RAMSÉS
II FOI O MAIOR FARAÓ DO EGITO ANTIGO OU UM MESTRE DA PROPAGANDA? UMA ANÁLISE
CRÍTICA À FIGURA DE RAMSÉS II E COMPARAÇÃO DO SEU REINADO COM O DE AMENHOTEP
III
Introdução
O
legado dos “grandes” líderes da história frequentemente é objeto de admiração,
estudo e, por vezes, uma aura de mitologia. Com Ramsés II, um dos faraós mais
notáveis do Antigo Egito, não sendo exceção a essa tendência. Seu governo é
celebrado por suas realizações impressionantes, e sua figura sendo
frequentemente idealizada como um governante poderoso e divino, acima dos
padrões da época.
No
entanto, é fundamental questionar e problematizar essa estima exacerbada que
muitas vezes envolve o seu nome. Ao fazê-lo, torna-se possível compreender
melhor o seu legado de modo mais crítico. Dessa forma, surge um questionamento:
o governo de Ramsés II foi realmente o apogeu da antiga cultura egípcia ou
houveram faraós anteriores com reinados mais abrangentes?
Neste
artigo será explorado as ações desse faraó por meio de uma análise comparativa
que o coloca ao lado de outro faraó notável [porém esquecido]: Amenhotep III.
Assim, serão bordados aspectos da arquitetura, cultura, diplomacia, economia e
êxitos militares estratégicos. Através dessa exploração procuraremos não apenas
questionar o legado de Ramsés II, mas também apreciar as complexidades e
nuances do Egito Antigo.
Ramsés
II, cognominado de “O Grande “, foi um faraó da XIX dinastia. Detentor de um
longo reinado. Sendo largamente lembrado pelos seus projetos arquitetônicos
colossais, por participar da Batalha de Kadesh e realizar seu icônico tratado
de paz com os Hititas [século XIII a.C.]. Com seu legado sendo altamente
superestimado.
Ele
foi o último grande faraó a construir em larga escala, com boa parte do que
chegou aos nossos dias pertence ao seu período, não significando
necessariamente que sua administração foi o auge do Egito. Do mesmo modo como
ocorreu com Tutankhamon, o qual foi fundamental para compreender a vida
cultural faraônica no seu tempo [pela abundância de objetos do seu túmulo], mas
na história egípcia seu reinado foi bastante modesto.
Já Amenhotep III, cognominado de “O Magnífico”,
foi um faraó da XVIII dinastia [século XIV a.C.], sendo um hábil administrador,
construtor, diplomata e patrono da cultura egípcia. Sua administração foi
marcada por uma grande riqueza, centralização do poder e um aumento no culto à
pessoalidade do faraó, causado pela disputa de poder com o clero tebano do deus
Amon. Com esse artigo trazendo ao diálogo esse personagem histórico, expondo as
contribuições que seu governo teve no desenvolvimento da sociedade egípcia.
Realizações
Arquitetônicas
O
Egito Antigo é claramente marcado pela sua
arquitetura. Com Ramsés II frequentemente lembrado por suas
contribuições monumentais, sendo responsável por algumas das construções mais
grandiosas do período faraônico. Como os templos de Abu Simbel, esculpidos
diretamente na rocha e dedicados aos deuses Rá-Horakhty e Ptah e o Ramesseum,
seu templo mortuário.
Com ambas demonstrando a obsessão de Ramsés II
em cristalizar sua imagem divina. De acordo com Wilkinson [2010], a escolha de
Ramsés por erguer esses templos, simboliza não apenas poder religioso, mas
também sua propaganda política. [WILKINSON 2010, p. 200]. Mas, como explica
Murnane [1990], Ramsés II criou uma falsa ideia de grande construtor. Quando na
realidade se apropriava das construções de faraós anteriores para sua
autopromoção. [MURNANE,1990, p. 84].
Como
exemplificado por Dodson [2000], Ramsés II fez apropriações de Tutmés III no
Templo de Karnak, como o Santuário de
Akhenamon e o Santuário da Barca [dedicados a Amon], e nos templos núbios de
Amada, Derr e Semna. Já com Amenhotep III, ele se apropriou do Templo de Luxor
e o Templo de Soleb [Núbia]. E com Seti I [pai de Ramsés II], o Templo de
Abidos e o Salão Hipostilo. Com Ramsés II apagando os nome desses faraós e
colocando o seu. (DODSON, 2000, p. 123).
Para
Redford [1992], Amenhotep III foi um faraó que superou as capacidades de
construção de Ramsés II. Sendo um governante que possuiu um amplo legado, que é
pouco lembrado. [REDFORD, 1992, p. 178]. Ainda de acordo com Redford [1992],
enquanto Ramsés II construiu exclusivamente para se autopromover, Amenhotep III, possuía uma visão de Estado,
com suas obras voltadas a expor a riqueza e o poder não só do faraó, mas
principalmente do império. [REDFORD, 1992, p. 179].
Kozloff
[2012] confirma tal pensamento ao
descrever a importância das principais construções de Amenhotep III que temos
acesso, como o Templo de Luxor e o templo mortuário. [KOZLOFF, 2012, p. 234].
Para Shaw [2003], ao analisarmos o Templo de Luxor podemos ver um sobressalto
da engenharia e arquitetura. A partir do desenvolvimento e da inovação de
técnicas que superaram os reinados anteriores e serviriam de modelo para os futuros
faraós. [SHAW, 2003, p. 211].
Mas,
para Kozloff [2012], apesar da opulência do Templo de Luxor, ele ficava bastante aquém do Templo Mortuário
de Amenhotep III. O qual foi o mais luxuoso e caro projeto de construção, desde
as pirâmides. Com uma área de 385.000 metros quadrados, foi o maior templo já
construído no Egito Antigo, superando até mesmo o Templo de Karnak. Utilizando
materiais de luxo, como granito vermelho, alabastro branco e quartzo marrom,
contendo centenas de estátuas de Amenhotep IIII. Entre as quais se destacam os
Colossos de Memnon, com 18 metros de altura. [KOZLOFF, 2012, p. 235].
Essa
comparação tornou perceptível que embora Ramsés II tenha deixado um impacto
arquitetônico indelével, seu foco construtivo buscou apenas a autopromoção de
si mesmo como faraó. Já Amenhotep III, apesar de também se autopromover, ele
possuía uma visão mais focada no engrandecimento do Egito. Segundo Spalinger
[2005], o foco estava no significado cultural das obras. Nas quais havia uma
clara exposição de Amenhotep III como um líder forte que dirigiu seu país a
patamares nunca antes visto. [SPALINGER, 2005, p.153].
Aspectos
Culturais: o desenvolvimento da mentalidade de poder do faraó e o legado
cultural de Ramsés II e Amenhotep III
No
aspecto cultural podemos observar que ambos os faraós deixaram marcas
expressivas na cultura egípcia, com algumas finalidades bem aproximadas e
outras contendo um maior grau de distanciamento. Com a similaridade de ambos se
encontrando na divinização à personalidade do faraó e se distanciando no
objetivo das produções literárias.
Para
Redford [1996], o legado cultural de Ramsés II é parcialmente
inexpressivo, a medida que o faraó
apenas se utilizou do extenso desenvolvimento cultural egípcio com o objetivo
de apenas se autopromover. Como pode ser observado no Templo de Abul Simbel e
nos murais do Ramesseum, nos quais Ramsés II diviniza-se a si mesmo de modo
exacerbado, se colocando como um igual entre o panteão egípcio. [REDFORD, 1996,
p. 181].
Ainda
de acordo com Redford [1996], essa visão não foi criada por Ramsés II, com ele
apenas elevando exponencialmente essa situação. Com Amenhotep III sendo o
primeiro faraó a adotar a ideia de um governante divino à parte dos outros
deuses, no lugar da tradicional ideia do faraó como a encarnação do deus Hórus.
Não sob os auspícios de um rei que se tornou um deus, mas sim, de um deus que
se tornou um rei. Com essa atitude sendo uma resposta ao crescimento das
disputas de poder entre o clero do deus Amon e o próprio faraó. [REDFORD, 1996, p. 184-186].
Do
ponto cultural, o reinado de Ramsés II foi marcado por uma ênfase na
glorificação de sua imagem como um faraó divino. Durante seu governo, houve uma
intensa produção de inscrições monumentais que exaltavam suas vitórias
militares, especialmente a Batalha de Kadesh. Segundo Kitchen [1996], Ramsés
utilizou a arte e a literatura como ferramentas de propaganda política,
destacando-se pelo uso extensivo de autoelogios em estelas e templos, mostrando
uma clara ênfase do faraó sendo reverenciado pelos deuses. [KITCHEN, 1996, p.
157].
Entretanto,
quando comparamos com o desenvolvimento cultural sob Amenhotep III, torna-se
perceptível as diferenças dos objetivos do eixo norteador da produção
literária. Com esse faraó patrocinando as artes de uma forma que levou ao
apogeu da cultura egípcia. Como aponta Kozloff [2012], seu reinado é
frequentemente descrito como uma “Idade de Ouro” da cultura egípcia, marcada
por inovações e refinamentos na produção artística de alta qualidade, com
esculturas monumentais e novas sofisticações técnicas e estilísticas. [KOZLOFF,
2012, p. 236]
Em
relação a produção literária, Amenhotep III patrocinou uma larga produção e
desenvolvimento textual. Segundo Kozloff [2012], esse governante realizou
grandes investimentos na produção de textos, principalmente do período do Médio Império Egípcio. Resgatando escritos
religiosos, mitologias épicas e textos sapienciais. Os quais só temos acesso
hoje por causa desse faraó. [KOZLOFF,
2012, p. 238-240].
Dessa
forma, a comparação entre os dois faraós, revelou que Ramsés II é lembrado por
usar a cultura como uma ferramenta exclusiva de propaganda pessoal, em
detrimento da elevação da própria cultura egípcia. Já Amenhotep III promoveu um
desenvolvimento artístico mais genuíno e inovador, que priorizava as
características culturais egípcias em um nível mais elevado e refinado.
Extensão
das Rotas Comerciais
Nas
rotas comerciais, é possível perceber que os dois faraós apenas administraram
as rotas conquistadas por seus antecessores. Reforçando guarnições em pontos
estratégicos e monitorando o fluxo dos recursos essenciais para o comércio
egípcio. Segundo Breasted [1906], os faraós que mais se destacaram como
propulsores do dinamismo econômico do Egito Antigo, por meio de suas aquisições
foram Hatshepsut e Tutmés III [membros da XVIII dinastia] e Seti I [membro da
XIX dinastia]. [BREASTED, 1906, p. 194].
Segundo
Redford [1996], no âmbito econômico,
Ramsés II apenas manteve estável a administração política estabelecida
por seu pai, o faraó Seti I. O qual havia herdado muitos dos problemas
políticos e econômicos criados durante o Período de Amarna [faraó Aquenaton,
século XIV a.C.]. [REDFORD, 1996, p. 150-152]. Assim, quando ascendeu ao poder,
Seti I realizou uma série de campanhas militares na Núbia e no Levante.
Para
Kitchen [1996], as expedições de Seti I, foram vitais para o enriquecimento do
império e para o acesso a mercadorias como ouro, madeira, pedras preciosas e
materiais de construção. [KITCHEN, 1996, p. 156]. Segundo Kitchen [1996], o
comércio com a Núbia, em particular, foi intensificado durante o reinado de
Ramsés II, garantindo um fluxo constante de ouro, o que ajudou a financiar seus
projetos e estabilizar a economia. [KITCHEN, 1996, p. 158].
Com
Amenhotep III ocorreu do mesmo modo. Pois ele apenas administrou o controle
sobre as rotas comerciais alcançadas por seus predecessores. Principalmente
Hatshepsut e Tutmés III [ XVIII dinastia]. Para Kozloff [2012], a expedição
comercial pacífica de Hatshepsut ao chamado Reino de Punt [Chifre da África], tornou-se
o primeiro grande empreendimento comercial significativo na construção de
relações comerciais egípcias com culturas distantes. [KOZLOFF, 2012, p. 238].
Tutmés
III, por outro lado, abriu novas rotas comerciais após suas campanhas
militares, principalmente no Levante e na Núbia. Ainda de acordo com Kozloff
[2012], após suas vitórias, o Egito passou a controlar importantes rotas que
ligavam o Oriente Próximo a África. [KOZLOFF,
2012, p. 242]. Permitindo ao faraó o monopólio sobre o comércio de bens
valiosos, como cedro do Líbano, óleos aromáticos e metais. Murnane [1990] complementa que a campanha militar criou
entrepostos e pontos de coleta de tributos, garantindo que o Egito se beneficiasse
diretamente do controle sobre essas rotas. [MURNANE, 1990, p. 130].
Kozloff
(2012, p. 238) destaca que Amenhotep III foi particularmente bem sucedido em
manter as relações comerciais que ele herdou. Promovendo um período de grande
prosperidade econômica, facilitando o
comércio de bens, metais preciosos, pedras semipreciosas e marfim. [KOZLOFF,
2012, p. 245]. Com essas trocas comerciais contribuindo para o enriquecimento
da elite egípcia e consolidando a posição do Egito como uma potência comercial.
Diplomacia
As
relações diplomáticas de ambos os faraós tiveram um peso de suma importância
nos seus reinados. Ramsés II é frequentemente lembrado pelo famoso Tratado de
Kadesh com os hititas, o mais antigo tratado internacional escrito que se tem
conhecimento. Com o qual ele alcançou a paz com seu adversário mais poderoso e
influente na região do Levante [atuais Síria, Líbano e Israel].
De
acordo com Kitchen [1996], esse tratado foi de importância estratégica, pois
assegurou uma relativa paz no norte e permitiu a Ramsés II focar em outras
atividades administrativas. expondo o faraó como um governante hábil e
perspicaz na arte da diplomacia. Com ele se utilizando desse tratado para se
autopromover em escala monumental. Mostrando um líder forte e imponente,
vencendo seus inimigos , até mesmo na mesa de negociações. [KITCHEN, 1996, p.
154].
Apesar
desse tratado ser frequentemente visto como um dos principais feitos
diplomáticos do faraó, além da sua importância para os estudos das relações
diplomáticas do Antigo Oriente Próximo. Ele não gerou um ganho real para os
egípcios. A medida que o acordo apenas
cessou as hostilidades e manteve o status quo ante bellum entre as partes. Com
os hititas mantendo as regiões reivindicadas por Ramsés II.
Mas,
quando analisamos a diplomacia de Amenhotep III, percebe-se uma elevada
habilidade diplomática. Sendo conhecido por suas alianças bem sucedidas, muitas
vezes mantidas por meio de casamentos diplomáticos com princesas estrangeiras,
particularmente da Síria, Mitanni, Assíria, Babilônia e Núbia. Como destaca
Aldred [1988], Amenhotep III construiu uma rede de alianças sem precedentes, o
que permitiu uma era de prosperidade. [ALDRED, 1984, p. 122].
Para
Rice [1999], suas trocas diplomáticas não envolviam apenas tratados, mas também
extensas correspondências e presentes, como mencionado nas Cartas de Amarna.
Com esses métodos de diplomacia ajudando a estabilizar as fronteiras egípcias e
garantindo o fluxo comercial, fortalecendo o império internamente e mantendo a
estabilidade política por longo prazo. [RICE, 1999, p. 49-52]
Êxitos Militares Estratégicos
No
aspecto militar, Ramsés II possui claramente uma maior experiência em combates
do que Amenhotep III. Com Ramsés II frequentemente lembrado por sua famosa
participação na Batalha de Kadesh, contra os hititas. De acordo com Spalinger
[2005], embora ele tenha promovido a batalha como uma grande vitória, o consenso
entre historiadores é que o confronto terminou em um impasse. No entanto, ele
transformou essa narrativa em uma conquista pessoal, utilizando de propaganda para consolidar sua imagem.
[SPALINGER, 2005, p. 175].
Para
Grimal [1992], no aspecto militar, a Batalha de Kadesh foi um verdadeiro
desastre para os egípcios. A medida que Ramsés II não alcançou nenhum dos seus
objetivos militares para a campanha. Além de iniciar o conflito [quebrando o
equilíbrio e estabilidade geopolítica alcançados anteriormente entre Seti I e
os imperadores hititas], ele ainda perdeu os recursos investidos na campanha e
aproximadamente metade do seu exército, quando caiu na armadilha dos hititas.
[GRIMAL, 1999, p. 120].
De
acordo com Bard [2008], só é possível perceber a capacidade propagandística e
manipuladora dos fatos, por Ramsés II, quando analisamos a Batalha de Kadesh a
partir do registro hitita. O qual fornece uma visão mais realista do confronto,
expondo as dificuldades de ambos os lados em disputa pela posse da região de
Amarru [Síria atual]. Com o faraó registrando uma vitória, que na realidade foi
inconclusiva, e quase custou sua vida. [BARD, 2008, p. 102].
Ainda
de acordo com Bard [2008], o maior faraó guerreiro foi Tutmés III e não Ramsés
II, como muitos pesquisadores continuam
defendendo. Tutmés III, também conhecido como o “Napoleão do Egito”, realizou a
maior expansão territorial do Egito Antigo. A partir de 17 campanhas bem
sucedidas, expandiu as fronteiras egípcias do Rio Eufrates até a quarta catarata
do Rio Nilo [território núbio]. [BARD, 2008, p.105].
Amenhotep
III, por outro lado, seguiu um caminho diferente. Como Kozloff (2012, p. 242)
destaca, seu reinado foi marcado por uma ausência de campanhas militares
significativas, o que não significa que ele não tenha obtido êxito estratégico.
Sua habilidade em manter a paz e a estabilidade por meio da diplomacia foi uma
forma de alcançar seus objetivos internacionais sem recorrer ao uso da força.
[KOZLOFF, 2012, p. 242].
Kozloff
[2012], pontua que as Cartas de Amarna, são os melhores exemplos da habilidade
estratégica de Amenhotep III. As quais expõem como esse faraó foi bem sucedido
em preservar o status quo egípcio e garantir a prosperidade do império sem
entrar em conflitos. Consolidando o domínio egípcio sobre vastas regiões do
Antigo Oriente Próximo e fortalecendo a influência do Egito como uma
superpotência militar. Resultando em um impacto mais duradouro no cenário
geopolítico da época. [KOZLOFF, 2012, p. 243-245].
Assim,
uma análise mais detalhada das campanhas de Ramsés II expõem êxitos militares
limitados, com suas vitórias muitas vezes sendo mais simbólicas do que
concretas. Em contraste, embora Amenhotep III não tenha expandido as fronteiras
militarmente, ele assegurou o domínio e influência egípcia sobre vastas
regiões. demonstrando uma abordagem estratégica diferente, utilizando a
diplomacia como sua principal arma. Expondo que o poder do Egito não dependia
apenas da força militar, mas também da habilidade política.
Conclusão
Portanto,
a imagem de Ramsés II como o “maior” faraó do Egito deve ser questionada. Seus
feitos, apesar de notáveis, não foram incomparáveis, como alguns pesquisadores
expõem. Sendo em vários aspectos superado por faraós anteriores, como Amenhotep
III, que promoveu uma era de paz e prosperidade sem precedentes. Porém ainda
assim, é pouco lembrado e mencionado.
Consolidando
seu legado de forma diferente
priorizando o florescimento cultural e a diplomacia. Com seu reinado
podendo ser considerado o apogeu da civilização egípcia, marcado por uma paz
prolongada, relações diplomáticas bem sucedidas e um refinamento cultural sem
precedentes. Sendo capaz de manter a hegemonia egípcia sem recorrer a
conflitos, provando que a força de um faraó poderia residir tanto na sua capacidade
de guerrear quanto em sua habilidade de governar pacificamente.
Desse
modo, em vez de simplesmente aceitar a imagem superestimada de Ramsés II, é
essencial reconhecer que o Egito produziu outros governantes cujas realizações,
em termos de arquitetura, poder militar, diplomacia e cultura, rivalizaram ou
até superam os de Ramsés II. Assim, ao adotar uma perspectiva mais crítica,
pode-se perceber que o legado desse faraó,
embora grandioso, é apenas uma parte de uma tradição faraônica de
governantes que contribuíram, cada um à sua maneira, para a grandeza do Egito.
Referência
Biográfica
José
Raimundo Neto, graduado em Licenciatura em História pela UFRPE.
Referências
Bibliográficas
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BARD,
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SPALINGER,
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2005.
Caro José Raimundo Neto....primeiramente parabéns pelo trabalho. A ideia da construção de uma imagem de lideres como Ramsés II e uma prática bem atual não acha?. De certo modo os faraós em sua maioria assim como imperadores construíam imagens valorizando seus efeitos, uma citação também que Ramsés II teria tido o embate com Moisés e o mesmo teria atravessado o mar vermelho, porém nenhum comentário do faraó sobre Moises e o povo de Israel. Logo Ramsés tentou construiu sua auto imagem para si mesmo para desenhar seu poder de faraó e como um deus aqui na terra.
ResponderExcluirMuito obrigado pela participação!!!!!
ExcluirSeu comentário foi bem pertinente, conectando a ideia de construção da figura do líder como um processo que se estendeu ao longo da história e chegou aos nossos tempos...
Sua reflexão sobre o contato entre Ramsés II e Moisés também foi muito boa. Nesse caso você cita a Teoria da Datação Recente do Êxodo. Na qual o fato ocorreu no século XIII a.C (durante a XIX Dinastia). Nessa hipótese o faraó do Êxodo teria sido, mais provavelmente, Ramsés II.
Eu trabalho com a chamada Teoria da Datação Antiga, que coloca o Êxodo no século XV a.C. (durante a XVIII Dinastia). Principalmente porque se analisarmos as informações que dispomos sobre o fato, é mais provável o Êxodo ter ocorrido nesse período (levando em consideração o registro histórico, questões do contexto sociocultural e político da época.
Desse modo, seria mais provável que o Faraó do Êxodo foi Amenhotep II.
Gostaria muito de continuar esse diálogo, para discutirmos mais sobre sua perspectiva desse fato.
Comunicador: José Raimundo Neto
Com certeza as datações são pertinentes com relação as possível figura de Moisés, haja visto pelas pesquisas Moisés seria um personagem literário e não histórico. De certo modo as datações são importante para identificar eventos e personagens, eu pesquiso Jesus Histórico e observo com ajuda de meu professor os erros de datações dentro da bíblia... mas é importante além das datações, a análise da multidisciplinariedade de outras ciências, sociologia, arqueologia e até mesmo da geografia, como se observa em seu trabalho.
ExcluirMuito bom seu interesse nessa área. Ajuda bastante tanto a nós mesmos, como também a quem está ao nosso redor.
ExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
ExcluirCARO JOSÉ... Certamente a pesquisa em nossas áreas tem grande relevância. Notadamente as pesquisas tem fundamentação teórica e metodológica. As múltiplas disciplinas corroboram para o desenvolvimento de tais pesquisas. SUCESSO NO EVENTO. ATENCIOSAMENTE -ELOIS ALEXANDRE DE PAULA
ResponderExcluirOlá! Gostei muito do texto, especialmente pela forma clara e detalhada com que você analisou as contribuições de Ramsés II e Amenhotep III, proporcionando uma visão comparativa enriquecedora sobre o impacto de seus reinados no Egito Antigo. Sua argumentação é embasada e fluida, o que facilita a compreensão até mesmo de temas complexos.
ResponderExcluirGostaria de saber, ao aprofundar a comparação entre esses dois faraós, como você avalia o papel das relações diplomáticas na consolidação da posição internacional do Egito durante os respectivos reinados? Em sua opinião, essa questão influenciou de forma mais significativa a reputação de Ramsés II ou de Amenhotep III como líderes de Estado?
Fabiana Fernandes Firmo
Muito obrigado pelo feedba.ck Fabiana, você fez uma das perguntas mais objetivas e fundamentadas sobre o texto!!!!!!!
ExcluirQuando analisamos o peso do aspecto diplomático em ambos os reinados, podemos observar dois âmbitos distintos:
1°) Pelo o que temos acesso de informações, unido com a eficiente propaganda construída por Ramsés II. Transmite uma ideia de Ramsés como o maior líder regional do seu tempo, uma figura pragmática, firme e decisiva (fazendo um paralelo com nossos dias, seria como se daqui a 3.000 anos os pesquisadores descobrissem "postagens" de Donald Trump. Desse modo, várias ele como o maior líder do seu tempo, pois teriam poucos vestígios de outros líderes atuais.
Através desse exemplo, é possível observar o erro da historiografia. Pois muitos pesquisadores não separam a importância do achado para nós e nossa melhor compreensão de determinado período, do real valor de um líder para seu próprio tempo. O que acarreta na falsa ideia de Ramsés II como o maior líder de relações internacionais do seu tempo (como vemos muito nas falas de historiadores, documentários, livros, séries e filmes). Os quais contribuem em grande escala para propagar tais pensamentos (principalmente hoje em dia com a grande massa de informações que chegam constantemente nas pessoas).
Mas, quando analisamos o papel de Ramsés II no seu tempo, percebemos que ele foi um líder importante de uma das principais civilizações da sua época. Porém não foi o "superlíder" (como ele é aclamado). Como podemos ver no Tratado de Kadesh, no qual ele não conseguiu nenhum ganho territorial, tático ou estratégico para o Império Egípcio, mantendo apenas o status quo. Sendo que, além desse tratado não vemos nenhum outro registro importante de atividades diplomáticas de Ramsés II durante seu reinado. O que já deixa um ar de questionamento e dúvida sobre a administração de Ramsés II.
2°) Já quando comparamos com o reinado de Amenhotep III, torna-se possível observar uma ampla, intricada e difusa rede de relações internacionais que se espalhavam por todo Oriente Próximo, chegando até o Golfo Pérsico.
Como podemos atestar no vasto registro das Cartas de Amarna (a primeira parte dessas cartas tratam-se do reinado desse monarca). Sendo possível observar que a autoridade de Amenhotep III é sempre respeitada e seguida, com poucos textos mostrando insatisfação de líderes estrangeiros em relação às políticas de interesse egípcio de Amenhotep III (nas quais, os monarcas discordam dd um modo bastante cordial e sempre medindo as palavras utilizadas). Expondo a importância que o reinado de Amenhotep III tinha no âmbito internacional.
Assim, a questão diplomática influenciou de forma mais significativa e decisiva o reinado de Amenhotep III a figura de liderança. Pena que esse faraó é tão esquecido pela historiografia.
José Raimundo Neto.