CASOS DE BNCC ENSINO RELIGIOSO: "ELES SÃO
BEM MAIS MARAVILHOSOS, NÉ, PROFE?": UM RELATO SOBRE EXOTISMO E FASCÍNIO
COM O ORIENTE EXTREMO
Introdução
O
presente trabalho objetiva relatar práticas pedagógicas, com turmas de ensino
fundamental de anos iniciais, realizadas em aulas de ensino religioso, a qual
faz parte dos componentes curriculares desta etapa de educação básica. Focando
exclusivamente nas seriações de 4º e 5º ano do ensino fundamental, percebeu-se
que, na abordagem das “unidades temáticas” e “objetos de conhecimento”
(narrativos, lendas, mitos, imagens e símbolos) referentes às distintas
manifestações religiosas orientais, os alunos demonstraram no decorrer do
trimestre de 2024 engajamento, participação e boa recepção nas propostas
desenvolvidas. E, contrariamente, quando das temáticas relacionadas às
manifestações religiosas africanas e afro-brasileiras, demonstrando resistência
e falta de engajamento. Apesar de ser um exemplo concreto de intolerância
religiosa e racismo, nosso objetivo aqui, é levantar reflexões e indagações
acerca de quais as possíveis motivações de se perceber “boa recepção” acerca
das religiões orientais.
Em
nossa hipótese, a prática de sala de aula, a boa recepção dos alunos às
manifestações religiosas orientais pode ser explicada, em parte, por esse olhar
orientalista, que atribui ao Oriente um caráter exótico e fascinante. Assim, entendemos
que tal imagem se deve às representações midiáticas e culturais ocidentais
inclinadas a enxergar essas tradições como algo "curioso" e
"distante", sem o mesmo peso histórico e sociopolítico que associa as
religiões africanas e afro-brasileiras a questões de racismo e marginalização
social. (Said, 2007)
Para tanto,
nosso texto parte de sucintas retomadas acerca do Documento Oficial, seguido de
uma rápida abordagem acerca da BNCC de Ensino Religioso, perpassando alguns
exemplos de práticas pedagógicas realizadas antes de finalizar o texto com
nossas hipóteses reflexivas enquanto, ponto de partida para discussões acerca
desta área do componente curricular, historicamente, um terreno contestado.
A Base Nacional Comum Curricular (BNCC)
A BNCC
surgiu com o propósito de promover um alinhamento no sistema educacional
brasileiro. Santos e Diniz-Pereira (2017, p. 282) destacam que, em diversas
nações, inclusive no Brasil, há um movimento crescente de padronização dos
currículos da educação básica. Essa padronização, de caráter federativo,
abrange tanto as instituições públicas quanto privadas, assegurando que o
processo de aprendizagem seja consolidado nos diferentes níveis da educação
básica.
A BNCC, como
documento normativo, estabelece o conjunto essencial de aprendizagens que todos
os estudantes devem desenvolver durante as etapas da Educação Básica. O
objetivo é garantir os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, em
conformidade com o Plano Nacional de Educação (PNE) (BRASIL, 2016, p. 17;
FONAPER, 1996).
O Ensino Religioso na BNCC
No contexto
do Ensino Religioso, atualmente existem três modelos principais: o catequético,
o teológico e o baseado nas Ciências da Religião. O modelo catequético é
voltado para a doutrinação, buscando expandir a fé; o modelo teológico foca na
cosmovisão religiosa e no diálogo entre diferentes tradições, promovendo a
formação moral e religiosa dos cidadãos. Por outro lado, o modelo das Ciências
da Religião propõe uma abordagem que rompe com o viés doutrinário, utilizando
métodos e bases epistemológicas mais amplas (BNCC, 2017, p. 128; BRASIL, 2016,
p. 17; FONAPER, 1996).
A
Constituição Federal de 1988 assegura o direito ao Ensino Religioso nas escolas
públicas, conforme o artigo 210, §1º: “O ensino religioso, de matrícula facultativa,
constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de ensino
fundamental”. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN) n°
9394/96, em seu artigo 33, reforça esse direito, destacando a necessidade de
respeito à diversidade cultural e religiosa e proibindo qualquer forma de
proselitismo (LDB, 1996). O proselitismo, caracterizado pela imposição de uma
crença como verdade absoluta, foi predominante no período colonial e imperial,
quando o Estado e a Igreja mantinham relações estreitas. (BNCC, 2016)
A inclusão
do Ensino Religioso como área de conhecimento foi oficializada pela Resolução
CEB/CNE nº 2/1998 e confirmada pelas Resoluções CNE/CEB nº 4/2010 e nº 7/2010,
que mantêm o Ensino Religioso como uma das cinco áreas de conhecimento do
Ensino Fundamental.
Dentre seus
principais objetivos, tem-se:
1.
“Conhecer os aspectos estruturantes das diferentes
tradições/movimentos religiosos e filosofias de vida, a partir de pressupostos
científicos, filosóficos, estéticos e éticos.
2.
Compreender, valorizar e respeitar as manifestações
religiosas e filosofias de vida, suas experiências e saberes, em diferentes
tempos, espaços e territórios.
3.
Reconhecer e cuidar de si, do outro, da coletividade e da
natureza, enquanto expressão de valor da vida.
4.
4. Conviver com a diversidade de crenças, pensamentos,
convicções, modos de ser e viver.
5.
Analisar as relações entre as tradições religiosas e os
campos da cultura, da política, da economia, da saúde, da ciência, da
tecnologia e do meio ambiente.
6.
Debater, problematizar e posicionar-se frente aos discursos
e práticas de intolerância, discriminação e violência de cunho religioso, de
modo a assegurar os direitos humanos no constante exercício da cidadania e da
cultura de paz”. (BRASIL, BNCC, 2016)
Esses
objetivos possibilitam ao indivíduo perceber-se como um ser de imanência
(dimensão concreta) e transcendência (dimensão simbólica). O reconhecimento das
diferenças (alteridade) possibilita a construção de identidades através de
relações mediadas por símbolos e valores. BRASIL, 2016; FONAPER, 1996)
Temas e Abordagens no Ensino Religioso
A temática
de “Identidades e Alteridades” é trabalhada ao longo do Ensino Fundamental,
principalmente nos anos iniciais, e aborda a interação entre o “eu” e o “outro”
em um contexto mediado por saberes, crenças e valores. A transcendência,
central nas experiências religiosas, surge da necessidade humana de atribuir
significado à vida e à morte, conferindo caráter sagrado a diversos elementos
da realidade. (BRASIL, 2016; FONAPER, 1996)
A
transcendência é expressa por símbolos, mitos e ritos, sendo que os símbolos
possuem significados complementares. A experiência religiosa é construída por
práticas espirituais e rituais, como celebrações e peregrinações, que, em
conjunto, narram histórias e acontecimentos religiosos. Os ritos, por sua vez,
também apontam para realidades além do concreto. (BRASIL, BNCC, 2016)
Os rituais
religiosos geralmente ocorrem em espaços sagrados, como templos e santuários,
onde os praticantes constroem e vivenciam suas identidades religiosas. Esses
elementos são abordados na unidade temática “Manifestações Religiosas”, que
promove o respeito e a compreensão das diferentes expressões religiosas.
(BRASIL, BNCC, 2016)
Na unidade
temática “Crenças Religiosas e Filosofias de Vida”, os alunos são introduzidos
a aspectos como mitos, crenças, divindades e tradições orais e escritas. As
crenças, estruturantes de uma tradição religiosa, fornecem respostas teológicas
aos mistérios da vida e da morte e influenciam as práticas rituais e sociais.
(BRASIL, BNCC, 2016)
Além disso,
as doutrinas religiosas, formadas a partir de princípios e dogmas, orientam a
relação dos indivíduos com o sagrado. Já as filosofias de vida, por sua vez, se
baseiam em princípios éticos e morais, não necessariamente de origem religiosa,
mas fundamentados na razão e na ciência, compartilhando valores como o respeito
à vida, à dignidade humana e à liberdade de crença. (BRASIL, BNCC, 2016).
O contexto e
o material utilizado
As práticas
pedagógicas foram realizadas em uma escola pública de ensino fundamental de uma
cidade da região metropolitana de Porto Alegre- RS, a qual funciona em regime
de educação em tempo integral. Nesta, há turmas de 1º a 5º ano, com um total de
140 alunos matriculados. Dentre essas seriações, destacamos as turmas de 4º e
5º ano como objeto de análise, uma vez que, nosso critério principal de
escolha, foram as “unidades temáticas e objetos de conhecimento”.
As práticas
concentraram-se, sistematicamente, em 1hora/aula por semana, totalizando 12
encontros, os quais constituíram o período de um trimestre. Nas seis primeiras
aulas, realizou-se atividades a partir da obra de contos indianos. Da sétima
aula até a décima segunda, o material utilizado foi os contos budistas. Didaticamente,
em cada aula, organizou-se pequenos grupos de até 4 membros, cada grupo recebeu uma cópia dos contos de
cada livro, somando um total de 6 títulos diferentes para cada grupo ao final
da temática em pauta.
A partir da
leitura, análise e debate sobre as narrativas, em mãos, cada grupo
necessariamente deveria produzir materiais, objetos, textos, dramatização sobre
seu texto e apresentar aos demais colegas, em sala de aula.
Esse roteiro
didático, como dito, nortearam-se a partir de duas obras literárias de Ilan
Brenman com ilustrações de Ionit Zilberman, quais sejam: "As 14 Pérolas da Índia" e "As 14 Pérolas
Budistas", ambas as quais fazem parte de uma série de livros que
buscam compartilhar diferentes tradições de sabedoria espiritual para crianças.
Nossa
proposta foi, a partir destas obras,
introduzir crianças à cultura indiana e budista por meio de contos
acessíveis, uma vez que o currículo BNCC de Ensino Religioso, como visto acima,
contempla a possibilidade de introduzir a tem
Nesse
sentido, enquanto a obra "As 14
Pérolas da Índia" apresenta 14 contos que mergulham o leitor nas
tradições, religiões e mitos da Índia. As histórias são baseadas na oralidade,
trazendo ensinamentos filosóficos e morais acessíveis ao público infantil,
principalmente crianças de 6 a 12 anos. As ilustrações complementam a narrativa
ao mostrar as vestimentas tradicionais, paisagens regionais e divindades
indianas, criando uma conexão visual com a cultura. O que pode ser vista em alguns dos trabalhos
realizados pelas crianças de 1º e 2º ano, abaixo:
Fonte: arquivo pessoal dos autores (2024)
Já a obra "As 14 Pérolas Budistas",
segue uma linha semelhante, explorando os ensinamentos do budismo por meio de
contos que refletem sobre a vida e a espiritualidade. A narrativa busca
transmitir conceitos de serenidade, sabedoria e compaixão, que são centrais na
filosofia budista, de maneira compreensível para o público infantil. As
ilustrações ajudam a criar um ambiente imersivo que complementa o texto,
guiando as crianças em uma jornada de descobertas culturais e espirituais.
Neste
primeiro momento, nosso objetivo não foi analisar o conteúdo das obras, e sim,
o impacto e o modo como reverberou em aula, nos discursos, nas representações,
e dinâmicas de socialidade e ambiência afetiva dos estudantes participantes. Tal proposta fica evidenciada nos
trabalhos realizados, pelas turmas de 4º e 5º ano:
Fonte: arquivo pessoal dos autores (2024)
Algumas
Considerações Analíticas acerca do trabalho desenvolvido
Assim sendo,
após discorrermos sobre o Documento Oficial que norteia e fundamenta as
práticas pedagógicas em território nacional, especialmente em escola pública.
Avançando para elementos centrais da BNCC Ensino Religioso. Contextualizando o
local das práticas pedagógicas e como se sistematizou as aulas. Percebeu-se,
comparativamente, a mudança de posturas, comprometimento, engajamento, práticas
e discursos diante as mudanças de temáticas relacionadas à diversidade de
matrizes e manifestações religiosas. Em especial, a ocorrência de uma recepção
assertiva às matrizes orientais e uma relutância e resistência para com
matrizes africanas e afro-brasileiras.
Diante
disso, retomamos às reflexões, a partir de Edward Said, que em sua obra Orientalismo, (2007) explora como o
Ocidente construiu uma imagem estereotipada e exótica do Oriente, visto como um
"outro" distante e misterioso. Essa construção está profundamente
enraizada no colonialismo e no desejo de poder sobre esses territórios. Para o autor,
o Oriente é, muitas vezes, romantizado e reduzido a uma série de estereótipos
que atendem ao imaginário ocidental, sendo retratado como um lugar de
misticismo, espiritualidade e exotismo, distante das realidades culturais e
políticas complexas que realmente o constituem. (Said, 2007)
Na prática
de sala de aula, a boa recepção dos alunos às manifestações religiosas
orientais, parece-nos ser explicada, em parte, por esse olhar orientalista, que
atribui ao Oriente um caráter exótico e fascinante. Desde tenra idade, alunos
acabam por serem influenciadas por representações midiáticas e culturais
ocidentais e assim, se demonstrarem mais inclinadas a enxergar essas tradições
como algo "curioso" e "distante", sem o mesmo peso
histórico e sociopolítico que associa as religiões africanas e
afro-brasileiras, caracterizadas por questões de racismo e marginalização
social. (Cunha, 2016;
2018; Da Costa Ferreira; Brandenburg,
2019; Said, 2007)
Essa visão
orientalista confere um ar de "fantasia" às religiões e mitos
orientais, tornando-os mais atraentes aos olhos dos alunos, enquanto as
religiões africanas e afro-brasileiras são, muitas vezes, alvo de preconceito
por estarem inseridas em um contexto mais próximo e historicamente carregado de
estigmatização. Portanto, a recepção positiva em relação às tradições orientais
pode ser entendida não apenas como um interesse legítimo, mas também como uma
consequência da construção imaginária exotizante que caracteriza o pensamento
orientalista. (Junqueira; Silveira, 2020; Ribeiro, 2021; Said, 2007)
Essa
perspectiva ajuda a justificar por que as crianças demonstram fascínio pelo
"exótico" Oriente, mas resistem às tradições religiosas africanas,
que enfrentam uma realidade de preconceitos enraizados no imaginário social
ocidental. (Junqueira; Silveira, 2020; Ribeiro, 2021; Said, 2007)
Em outras
palavras, o exotismo e a fascinação pelo Oriente, comum na cultura ocidental,
não são formas neutras de admiração, mas representam uma forma sutil de racismo
e intolerância religiosa, em nossa perspectiva a partir do trabalho realizado.
Conforme argumentado por Edward Said (2007), o Ocidente constrói uma imagem
distorcida do Oriente como algo hegemônico e colonialista. Algo a ser levado em
consideração no currículo de Ensino religioso (Silva, 2018; Silva, 2021).
O contexto
sócio-histórico e antropológico dos sujeitos envolvidos neste estudo revelam
dinâmicas complexas de resistência à diversidade cultural e religiosa. Em um
município de origem germânica, estudos anteriores já identificaram uma resistência
escolar na inclusão de temas relacionados à pluralidade religiosa,
frequentemente manifestando atitudes de racismo e intolerância religiosa.
(Cunha, 2016; 2018; Junqueira; Silveira, 2020)
No entanto,
um fenômeno adicional merece destaque: o tratamento do 'outro' oriental sob uma
lente orientalista, tal como descrita por Said (2007), que o reduz a
estereótipos de exotismo, exuberância e comicidade. Esse imaginário
orientalista projeta o Oriente como algo essencialmente diferente e inferior,
retratando suas práticas e manifestações religiosas de forma estigmatizada.
Aqui, indagamos: o exotismo e a estereotipização não seriam formas mascaradas
de racismo e intolerância religiosa, subjacentes ao currículo?
Ao tratar
tradições orientais sob a ótica do exótico e do cômico, incorremos em uma visão
etnocêntrica e eurocêntrica que, ao invés de promover a compreensão, perpetua a
inferiorização dessas culturas, contribuindo para a manutenção de hierarquias
culturais e religiosas. Esse aprimoramento reforça que o exotismo, ao invés de
uma simples admiração, pode ser uma maneira de marginalizar e subalternizar
culturas orientais, o que, em essência, constitui racismo e intolerância. (Cunha, 2016; 2018; Da Costa
Ferreira; Brandenburg, 2019; Junqueira, 2002; Junqueira; Silveira, 2020;
Ribeiro, 2021; Said, 2007;
Silva, 2018; Silva, 2021)
De todo
modo, nossas reflexões oriundas de trabalhos realizados em sala de aula de
escola pública, em uma região metropolitana de POA-RS, de origem germânica,
revelam e convidam a mais pesquisas e diálogos acerca desta temática oriental,
o qual, está longe de se esgotar.
Referências Biográficas
JANDER FERNANDES MARTINS. Doutor em
Processos e Manifestações Culturais (Universidade FEEVALE). Pedagogo (UFSM).
Professor concursado no município de Campo Bom-RS. E-mail: martinsjander@yahoo.com.br
VITÓRIA DUARTE WINGERT. Mestra em
Processos e Manifestações Culturais (Universidade FEEVALE). Licenciada em
História (Universidade FEEVALE). Doutoranda em Diversidade Cultural e Inclusão
Social (Universidade FEEVALE). Professora concursada no município de Campo
Bom-RS. E-mail: vitoriawingert@hotmail.com.
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Ministério da Educação. 2ª versão preliminar. Brasília . 2016.
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Crossref, 2021.
Boa tarde, Jander e Vitória! Adorei o texto e achei muito interessante vocês abordarem o budismo nas escolas – coisa que não tive na minha época. Só fiquei curiosa quanto a uma questão, fico pensando que com a onda de crescimento de religiões evangélicas eles seriam contrários a esse conteúdo. houve resistência a este assunto por parte dos alunos ou familiares?
ResponderExcluirAtt,
Elisa Alves Silva Ruiz.
Bom dia Elisa, agradecemos profusamente o feedback e diálogo. Pois bem, vamos lá. O nosso contexto escolar é o seguinte, uma cidade de colonização alemã e que, majoritariamente, manifesta culturalmente perspectivas extremistas e conservadores no que diz respeito à política, economia e religião. Logo, educação também.
ExcluirBom, quanto a mim, Jander, o patriarcado me privilegia (lastimavelmente), pois nunca tive problemas com famílias quando abordado em aula “ensino religioso”, raras foram as vezes que tive que justificar temáticas religiosas “africanas”. Mas jamais as orientais, tanto que foi o motivo desta escrita. Já a minha colega Vitória, por ser mulher, já teve abordagens e resistências e protestos por parte de familiares. Qual o motivo se não o fato do gênero estar no cerne dessa disparidade, na qual tanto eu quanto ela, abordamos os mesmos temas, ela tem que se justificar e eu não?
Porém, como somos professores de Anos Iniciais (EF I), é o chamado “currículo por componentes”, logo, ensino religioso é “obrigatório” (porém, massivamente acaba sendo lacuna pois fica a critério do professor trabalhar ou não), em nosso caso, nunca abrimos mãos de tratar dos grandes temas religiosos.
Portanto, aqui em nosso contexto gaúcho, apesar desta crescente fundamental de neopentecostalismo “a questão do tema oriental” apresenta sempre uma “melhor receptividade” de alunos e famílias. Daí vermos a concretude do que Said afirmou sobre esse “orientalismo”. Tanto quanto nos levou a pensar ser uma forma de intolerância religiosa, uma vez que inferiorizam também budismo, hinduísmo, taoísmo etc., e mais ainda as de caráter afro-brasileira e africanas.
Gratidão pelo diálogo
Jander e Vitória
Boa noite! Gostei muito do seu texto, ainda mais por ser pedagoga e estudar religião. Lendo o seu texto é perceptível a romanização do oriente em nossa visão ocidental, ainda mais quando isso se manifesta na área infantil, onde tudo é mais cômico e chamativo. Isso ganha a atenção dos estudantes e já habitua a estética, cultura e espiritualidade oriental. Em contra partida, vemos a demonização e preconceitos de tratamento quanto a filosofia religiosa de matriz africana, carregada dos resquícios da escravidão e colonização. Já é possível perceber um esforço por parte da rede pública em tratar da cultura africana na infância, através de livros infantis, mídias entre outras metodologias. Ainda vejo uma grande resistência desse tema nas escolas particulares, como esperado Eu gostaria que você comentasse um pouco mais da importância do ensino religioso para lutar contra o preconceito e o racismo.
ResponderExcluirBom dia profe Maria, gratidão pelo teu feedback, constatações e diálogo estabelecido.
ExcluirPois bem, dando continuidade ao que já havia iniciado no debate com a Elisa, acima. Há todo esse universo de manifestação “orientalista” de como interpretamos e damos um sentido ao que vem do oriente. Como identificamos no decorrer do trimestre nas aulas de ensino religioso, ainda é evidente o preconceito e intolerância religiosa para com manifestações africanas e afro-brasileiras. Mais ainda, quando analisamos comparativamente as posturas, o engajamento, os discursos dos alunos em relação a qualquer outra manifestação que não essas.
Exemplificando, minha pesquisa de mestrado (2016) já havia entrevistado e sobre a lei 12.639 e os professores participantes com unanimidade afirmavam a dificuldade em abordar o tema, para além da escravidão. Menos ainda quando o tema era religião. Ainda o é. O que nos entristece, revolta e nos desgasta, pois é algo constante a resistência contra o racismo e intolerância.
Além disso, como você mencionou acima, há bastante material disponível e de qualidade sobre essa temática, em contrapartida é muito forte o discurso docente afirmando que “falta material”. Então, algo não está sintonizado nessa situação.
Quanto aos públicos, sem dúvidas, escolas particulares e confessionais são locais onde o antirracismo pouco se manifesta e onde mora a intolerância religiosa, pois como não é novidade, nossa cultura brasileira é assentada num racismo estrutural. Bom, o que podemos fazer, é continuar trabalhando e resistindo e nao desistindo. Para além da militância de redes sociais, necessitamos urgentemente do engajamento total de professores, gestores etc em cima desta pauta étnico-racial e, tanto quanto, da questão do ensino religioso para além da cultura judaico-cristã (algo muito difícil, pois a linha é tênue entre o que deve ser pedagogicamente realizado e o que as crenças do professor o permite avançar neste terreno).
Enfim, esperamos ter respondido, e alargado nosso diálogo e reflexão com vocês.
Seguimos fortes e resistentes!
Jander e Vitória
corrigindo o erro de digitação. Lei 10.639/03**
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