Gabrielly Fernanda Spizamilio Silva

 

A PERDA DA IDENTIDADE CULTURAL COREANA EM PACHINKO, DE MIN JIN LEE.


 

É inegável o fato de que em todas as nações mundiais as decorrências de conflitos armados, especialmente os ocorridos no século XX, foram imensas e desumanas; sem dúvida esses conflitos afetaram significativamente o cotidiano de toda a sociedade mundial. Entretanto, a península coreana foi, literalmente, cercada e retalhada por esses atritos. Entre 1904 e 1905 houve a Guerra Russo-Japonesa, um conflito armado entre o Império Japonês e o Império Russo cuja intenção era disputar os territórios da Coreia e da Manchúria. O Japão vence essa contenda conquistando o Império Coreano que passa a ser protetorado japonês. Contudo, apenas cinco anos depois, a anexação da Coreia como colônia do Japão é oficialmente firmada. A partir desse momento, em 1910, inicia-se a Ocupação Colonial Japonesa na Coreia. Essa ocupação foi especialmente cruel com os coreanos, que eram desumanizados de várias formas: impedidos de utilizar o Hangul (sistema de escrita coreano), a moeda passou a ser japonesa, nomes coreanos não eram permitidos, muitos trabalhos eram análogos à escravidão e, obviamente, todos os coreanos deveriam adotar a cultura de seu colonizador. Ou seja, a identidade cultural coreana foi confiscada e sua cultura reprimida. Além disso, outros eventos históricos influenciaram no comprometimento da identidade cultural coreana.

 

A derrota do Japão na Segunda Guerra Mundial abriu espaço para uma nova disputa de poder na península coreana. A União Soviética tomou o controle da parte norte da península e, enquanto isso, o exército estadunidense desembarcava na parte sul, para evitar que toda a Coreia fosse governada pelo exército vermelho. Ambas as potências definiram, em 1948, a sua zona de influência, separadas por uma linha divisória próxima ao paralelo 38. Contudo, isso não agradou a todos. Logo, inicia-se outro confronto pela disputa de território e, inclusive, pela disputa de ideologias. A Rússia já possuía interesses territoriais na península coreana.

 

Portanto, o país inicia as suas tentativas de abarcar todo o território coreano, porém os Estados Unidos acaba interferindo e, então, tem-se início a Guerra da Coréia (1950-1953) dividindo de vez a península entre Coreia do Norte e Coréia do Sul, divisão mantida até os dias atuais. Todos esses conflitos e muitos outros são abordados no livro Pachinko, de Min Jin Lee. Publicado pela primeira vez em 2017, o romance se constitui de um olhar reflexivo dos acontecimentos pela perspectiva de pessoas comuns. Logo, esses eventos não são abordados somente sob uma perspectiva histórica, mas sim sob uma perspectiva humana: no livro temos quatro gerações coreanas cujas histórias estão expostas entre os anos de 1910 e 1989.

 

A divisão temporal em Pachinko ocorre por meio de três seções, ou três livros:

Livro I

Gohyang/ Cidade Natal

1910-1933

 

Livro II

Pátria - Mãe

1939-1962

 

Livro III

Pachinko

1962-1989

 

            Apesar da divisão histórica, o livro não possui uma narrativa linear, entretanto isso não atrapalha a pesquisa. Descobrimos ao longo da leitura que Sunja se apaixona por Hansu, um coreano pró-japônes. Ao descobrir sobre a gravidez de Sunja, Hansu diz não poder se casar pois já tem esposa e filhas no Japão. Sunja, desolada, decide criar a criança sozinha, porém sabe que seu filho sofrerá com essa decisão. Sabendo sobre a situação o pastor Isak, vindo de Pyongyang, oferece casamento à garota, porém eles terão de viver no Japão onde Isak foi designado para difundir a religião cristã.

 

Inicia-se assim a vida de ambos como Zainichi, coreanos que nasceram e cresceram sob a ocupação colonial japonesa na Coreia e que agora irão criar os seus filhos sob o mesmo domínio no Japão. A esperança de uma vida melhor para os seus descendentes os motiva, contudo as dificuldades serão grandes, especialmente para os seus filhos, ou seja, para a geração coreana nascida no Japão durante esse período.

 

Pachinko não é apenas um simples romance que relata a vida de uma família imigrante, mas sim um tributo à memória de todos os imigrantes coreanos que tiveram boa parte de sua identidade cultural confiscada pelo imperialismo japonês e que, mesmo assim, reuniram coragem para buscar uma qualidade de vida mais digna para a sua família. Ao longo da obra, vemos como os coreanos sobreviveram e prosperaram mesmo sob as garras do Japão, sem se importarem com o arco histórico que os envolveu. Tanto, que isso é mencionado na primeira frase do livro “A história falhou conosco, mas não importa” (LEE, 2018, p.11).

O livro 1 corresponde aos acontecimentos históricos mencionados em Pachinko entre os anos de 1910 até 1933, sendo os mais importantes para a pesquisa: A Ocupação Colonial Japonesa (1910-1945), o Movimento Samil (1919), a Grande Depressão (1929) e a Invasão da Manchúria pelo Japão (1931).

 

Ao longo de Pachinko observamos as dificuldades e esperanças de cada geração ao desejar uma melhoria de vida para os seus descendentes. Infelizmente, essa melhora acontece apenas para a última geração mencionada no livro e, só ocorre após duras penas.

 

 No primeiro livro, Gohyang/Cidade Natal (1910-1933), observamos o início da ocupação colonial japonesa na Coreia. O governo japonês cobra impostos altíssimos e, por esse motivo, diversos coreanos vendem ou cedem as suas terras para pagá-los. Neste ponto do livro temos a história de um casal que possui uma pensão, eles são os donos do negócio, mas não do lugar. Com a ocupação colonial o aluguel sobe e o casal passa a dormir no vestíbulo para aumentar o número de hóspedes. A vida dos civis vai se tornando cada vez mais difícil, como podemos observar no seguinte trecho:

 

“...como acontece sempre que um país sofre um golpe dos seus rivais ou da natureza, os fracos (os velhos, as viúvas e os órfãos) estavam mais desesperados do que nunca na península colonizada. Para cada lar que podia alimentar mais uma pessoa, havia multidões dispostas a trabalhar um dia inteiro em troca de uma tigela de grãos de cevada” (LEE, 2020, p. 13).

 

Esse período foi de grande importância para a história coreana, pois é uma época em que as dificuldades de vida do povo se elevaram a níveis catastróficos.

            Além disso, a identidade cultural e, consequentemente, a identidade individual coreana sofreu diversos impactos. Chegou ao ponto do povo coreano não poder utilizar nomes em hangul em seus registros, sendo permitido apenas nomes japoneses. Como vemos no seguinte trecho:

 

“Devido às exigências do governo colonial, era normal que os coreanos tivessem dois ou três sobrenomes, mas na Coreia ela [Sunja] praticamente não usava o tsumei japonês que aparecia em seus documentos de identidade (Junko Kaneda), porque não frequentava a escola e não tinha nenhuma relação com instituições oficiais. O sobrenome de nascimento de Sunja era Kim, mas no Japão, onde as mulheres adotavam o nome de família do marido, ela era Sunja Baek, que se traduzia como Sunja Boku, e em seus documentos de identidade seu tsumei agora era Junko Bando. Quando os coreanos tiveram que escolher um sobrenome japonês, o pai de Isak escolheu Bando porque soava como a palavra coreana ban-deh, que significa “objeção”, o que tornava seu sobrenome japonês obrigatório uma espécie de piada [...]” (LEE, 2020, 142, acréscimo nosso).

 

As consequências dos atritos mencionados em Pachinko a respeito dessa identidade cultural, principalmente em relação à ocupação japonesa, são mantidas por gerações. Ao retirar o nome de origem coreana, os japoneses deram a cartada final na negação de uma identidade cultural propriamente centrada neste grupo. Como as identidades também estão vinculadas às condições sociais e materiais, o fato de os coreanos terem sido obrigados a utilizar outro nome não foi de grande ajuda em relação a essas condições.

 

Afinal, esse grupo étnico continuou a passar por discriminações: sob a perspectiva das condições materiais, os coreanos e seus descendentes eram impossibilitados de ter passaporte japonês, comprar imóveis e, até mesmo, conseguir um emprego, isso perdurou até por volta dos anos 1989. Assim: “A identidade está vinculada também a condições sociais e materiais. Se um grupo é simbolicamente marcado como o inimigo ou como tabu, isso terá efeitos reais porque o grupo será socialmente excluído e terá desvantagens materiais [...]” (SILVA, 2000, p. 14).

 

Mesmo quando os coreanos não podiam opinar ou se manifestar contra essa prática, vemos em Pachinko que alguns coreanos escolheram sobrenomes que zombavam da imposição japonesa. Não era muito, mas essa pequena resistência já demonstrava certo grau de insatisfação do povo em relação ao imperialismo japonês. 

 

Devemos lembrar que em meio a esses acontecimentos históricos importantes para a sociedade coreana e asiática de modo geral, ocorreram de modo paralelo, eventos de importância global. Como a Primeira Guerra Mundial (1914-1918) que não é mencionada diretamente no livro, mas indiretamente também afetou o cotidiano do povo. Durante a primeira grande guerra, o Japão se manteve do lado dos aliados e foi um importante protetor das rotas marítimas asiáticas. Justamente por esses motivos a fama japonesa no ocidente crescia aos poucos.

 

Enquanto isso, os coreanos estavam cada vez mais revoltados com os tratamentos de submissão que eram forçados a exercer perante os japoneses e com as boas graças que os nipônicos recebiam do ocidente. Assim, em 1919, logo após o término da Primeira Guerra Mundial, explode na Coreia o Movimento Samil, ou Movimento Primeiro de Março. Esse movimento foi basicamente uma grande manifestação nacionalista contra o imperialismo japonês que ocorreu na Praça Pagoda na capital coreana, durante a manifestação houve a participação de líderes religiosos cristãos, cheondoistas e budistas. Logo: “Enquanto o imperialismo ampliava a sua abrangência e profundidade, a resistência nas próprias colônias também crescia” (SAID, 1995, p. 281).

 

Durante a manifestação foi lida a Declaração de Independência, escrita pelo poeta Choe Nam-Seon, essa declaração ainda é uma grande referência para o nacionalismo coreano. O movimento ecoou pela Coreia e mais rebeliões foram acontecendo, das quais foram consideradas subversivas pelo Japão. Infelizmente, as consequências do Movimento Samil foram catastróficas:  

 

“Dias depois, as manifestações pelo país ganharam ares violentos, e as autoridades japonesas resolveram agir de maneira brutal. Mobilizando a polícia, o kenpeitai e o exército, foram usados rifles e espadas durante semanas contra os considerados subversivos. Ao todo, cerca de 7500 pessoas morreram, 15 mil feridos e mais de 46 mil presas e torturadas. Centenas de casas, igrejas e escolas foram incendiadas. Em 15 de abril, a população de uma aldeia perto de Suwon foi massacrada dentro de uma igreja local pelas autoridades japonesas. As notícias aterradoras, no entanto, não chegaram a impactar na imprensa internacional, pois muitos países ocidentais não assumiram posição crítica diante de um aliado nos esforços da Primeira Guerra Mundial, o Japão.” (MACEDO, 2018, p. 158)

 

            Em virtude dos fatos apresentados podemos afirmar que o tratamento dado para os coreanos pelos japonês foi extremamente cruel. Durante esse período, em todos os assuntos referentes à independência coreana, nenhum governo externo ocidental se manifestou ou tomou partido da situação coreana. Obviamente, como é dito no trecho acima, isso se deve ao fato de que esses países estavam em uma posição crítica em relação a um dos aliados durante a Primeira Guerra Mundial, o Japão.

 

Cerca de dez anos após o Movimento Samil, em 1929, surge a Grande Depressão que apesar de ter ocorrido nos EUA oscilou a economia mundial. O Japão estava envolvido com projetos globais que buscavam uma modernidade cada vez maior, devido a essa crise na bolsa de valores a economia japonesa foi agravada. Como consequência os japoneses passaram a defender o fascismo militar e a expansão para a China.

 

Desde que o governo japonês matou o senhor da guerra da Manchúria, em 1928, o exército japonês passou a expandir a sua dominação sobre esse país. Enfim, em 1931, eclode a invasão da Manchúria pelo Japão. Nesse momento histórico os coreanos continuam sofrendo com as altas taxas dos impostos, com a guerra ao lado do seu território e com as decisões tomadas pela metrópole japonesa. As coreanas sofrem ainda mais, pois é nesse momento que os japoneses levam as mulheres da colônia para se tornarem mulheres de consolo do exército japonês durante a guerra. No trecho abaixo podemos ver como tanto a Grande Depressão quanto a Invasão da Manchúria prejudicaram o povo coreano:

 

“O inverno que sucedeu a invasão da Manchúria pelo Japão  foi difícil. Rajadas de vento cortante atravessavam a pequena pensão, e as mulheres precisaram enfiar algodão entre as camadas de roupa. Durante as refeições, os hóspedes, repetindo o que ouviam no mercado dos homens que sabiam ler os jornais, diziam que aquilo se chamava Depressão e estava assolando o mundo inteiro. Os americanos pobres passavam tanta fome quanto os russos pobres e os chineses pobres. Em nome do imperador, até os japoneses estavam enfrentando privações. Os prudentes e fortes, não havia dúvida, sobreviveriam àquele inverno, mas as notícias vergonhosas eram frequentes demais: crianças que iam dormir e não acordavam, meninas que vendiam sua inocência por uma tigela de macarrão e idosos que se recolhiam para morrer sozinhos a fim de que os mais novos pudessem comer.” (LEE, 2018, p. 19)

 

Todos os trechos acima retirados de Pachinko, apesar de constituírem um romance de ficção, são baseados em fatos históricos e explicitam de modo claro como os eventos mencionados até o momento foram catastróficos para a população coreana. Sabemos que a Primeira Guerra Mundial e a Grande Depressão tiveram consequências negativas para o mundo, porém para os coreanos a situação foi ainda pior. Afinal, esse povo já estava sofrendo com as políticas japonesas em meio a ocupação colonial. Foi, principalmente, durante esse período que a identidade cultural coreana foi fortemente reprimida pelos japoneses.     

  

            É necessário mencionar que Sunja cresce na Coreia em meio a ocupação colonial japonesa, portanto, como vimos em trechos anteriores, até mesmo o seu nome é confiscado. Logo, é um fato que todos os coreanos nascidos e crescidos no mesmo período histórico que Sunja também tiveram seus nomes modificados para serem aceitos no padrão japonês. Essa questão é de grande relevância para a perda da identidade cultural dos coreanos. 

 

Em 1933, Sunja vai para o Japão com o marido Isak, ambos buscam uma vida melhor para a família, pois com a Coreia sendo colônia japonesa, os coreanos não possuem oportunidades dignas de estudo ou trabalho. A partir de então a família se torna Zainichi, termo que define os coreanos que vivem e trabalham no Japão. Infelizmente, a situação dos coreanos na metrópole japonesa é tão ruim quanto na Coreia. Além disso, outros acontecimentos históricos surgem para desestabilizar o imperialismo nipônico.      

 

Ao longo das outras seções do romance, também é abordado eventos históricos conflituosos que nos conduzem a outras reflexões sobre as diversas trocas culturais, essencialmente impostas, que ocorreram na Coreia devido aos eventos mencionados no quadro acima. Temos no romance um trecho referente à Segunda Guerra Sino-Japonesa e vemos claramente a perspectiva social em relação a essa contenda:

 

“No entanto, todos os coreanos que conhecia consideravam absurda a guerra que o Japão tinha deflagrado na Ásia. A China não era a Coreia; a China não era Taiwan; a China podia perder um milhão de habitantes e seguir em frente. Algumas regiões podiam cair, mas era uma nação incomensuravelmente vasta, capaz de resistir apenas pela determinação e pelos números. Os coreanos queriam que o Japão ganhasse a guerra? Claro que não, mas o que aconteceria com eles se os inimigos do Japão vencessem? Será que os coreanos conseguiriam se salvar? Não parecia provável. Então salve sua própria pele: era nisso que os coreanos acreditavam intimamente. Salve sua família. Encha sua barriga. Fique atento e seja cético em relação às pessoas que estão no comando. Se os nacionalistas coreanos não conseguirem recuperar seu país, deixe que seus filhos aprendam japonês e tente seguir adiante. Adapte-se. Não era simples assim? Para cada patriota lutando por uma Coreia livre, ou para cada coreano desgraçado lutando em nome do Japão, havia dez mil compatriotas no país e em outros lugares que estavam apenas tentando colocar um prato de comida na mesa. No fim das contas, o estômago era seu imperador.” (LEE, 2018, p. 194-195, grifos nossos)

 

É inegável o fato de que a maior preocupação das camadas mais baixas da sociedade não era a conquista pela independência coreana ou a liberdade do domínio japonês, mas sim a luta pela sobrevivência. Com as guerras, tanto as mundiais quanto as do continente asiático, a primeira preocupação do povo era o bem estar da família e a última preocupação dos governantes era o povo.

 

Um dado importante é o fato de que a Segunda Guerra Mundial, a Segunda Guerra Sino-Japonesa e a Ocupação Colonial Japonesa na Coreia terminaram em 1945. Obviamente isso não é uma coincidência, o Japão sofreu com a alta demanda de homens enviados para o auxílio no controle colonial, para a Guerra Sino-Japonesa e para a Guerra Mundial. Logo, durante esse período, as forças japonesas estavam se enfraquecendo cada vez mais e, como consequência, os cofres também.

 

Portanto, após a rendição do imperador japonês Hirohito para as forças aliadas, o Japão perde a sua influência e o seu poder. A Coreia pode enfim começar a aspirar a sua tão sonhada independência. Assim, o governador-geral japonês na Coreia, Endo Ryusaku (1886- 1963), entra em contato com forças nacionalistas coreanas. Devemos lembrar que os movimentos nacionalistas coreanos nunca pararam totalmente, mesmo com a forte repressão japonesa.

 

A força do Japão durante esse período histórico denotava, para a sociedade asiática da época, uma soberania desse povo. Assim, quando essa suposta soberania cai por terra após as perdas durante as guerras mencionadas do livro II de Pachinko, os japoneses expressam sua frustração nos imigrantes que passam a ser ainda mais maltratados.  

 

Portanto, podemos verificar que os episódios históricos que perpassaram a sociedade coreana foram de fundamental importância para o seu hibridismo cultural atual, influenciando em todos os aspectos sociais e culturais dessa nação. E, infelizmente, comprometendo boa parte de sua cultura tradicional.

 

Referências

Gabrielly Fernanda Spizamilio Silva,

Mestranda em Estudos Literários pelo PPGL- UNESP.

Pesquisadora financiada pela CNPq.

Licenciada em letras com habilitação português-francês pela UNESP (Universidade Estadual Paulista) "Júlio de Mesquita Filho". Câmpus de São José do Rio Preto/SP (IBILCE-Instituto de Biociências, Letras e Ciências Exatas).

 

 

ACHESON, D. The Korean War. New York: W.W Norton, 1971.

ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: Reflexões sobre a origem e a difusão do nacionalismo. 1ª. reimpr. São Paulo: Companhia das Letras, 2008.

CHAPMAN, D. Zainichi Korean Identity and Ethnicity. London: Routledge, 2008.

FIGUEIREDO, E. (Org.). Conceitos de literatura e cultura. Juiz de Fora: Editora UFJF / EdUFF, 2005.

HENSHALL, K.G. História do Japão. 2ª ed. Tradução de Victor Silva. Lisboa: Edições 70, 2014.

KIM, Chun Kil. The History of Korea. Westport, Connecticut, EUA & Londres: Greenwood Press, 2005.

LEE, Min Jin. Pachinko. Tradução de Marina Vargas. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2020.

MACEDO, E.U. A Montanha e o Urso: uma história da Coreia. Columbia & San Bernadino, EUA: Amazon Independent publishing, 2018.

SAID, Edward W. Cultura e imperialismo. Tradução de Denise Bottman. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

SAID, Edward W. Orientalismo: o Oriente como invenção do Ocidente. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.

SILVA, T. T. (org.), HALL, S.,WOODWARD, K. Identidade e diferença: A perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2000.

TAKENAGA, Beatriz Shizuko. A Divisão Histórica Japonesa. São Paulo: Revista do Centro de Estudos Japoneses da Universidade de São Paulo, nº 07, 1987.

TEIXEIRA, Francieli Alves. Coreia do Sul: a Criação do Hangul como Objeto Cultural e de Organização Socioespacial. Orientador: Eliane Kuvasney. 2022. 74 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Geografia) - Universidade Federal da Integração Latino-Americana, Foz do Iguaçu, 2022. Disponível em: http://dspace.unila.edu.br/123456789/6743. Acesso em: 18 jul. 2023.

 

10 comentários:

  1. Olá, no início do texto você diz que a narrativa do livro não é linear, contudo a evolução dos eventos é conduzida de forma histórica sob anos subsequentes, portanto fiquei curiosa sobre quais seriam os recursos narrativos que quebram a linearidade factual? Seria alguma relação com as manifestações identitárias?
    Victoria Toscani Burigo Fernandes

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    1. Olá, Victoria!
      Digo que a narrativa não é linear, pois o livro tem alguns lapsos de tempo. Como entre o livro 1 e o livro 2, o livro 1 (Gohyang/Cidade Natal) termina em 1933 e o livro 2 (Pátria mãe) começa em 1939. Temos aqui um lapso temporal de seis anos, em outras partes do romance também ocorrem saltos temporais entre os capítulos. Logo, algumas questões históricas ocorridas dentro desses recortes são mencionadas superficialmente e, outras, em mais detalhes. O narrador também passa a voz da narração entre as personagens e as vezes retorna a uma outra personagem após alguns anos. Fiz a separação histórica de modo linear e conduzi a pesquisa dessa forma para auxiliar em fins de estudo. Sobre a questão de ter alguma relação com as manifestações identitárias, acredito que não diretamente, porém se pegarmos alguns acontecimentos históricos e analisarmos sob a perspectiva de alguma personagem em questão, pode haver uma ligação indireta.
      Atenciosamente,
      Gabrielly Fernanda Spizamilio Silva.

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  2. Olá Gabrielly! Parabéns pelo seu texto, foi muito bem construído!

    Poderia comentar sobre como os eventos históricos descritos em Pachinko, como a imposição de nomes japoneses e a repressão cultural, moldam a luta dos personagens coreanos pela preservação de sua identidade e dignidade enquanto tentam sobreviver em meio à discriminação e às dificuldades materiais no Japão colonial?

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    1. Olá, Natália! Obrigada pelo comentário!
      Acredito que a repressão cultural dos japoneses, cada vez mais forte até o término da ocupação colonial, foi de fundamental necessidade para que as lutas coreanas em relação a preservação de sua identidade acontecessem. Pois, infelizmente, caso os japoneses instaurassem um regime mais "humano" e menos agressivo, os coreanos não se rebelariam da forma como se rebelaram. A cada aspecto cultural coreano que os japoneses proibiam era mais um motivo para a resistência coreana continuar e, inclusive, se fortalecer. A imposição dos nomes japoneses, por exemplo, foi uma cartada desumana e imensamente cruel, que motivou diretamente movimentos de resistência maiores.
      Obrigada pela pergunta,
      Gabrielly Fernanda Spizamilio Silva

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  3. José Carvalho Vanzelli4 de dezembro de 2024 às 20:37

    Olá, Gabrielly! Queria dar os parabéns pelo seu texto e pela reflexão que você está desenvolvendo. Seu texto me fez pensar em muitas coisas. Entre elas, por exemplo, se a não repercussão do massacre ao Movimento Samil que você menciona se deu apenas por questões políticas de um alinhamento de nações ocidentais com o Japão (como você traz na citação) ou se também por uma provável falta de difusão pela Europa/EUA de conhecimento sobre a Coreia. Digo isso pois bem no final do século XIX sai um livro intitulado "Corea: the Hermit Nation", do orientalista americano William Elliot Griffis, que vai justamente tentar "apresentar" a Coreia para o público ocidental (que, em geral, só tinham ouvido falar de China e Japão), classificando-o como um "país ermitão". Assim, o caráter "isolado" do reino coreano (imagem que acredito que não mudou muito até 1919), as dimensões geográficas, além de todo um orientalismo presente no pensamento ocidental talvez tenham contribuído para o não conhecimento internacional do massacre feito pelo Japão (além dos motivos políticos que você aponta).
    Mas, na verdade, eu gostaria de fazer uma outra pergunta e deixar uma sugestão bibliográfica para, quem sabe, fortalecer ainda mais seu trabalho.

    A pergunta é: você acha que "Pachinko" pode ser lido como um "romance de família", subgênero do romance histórico conforme definido por Carlos Reis em seu Dicionário de estudos narrativos (2018)?

    Em relação à sugestão bibliográfica, como você usa (e acredito que de maneira adequada) Edward Said (que fala de orientalismo) mas o agente colonial é um país oriental, queria sugerir dois textos (ambos de intelectuais japoneses) que pensam a recepção e a relação que o Japão tem com a teoria saidiana. Basicamente, eles falam que o Japão ao mesmo tempo é vítima e difusor do orientalismo, seguindo a ideia de Said. Por isso, acho que podem ajudar em seu estudo. Seguem as referências.

    NISHIHARA, Daisuke. Said, Orientalism and Japan. Alif: Journal of Comparative Poetics, Cairo vol 1, n.25, fev. de 2005. p. 241-253

    HARADA, Yoko. The occident in the orient or the orient in the occident?: reception of Said's orientalism in Japan. Faculty of Arts, Social Science & Humanities Papers, Wollongong, jan. de 2006.

    Parabéns mais uma vez pelo trabalho.

    José Carvalho Vanzelli

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    1. Olá, José! Agradeço pelos seus comentários.
      Em relação a falta de difusão sobre a Coreia nos EUA, acredito que, de fato, a população estadunidense não possuía muito conhecimento sobre esse pequeno país. Contudo, os governantes sabiam da situação coreana antes mesmo dos acontecimentos relacionados ao Movimento Samil, especificamente na época em que o país estava prestes a cair em mãos japonesas.
      Em 1905, o presidente estadunidense Theodore Roosevelt se impressiona com as reformas da monarquia constitucional japonesa e se oferece como mediador de paz para os conflitos no leste asiático. Assim, o secretário William Taft e o chanceler Katsura Taro assinam o acordo Taft-Katsura, tratado que reconheceu o domínio japonês na Coreia e a interferências dos EUA nas Filipinas. Enquanto isso, o imperador coreano Gwangmu tentou desesperadamente buscar o apoio dos EUA pelo reconhecimento da independência coreana segundo o tratado de Paz, Amizade e Comércio de 1882, esse tratado afirmava e reconhecia a independência coreana.
      Contudo, Roosevelt não voltou atrás e após as suas ações com o acordo Taft-Katsura, o tratado anterior não foi respeitado, tornando-se nulo. Desse modo, “[...] o império coreano, com mais de quatro mil anos de tradição, e quinhentos anos de dinastia, teve seu termo efetivo nas mãos japonesas.” (MACEDO, 2018, p. 150). Inicia-se aqui o Tratado de Protetorado de 1905.
      Por esse motivo, acredito que a posição assumida pelos EUA em relação a Coreia foi muito mais por conta da ligação política com o Japão e menos por uma questão de falta de conhecimento. Mas, como eu mencionei antes, duvido muito que, na época, a população estadunidense e, inclusive, a europeia soubessem sobre as questões políticas envolvendo países geograficamente menores como a Coreia.
      Porém, também é importante dizer que existe uma possibilidade de que nem mesmo o próprio governo estadunidense soubesse, em detalhes, da catástrofe que foi o Movimento Samil. Já que a imprensa coreana da época era supervisionada pelo Japão.

      Em relação a sua pergunta, acredito que o romance Pachinko pode sim ser lido como um "romance de família", inclusive pelo fato de que as principais decisões das personagens são tomadas pensando no bem da família. E, além disso, é um dos poucos romances históricos que perpassa a história de quatro gerações da mesma família.
      Os dramas familiares também envolvem fortemente a narrativa do livro, mesmo que Sunja seja a protagonista, ela é, dependendo do trecho do livro em questão, uma jovem coreana se despedindo da mãe em sua terra natal e uma matriarca conversando com o neto no Japão. O filho dela, Noah, descobre, após anos, que o seu pai biológico é um homem de moral questionável. Enfim, são diversos temas familiares envoltos na mesma narrativa.

      Também agradeço muito pelas suas sugestões! Recentemente eu estava procurando algum material que trate mais sobre o ponto de vista japonês em relação a essa ideia de oriente. Tenho certeza que esses textos serão muito úteis.

      Obrigada, novamente, pelas indicações.

      Gabrielly Fernanda Spizamilio Silva


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  4. Excelente o seu texto! E muito intrigante também! Na época da ocupação japonesa os coreanos foram obrigados a adotar a cultura japonesa e deixar de 'lado' sua própria cultura, inclusive sendo obrigados a renunciar seus nomes coreanos. Após a ocupação japonesa, existe alguma relação do hangul com o idioma japonês? Ou os coreanos conseguiram resgatar o hangul sem a interferência do idioma japonês em seu uso?

    Suelen Bonete de Carvalho.

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    1. Olá, Suelen! Obrigada pela pergunta!
      Sim, o Hangul foi resgatado sem interferências japonesas. Mesmo que, após anos do fim da ocupação colonial japonesa, muitos coreanos ainda aprendessem a língua dos japoneses como uma forma de assimilação cultural e, inclusive, status. O Hangul foi reaparecendo cada vez mais nas escolas. Acredito que, devido ao fato de ser um alfabeto criado pelo Rei Sejong ainda no século XV, o seu apagamento completo dentro da sociedade coreana seria algo bem complexo.
      Atenciosamente,
      Gabrielly Fernanda Spizamilio Silva.

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  5. Maria Aparecida Stelzer Lozorio5 de dezembro de 2024 às 23:07

    Olá Gabrielly!!! Parabéns pelo seu texto!!!
    A dominação japonesa na Coreia foi realmente brutal, o país sofreu uma niponização severa, com a proibição inclusive, do uso do coreano nas escolas. Pachinko como você bem frisou, apesar de ser uma obra de ficção/romance, nos permite traçar um panorama dessa proibição cultural sofrida pela Coreia. Mesmo com a obrigação do envio de quase toda a produção de arroz para o Japão, sendo o arroz a principal base da alimentação coreana em todas as refeições, você acredita que uma das principais frente de resistência cultural coreana tenha acontecido através da alimentação?

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    1. Olá, Maria! Obrigada pela pergunta.
      Acredito que a alimentação tem sim importância frente a resistência cultural coreana. Na série, de mesmo nome, baseada no livro Pachinko tem algumas cenas que relatam um pouco sobre isso. No casamento de Sunja e Isak os noivos comem arroz branco, Sunja fica emocionada com o gesto. Logo depois entendemos o motivo, pois vemos a cena em que a mãe de Sunja pede para o vendedor de arroz, que é seu conhecido, uma pequena quantidade de arroz branco e ele diz que não pode vender para os coreanos, pois além de ser um produto extremamente caro, o destino do arroz branco coreano era o prato dos japoneses. A mãe de Sunja explica que é o casamento de sua filha e, compadecido, o vendedor cede um pouco de arroz. Isso se deve pelo fato de que o arroz, como você disse, ser a base da alimentação coreana e, em épocas festivas como o casamento, acreditava-se que comer arroz branco poderia trazer prosperidade. Por isso, Sunja fica emocionada com a atitude da mãe, pois sabe quão difícil era para um coreano comer arroz branco naquela época.
      Também há uma parte do livro, que eu cito nesse trabalho, onde vemos a seguinte menção: " [...] Para cada lar que podia alimentar mais uma pessoa, havia multidões dispostas a trabalhar um dia inteiro em troca de uma tigela de grãos de cevada” (LEE, 2020, p. 13). A tigela de grãos de cevada era a substituição do arroz branco. Logo, ela se tornou a base da alimentação do povo coreano dessa época. Demonstrando que até a alimentação coreana tradicional foi, em determinado período, restrita pelo Japão. Assim, vemos que com a alimentação coreana retornando ao que era após o fim da ocupação colonial japonesa, temos também, uma vitória cultural coreana.
      Atenciosamente,
      Gabrielly Fernanda Spizamilio Silva.

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