CONTORNANDO
A INVISIBILIDADE DOS MANGÁS PARA MULHERES: UM BREVE PANORAMA HISTÓRICO E A
IMPORTÂNCIA DOS MANGÁS JOSEI (女性マンガ)
Com
o maior mercado de quadrinhos do mundo, equivalente a 43% do mercado mundial, o
Japão também se destaca por ser o único país com uma sólida divisão do mercado
dedicado ao público feminino de histórias em quadrinhos, com mulheres em ambos
os lados das páginas dos mangás, ou seja, como leitoras e como quadrinistas
[Turrin, 2021; Fujino, 1997]. Um fator ao qual pode ser creditada essa alta
participação feminina é a compartimentação mercadológica do mercado editorial
japonês, característica essa que o distingue de outros mercados de quadrinhos
ao redor do mundo. No Japão, os mangás recebem classificações de acordo com o
gênero e faixa etária do público alvo ao qual são direcionados: shōjo (para
meninas), shōnen (para meninos), josei (para mulheres), seinen (para homens).
Essa classificação depende da revista antológica em que os capítulos dos mangás
são pré-publicados antes de serem recompilados em volumes, físicos ou digitais,
para a venda. Essas classificações são comumente chamadas pelo público de
“demografias” e nesta comunicação serão referidos como demografias
ou categorias editoriais. As mulheres quadrinistas japonesas, mangakás,
concentram-se na autoria de mangás shōjo e mangás josei, o que leva a outra característica
do mercado japonês: essas autoras importam-se com suas leitoras, e não em
agradar ao público masculino com suas obras [Silva, 2016; Thompson, 2007].
No
Brasil, o primeiro mangá foi publicado em 1988 e desde então centenas de
títulos chegaram traduzidos ao país [Goto, 2024]. Entretanto, existe uma
discrepância na quantidade de mangás por categoria editorial publicados no
país. Em uma pesquisa rápida no site Biblioteca Brasileira de Mangás, que
possui uma lista com todos os mangás já publicados no país, pode-se obter os
números de mangás publicados no Brasil dentro das categorias editoriais
japonesas e os resultados mostram um forte descaso com as obras direcionadas ao
público feminino. Em uma rápida pesquisa no site, tem-se os seguintes resultados,
em números aproximados: 370 mangás shōnen, 390 mangás seinen, 120 mangás shōjo
e 30 mangás josei [BBM, 2024]. Percebe-se, assim, que quantitativamente, os
mangás voltados para o público feminino são negligenciados e os mangás para o
público feminino adulto, mangás josei, ocupando um local de quase
invisibilidade dentro das licenças que chegam ao Brasil. Importante ressaltar
que o fenômeno de diminuição e subcategorização não é restrito ao Brasil, muito
menos aos mangás [Thompson, 2007]. Tendo isso em vista, essa comunicação se
propõe a explorar a história dos mangás feitos para mulheres, os mangás josei,
na intenção de demonstrar a importância da existência dessa categoria de
mangás, como ela se desenvolveu apesar da existência do preconceito com a literatura
feminina, e busca fomentar o interesse de leitoras, e leitores, de mangás para
conhecer essa categoria editorial que possui um vasto repertório de gêneros,
temas e narrativas abordadas em suas páginas.
A
entrada das mulheres no mercado de mangás e a revolução dos anos 1970
Antes de abordar o surgimento dos
mangás para mulheres, é preciso discorrer brevemente sobre os mangás para
meninas, os mangás shōjo, e a “revolução” que ocorreu com essa categoria de
mangás nos anos 1970. Até a década de 1970, os mangás shōjo eram majoritariamente
escritos por mangaká homens. Alguns nomes femininos pioneiros, como Machiko
Satonaka, Masako Watanabe, Maki Miyako, Hideko Mizuno, adentraram o mercado de
mangás ainda na década de 1960 e pavimentaram o caminho para outras mulheres
dentro do mangá shōjo. Foi então que, na década de 1970, dois importantes
fatores confluíram para que mais mulheres adentrassem o mercado. Por um lado, o
crescimento do mercado de mangás e o surgimentos dos mangás seinen fez com que
muitos quadrinistas homens abandonassem o mangá shōjo para dedicarem-se às
categorias voltadas ao público masculino, criando assim a necessidade de que
essa lacuna fosse preenchida. E por outro lado, mais mulheres buscavam a
carreira de mangaká, seja porque acreditavam que poderiam se conectar mais ao
público e contar histórias com a qual as leitoras pudessem se relacionar com
mais facilidade, seja pela possibilidade de quase igualdade oferecida pela
profissão [Silva, 2016; Taylor, 2016].
Foi assim que um grupo de mulheres
mangaká, posteriormente intitulado Grupo do Ano 24 (24年組,
nijūyo-nen gumi) por pesquisadoras e críticas, chegou ao mangá shōjo e o
revolucionou. O grupo não possui uma conformação fixa, mas Keiko Takemiya, Moto
Hagio, Riyoko Ikeda são três nomes que aparecem sempre que o Grupo do Ano 24 é
mencionado. Essas autoras buscaram transformar os mangás numa forma de auto
expressão e trouxeram características artísticas e narrativas novas para o
mangá shōjo, ao mesmo tempo que sedimentaram e expandiram características já
existentes. Temas como política e sexualidade começaram a ser mais presentes
nas obras, o psicológico das personagens era explorado por meio dos textos e da
arte, havendo uma preocupação por parte das mangaká em apresentar os conflitos
internos e os pensamentos das personagens. Os sentimentos tornaram-se um fio
condutor e característica central no mangá shōjo [Silva, 2016; Taylor, 2016].
De acordo com Silva [2016], a publicação de “Rosa de
Versalhes” (ベルサイユのばら, Berusaiyu no Bara), de Ryoko Ikeda, em 1972 seria o ponto
de virada do mangá shōjo, uma vez que a “revolução” feita pelo Grupo do Ano 24
também ocorreu no sentido de iniciar um movimento de mudança da percepção do
público em relação aos mangás shōjo, que eram vistos como inferiores. Nas
palavras de Ryoko Ikeda: “‘Rosa de Versalhes’ se tornou a primeira obra que fez
o público refletir se valia a pena colecionar e tê-la em sua biblioteca. Deste
ponto de vista, é um mangá que mudou completamente a percepção deste gênero
pelo grande público e esta é uma coisa que me deixa extremamente orgulhosa.” [Silva,
2016, p.102]. Foi assim que, a partir da década de 1970, pode-se observar o
surgimento dos mangás para meninas com as características que observamos nos
mangás hoje em dia.
O
surgimento dos mangás para mulheres
Foi a publicação da revista
antológica de mangás BE LOVE que marcou o ponto de partida para uma nova
categoria de mangá, conhecida inicialmente como ladies’ comics (レディースコミック, Rediisu Comikku), ou também chamado de redikomi. Publicada pela editora Kodansha em 1980, a revista tinha
como público alvo mulheres na faixa etária dos 25 aos 30 anos. De acordo com
Kinko Ito, por um lado, as leitoras que cresceram com mangás shōjo estavam
agora entrando em uma nova fase de sua vida. Elas estavam se tornando adultas e
havia o desejo de ler histórias que contemplassem sua nova realidade, que
retratassem esses ambientes novos, agora frequentados por elas, e que elas
também abordassem suas novas experiências, principalmente a descoberta de sua
sexualidade. Por outro lado, as autoras de mangás shōjo, que comumente se
aposentavam por volta dos seus trinta anos, ao casarem e terem filhos,
continuaram a escrever e desenhar mangás devido a essa nova demanda, podendo
incorporar elementos agora também vividos por elas. [Ito, 2002; Ito, 2011; Ogi,
2003]
Apesar de surgir enquanto categoria
separada, a ideia de mangás voltados para o público feminino adulto não era
exatamente nova na época. Desde os anos 1960, Maki Miyako não só já tinha a
visão de que deveria haver a publicação de mangás que tivessem como
público-alvo mulheres adultas, mas também, de acordo com Toku [2015], já
publicava mangás pensando nessa audiência. Com o estabelecimento do redikomi, a autora dedicou-se mais XXX,
tornando-se uma das mangaká que mais contribuiu para enriquecer as narrativas e
sedimentar os mangás para mulheres enquanto categoria. Masako Watanabe também
se juntou ao grupo de autoras que começaram a publicar seus mangás nessa nova
categoria [Toku, 2015].
Os temas abordados nesses mangás são
amplos e abordam diversas áreas da vida das mulheres adultas. De acordo com Ito
[2002], um traço característico marcante do redikomi
na época de seu surgimento foi a liberdade sexual. Em sua análise, a autora
ainda o divide em categorias. Nos mangás publicados por grandes editoras,
prevaleciam o drama, romance e fantasia, e eles focavam “more on the reality of
everyday life experienced by modern housewives, office workers, and college
students—love, romance, female friendship, careers, life-styles, mother-child
relations, PTA, social problems, sexism, divorce, domestic violence, injustice,
relationship with the in-laws, abortion, etc.” [Ito,
2002, p.70]. Enquanto mangás publicados por editoras menores possuíam uma
conotação erótica mais explícita, onde uma das mensagens a serem transmitidas
nas histórias seria a de que as mulheres poderiam e deveriam explorar seus
corpos e que o prazer não era algo a ser temido.
Segundo Fusami Ogi [2003], o redikomi teve dois papeis enquanto uma
nova categoria voltada para o público feminino: mostrar os desejos das mulheres
que não são mais meninas e oferecer modelos alternativos para essas mulheres. O
mangás redikomi possibilitaria um
espaço para que mulheres pudessem se divertir, ao mesmo tempo que as
dificuldades da realidade delas enquanto mulheres não são ignoradas. Observando-se
os números das publicações, pode-se considerar que as revistas e mangás redikomi encontraram seu público e
criaram uma identificação com suas leitoras. Em 1980, existiam apenas duas
revistas da categoria, enquanto que em 1991, o número subiu para 48. Para Ogi
[2003], esse poderia ser um reflexo de um aumento da preocupação das mulheres
consigo mesmas e de uma conscientização delas em relação a sua posição dentro e
fora de casa.
Tanto Ogi [2003], quanto Ito [2011]
apontam as mudanças sociais e, principalmente, o estabelecimento da lei de
igualdade de oportunidade de emprego entre homens e mulheres, instituída na
metade dos anos 1980 como um fator a ser levado em consideração. A instituição
da lei não resultou em uma mudança radical na vida das mulheres japonesas, não
as encorajava a perseguir carreiras longas e o trabalho doméstico ainda era
responsabilidade feminina, mas serviu como um marco inicial a partir do qual
muitas jovens começaram a priorizar sua carreira e educação, uma nova geração “of
independent women, [...] they delayed marriage, but were sexually active” [Ito,
2011, p.178]. Essas mudanças sociais estavam em harmonia com a ascensão do redikomi.
Para Ogi [2003, p.783], “Ladies’
comics has become a genre which reflects the contemporary difficulties of
women’s lives and their pleasures” e disso teria derivado boa parte da
popularidade desses mangás. O redikomi traz
uma representação da vida diária, possibilita suas leitoras serem vistas e,
mais para o final da década de 1980, começa a incluir problemas sociais em suas
páginas. No que diz respeito ao prazer e sexualidade, este era um tema difícil
de ser abordado nos mangás shōjo, que pode ser observado pelo surgimento do shounen’ai e o uso de relacionamentos
homossexuais em quadrinhos para meninas para introduzir o tema. Assim, o redikomi, com suas personagens adultas,
pode fazer uso do tema e representar a sexualidade de maneira positiva. Dessa
forma, as mulheres puderam tornar-se sujeito dentro da representação sexual,
podendo reconhecer sua sexualidade e aceitá-la [Ogi, 2003].
É necessário reforçar que, apesar
dos pontos levantados até o momento, os mangás não estão livres das amarras da
sociedade. Não é incomum que as protagonistas, apesar de buscar liberdade de
independência, reproduzam e reforcem estereótipos e papeis de gênero. Muitos
dilemas se centram na necessidade de escolha entre o lar e o trabalho, além de
que o casamento e a formação de uma família, aos moldes tradicionais, são
colocados como objetivo final para as protagonistas. Mesmo assim, a diversidade
de temas, narrativas, ambientações e personagens presentes nas histórias servem
de refúgio, e até mesmo modelo, para as leitoras, as apresentando a situações
que nunca poderiam viver ou até mesmo trazendo ensinamentos de situações que
poderiam acontecer em suas vidas [Ito, 2011].
Com o passar do tempo, o termo redikomi começou a ter seu uso mais
limitado aos mangás que tivessem uma conotação erótica. Em 2003, Ogi [2003]
aponta o surgimento do termo “mangá josei” e a tentativa de substituir o uso de
redikomi. Segundo Thompson [2007] e
Clopton [2011], foi na segunda metade dos anos 2000 que haveria ocorrido a
mudança definitiva. Redikomi teria
começado a ser utilizado apenas para classificar os mangás que possuem uma
forte conotação sexual e erótica, enquanto mangá josei seriam aqueles
direcionados ao público feminino adulto no geral. Thompson. Hoje, é possível
observar em livrarias online como Comic Seymour [2024], BookLive [2024] e
BookWalker [2024] a utilização de “女性マンガ雑誌” para classificar as revistas antológicas em que ocorrem as
pré-publicações dos capítulos dos mangás e “女性マンガ” para classificar os volumes dos
mangás. A editora Shogakukan, uma das grandes editoras de manga do Japão,
identifica os mangás para mulheres pelo selo alfa (α) na capa de seus volumes
que pertencem à divisão Flowers Comics.
Como demonstrado nesta comunicação,
a história dos mangás voltados para o público feminino é, além de único, uma
vez que houve um envolvimento ativo das leitoras e das mangaká na estruturação
de ambas as categorias, mangás shōjo e
mangás josei, já que, mesmo que houvesse o espaço para que as mudanças fossem
acontecendo, estas não teriam ocorrido sem o envolvimento proativo de ambas as
partes, também é muito importante de se ter conhecimento sobre os fatos e sobre
aquelas que fizeram e fazem parte dessa história. Não se sabe para onde os
mangás para meninas teriam ido sem a inserção numérica de mangaká mulheres na
década de 1970 e não haveriam mangás para mulheres se essas mesmas mangaká não
tivessem inspirado suas leitoras a manterem seu interesse, e posteriormente,
demandarem a existência de uma nova categoria editorial que as atendesse. É
necessário destacar, entretanto, que existe uma linha tênue entre mangás shōjo
e mangás josei, e que apenas mais recentemente o termo mangá josei tem sido
mais amplamente utilizado, principalmente fora do Japão, onde o termo ainda nem
sempre é empregado.
Os mangás josei, anteriormente redikomi, ocupam um espaço importante:
eles dão visibilidade para mulheres adultas. Eles contam suas histórias, e suas
páginas contém, não só as preocupações e dificuldades da vida de uma mulher
adulta, mas a existência do elemento da ficção, já que se tratam de obras
ficcionais, permite a existência de grandes reviravoltas, mudanças e finais
felizes, mesmo que esses não ocorram em todas as histórias. Esses mangás podem
ser vistos como passatempo, mas não deixam de ser uma forma de expressão, tanto
para quem escreve, quanto para quem lê.
Referências
Gabriela
Foscarini Strassburger é graduada em Relações Internacionais pela Universidade
Federal de Santa Catarina (UFSC) e integra o Núcleo de Estudos Japoneses
(NEJAP) .
BBM (Biblioteca Brasileira de
Mangás). Lista de mangás publicados no Brasil. 2004. Disponível em:
https://blogbbm.com/manga/.
BookLive. 少女・女性マンガ. Disponível em:
https://booklive.jp/index/comicf
BookWalker. 女性マンガ. Disponível em: https://bookwalker.jp/tcl71/
Comic Seymour. 少女マンガ・女性マンガ. Disponível em: https://www.cmoa.jp/girl/.
Clopton, Kay K. Coffee And
Infidelity: A Feminist Close Reading of Yoshizumi Wataru’s Cappuccino as
Scanlation in The Context of New Media. Dissertação de Mestrado. The Ohio State
University. 2011
Fujino, Yoko. Narração e ruptura no
texto visual do shojo mangá: o estudo das histórias em quadrinhos para público
adolescente feminino japonês. Dissertação de Mestrado. São Paulo: ECA/USP,
1995.
Goto, Marcel. Quando surgiram os
primeiros mangás e animes?. Super Interessante. 2024. Disponível em:
https://super.abril.com.br/mundo-estranho/quando-surgiram-os-primeiros-mangas-e-animes
Ito, Kinko. A Sociology of Japanese Ladies' Comics: Images of the Life,
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Press, 2011.
Ito, Kinko. The World of Japanese Ladies’ Comics: From Romantic Fantasy
to Lustful Perversion. 2002. Disponível em:
https://onlinelibrary.wiley.com/doi/pdf/10.1111/1540-5931.00031
Ogi, Fusami. Female Subjectivity and Shoujo (Girls) Manga (Japanese
Comics): Shoujo in Ladies' Comics and Young Ladies' Comics. The Journal Of Popular
Culture, [S.L.], v. 36, n. 4, p. 780-803, 2003.
Shogakukan.
女性まんが. 2024. Disponível em:
https://www.shogakukan.co.jp/comics/genre/400000.
Silva, Valéria Fernandes da. Rompendo fronteiras e
tomando a palavra: algumas reflexões sobre os quadrinhos femininos japoneses. História, Histórias, [S.L.], v. 4, n. 7, p. 89-108, 20 dez.
2016.
Taylor,
Zoe. Girls'
World: How the women of the 'Year Group 24' revolutionised girls' comics in
Japan in the late 1970s. Varoom! The Illustration Report. 33, pp. 34-43. 2016.
Thompson,
Jason. Manga: The Complete Guide. Nova Iorque: Ballantine Books, 2007.
Toku, Masami
(editora). International Perspectives on Shojo and Shojo Manga: The Influence
of Girl Culture. Inglaterra: Routledge, 2015.
Turrin, Enrico. The comics market in Europe: status, challenges and
opportunities to go digital. 2021.
Disponível em: https://www.aldusnet.eu/k-hub/comics-market-europe-status-
challenges-opportunities-go-digital/
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ResponderExcluirOlá, Gabriela, parabéns pela comunicação. Interessante o tema e mais ainda o foco dado às mangakás e redikomi. Esclarecedor o texto. Nesse sentido, minha indagação é explorar e esclarecer-me contigo, sobre a recepção e consumo, deste tipo de mangá, no público brasileiro, em que pé anda esse contexto, você tem dados, estudos ou inferências sobre?
ResponderExcluirMais uma vez, parabenizo-a.
Jander Fernandes Martins
Oi, Jander. Muito obrigada pelo comentário!
ExcluirNo Brasil, infelizmente, as editoras não costumam divulgar números de vendas. O que acontece, vez ou outra, é comentarem sobre dados quando algum título alcança um marco muito significativo, como foi o caso de “My Broken Mariko”, da JBC, que foi um dos mangás mais vendidos deles no ano de 2022. Fora isso, o máximo que conseguimos é supor, em relação as vendas, ao olharmos quais mangás tiveram reimpressões, como foi com "Wotakoi: o Amor é Dificíl Para Otakus", por exemplo, que a pré-venda da reimpressão de alguns volumes esgotou em uns dois dias, se não me engano. Queria poder te passar números do mercado daqui, mas eles realmente não estão disponíveis.
Gabriela Foscarini Strassburger
Muito interessante! Essa mudança na nomenclatura de redikomi para josei pode ser visto pela mesma lente da mudança de nomenclatura de yaoi para boys love?
ResponderExcluirLarissa Gabrieli Fonseca
Olá! Muito obrigada pelo comentário.
ExcluirNão conheço muito profundamente a história do yaoi e BL, então não posso te garantir que minha resposta vai ser a mais satisfatória. Do que conheço, fiquei refletindo em relação aos elementos que levaram a utilização de cada um dos termos. Acho que, de maneira geral, não poderíamos observar pela mesma lente, porque yaoi sempre esteve muito ligado aos doujinshi e as produções feitas pelos fãs, enquanto BL é utilizado pelas editoras, o que é o caso tanto de redikomi, quanto de josei.
Gabriela Foscarini Strassburger
Gostaria de parabenizá-la pelo texto. Adoro aprender mais sobre mangás.
ResponderExcluirGostaria de saber um pouco mais sobre a importância do grupo do ano 24 para a transformação dos mangás shojo? Sofreram influência de movimentos feministas da época?
Júlia da Silva Amaral
Oi! Muito obrigada pelo comentário!
ExcluirO Grupo do Ano 24 instituiu o que a gente vê hoje em dia e entende por mangá shoujo. Na questão narrativa, elas iniciaram uma inserção maior de temas sociais, abordando também a sexualidade (utilizando principalmente personagens masculinos para isso), debates de gênero, e trouxeram muito foco para o psicológico e para os sentimentos das protagonistas e dos personagens da época. Foi quando se começou a ver mais os pensamentos, conflitos e monólogos internos das personagens nas obras. Já na questão artística, começou a se ver mais camadas e sombras (na intenção de dar forma aos sentimentos), protagonistas com olhos grandes com brilhos/estrelas, o layout das páginas começou a ser mais abstrato e sair um pouco da padronização mais quadriculada, com sobreposição dos painéis ou dos desenhos.
Recomendo muito dar uma lida em "A princesa e o cavaleiro" de Osamu Tezuka, um dos primeiros mangás shoujo e pré-Grupo do Ano 24 e depois ler "Rosa de Versalhes", de Riyoko Ikeda, uma das integrantes do grupo. Acho que é uma forma bem boa de comprar esse "antes e depois" e ver qual foram mas mudanças trazidas. A década de 1970 foi um momento que o movimento feminista ganhou mais força no Japão e isso acabou influenciando na demanda por inserção no mercado de trabalho. E mesmo que essas mangaká utilizem o mangá shoujo como forma de expressão, ele não surge, nem se coloca como uma forma de ruptura feminista com o status quo da sociedade, mesmo que muitas obras abordem a realidade de meninas e mulheres, e instiguem debates de gênero.
Gabriela Foscarini Strassburger