIA CENTRAL
Introdução
A
Batalha de Talas, ocorrida em 751 d.C., nas vastas estepes da Ásia Central,
emergiu como um divisor de águas histórico com impactos profundos e duradouros.
Sendo frequentemente subestimada na narrativa global da história, esse evento
possui significativa relevância, cujos impactos transcenderam o tempo.
Este artigo busca analisar a problemática da
batalha e como seus resultados influenciaram significativamente a região,
através de uma análise que se concentra em quatro pilares fundamentais: o
contexto histórico que precipitou o conflito, os impactos da ascensão do
islamismo nas culturas locais, os efeitos nas relações comerciais e as mudanças
que levaram ao declínio do budismo na região.
A
batalha se desenrolou em meio a tensões geopolíticas, onde o Califado Abássida
e o Império Tang competiam pelo controle da Ásia Central e da Rota da Seda. Um
das principais vias comerciais, com um fluxo contínuo de caravanas que
transportavam mercadorias, pessoas e ideias. Tornando-se a artéria comercial e
um verdadeiro mosaico de riqueza, diversidade étnica, cultura e religião.
Em
um cenário onde eventos históricos muitas vezes deixam um legado duradouro,
essa batalha se destacou como um exemplo vívido de como um único combate pode
influenciar profundamente a cultura, a economia e as crenças de uma região.
Seus efeitos ressoam até os dias atuais, incluindo a difusão do árabe e da
cultura islâmica e a redução drástica do zoroastrismo, maniqueísmo, xamanismo
local, cristianismo, hinduísmo e budismo. O qual possuía supremacia nos
principais centros urbanos da região.
Desse
modo, esse estudo se baseia nas contribuições de estudiosos que se dedicaram à
pesquisa sobre o tema. Explorando as mudanças sociais e culturais originadas
dessa batalha, fornecendo uma perspectiva aprofundada sobre os impactos que
esse evento histórico teve na rica mescla cultural da região.
Contexto
Histórico
A
Batalha de Talas emergiu em um período de intensas rivalidades e conflitos na
Ásia Central, onde os Impérios Abássida e Tang almejavam estender seu controle
sobre esta região estratégica. Twitchett e Fairbank [1979] destacam que a rivalidade entre o
Califado Abássida e o Império Tang não surgiu do nada. O cenário da Ásia
Central era caracterizado por um intrincado equilíbrio de poder entre várias
complexidades geopolíticas das dinastias locais. TWITCHETT; FAIRBANK, 1979, p.
123).
A
região era o epicentro das vias comerciais da Rota da Seda, que conectavam o
Oriente e o Ocidente. Para Millward [2007], essas vias eram cruciais para o
comércio de seda, especiarias, metais preciosos e difusão de ideias e
conhecimentos. Qualquer controle estratégico sobre essas rotas representava não
apenas uma questão de riqueza, mas também de poder e influência consideráveis.
[MILLWARD, 2007, p. 67].
A
Ásia Central era um caldeirão de culturas e religiões, onde coexistiam de modo
simbiótico, com aproximações e
distanciamentos mútuos. Millward [2007] ressalta que essa diversidade tornou a
região um terreno fértil para competições e conflitos interculturais. Como
aconteceu entre as cidades de Fergana e Tashkent. As quais disputavam a
supremacia na região e buscaram ajuda dos Tangs e Abássidas [respectivamente]
para se fortalecer. [MILLWARD, 2007, p. 92].
O
Califado Abássida, com sua capital em Bagdá, aspirava à expansão territorial e
à propagação do Islã. Em contrapartida, Soucek
[2000] afirma que o Império Tang estando no auge do seu poder, buscava
preservar sua influência, vendo a expansão árabe como uma ameaça. As tensões entre essas
potências culminaram no embate, que foi, em grande parte, um conflito indireto
entre o Islã e o Budismo. [SOUCEK, 2000, p. 123].
Portanto,
ela não surgiu do nada. Sendo o culminar de um longo período de tensões e
competições locais. Atraindo o Califado e o Império Chinês para um conflito
regional em grande escala. Com os Abássidas em processo de expansão pela Ásia
Central, enquanto os Tangs buscavam
consolidar sua influência instalando postos de patrulha e fazendo alianças na
mesma região. Com ambas vendo a disputa entre Fergana e Tashkent a oportunidade
de expandir seus domínios.
As
cidades eram rivais e de predominância étnica karluk [turcos], possuíam grande
influência na região e dominavam a arte da forja de equipamentos bélicos de
alta qualidade, que eram muito cobiçados por diversos Estados. Em 751 d.C.,
Tashkent atacou Fergana e esta pediu auxílio aos Tang. O qual prontamente
respondeu, objetivando consolidar sua influência na região. Com os Abássidas
também entrando no conflito, apoiando Tashkent.
Ambas
as forças se enfrentaram nas margens do Rio Talas [atual Quirguistão], em uma
grande batalha. Com os Abássidas sobrepujando os Tangs, com sua hábil cavalaria
selando o combate. Frankopan [2015], observa que a vitória do Califado
redefiniu o equilíbrio de poder na região, impactando diretamente o comércio e
a cultura local. Estabelecendo uma nova ordem geopolítica que influenciaria os
séculos subsequentes. Incluindo mudanças na identidade cultural, na língua e
nas relações interpessoais. [FRANKOPAN, 2015, p 88].
Impactos
nas Culturas Locais: Ascensão do Islamismo
A
Batalha de Talas desencadeou transformações profundas na Ásia Central, deixando
uma marca indelével nas culturas locais. As populações que habitavam essa
região eram diversas, com um rico leque de etnias e línguas. Com o budismo,
cristianismo, zoroastrismo, maniqueísmo e islamismo coexistindo
interconectados. Mas a vitória do Califado Abássida trouxe uma maior influência
islâmica, gerando impactos profundos na cultural local.
Segundo
Gibb [1997], Os califas abássidas, buscando promover o Islã, encorajaram a
conversão de grande parte da população. Esse processo de islamização gradual
teve implicações duradouras nas culturas e nas estruturas sociais da região.
[GIBB, 1997, p. 85]. Lapidus [2002], ressalta que uma das consequências mais
notáveis foi a difusão da língua árabe e da cultura islâmica. Com o árabe se
tornando o idioma da administração, religião e educação. [LAPIDUS, 2002, p. 70].
Lapidus [2002] também destaca que essa mudança
linguística foi acompanhada pelo estabelecimento de mesquitas e madraças, que
se tornaram centros de aprendizado e espiritualidade. Com o Islã trazendo
consigo uma nova arquitetura, literatura e sistemas legais que se entrelaçaram
e enraizaram com as tradições locais, criando uma rica sinergia cultural.
[LAPIDUS, 2002, p. 55].
O
sistema educacional também passou por mudanças significativas. A introdução do
Islã na região trouxe consigo a abertura de madraças, escolas islâmicas, onde a
língua árabe e os ensinamentos religiosos eram ministrados. Para Solak et al.
[2022], essas instituições desempenharam um papel vital na disseminação da
cultura islâmica, através do desenvolvimento da literatura e filosofia
islâmicas. [SOLAK et al., 2022, p. 250]. Com a produção de poesia e textos
filosóficos florescendo, e autores locais incorporando elementos islâmicos em
suas obras. Resultando em uma rica tradição literária que combinava elementos
árabes, persas e locais.
Zhang
[2008] destaca que a chegada do Islã trouxe consigo uma nova estética na
arquitetura, com mesquitas e palácios se multiplicando, decorados com suas
cúpulas, minaretes, intrincados mosaicos, caligrafia árabe e elementos
geométricos, com cores vibrantes. Essa fusão de estilos arquitetônicos
tornou-se uma parte distintiva do cenário urbano, enriquecendo a paisagem da
Ásia Central. [ZHANG, 2008, p. 142].
O
sistema legal também foi uma área que sofreu mudanças profundas. De acordo com
Solak et al. [2022], o Islã trouxe consigo não apenas inovações sociais mas também jurídicas. Através da
implementação de códigos legais que se baseavam em princípios islâmicos e em
normas jurídicas romanas [assimiladas durante o processo de expansão no
Mediterrâneo], o Califado Abássida reestruturou os códigos legais que existiam.
Os quais eram baseados em tradições tribais. Oferecendo meios jurídicos
bastante inovadores. [SOLAK et al., 2022, p. 323].
Além
disso, a resultado da batalha também afetou as relações interpessoais e as
dinâmicas sociais. Lapidus [2002] destaca que as mudanças na religião e na
cultura redefiniram as relações e estruturas de poder na Ásia Central. O poder
e a autoridade passaram a ser exercidos por líderes muçulmanos em muitas
regiões, os quais desempenharam papéis
influentes nas comunidades, reconfigurando as dinâmicas da sociedade nos
séculos subsequentes. [LAPIDUS, 2002, p. 91].
Desse
modo, muitas pessoas acabaram se convertendo. Pois perceberam que o Islã
proporcionaria uma ascensão social, política e econômica mais eficiente e
segura. No entanto é importante ressaltar que essas transformações culturais não
ocorreram de maneira uniforme. Sttarr [2004] enfatiza que a chegada do Islã à
Ásia Central foi gradual, envolvendo tanto a conversão de comunidades locais
quanto a imigração de árabes e persas para a região. [STTARR, 2004, p. 85].
Vale
ressaltar que as mudanças culturais não significaram a erradicação das
identidades pré-existentes. Kennedy [2010] aponta que muitas comunidades continuaram a preservar suas línguas,
tradições e crenças distintas. Com as tradições locais fundindo-se às
influências islâmicas. Gerando a coexistência de várias tradições, resultando
em uma cultura rica e ainda mais diversificada. [KENNEDY, 2010, p. 142].
Em
suma, a Batalha de Talas foi um catalisador que moldou profundamente os povos
da Ásia Central, contribuindo para a difusão da cultura islâmica e, ao mesmo
tempo, preservando a diversidade regional. Dando origem a uma nova identidade
cultural. Com essas mudanças sendo um exemplo da influência duradoura que esse
conflito teve nas sociedades locais.
Servindo como um testemunho das complexidades da história da Ásia
Central.
Impactos
nas Relações Comerciais e na Rota da Seda
A mudança no controle das vias comerciais da
Rota da Seda foi um dos efeitos mais significativos da Batalha de Talas.
Ocasionando repercussões econômicas de longo prazo para a Ásia Central. Antes do
confronto, o Império Tang dominava as rotas comerciais que conectavam o Oriente
com o Ocidente, garantindo o fluxo constante de mercadorias e riquezas. No
entanto, com a vitória dos Abássidas, essa hegemonia chinesa foi abalada, e as
rotas comerciais começaram a se reconfigurar em favor do mundo islâmico.
Elisseef
[1998] sublinha que essa mudança fez mercadores e caravanas ajustarem suas
rotas, levando o comércio a novas cidades e regiões sob controle islâmico.
Cidades importantes da Ásia Central, como Samarcanda, Bukhara, Merv, Herat,
Kashgar, Balkh, Fergana e Tashkent, tornaram-se centros comerciais
florescentes, beneficiando-se do fluxo crescente de mercadorias e da entrada de
novas culturas e ideias. [ELISSEEF, 1998, p. 204].
Essa
reconfiguração também ampliou o escopo do comércio islâmico na região, levando
à criação de uma vasta rede de trocas comerciais que não apenas envolvia
mercadorias materiais, como seda, especiarias e metais preciosos, mas também o
intercâmbio de conhecimento científico e tecnológico. Hill [2004] destaca que
uma das principais contribuições foi a disseminação de técnicas de fabricação
de papel, trazidas da China e eventualmente introduzidas no mundo islâmico e
posteriormente no Ocidente. [HILL, 2004, p. 172].
Essa tecnologia revolucionou a maneira como o
conhecimento era registrado e compartilhado, facilitando a produção de livros e
o florescimento cultural no mundo árabe e no Ocidente. Sob o qual se mostraria
imprescindível mais tarde, com a invenção da prensa móvel de Gutemberg [século
XV d.C.]. Um desenvolvimento que revolucionou a produção de livros e a
disseminação de conhecimento, permitindo a impressão de textos em larga escala com rapidez e menor
custo, substituindo o processo manual de cópia.
Além disso, o comércio na Rota da Seda sob o
domínio islâmico não se limitava apenas ao Oriente e ao Ocidente. Como Haldon
[2009] observa, novas rotas também se estenderam para o sul, conectando a Ásia
Central ao subcontinente indiano. Criando uma vasta rede de interconexões
comerciais, religiosas e culturais, que fomentaram uma maior integração entre
as diferentes regiões da Ásia. [HALDON, 2009, p. 58].
A
consequência econômica mais visível dessa nova configuração foi o
enriquecimento das cidades-Estado da Ásia Central. Muitas delas se tornaram
centros urbanos prósperos, onde comerciantes, estudiosos e viajantes de
diferentes partes do mundo se reuniam. Estas cidades, por sua vez,
desenvolveram uma arquitetura e cultura cosmopolitas, onde influências islâmicas,
persas e locais se mesclavam de maneira única.
Por
fim, Hansen [2012] argumenta que a ascensão do controle islâmico sobre a Rota
da Seda também marcou um aumento no intercâmbio de ideias e religiões,
facilitando a disseminação do islamismo, assim como a continuidade de outras
práticas religiosas e filosóficas. Nesse sentido, o comércio e a religião
passaram a caminhar lado a lado, reforçando a crescente islamização regional.
[HANSEN, 2012, p. 102].
Por
tanto, o impacto da Batalha de Talas sobre as rotas comerciais e a economia da
Ásia Central foi muito mais do que uma simples vitória militar e da troca da
influência da Dinastia Tang pelo Califado Abássida. Ela representou a
transformação de toda uma estrutura de interação econômica, cultural e religiosa,
que continua moldando a história local até a atualidade .
O
Declínio do Budismo
O conflito desempenhou um papel crucial na
transformação da paisagem religiosa da Ásia Central, com repercussões
significativas que perduram até os dias atuais.
Antes da Batalha de Talas, o budismo era uma das religiões dominantes.
No entanto, a vitória militar dos Abássidas e a consequente ascensão e expansão
do Islã gerou implicações significativas e um impacto direto no declínio do
budismo.
Como observado por Kennedy [2010], o budismo,
que havia florescido na Ásia Central durante séculos, viu-se em declínio à
medida que o Islã ganhava terreno. As políticas dos governantes muçulmanos
promoveram a conversão ao Islã, muitas vezes com incentivos políticos,
econômicos, sociais e fiscais, com preferências dadas aos convertidos. À medida
que a população se converteu ao Islã, o budismo perdia seguidores. [KENNEDY,
2010, p. 75].
A
arquitetura budista, os templos e os mosteiros, que outrora dominavam a
paisagem da Ásia Central, foram gradualmente substituídos por mesquitas
islâmicas. Isso resultou na erosão da influência budista. Com o seu
enfraquecimento sendo um processo complexo e multifacetado que teve
consequências significativas. O declínio do budismo não foi apenas uma perda
religiosa, mas também uma transformação cultural que moldou a identidade regional.
A
estrutura monástica do budismo, outrora forte na região, foi enfraquecida com a
retirada do apoio das elites e a perda de territórios para os exércitos
islâmicos. Muitos dos mosteiros foram abandonados ou convertidos para outros
usos, e os monges budistas, sem proteção ou recursos, migraram para outras
áreas, como o Tibete e a China, onde a religião continuou a prosperar. Segundo
Beckwith [2012], essa migração de monges e o declínio da arquitetura budista
são evidências claras da substituição gradual do budismo pelo Islã. [BECKWITH,
2012, p. 133].
Ele
que havia sido uma das principais religiões da Ásia Central, começou a perder
seu espaço na esteira da Batalha de Talas. Como destacado por Foltz [1999], a
redução do budismo foi em parte devido à perda do apoio dos governantes locais,
que passaram a favorecer o Islã como religião oficial. Além disso, os templos e
mosteiros budistas, que dependiam das doações da elite para sua manutenção,
sofreram com a diminuição do patrocínio financeiro. [FOLTZ, 1999, p. 98].
Apesar
disso, o budismo não desapareceu completamente da Ásia Central. Regiões mais
remotas ou isoladas mantiveram suas tradições budistas por mais tempo, e algumas
comunidades continuaram a praticar seus rituais, mesmo sob domínio islâmico.
Frye [2003] sublinha que essa coexistência religiosa foi possível em parte pela
natureza pluralista de algumas regiões, onde várias tradições espirituais
conviviam pacificamente. [FRYE, 2003, p. 110].
No
entanto, o fato é que o Islã gradualmente se estabeleceu como a principal
religião, enquanto o budismo perdeu influência política, cultural e social. A
Batalha de Talas, portanto, foi um evento decisivo na reconfiguração religiosa,
promovendo a expansão do Islã e marcando o início do declínio do budismo, cujos
efeitos ainda podem ser sentidos nas tradições religiosas e culturais da Ásia
Central contemporânea.
Conclusão
A
Batalha de Talas, ocorrida em 751 d.C., marcou um ponto de inflexão
significativo na história da Ásia Central, com efeitos profundos nas cultura,
economia, política e religião. A partir do contexto histórico explorado, vimos
como esse evento refletiu o embate entre duas grandes potências, o Califado
Abássida e o Império Tang, resultando em uma reconfiguração da hegemonia na
região e em transformações estruturais que moldariam o futuro da Ásia Central.
No
que diz respeito às culturas locais, a batalha desencadeou um processo de fusão
cultural e interação entre as influências islâmicas, persas e locais. Isso
resultou em uma nova identidade regional que incorporava elementos dessas
várias tradições. A arquitetura e a literatura
foram impactadas por essa convergência, enriquecendo o patrimônio
cultural da Ásia Central.
Nas
relações comerciais, a Batalha de Talas marcou uma transformação significativa
na Rota da Seda. A ascensão do controle islâmico sobre essa rota permitiu não
apenas um fluxo contínuo de mercadorias, mas também uma difusão de ideias,
tecnologia e cultura. Essa nova dinâmica comercial impulsionou o
desenvolvimento de centros urbanos como Samarcanda e Bukhara, que se tornaram
importantes polos de intercâmbio entre o Oriente e o Ocidente.
Religiosamente,
a Batalha de Talas representou uma verdadeira reviravolta. O Islã, que já se
estabelecia na região, consolidou-se ainda mais como a religião dominante,
especialmente após a vitória abássida. Isso gerou uma reorganização das
estruturas sociais e políticas. Enquanto o budismo, uma das principais
religiões da Ásia Central até então, começou a declinar. Esse declínio foi
facilitado pela perda de apoio das elites locais e pela crescente islamização
da sociedade.
Em
síntese, a Batalha de Talas não pode ser vista apenas como um evento militar
com seus impactos transcendendo o campo de batalha, alterando permanentemente o
tecido social, econômico, cultural e religioso da Ásia Central. As mudanças
provocadas por esse conflito ecoaram ao longo dos séculos, moldando a região e
influenciando a sua trajetória.
Referência
Biográfica
José
Raimundo Neto, graduado em Licenciatura em História.
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Olá!
ResponderExcluirTexto bem interessante, sobre uma episódio por vezes desconhecido na história ocidental.
Você chegou a pesquisar sobre a utilização de mercenários karluks por parte do Império Tang e "virada de casaca" que ocorreu?
Saudações!
Willian Spengler
Sim, foi um dos fatores mais importantes que levou a derrota da infantaria pesada tang. Se os karluks não tivessem trocado dd lado ou se tivessem apenas se retirado, provavelmente a batalha teria outro resultado.
ExcluirJosé Raimundo Neto.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirJosé Raimundo Neto,
ResponderExcluirum texto bem relevante para entendimento da história asiática em geral, e da história mundial, em suas consequências.
No texto você diz que "Apesar disso, o budismo não desapareceu completamente da Ásia Central. Regiões mais remotas ou isoladas mantiveram suas tradições budistas por mais tempo, e algumas comunidades continuaram a praticar seus rituais, mesmo sob domínio islâmico." PERGUNTAS:
1. Quais dessas regiões remotas preservaram comunidades com tradições budistas? (e, se possível, por quais motivos conseguiram manter essa tradição, apesar das profundas mudanças?)
Matheus, Obrigado pela participação, também acho um tema muito interessante e pouco estudado.
ExcluirVou responder de uma forma estrutural e mais enxuta, para facilitar a assimilação e a ideia das posições geográficas:
Após a ascensão do islamismo na Ásia Central (séculos 7 e 8), muitos centros budistas desapareceram devido à conversão em massa ao islamismo e à reestruturação social e política, (como eu havia mostrado no texto). No entanto, alguns centros budistas continuaram existindo, embora de forma reduzida e sob pressões culturais e econômicas. Entre os principais centros que resistiram temporariamente estão:
1. Vale de Bamiyan (Afeganistão)
Localização: Região montanhosa do Afeganistão central.
Importância: Conhecido por seus gigantescos Budas esculpidos em pedra (datados entre os séculos 4 e 5), o vale de Bamiyan permaneceu um importante centro budista até o século 9. OBS: pena que a região foi devastada pelo Talibã.
Declínio: Foi impactado pela chegada do islamismo, mas ainda existiam monges e práticas budistas no local por algumas décadas após a invasão islâmica.
2. Região de Gandara e Vale do Swat (atual Paquistão)
Localização: Norte do atual Paquistão.
Importância: Gandara foi um dos berços do budismo mahayana e manteve-se como centro cultural e religioso por algum tempo após a chegada do islamismo.
Declínio: A conversão ao islamismo e as invasões estrangeiras enfraqueceram a presença budista, mas fragmentos das tradições budistas persistiram em regiões mais remotas.
3. Região de Sogdiana e Samarcanda (atual Uzbequistão)
Localização: Áreas ao redor de Samarcanda e do Vale de Zeravshan.
Importância: Sogdiana era um importante centro de trocas culturais, e o budismo permaneceu em algumas comunidades locais, especialmente por sua conexão com a Rota da Seda.
Declínio: Após a conquista islâmica, as práticas budistas foram absorvidas ou substituídas, mas algumas comunidades isoladas continuaram a prática por algum tempo.
4. Caxemira
Localização: Região entre o Paquistão e a Índia.
Importância: A Caxemira continuou sendo um refúgio budista, especialmente para o estudo e a tradução de textos para o tibetano e o chinês.
Sobrevivência: Apesar da islamização gradual, a Caxemira manteve uma presença budista significativa até o século 14.
5. Turquistão Oriental (atual Xinjiang, China)
Localização: Regiões como Dunhuang, Turfan e Khotan.
Importância: Estas áreas eram grandes centros budistas devido à proximidade com a Rota da Seda.
Declínio: O budismo sobreviveu até o século 10, especialmente em Khotan, antes de ser amplamente substituído pelo islamismo.
Motivos para a Resistência Temporária
Isolamento geográfico: Muitos mosteiros estavam em áreas remotas ou de difícil acesso.
Valor cultural e econômico: Alguns centros eram também polos de aprendizado ou comércio, o que os preservou por mais tempo.
Interações culturais: A interação entre muçulmanos e budistas em certos períodos promoveu uma coexistência limitada.
Esses centros eventualmente desapareceram ou foram integrados a práticas islâmicas ou culturais locais, mas deixaram um legado significativo na arte, na arquitetura e na literatura.
José Raimundo Neto.
Muito obrigado pela detalhada e cuidadosa resposta. Adorei.
Excluir