José Raimundo Neto

 

BATALHA DE TALAS 751 D.C.: UMA ANÁLISE SOBRE O DECLÍNIO DO BUDISMO E A ASCENSÃO DO ISLAMISMO NA ÁSIA CENTRAL


Introdução

A Batalha de Talas, ocorrida em 751 d.C., nas vastas estepes da Ásia Central, emergiu como um divisor de águas histórico com impactos profundos e duradouros. Sendo frequentemente subestimada na narrativa global da história, esse evento possui significativa relevância, cujos impactos transcenderam o tempo.

 

 Este artigo busca analisar a problemática da batalha e como seus resultados influenciaram significativamente a região, através de uma análise que se concentra em quatro pilares fundamentais: o contexto histórico que precipitou o conflito, os impactos da ascensão do islamismo nas culturas locais, os efeitos nas relações comerciais e as mudanças que levaram ao declínio do budismo na região.

 

A batalha se desenrolou em meio a tensões geopolíticas, onde o Califado Abássida e o Império Tang competiam pelo controle da Ásia Central e da Rota da Seda. Um das principais vias comerciais, com um fluxo contínuo de caravanas que transportavam mercadorias, pessoas e ideias. Tornando-se a artéria comercial e um verdadeiro mosaico de riqueza, diversidade étnica, cultura e religião.

 

Em um cenário onde eventos históricos muitas vezes deixam um legado duradouro, essa batalha se destacou como um exemplo vívido de como um único combate pode influenciar profundamente a cultura, a economia e as crenças de uma região. Seus efeitos ressoam até os dias atuais, incluindo a difusão do árabe e da cultura islâmica e a redução drástica do zoroastrismo, maniqueísmo, xamanismo local, cristianismo, hinduísmo e budismo. O qual possuía supremacia nos principais centros urbanos da região.

 

Desse modo, esse estudo se baseia nas contribuições de estudiosos que se dedicaram à pesquisa sobre o tema. Explorando as mudanças sociais e culturais originadas dessa batalha, fornecendo uma perspectiva aprofundada sobre os impactos que esse evento histórico teve na rica mescla cultural da região.

 

Contexto Histórico

A Batalha de Talas emergiu em um período de intensas rivalidades e conflitos na Ásia Central, onde os Impérios Abássida e Tang almejavam estender seu controle sobre esta região estratégica. Twitchett e Fairbank  [1979] destacam que a rivalidade entre o Califado Abássida e o Império Tang não surgiu do nada. O cenário da Ásia Central era caracterizado por um intrincado equilíbrio de poder entre várias complexidades geopolíticas das dinastias locais. TWITCHETT; FAIRBANK, 1979, p. 123).

 

A região era o epicentro das vias comerciais da Rota da Seda, que conectavam o Oriente e o Ocidente. Para Millward [2007], essas vias eram cruciais para o comércio de seda, especiarias, metais preciosos e difusão de ideias e conhecimentos. Qualquer controle estratégico sobre essas rotas representava não apenas uma questão de riqueza, mas também de poder e influência consideráveis. [MILLWARD, 2007, p. 67].

 

A Ásia Central era um caldeirão de culturas e religiões, onde coexistiam de modo simbiótico,  com aproximações e distanciamentos mútuos. Millward [2007] ressalta que essa diversidade tornou a região um terreno fértil para competições e conflitos interculturais. Como aconteceu entre as cidades de Fergana e Tashkent. As quais disputavam a supremacia na região e buscaram ajuda dos Tangs e Abássidas [respectivamente] para se fortalecer. [MILLWARD, 2007, p. 92].

 

O Califado Abássida, com sua capital em Bagdá, aspirava à expansão territorial e à propagação do Islã. Em contrapartida, Soucek  [2000] afirma que o Império Tang estando no auge do seu poder, buscava preservar sua influência, vendo a expansão árabe  como uma ameaça. As tensões entre essas potências culminaram no embate, que foi, em grande parte, um conflito indireto entre o Islã e o Budismo. [SOUCEK, 2000, p. 123].

 

Portanto, ela não surgiu do nada. Sendo o culminar de um longo período de tensões e competições locais. Atraindo o Califado e o Império Chinês para um conflito regional em grande escala. Com os Abássidas em processo de expansão pela Ásia Central,  enquanto os Tangs buscavam consolidar sua influência instalando postos de patrulha e fazendo alianças na mesma região. Com ambas vendo a disputa entre Fergana e Tashkent a oportunidade de expandir seus domínios.

 

As cidades eram rivais e de predominância étnica karluk [turcos], possuíam grande influência na região e dominavam a arte da forja de equipamentos bélicos de alta qualidade, que eram muito cobiçados por diversos Estados. Em 751 d.C., Tashkent atacou Fergana e esta pediu auxílio aos Tang. O qual prontamente respondeu, objetivando consolidar sua influência na região. Com os Abássidas também entrando no conflito, apoiando Tashkent.

 

Ambas as forças se enfrentaram nas margens do Rio Talas [atual Quirguistão], em uma grande batalha. Com os Abássidas sobrepujando os Tangs, com sua hábil cavalaria selando o combate. Frankopan [2015], observa que a vitória do Califado redefiniu o equilíbrio de poder na região, impactando diretamente o comércio e a cultura local. Estabelecendo uma nova ordem geopolítica que influenciaria os séculos subsequentes. Incluindo mudanças na identidade cultural, na língua e nas relações interpessoais. [FRANKOPAN, 2015, p 88].

 

Impactos nas Culturas Locais: Ascensão do Islamismo

A Batalha de Talas desencadeou transformações profundas na Ásia Central, deixando uma marca indelével nas culturas locais. As populações que habitavam essa região eram diversas, com um rico leque de etnias e línguas. Com o budismo, cristianismo, zoroastrismo, maniqueísmo e islamismo coexistindo interconectados. Mas a vitória do Califado Abássida trouxe uma maior influência islâmica, gerando impactos profundos na cultural local.

 

Segundo Gibb [1997], Os califas abássidas, buscando promover o Islã, encorajaram a conversão de grande parte da população. Esse processo de islamização gradual teve implicações duradouras nas culturas e nas estruturas sociais da região. [GIBB, 1997, p. 85]. Lapidus [2002], ressalta que uma das consequências mais notáveis foi a difusão da língua árabe e da cultura islâmica. Com o árabe se tornando o idioma da administração, religião e educação. [LAPIDUS, 2002, p. 70].

 

 Lapidus [2002] também destaca que essa mudança linguística foi acompanhada pelo estabelecimento de mesquitas e madraças, que se tornaram centros de aprendizado e espiritualidade. Com o Islã trazendo consigo uma nova arquitetura, literatura e sistemas legais que se entrelaçaram e enraizaram com as tradições locais, criando uma rica sinergia cultural. [LAPIDUS, 2002, p. 55].

 

O sistema educacional também passou por mudanças significativas. A introdução do Islã na região trouxe consigo a abertura de madraças, escolas islâmicas, onde a língua árabe e os ensinamentos religiosos eram ministrados. Para Solak et al. [2022], essas instituições desempenharam um papel vital na disseminação da cultura islâmica, através do desenvolvimento da literatura e filosofia islâmicas. [SOLAK et al., 2022, p. 250]. Com a produção de poesia e textos filosóficos florescendo, e autores locais incorporando elementos islâmicos em suas obras. Resultando em uma rica tradição literária que combinava elementos árabes, persas e locais.

 

Zhang [2008] destaca que a chegada do Islã trouxe consigo uma nova estética na arquitetura, com mesquitas e palácios se multiplicando, decorados com suas cúpulas, minaretes, intrincados mosaicos, caligrafia árabe e elementos geométricos, com cores vibrantes. Essa fusão de estilos arquitetônicos tornou-se uma parte distintiva do cenário urbano, enriquecendo a paisagem da Ásia Central. [ZHANG, 2008, p. 142].

 

O sistema legal também foi uma área que sofreu mudanças profundas. De acordo com Solak et al. [2022], o Islã trouxe consigo não apenas inovações sociais  mas também jurídicas. Através da implementação de códigos legais que se baseavam em princípios islâmicos e em normas jurídicas romanas [assimiladas durante o processo de expansão no Mediterrâneo], o Califado Abássida reestruturou os códigos legais que existiam. Os quais eram baseados em tradições tribais. Oferecendo meios jurídicos bastante inovadores. [SOLAK et al., 2022, p. 323].

 

Além disso, a resultado da batalha também afetou as relações interpessoais e as dinâmicas sociais. Lapidus [2002] destaca que as mudanças na religião e na cultura redefiniram as relações e estruturas de poder na Ásia Central. O poder e a autoridade passaram a ser exercidos por líderes muçulmanos em muitas regiões,  os quais desempenharam papéis influentes nas comunidades, reconfigurando as dinâmicas da sociedade nos séculos subsequentes. [LAPIDUS, 2002, p. 91].

 

Desse modo, muitas pessoas acabaram se convertendo. Pois perceberam que o Islã proporcionaria uma ascensão social, política e econômica mais eficiente e segura. No entanto é importante ressaltar que essas transformações culturais não ocorreram de maneira uniforme. Sttarr [2004] enfatiza que a chegada do Islã à Ásia Central foi gradual, envolvendo tanto a conversão de comunidades locais quanto a imigração de árabes e persas para a região. [STTARR, 2004, p. 85].

 

Vale ressaltar que as mudanças culturais não significaram a erradicação das identidades pré-existentes. Kennedy [2010] aponta que muitas comunidades  continuaram a preservar suas línguas, tradições e crenças distintas. Com as tradições locais fundindo-se às influências islâmicas. Gerando a coexistência de várias tradições, resultando em uma cultura rica e ainda mais diversificada. [KENNEDY, 2010, p. 142].

 

Em suma, a Batalha de Talas foi um catalisador que moldou profundamente os povos da Ásia Central, contribuindo para a difusão da cultura islâmica e, ao mesmo tempo, preservando a diversidade regional. Dando origem a uma nova identidade cultural. Com essas mudanças sendo um exemplo da influência duradoura que esse conflito teve nas sociedades locais.  Servindo como um testemunho das complexidades da história da Ásia Central.

 

Impactos nas Relações Comerciais e na Rota da Seda

 A mudança no controle das vias comerciais da Rota da Seda foi um dos efeitos mais significativos da Batalha de Talas. Ocasionando repercussões econômicas de longo prazo para a Ásia Central. Antes do confronto, o Império Tang dominava as rotas comerciais que conectavam o Oriente com o Ocidente, garantindo o fluxo constante de mercadorias e riquezas. No entanto, com a vitória dos Abássidas, essa hegemonia chinesa foi abalada, e as rotas comerciais começaram a se reconfigurar em favor do mundo islâmico.

 

Elisseef [1998] sublinha que essa mudança fez mercadores e caravanas ajustarem suas rotas, levando o comércio a novas cidades e regiões sob controle islâmico. Cidades importantes da Ásia Central, como Samarcanda, Bukhara, Merv, Herat, Kashgar, Balkh, Fergana e Tashkent, tornaram-se centros comerciais florescentes, beneficiando-se do fluxo crescente de mercadorias e da entrada de novas culturas e ideias. [ELISSEEF, 1998, p. 204].

 

Essa reconfiguração também ampliou o escopo do comércio islâmico na região, levando à criação de uma vasta rede de trocas comerciais que não apenas envolvia mercadorias materiais, como seda, especiarias e metais preciosos, mas também o intercâmbio de conhecimento científico e tecnológico. Hill [2004] destaca que uma das principais contribuições foi a disseminação de técnicas de fabricação de papel, trazidas da China e eventualmente introduzidas no mundo islâmico e posteriormente no Ocidente. [HILL, 2004, p. 172].

 

 Essa tecnologia revolucionou a maneira como o conhecimento era registrado e compartilhado, facilitando a produção de livros e o florescimento cultural no mundo árabe e no Ocidente. Sob o qual se mostraria imprescindível mais tarde, com a invenção da prensa móvel de Gutemberg [século XV d.C.]. Um desenvolvimento que revolucionou a produção de livros e a disseminação de conhecimento, permitindo a impressão de  textos em larga escala com rapidez e menor custo, substituindo o processo manual de cópia.

 

 Além disso, o comércio na Rota da Seda sob o domínio islâmico não se limitava apenas ao Oriente e ao Ocidente. Como Haldon [2009] observa, novas rotas também se estenderam para o sul, conectando a Ásia Central ao subcontinente indiano. Criando uma vasta rede de interconexões comerciais, religiosas e culturais, que fomentaram uma maior integração entre as diferentes regiões da Ásia. [HALDON, 2009, p. 58].

 

A consequência econômica mais visível dessa nova configuração foi o enriquecimento das cidades-Estado da Ásia Central. Muitas delas se tornaram centros urbanos prósperos, onde comerciantes, estudiosos e viajantes de diferentes partes do mundo se reuniam. Estas cidades, por sua vez, desenvolveram uma arquitetura e cultura cosmopolitas, onde influências islâmicas, persas e locais se mesclavam de maneira única.

 

Por fim, Hansen [2012] argumenta que a ascensão do controle islâmico sobre a Rota da Seda também marcou um aumento no intercâmbio de ideias e religiões, facilitando a disseminação do islamismo, assim como a continuidade de outras práticas religiosas e filosóficas. Nesse sentido, o comércio e a religião passaram a caminhar lado a lado, reforçando a crescente islamização regional. [HANSEN, 2012, p. 102].

 

Por tanto, o impacto da Batalha de Talas sobre as rotas comerciais e a economia da Ásia Central foi muito mais do que uma simples vitória militar e da troca da influência da Dinastia Tang pelo Califado Abássida. Ela representou a transformação de toda uma estrutura de interação econômica, cultural e religiosa, que continua moldando a história local até a atualidade .

 

O Declínio do Budismo

 O conflito desempenhou um papel crucial na transformação da paisagem religiosa da Ásia Central, com repercussões significativas que perduram até os dias atuais.  Antes da Batalha de Talas, o budismo era uma das religiões dominantes. No entanto, a vitória militar dos Abássidas e a consequente ascensão e expansão do Islã gerou implicações significativas e um impacto direto no declínio do budismo.

 

 Como observado por Kennedy [2010], o budismo, que havia florescido na Ásia Central durante séculos, viu-se em declínio à medida que o Islã ganhava terreno. As políticas dos governantes muçulmanos promoveram a conversão ao Islã, muitas vezes com incentivos políticos, econômicos, sociais e fiscais, com preferências dadas aos convertidos. À medida que a população se converteu ao Islã, o budismo perdia seguidores. [KENNEDY, 2010, p. 75].

 

A arquitetura budista, os templos e os mosteiros, que outrora dominavam a paisagem da Ásia Central, foram gradualmente substituídos por mesquitas islâmicas. Isso resultou na erosão da influência budista. Com o seu enfraquecimento sendo um processo complexo e multifacetado que teve consequências significativas. O declínio do budismo não foi apenas uma perda religiosa, mas também uma transformação cultural que moldou a identidade regional.

 

A estrutura monástica do budismo, outrora forte na região, foi enfraquecida com a retirada do apoio das elites e a perda de territórios para os exércitos islâmicos. Muitos dos mosteiros foram abandonados ou convertidos para outros usos, e os monges budistas, sem proteção ou recursos, migraram para outras áreas, como o Tibete e a China, onde a religião continuou a prosperar. Segundo Beckwith [2012], essa migração de monges e o declínio da arquitetura budista são evidências claras da substituição gradual do budismo pelo Islã. [BECKWITH, 2012, p. 133].

 

Ele que havia sido uma das principais religiões da Ásia Central, começou a perder seu espaço na esteira da Batalha de Talas. Como destacado por Foltz [1999], a redução do budismo foi em parte devido à perda do apoio dos governantes locais, que passaram a favorecer o Islã como religião oficial. Além disso, os templos e mosteiros budistas, que dependiam das doações da elite para sua manutenção, sofreram com a diminuição do patrocínio financeiro. [FOLTZ, 1999, p. 98].

 

Apesar disso, o budismo não desapareceu completamente da Ásia Central. Regiões mais remotas ou isoladas mantiveram suas tradições budistas por mais tempo, e algumas comunidades continuaram a praticar seus rituais, mesmo sob domínio islâmico. Frye [2003] sublinha que essa coexistência religiosa foi possível em parte pela natureza pluralista de algumas regiões, onde várias tradições espirituais conviviam pacificamente. [FRYE, 2003, p. 110].

 

No entanto, o fato é que o Islã gradualmente se estabeleceu como a principal religião, enquanto o budismo perdeu influência política, cultural e social. A Batalha de Talas, portanto, foi um evento decisivo na reconfiguração religiosa, promovendo a expansão do Islã e marcando o início do declínio do budismo, cujos efeitos ainda podem ser sentidos nas tradições religiosas e culturais da Ásia Central contemporânea.

 

Conclusão

A Batalha de Talas, ocorrida em 751 d.C., marcou um ponto de inflexão significativo na história da Ásia Central, com efeitos profundos nas cultura, economia, política e religião. A partir do contexto histórico explorado, vimos como esse evento refletiu o embate entre duas grandes potências, o Califado Abássida e o Império Tang, resultando em uma reconfiguração da hegemonia na região e em transformações estruturais que moldariam o futuro da Ásia Central.

 

No que diz respeito às culturas locais, a batalha desencadeou um processo de fusão cultural e interação entre as influências islâmicas, persas e locais. Isso resultou em uma nova identidade regional que incorporava elementos dessas várias tradições. A arquitetura e a literatura  foram impactadas por essa convergência, enriquecendo o patrimônio cultural da Ásia Central.

 

Nas relações comerciais, a Batalha de Talas marcou uma transformação significativa na Rota da Seda. A ascensão do controle islâmico sobre essa rota permitiu não apenas um fluxo contínuo de mercadorias, mas também uma difusão de ideias, tecnologia e cultura. Essa nova dinâmica comercial impulsionou o desenvolvimento de centros urbanos como Samarcanda e Bukhara, que se tornaram importantes polos de intercâmbio entre o Oriente e o Ocidente.

 

Religiosamente, a Batalha de Talas representou uma verdadeira reviravolta. O Islã, que já se estabelecia na região, consolidou-se ainda mais como a religião dominante, especialmente após a vitória abássida. Isso gerou uma reorganização das estruturas sociais e políticas. Enquanto o budismo, uma das principais religiões da Ásia Central até então, começou a declinar. Esse declínio foi facilitado pela perda de apoio das elites locais e pela crescente islamização da sociedade.

 

Em síntese, a Batalha de Talas não pode ser vista apenas como um evento militar com seus impactos transcendendo o campo de batalha, alterando permanentemente o tecido social, econômico, cultural e religioso da Ásia Central. As mudanças provocadas por esse conflito ecoaram ao longo dos séculos, moldando a região e influenciando a sua trajetória.

 

Referência Biográfica

José Raimundo Neto, graduado em Licenciatura em História.

 

Referências Bibliográficas 

BECKWITH, C. I. Empires of the Silk Road: A History of Central Eurasia from the Bronze Age to the Present. Princeton: Princeton University Press, 2012.

ELISSEEF, N. The Silk Roads: Highways of Culture and Commerce. New York: Berghahn Books, 1998.

FOLTZ, R. Religions of the Silk Road: Overland Trade and Cultural Exchange from Antiquity to the Fifteenth Century. New York: Palgrave Macmillan, 1999.

 

FRANKOPAN, Peter. The Silk Roads: A New History of the World. New York: Alfred A. Knopf, 2015.

FRYE, Richard N. The history of Buddhism in Central Asia. 1. ed. [S.l.]: [s.n.], 2003.

GIBB, H. A. R. The Arab Conquests in Central Asia. Oxford: Clarendon Press, 1997.

HALDON, J. Byzantium at War (AD 600–1453). New York: Osprey Publishing, 2009.

HANSEN, V. The Silk Road: A New History. Oxford: Oxford University Press, 2012.

HILL, D. R. Islamic Science and Engineering. Edinburgh: Edinburgh University Press, 2004.

KENNEDY, H. The Great Arab Conquests: How the Spread of Islam Changed the World We Live In. London: Da Capo Press, 2010.

LAPIDUS, I. M. A History of Islamic Societies. 2. Ed. Cambridge: Cambridge University Press, 2002.

MILLWARD, James A. Eurasian crossroads: a history of Xinjiang. New York: Columbia University Press, 2007.

SOLAK, Fahri; CHOROTEGIN, Tynchtykbek; BAIGONUSHEVA, Mairam; CUSUPOVA, Moimol (Orgs.). Talas War and Its Historical Importance. Istanbul: Türk Dünyası Belediyeler Birliği, 2022

SOUCEK, Svat. A history of Inner Asia. Cambridge: Cambridge University Press, 2000.

STARR, S. Frederick. Xinjiang: fronteira muçulmana da China. 2004.

TWITCHETT, Denis; FAIRBANK, John K. (editores). The Cambridge History of China, Volume 3: Sui and T’ang China, 589-906 AD, Part One. Cambridge: Cambridge University Press, 1979.                  

ZHANG, X. The History and Impact of Paper in the Islamic World. Beijing: Chinese Academy of Social Sciences, 2008.

 

6 comentários:

  1. Olá!

    Texto bem interessante, sobre uma episódio por vezes desconhecido na história ocidental.

    Você chegou a pesquisar sobre a utilização de mercenários karluks por parte do Império Tang e "virada de casaca" que ocorreu?

    Saudações!

    Willian Spengler

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    1. Sim, foi um dos fatores mais importantes que levou a derrota da infantaria pesada tang. Se os karluks não tivessem trocado dd lado ou se tivessem apenas se retirado, provavelmente a batalha teria outro resultado.

      José Raimundo Neto.

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  2. José Raimundo Neto,
    um texto bem relevante para entendimento da história asiática em geral, e da história mundial, em suas consequências.
    No texto você diz que "Apesar disso, o budismo não desapareceu completamente da Ásia Central. Regiões mais remotas ou isoladas mantiveram suas tradições budistas por mais tempo, e algumas comunidades continuaram a praticar seus rituais, mesmo sob domínio islâmico." PERGUNTAS:
    1. Quais dessas regiões remotas preservaram comunidades com tradições budistas? (e, se possível, por quais motivos conseguiram manter essa tradição, apesar das profundas mudanças?)

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    1. Matheus, Obrigado pela participação, também acho um tema muito interessante e pouco estudado.

      Vou responder de uma forma estrutural e mais enxuta, para facilitar a assimilação e a ideia das posições geográficas:

      Após a ascensão do islamismo na Ásia Central (séculos 7 e 8), muitos centros budistas desapareceram devido à conversão em massa ao islamismo e à reestruturação social e política, (como eu havia mostrado no texto). No entanto, alguns centros budistas continuaram existindo, embora de forma reduzida e sob pressões culturais e econômicas. Entre os principais centros que resistiram temporariamente estão:

      1. Vale de Bamiyan (Afeganistão)

      Localização: Região montanhosa do Afeganistão central.

      Importância: Conhecido por seus gigantescos Budas esculpidos em pedra (datados entre os séculos 4 e 5), o vale de Bamiyan permaneceu um importante centro budista até o século 9. OBS: pena que a região foi devastada pelo Talibã.

      Declínio: Foi impactado pela chegada do islamismo, mas ainda existiam monges e práticas budistas no local por algumas décadas após a invasão islâmica.


      2. Região de Gandara e Vale do Swat (atual Paquistão)

      Localização: Norte do atual Paquistão.

      Importância: Gandara foi um dos berços do budismo mahayana e manteve-se como centro cultural e religioso por algum tempo após a chegada do islamismo.

      Declínio: A conversão ao islamismo e as invasões estrangeiras enfraqueceram a presença budista, mas fragmentos das tradições budistas persistiram em regiões mais remotas.


      3. Região de Sogdiana e Samarcanda (atual Uzbequistão)

      Localização: Áreas ao redor de Samarcanda e do Vale de Zeravshan.

      Importância: Sogdiana era um importante centro de trocas culturais, e o budismo permaneceu em algumas comunidades locais, especialmente por sua conexão com a Rota da Seda.

      Declínio: Após a conquista islâmica, as práticas budistas foram absorvidas ou substituídas, mas algumas comunidades isoladas continuaram a prática por algum tempo.


      4. Caxemira

      Localização: Região entre o Paquistão e a Índia.

      Importância: A Caxemira continuou sendo um refúgio budista, especialmente para o estudo e a tradução de textos para o tibetano e o chinês.

      Sobrevivência: Apesar da islamização gradual, a Caxemira manteve uma presença budista significativa até o século 14.


      5. Turquistão Oriental (atual Xinjiang, China)

      Localização: Regiões como Dunhuang, Turfan e Khotan.

      Importância: Estas áreas eram grandes centros budistas devido à proximidade com a Rota da Seda.

      Declínio: O budismo sobreviveu até o século 10, especialmente em Khotan, antes de ser amplamente substituído pelo islamismo.


      Motivos para a Resistência Temporária

      Isolamento geográfico: Muitos mosteiros estavam em áreas remotas ou de difícil acesso.

      Valor cultural e econômico: Alguns centros eram também polos de aprendizado ou comércio, o que os preservou por mais tempo.

      Interações culturais: A interação entre muçulmanos e budistas em certos períodos promoveu uma coexistência limitada.


      Esses centros eventualmente desapareceram ou foram integrados a práticas islâmicas ou culturais locais, mas deixaram um legado significativo na arte, na arquitetura e na literatura.

      José Raimundo Neto.

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    2. Muito obrigado pela detalhada e cuidadosa resposta. Adorei.

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