Elisa Alves Silva Ruiz e Maria Eduarda Siqueira Leite

 “A RAINHA CRUEL E AMANTE DO PRAZER”: UMA ANÁLISE DOS CONTRASTES ENTRE AS REPRESENTAÇÕES DA IMPERATRIZ WU ZETIAN E O FESTIVAL DAS FILHAS DE GUANGYUAN

 

“Como alguém pode escrever sobre sua avó, especialmente se ela era uma prostituta?” é o questionamento que abre a obra Lady Wu, de autoria do escritor chinês Lín Yǔtáng 林語堂 [1965, p. 15]. Apesar de datar do século XX, a obra se propõe a ser um reconto ficcional da história de Wǔ Zétiān 武則天, a primeira e única imperatriz a comandar a China sozinha, a partir do ponto de vista de um de seus netos. Embora a imperatriz tenha estado em uma posição de destaque na política, o que comumente se encontra em representações literárias —  como a de Yǔtáng, que a descreveu na sinopse como “a rainha cruel e amante do prazer” — , audiovisuais e históricas acerca de sua figura são descrições que a colocam como uma prostituta sem escrúpulos para ascender ao poder, uma governante escandalosa e depravada, sempre enfatizando sua vida sexual e seu emprego da violência.

 

Nascida em 624 na província de Lìzhōu 利州区, a imperatriz vinha de uma família com conexões importantes dentro da dinastia Táng , que liderava a China na época. Assim, aos treze anos, uma jovem Wǔ Zétiān adentrava o palácio na posição de concubina do imperador Tàizōng 太宗. Sua primeira estadia na corte não teve uma longa duração: aos vinte e cinco anos, após a morte de Tàizōng, Wǔ foi enviada para um monastério, como ditava a tradição da dinastia, tornando-se uma monja budista. Segundo Woo [2008, p. 44], enquanto as concubinas de um imperador morto que tivessem dado à luz filhos podiam permanecer em seus aposentos, as que não o fizessem deveriam ser enviadas para um convento, como foi o caso de Wǔ Zétiān. Contudo, sua boa reputação pelo palácio, que se devia ao fato de que Wǔ repassava informações sobre as demais concubinas para o imperador, a colocou sob o olhar afetuoso do filho deste, Gāozōng 高宗, que frequentemente ia ao monastério para visitá-la após a morte do pai. Em meio a tal relação, a imperatriz Wáng viu em Wǔ Zétiān a possibilidade de retirar a atenção do marido de uma das concubinas que se apresentava como ameaça para ela, Xiāo 蕭.

 

Foram tais fatos que a levaram de volta ao palácio quatro anos depois, desta vez como concubina do agora imperador Gāozōng e mãe de seu filho, gerado quando Wǔ ainda estava afastada de sua posição. Cada vez mais segura de seu lugar dentro da corte Táng, Wǔ deu à luz outros filhos do imperador e viu o apreço por si crescer enormemente, de maneira que ele a nomeou sua imperatriz. Aqui, inicia-se a trajetória no poder de uma mulher que escandalizou o imaginário popular e a própria historiografia ao subverter normas tão fixas em tempos anteriores.

 

Em 660, a saúde do imperador Gāozōng encontrava-se em frangalhos, principalmente após este contrair malária. A imperatriz Wǔ Zétiān foi inserida, então, nas discussões e decisões de governo a fim de ajudar o marido. Com a piora de Gāozōng, a situação de governo se tornou insustentável ao ponto deste desejar abdicar e deixar o trono para a esposa [Woo, 2008, p. 79]. Foi em 683 que o imperador se despediu, nomeando Wǔ como regente de seu filho, Zhōngzōng 中宗.

 

Entretanto, seis semanas depois, quando as primeiras faíscas de discórdia entre a Imperatriz Viúva e Zhōngzōng apareceram, Wǔ o depôs e colocou outro de seus filhos, Ruìzōng 睿宗, no trono [Hinsch, 2020, p. 50]. Atuando novamente como regente, a imperatriz fez questão de governar no lugar do filho, deixando-o no pano de fundo do império. Assim, em 690, a viúva se autoproclamou como Shèngshén Huángdì 聖神皇帝, o “Santo e Divino Imperador” de uma nova dinastia, nomeada Zhōu 周 [Ferla, 2021, p. 114]. Finalmente, Wǔ Zétiān deixava de ser uma substituta para imperadores fragilizados e tomava o controle do império que ajudou a desenvolver durante seus anos ao lado do marido e dos filhos.

 

Cabe frisar que Wǔ possuía plena capacidade de comandar o império: se o obstáculo para tal fosse a diferença na educação de homens e mulheres, a imperatriz já havia tido contato com um “currículo estereotipicamente masculino de trabalhos sérios dirigidos a homens ambiciosos” antes mesmo de tornar-se concubina de Tàizōng, o que fez com que ela “demonstrasse familiaridade sem esforço com história, religião e ideologia política” [Hinsch, 2020. p. 48]. Caso restassem dúvidas de sua competência, Wǔ Zétiān as desmantelou na implementação de políticas inovadoras que perduraram após seu reinado [Hinsch, 2020, p. 48]. Wǔ Zétiān foi uma imperatriz de grande nível, sabendo não só governar e tomar decisões para seu império com destreza e prudência, como também sendo uma jogadora astuta no xadrez político que a enredava, utilizando-se da ênfase na ideologia e religião para legitimar-se em face do constante perigo de adversários que não a viam como digna do trono, principalmente por ser mulher.

 

Todavia, isso não foi suficiente para impedir que sua imagem fosse violada através dos séculos. Inteligente, ambiciosa e astuta —  não é essa a imperatriz que chegou até o grande público. Por muitos anos, Wǔ Zétiān teve sua imagem esboçada de diversas maneiras, e nenhuma delas era exatamente favorável.

 

Em primeiro lugar, o que se destaca na figura de Wǔ para a grande maioria das produções acerca desta é o elemento sexual, uma vez que sua entrada no palácio se deu por meio do concubinato. Sob tal ótica, vista na obra citada nos parágrafos iniciais, Wǔ utiliza-se de sua beleza e da prostituição para ascender ao poder, mas também se afasta de todas as virtudes esperadas de uma mulher na época ao manter concubinos como imperatriz. Para Song [2010], “no mercado cultural contemporâneo em que o sexo vende, a sexualidade e as atividades sexuais de Wǔ Zétiān são totalmente exploradas por biógrafos homens que atendem a tal mercado” [p. 373].

 

Junto a isso, observa-se uma tendência de pintar a imperatriz como cruel e violenta de uma maneira que beira a insanidade. Obviamente, estamos cientes da violência e dos ardis empregados por Wǔ não só durante seu reinado, mas ainda como consorte de Gāozōng. Contudo, gostaríamos de notar o fato de que por muitas vezes Wǔ Zétiān cometeu as mesmas espécies de atrocidades que seus colegas homens para sobreviver em um cenário que não lhe era nada amigável como mulher ou governante, e nem por isso estes deixaram de ser eternizados como grandes e sagazes sujeitos. Mas a julgar por algumas das produções mais famosas acerca de tal figura, como Lady Wu de Yǔtáng ou Wu Zetian [2000] de Yeling Yiren, não há perdão para a memória da imperatriz, cravada na história como demoníaca e cruel.

 

Após o governo de Wǔ, também foi feito de tudo para apagar sua história. Isso se inicia logo depois de sua morte, pois quando seu filho Zhōngzōng se tornou imperador, ela foi enterrada ao lado do marido como uma mera esposa, sem receber o sepultamento dedicado aos imperadores [Hinsch, p. 51, 2020]. Outro exemplo de seu apagamento é como a dinastia Sòng [960 - 1279] não a reconheceu como uma líder legítima, e fez de tudo para impedir que outras mulheres ascendessem ao poder como ela.

 

Nesse período, os chineses passaram a chamar apenas mulheres de classes mais baixas para cumprir o papel de imperatriz, receosos de que se fossem de elites poderiam fazer o mesmo que Wǔ. Na própria dinastia Táng, as mulheres também perderam algumas liberdades alcançadas anteriormente e qualquer sinal de ambição nas mulheres passou a ser condenado intensamente e retratado de forma negativa. Atualmente, existe apenas um templo dedicado a  Wǔ em toda a China, em Guǎngyuán 廣元. Veremos agora como essa cidade foi na contramão da narrativa oficial e conta a história da imperatriz de uma maneira diferente.

 

O Festival das Filhas e a valorização feminina em Guǎngyuán

A cidade de Guǎngyuán conta com quatro condados e três distritos e com uma população de 2,3 milhões de habitantes. É também o local de nascimento de Wǔ Zétiān, anteriormente chamado de Lìzhōu, onde em todo primeiro de setembro é celebrado o “Dia da Imperatriz”, também chamado de “Festival das Filhas”, ponto central de nossa análise.

 

O festival vem de uma tradição da dinastia Táng, que consistia em mulheres dançando no rio no dia 23 do primeiro mês lunar. A cerimônia ficou perdida por muitos anos, sendo retornada pelo governo de Guǎngyuán em 1988. As maiores fontes que temos sobre ele vem da TopBrand Union [Beijing] Consulting Company, a qual é uma empresa de marketing, ou seja, as descrições das atividades são por vezes tendenciosas, por serem muito exageradas, já que a sua intenção é trazer mais turistas a cidade. Contudo, ainda podemos retirar informações de como o evento ocorre dessa fonte. Outra questão que chama atenção é a condição de destaque da mulher no festival, uma vez que apesar desta nem sempre ser tão positiva na China quanto a propaganda estabelece, a participação feminina é muito relevante neste evento.

 

Sobre o Nǚ'ér Jié 女儿節, “Festival das Filhas”, é importante destacar que ele tem a função de valorizar a herança da Wǔ Zétiān na cidade e sua importância como imperatriz. Sendo assim, teve seu início no ano de 2023 no templo Huángzé 皇泽, o único dedicado a ela e que contém uma escultura em sua homenagem. Nesse momento, podemos observar a junção do presente com o passado na intenção de honrar tanto a história de Wǔ, como também recontar o presente da China, o que será discutido no próximo ponto.

 

Uma parte interessante do festival é o protagonismo feminino, pois nele são as mulheres que conduzem. O evento recebe esse nome para homenagear as “filhas de Guǎngyuán”. O espetáculo é repleto de danças e músicas tradicionais do período Táng, além de contar com a clássica corrida de barcos, na qual somente as mulheres são permitidas a competir. A corrida recebe o nome de “Corrida de barcos da Fênix”, estando ligada a esse animal mitológico, do chinês fènghuáng 鳳凰, que é representado atualmente como feminino e está atrelado à ideia de graça e virtude, demonstrando quais são as características valorizadas nas mulheres.

 

Ao longo do dia a rua é infestada com carros alegóricos que valorizam a cultura e história dos condados e distritos, como por exemplo, uma apresentação musical com gongo e tambor, tradição iniciada no condado de Qīngchuān 青川. A dinastia Táng é relembrada ao longo de todo a comemoração, contando com um flashmob no qual se dançam músicas tradicionais daquele período. Uma característica que o festival quer destacar é a mistura entre o passado e presente, fechando a noite com uma apresentação tecnológica de drones. No ano de 2023, o título desta foi “Cidade natal da imperatriz”. Wǔ Zétiān, como a atração principal, abriu e fechou o evento, como no ano de 2024, com um barco a representando.

 

A intencionalidade narrativa do Festival das Filhas

De modo geral, a festividade conta com músicas, apresentações e venda de comidas tradicionais. O turismo também foi muito ampliado desde sua criação, com milhares de pessoas viajando para ver o Festival das Filhas ao longo dos seus 36 anos de existência. Contudo, o que chama atenção na cerimônia é mais do apenas a questão turística, saltando à luz o âmbito da memória chinesa.

 

Para compreender a relação do evento com esta, necessitamos explorar o contexto de criação do “Dia da Imperatriz” a partir de um apanhado geral da historiografia recente da China. Após a revolução de 1949, parte do governo de Mao Zedong se apoiou na ideia de que o país estava renascendo, dessa vez baseado na causa de um povo unificado que não iria mais tolerar injustiças [Denton, 2014, p. 31]. Portanto, para que essa concepção prosperasse, era preciso que a China se distanciasse de todo seu passado, incluindo o imperial.

 

Com a morte de Mao, Dèng Xiǎopíng ascendeu ao poder, instaurando diversas mudanças. Houve uma grande abertura ao comércio exterior, e essas reformas foram chamadas de “socialismo com algumas características chinesas” [MacFarquhar, 1987, p. 38]. Por meio dessa abertura,  surge um nacionalismo que busca entender o local da China no mundo. Para Denton [2014, p. 22], esse local se funda nas memórias do passado dinástico e da filosofia confucionista. Desse modo, os historiadores do Partido Comunista da China [PCC] se preocupam em recuperar o passado das mais diversas formas, por exemplo, na arqueologia e na criação de museus, a fim de inspirar o paralelismo entre a grandiosidade imperial e a que estaria sendo recobrada.

 

Então, podemos questionar se não há uma dose de intencionalidade narrativa na retomada da tradição relacionada ao Festival das Filhas, um evento que busca homenagear a única imperatriz que a China já teve, justamente no ano de 1988, em meio a um arranjo histórico e político que necessitava firmar-se no passado imperial do país. Isto posto, notamos que, para além de gerar um evento grande que movimenta o comércio da região de Guǎngyuán, o festival tem a função de sustentar a narrativa que valoriza um período dado como grandioso pelos novos historiadores do país. Dessa forma, a figura de Wǔ Zétiān e o próprio festival tornam-se ferramentas narrativas e discursais, corroborando a nova lógica historiográfica que se instaurava e revivendo a chama da memória dinástica da China.

 

Novas interpretações sobre a memória da imperatriz

Portanto, o evento surge como uma estratégia de aumentar o turismo na região como também de recuperar positivamente o passado imperial após seu apagamento [Denton, 2014, p. 31]. Apesar da evidência de tal questão, gostaríamos de destacar que, ao confrontar essa fonte com outras citadas, como Lady Wu, percebemos que é possível retratar a imagem de Wǔ Zétiān em uma luz favorável, lembrando de sua história através de seus feitos positivos e evitando a demonização e a sexualização em excesso da imperatriz. Também notamos que embora grande parte de suas representações sejam atravessadas por um caráter negativo, algo que inclina a população chinesa a odiá-la, a própria existência do Nǚ'ér Jié, o Festival das Filhas, é um indício de que sua memória sobrevive de outras maneiras na atualidade. Recentemente, tanto na literatura —  por meio de obras como Impératrice [2003], de Shan Sa, que se propõe a contar a história de Wǔ a partir do ponto de vista da própria imperatriz, e Viúva de Ferro [2021] de Xiran Jay Zhao, uma distopia inspirada pela trajetória de Wǔ com toques de ficção científica —  como na pesquisa historiográfica, a exemplo dos trabalhos de Song [2010] e Ferla [2021], observamos uma tendência de reformular as narrativas acerca dessa figura tão singular na história chinesa. Assim, esperamos que a partir deste movimento de produções sob uma nova ótica, o imaginário popular acerca de Wǔ Zétiān apresente um caráter mais humanizado, sem os tons de misoginia e sensacionalismo observados anteriormente.

 

Referências

Elisa Ruiz [elisaa.ruiz12@gmail.com] é graduanda em História pela UFPR e bolsista do Programa de Educação Tutorial [PET História UFPR]. 

Maria Eduarda Siqueira Leite [mariaesleite@gmail.com] é graduanda em História pela UFPR e bolsista do Programa de Educação Tutorial [PET História UFPR]. Realiza pesquisa de iniciação científica na área de Estudos de Gênero e História Antiga.

 

Fontes

Happier than Spring Festival - 2023 China [Guangyuan] Daughter's Festival is coming, 2023. Disponível em:

https://today.line.me/hk/v2/article/j7rrEw3

 

Sichuan Guangyuan Daughter's Festival Shines with Excitement as Visitors from Around the World Join the Celebration, 2024. Disponível em:

https://www.openpr.com/news/3642920/sichuan-guangyuan-daughter-s-festival-shines-with-excitement

 

Bibliografia

FERLA, Hannah. “From Concubine to Ruler: The Lives of Emperor Wu Zetian and Empress Dowager” in History in the Making, v. 14, 2021, p. 103-134.

 

HINSCH, Bret. Women in Tang China. Londres: Rowman & Littlefield, 2020.

 

DENTON, Kirk A. Exhibiting the past: historical memory and the politics of museums in postsocialist China. Honolulu: University of Hawai’i Press, 2014.

 

MACFARQUHAR, Roderick. “Deng Xiaoping 's Reform Program in the Perspective of Chinese History” in Bullet of American Academy of Arts and Sciences,  v. 40, n. 6, Mar, 1987, p. 20-38.

 

MCMAHON, Keith. “Women Rulers in Imperial China” in Nan Nü, v. 15, n. 2, 2013, p. 179-218.

 

SONG, Xianlin. “Re-gendering Chinese History: Zhao Mei's Emperor Wu Zetian” in East Asia, v. 27, 2010, p. 361-379.

 

WOO, X. L. Empress Wu the Great. Nova York: Algora Publishing, 2008.

 

YUTANG, Lin. Lady Wu: A novel. Nova York: G.P. Putnam's Sons, 1965.

14 comentários:

  1. Olá!

    Texto bem interessante, ainda mais sobre um tema pouco conhecido na história ocidental.

    Vocês chegaram a pesquisar sobre a reabertura da Rota da Seda, promovida pela Imperatriz Wu?

    Grato pela atenção.

    Saudações!

    Willian Spengler

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    1. Elisa Alves Silva Ruiz e Maria Eduarda Siqueira Leite6 de dezembro de 2024 às 11:29

      Oi, Willian! Obrigada pela pergunta!
      Descobrimos sobre a reabertura enquanto pesquisávamos sobre as políticas inovadoras que Wu fez, mas decidimos não nos prolongar em cima disso para conseguir desenvolver melhor o foco do texto, que é a análise da memória.

      Elisa Alves Silva Ruiz e Maria Eduarda Siqueira Leite

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  2. Como o texto explora a dualidade entre as representações de Wǔ Zétiān como uma governante habilidosa e como uma figura sexualizada?
    Quais são os principais motivos apontados para o apagamento histórico da imperatriz após sua morte?
    O que o Festival das Filhas de Guǎngyuán revela sobre as mudanças na memória e na valorização de Wǔ Zétiān na China contemporânea?
    De que forma o uso de tradições culturais, como a dança e os barcos, no Festival das Filhas reforça a ligação entre o passado e o presente?
    Por que a narrativa predominante sobre Wǔ Zétiān enfatiza sua suposta crueldade e ambição, enquanto governantes homens com ações semelhantes são frequentemente exaltados?


    LUZIA MARIA PEREIRA ROCHA

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Olá, parabéns pela iniciativa. É sempre interessante ler textos que retratam a vida de mulheres que ultrapassaram o seu tempo. Vocês saberiam dizer se a imperatriz Wu, deixou algum manuscrito? ou uma autobiografia? ou todos os fatos que sabemos foram narrados por homens, sobretudo os poderosos que, talvez, tinham interesse em diminuí-la?

    RENATA ARY

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    1. Elisa Alves Silva Ruiz e Maria Eduarda Siqueira Leite5 de dezembro de 2024 às 20:42

      Oi, Renata! Obrigada pela pergunta!
      Embora ela tenha encomendado uma série de obras políticas, provavelmente para fortalecer uma ideologia que a mantivesse no poder, apenas duas destas sobreviveram.
      Contudo, as informações que temos são de que, em 675, Wu Zetian entregou a Gaozong uma série de propostas de reformas políticas que foram efetuadas em sua maioria, mas os textos destas foram perdidos, assim como os decretos por meio dos quais o imperador as colocava em prática. Além disso, em 655, ela escreveu uma obra contendo regras de conduta para mulheres inseridas no contexto palacial, intitulada "Nei xun".
      Entre as obras que sobreviveram, há uma que se chama "Chen gui", que buscava ser um compilado sobre os princípios relacionados ao governo e à autoridade. O texto reforçava principalmente a importância da lealdade dos funcionários do governo ao soberano, o que nos leva a pensar que sua produção, que se especula ter sido realizada próxima ao ano de 685, foi pensada para ser uma ferramenta ideológica e política. Corroborando essa visão, em 693 "Chen gui" foi instituída como leitura obrigatória para os exames imperiais de candidatos a burocratas, medida que foi revertida assim que a imperatriz deixou o trono.
      Wu Zetian também escrevia poesias que tratavam sobre política e a natureza, mas também produzia poemas de amor dedicados a Gaozong durante seu tempo no monastério.
      Infelizmente, tivemos acesso a muito pouco do que sobrou desses escritos por conta da barreira da linguagem: o que conseguimos ler está presente na página 50 do livro de Hinsch (2020), "Women in Tang China" e no artigo "Chen gui and other works attributed to Empress Wu Zetian" de Twitchett (2003), e isso só foi possível porque os autores fizeram a tradução para o inglês.

      Elisa Alves Silva Ruiz e Maria Eduarda Siqueira Leite

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  5. Que interessante! Vocês mencionam que Wu Zetian utilizou a religião para legitimar-se no poder. Poderiam dar um exemplo de como isso foi feito?

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  6. Que interessante! Vocês mencionam que Wu Zetian utilizou a religião para legitimar-se no poder. Poderiam dar um exemplo de como isso foi feito?
    Larissa Gabrieli Fonseca

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    1. Elisa Alves Silva Ruiz e Maria Eduarda Siqueira Leite5 de dezembro de 2024 às 19:48

      Oi, Larissa!
      Wu Zetian se utilizou de símbolos de diversas vertentes religiosas para fins de legitimação, como o budismo e o taoísmo. Como exemplos disso, podemos citar o seu apoio ao Budismo como religião estatal e sua identificação com divindades pertencentes a este, como o Chakravartin, que seria um soberano universal, e sua autoproclamação como a encarnação de Maitreya, o Buda do Futuro, em 694.

      Elisa Alves Silva Ruiz e Maria Eduarda Siqueira Leite

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  7. Anna Luiza Sousa Tararam5 de dezembro de 2024 às 20:30

    Olá!! Gostaria de parabenizá-las pelo texto. Vocês sabem se existe um esforço por parte do movimento feminista chinês em reinterpretar Wu Zetian como símbolo de poder feminino em um contexto ainda dominado por narrativas patriarcais?

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    1. Elisa Alves Silva Ruiz e Maria Eduarda Siqueira Leite6 de dezembro de 2024 às 19:17

      Boa tarde, Anna Luiza. Muito obrigada pela pergunta!
      Pesquisando se o movimento feminista recuperou a imagem da Wu Zetian não conseguimos achar nada sobre em inglês. Contudo, é possível que haja esse movimento na China, o que não conseguimos acessar devido a barreira da linguagem.

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  8. Parabéns pelo texto! Vocês poderiam dizer quais outras memórias positivas sobre o período imperial foram evocadas na mesma época do festival?

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    1. Elisa Alves Silva Ruiz e Maria Eduarda Siqueira Leite6 de dezembro de 2024 às 19:16

      Boa tarde, Alice. Muito obrigada pela pergunta!
      No período de criação do festival houveram diversas políticas públicas para reacender o interesse no império, uma delas foi promover lugares históricos como "sítios culturais protegidos pelo Estado" um deles foi o mausoléu do mitológico Imperador Amarelo.
      Na nossa pesquisa vimos também o aumento de pesquisas envolvendo o Confucionismo.

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