MULHERES DE CONFORTO: UMA ANÁLISE ATRAVÉS DO CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO HER STORY DIRIGIDA POR KIM JUN-KI (2011)
Quem foram as “mulheres de conforto”?
O termo “mulheres de conforto” é usado para se referir, de
maneira eufêmica, às mulheres que foram submetidas à escravidão sexual pelo
Exército Imperial Japonês durante a Segunda Guerra Mundial. Estima-se que, em
média, 80 mil a 200 mil mulheres foram levadas pelo sistema a servir como
escravas sexuais, entretanto, esse número não é exato, uma vez que a maioria
dos documentos relacionados a essas mulheres foram queimados pelos soldados ao
final da guerra (Min, 2003).
Mulheres de diversos países foram mobilizadas pelo sistema:
chinesas, japonesas, filipinas e tailandesas. Entretanto, a maior parte (cerca
de 80% a 90%) era coreana — tendo em vista que, após longas disputas, o Japão
conseguiu ocupar a Coréia em 1910, fazendo-a sua colônia (Soh, 1996). Essas
mulheres eram forçadas a entrar no sistema de diversas formas: sequestradas,
recrutadas à força ou enganadas por meio de falsas promessas de trabalho. Uma
vez capturadas, eram mantidas em bordéis militares, nomeados de "casas de
conforto", onde eram obrigadas a fornecer serviços sexuais aos soldados
japoneses (Sikka, 2009).
Moldura do
curta
Her story é um curta-metragem de animação
cujo título original é So-nyeo-i-ya-gi
ou 소녀이야기 e pode ser
traduzido para o português como “a história dela”. Dirigido e produzido, em
2011, pelo diretor sul-coreano Kim Jun-Ki, o curta foi apoiado pelo SBA (Seoul Animation Center) — um museu
de animação especializado em desenho animado, localizado em Seul, capital da
Coréia do Sul — pela ChungKang College of
Cultural Industries — uma faculdade privada com foco nas indústrias
culturais, localizada na cidade de Icheon, província de Gyeonggi, Coreia do Sul
— e pela Korean Council for the women
drafted for military sexual slavery by Japan — uma organização
não-governamental coreana que defende os direitos das “mulheres de conforto” e
apoia a luta por justiça, pressionando o governo japonês no que tange ao
reconhecimento do caso das “mulheres de conforto” como um crime de guerra e a
um pedido de desculpas oficial do governo.
Figura
8: Pôster do curta-metragem de animação Her
Story.
Fonte: imdb.com.
Em 2012, a
animação recebeu o maior prêmio no 서울국제노인영화제 Seoul
International Senior Film Festival (5º Festival Internacional de
Cinema Sênior de Seul). O curta-metragem possui dez minutos e 55 segundos de
duração e é narrado pela voz da protagonista, Chung Seo-Woon.
O
curta-metragem foi traduzido para a língua inglesa pela organização “Justice for Comfort Women” —
administrado por quatro alunos que lutam para que a história das “mulheres de
conforto” se torne mais conhecida — e traduzido para a língua portuguesa pelo
“Coletivo Perseguidas” — um grupo feminista brasileiro, centrado em vozes de
mulheres não-brancas.
A
protagonista do curta
Chung
Seo-Woon (1924-2004) nasceu em uma família abastada em Hadong, sudoeste da
Coréia, no período em que seu país estava sob domínio japonês. O seu pai, por
ser contrário à colonização japonesa, desobedecia algumas ordens impostas pelo
governo do Japão às suas colônias — como, por exemplo, utilizar um nome japonês
em vez do nome coreano — em uma determinada ocasião ele foi denunciado por
enterrar utensílios que as autoridades japonesas queriam confiscar e devido a
isso foi levado à prisão (Viddsee, 2017; The Research Team of the War &
Women’s Human Rights Center; The Korean Council for the Women Drafted for
Military Sexual Slavery by Japan, 2020).
Pretendendo
tirar o seu pai da cadeia, Seo-Woon acreditou no que o chefe de sua aldeia
disse: que a única maneira de libertar o seu pai era que ela fosse trabalhar em
uma fábrica de tecidos no Japão, por esse motivo ela concordou em ir. Chegando
a Pusan (atual Busan, Coréia do Sul) ela e outras meninas foram mantidas em um
armazém por 15 dias — onde permaneceram isoladas e obrigadas a seguir ordens
contra sua vontade: Chung relatou que durante esse período seu cabelo foi
cortado sem sua permissão. Depois de dias presas no armazém, Seo-Woon conta que
ela e as outras jovens foram levadas em um navio de Pusan até Jacarta, na
Indonésia. Lá as meninas foram esterilizadas e enviadas para diversos lugares
no Pacífico Sul (The Research Team of the War & Women’s Human Rights
Center; The Korean Council for the Women Drafted for Military Sexual Slavery by
Japan, 2020).
Figura 9:
Mapa apresentando a rota feita por Chung Seo-Woon.
Fonte: The
Research Team of the War & Women’s Human Rights Center; The Korean Council
for the Women Drafted for Military Sexual Slavery by Japan, 2020.
Em seu posto
de conforto, Seo-Woon foi obrigada a utilizar um nome japonês, Kukuko (菊子), proibida de falar
em coreano e obrigada a atender, em média, 50 soldados por dia — número que
dobrava nos finais de semana. Em seu relato, Seo-Woon conta um pouco da sua
experiência dentro das estações de conforto: ao tentar resistir, no primeiro
dia, foi espancada e esfaqueada, o que deixou diversas cicatrizes em todo o
corpo. (The Research Team of the War & Women’s Human Rights Center; The
Korean Council for the Women Drafted for Military Sexual Slavery by Japan,
2020).
Ainda em seu
testemunho, ela conta que havia quatorze mulheres em sua estação, sendo ela a
mais nova. Das quatorze meninas, duas foram espancadas até a morte. Em sua
estação, alega que os quartos eram pequenos, onde havia apenas “uma cama e nada
mais”. Além disso, também relata que nenhuma das mulheres tinha permissão para
sair da estação e que não havia como fugir do local, principalmente por ser um
país diferente e distante da Coréia. (The Research Team of the War &
Women’s Human Rights Center; The Korean Council for the Women Drafted for
Military Sexual Slavery by Japan, 2020).
Em relação
ao fim da guerra, conta que as “mulheres de conforto" da sua estação não
foram notificadas de que o Japão havia perdido a guerra e quando ela foi
liberta, voltou para casa após um ano. Órfã, se livrou do vício em ópio e mais
tarde, casou-se com o viúvo e criou dois enterrados, uma vez que não pôde ter
filhos devido às consequências de ter sido uma vítima do sistema de conforto.
Em 1995, representou as sobreviventes na Quarta Conferência Mundial Sobre as
“Mulheres de Conforto” que aconteceu em Pequim, China. Por anos, lutou a favor do
reconhecimento do caso das “mulheres de conforto” e faleceu em 2004, aos 81
anos, sem ouvir um pedido de desculpas oficial do Japão. (The Research Team of
the War & Women’s Human Rights Center; The Korean Council for the Women
Drafted for Military Sexual Slavery by Japan, 2020).
Segundo
Seo-Woon, a coisa mais difícil foi “suportar os estupros contínuos” — ela
inclusive relata que só vestia uma peça de roupa (uma vez que, devido a
quantidade de soldados para serem atendidos “não havia tempo para usar calcinha”)
— e que o que a manteve viva foi a crença de que deveria sobreviver para voltar
para o seu pai, já que ela era filha única. Chung Seo-Woon tinha dezoito anos
de idade, e foi apenas uma das mais de 200 mil mulheres que foram obrigadas a
servir como “mulher de conforto” pelo Exército Japonês. (The Research Team of
the War & Women’s Human Rights Center; The Korean Council for the Women
Drafted for Military Sexual Slavery by Japan, 2020).
Figura 10:
Chung Seo-Woon, a protagonista do curta-metragem Her Story.
Fonte:
womenandwar.net
A história
contada: análise do conteúdo
A animação
começa com Chung Seo-Woon já na terceira idade comentando sobre como ela
possuía uma vida confortável vivendo com seus familiares. Entretanto, a
protagonista explica que seu pai, assim como muitos coreanos, não aceitava de
forma alguma a situação em que a Coréia estava passando mediante a colonização
e controle japonês. Por conta dessa situação, o pai de Seo-Woon se recusa a
entregar os materiais pedidos pela polícia japonesa — “na última etapa da
colonização, entre 1937 e 1945, o governo japonês utilizou-se da Coréia
principalmente como fornecedora de alimentos, minerais e materiais de guerra.”
(Okamoto, 2013, p. 95) — e, junto com outros, enterra todos os utensílios no
campo de arroz, durante a noite (Viddsee, 2017).
Após alguém
deletar à polícia o que estava acontecendo, o pai da protagonista foi enviado para a prisão e, poucos dias depois,
o responsável pela administração da cidade foi a casa da família Chung e a
convenceu de que ela deveria trabalhar em uma fábrica japonesa por alguns anos,
explicando que em troca disso, o seu pai seria liberado da prisão (Viddsee,
2017). Assim, Chung Seo-woon foi recrutada para o sistema de conforto através
de uma falsa promessa de trabalho pelo chefe de sua cidade. De acordo com
Howard (1995, p. 19), “O método mais utilizado era tentar as mulheres com
falsas promessas de emprego no Japão. Os civis foram os principais responsáveis
aqui, mas também registámos casos que
envolveram a cumplicidade de pessoas com autoridade, tais como chefes de aldeia,
oficiais comunitários, soldados e funcionários civis”.
Ainda sem
saber que seu destino não era uma fábrica japonesa, Seo-Woon foi levada, junto
com outras treze garotas, para Semarang, na Indonésia. Ao desembarcar, ela
percebeu que não estava no Japão, “mas em outro país mais distante”. Logo na
primeira noite, ela conta que um oficial bastante bêbado entrou em seu quarto e
a abusou, em suas palavras declara: “tão assustada que eu estava tremendo de medo
[...] foi assim que tudo começou” (Viddsee, 2017).
Devido a sua
resistência — chutando e empurrando os soldados constantemente — Seo-Woon conta
que os homens da estação de conforto injetaram ópio em seu corpo para
“acalmá-la” e devido ao uso constante, ela se tornou viciada na droga, a
utilizando para aguentar o sofrimento pelo qual passava (Viddsee, 2017). Chung
não foi a única “mulher de conforto” a recorrer ao ópio para aliviar a
angústia, em seu trabalho, Hicks (1997), traz a história de Kaneda Kimiko — a
primeira mulher a falar sobre seu passado como “mulher de conforto” — que
também utilizou o ópio durante seu período dentro do sistema.
Figura 11:
Trechos do cura que mostram soldados injetando ópio em Chung Seo-Woon
Fonte:
Viddsee.com
Ao continuar
a narrar sua história, a protagonista explica sobre a quantidade de soldados
que as meninas-mulheres tinham que atender: “Não consigo nem contar quantos
soldados entravam, principalmente nos finais de semana, fazendo fila, ainda
uniformizados” (Viddsee, 2017). O número de soldados que as “mulheres de
conforto” tinham que atender diariamente variava de estação para estação e
também de dia para dia — os diversos testemunhos de sobreviventes relatam que o
número de soldados aumentava durante os finais de semana, chegando a duplicar o
número (Hicks, 1997). De acordo com Ariel (2022, p. 91), as “mulheres de
conforto” “eram obrigadas a manter relações sexuais com soldados japoneses,
sendo em média de 10 a 30 vezes por dia, mas em certos casos podendo chegar a
até 60”.
Figura 12:
Trecho do curta que exibe uma fila de soldados ao lado de fora da casa de
conforto.
Fonte:
Viddsee.com
Chung
Seo-Woon também relata ao longo do curta sobre os maus tratos praticados pelos
soldados: em sua estação de conforto duas das treze meninas morreram e “foram
enterradas como cães”. Esse episódio demonstra a falta de humanidade que os
soldados tinham com as mulheres, tratando-as de forma degradante (Viddsee,
2017).
Infelizmente,
muitas mulheres não conseguiram resistir as torturas diárias e acabaram
tentando ou cometendo suicídio. Em seu trabalho Hicks cita, entre outros
exemplos, uma estação de conforto que teve que aumentar a rigidez de sua guarda
após casos de suicídios (Hicks, 1997). Seo-Woon foi uma delas: o curta de animação
apresenta o episódio em que Chung ingeriu, em uma só noite, 40 pílulas contra a
malária com o intuito de cometer suicídio. Após tomar os medicamentos em grande
quantidade, a protagonista passa mal, sangrando pelo nariz e pelos ouvidos, e
acredita que conseguiu obter êxito na tentativa, porém, os soldados e
administradores da estação encontram Chung e a resgatam. Ela passou três dias
desacordada (Viddsee, 2017).
Figura 13:
Trechos do curta que demonstram a tentativa de suicídio por overdose.
Fonte:
Viddsee.com
Ao longo do
curta-metragem de animação, podemos analisar as meninas-mulheres da estação de
Chung Seo-Woon, sendo levadas a um hospital fora da estação — como
anteriormente mencionado no trabalho, as “mulheres de conforto” passavam por check-ups
médicos, para prevenir gestações e infecções sexualmente transmissíveis —
durante a saída do carro com as mulheres, é possível observar a organização da
estação, com cercas e soldados em vigia cercando o lugar — o que nos
possibilita compreender o quão difícil, ou impossível, se dava qualquer
tentativa de fuga das “mulheres de conforto” (Sikka, 2009; Viddsee, 2017).
Já no final
do curta, mostrando o período em que se estava próximo ao final da guerra,
Chung Seo-Woon conta que na sua estação as mulheres não foram informadas sobre
as derrotas do Eixo e a rendição final do Japão. Assim, a animação apresenta as
mulheres vendo os soldados incinerando documentos e outras provas e após isso,
Chung Seo-Woon relata que os soldados levaram três ou quatro meninas para o
abrigo e as mataram (Viddsee, 2017).
Segundo
Sarah Soh (2008, p 177), “muitas mulheres de conforto coreanas foram
simplesmente abandonadas e foi relatado que, em alguns casos extremos, o
exército japonês em retirada matou as mulheres levando-as para trincheiras ou
cavernas onde as bombardearam, queimaram ou atiraram nelas, criando valas
comuns no local.” (tradução nossa).
Figura 14:
Trechos do curta que mostram o abrigo onde os soldados levaram algumas das
“mulheres de conforto” para serem mortas a tiros.
Fonte:
Viddsee.com
A
protagonista ainda comenta que, se não tivesse sido por um soldado coreano
convocado pelo serviço militar japonês que servia na sua estação — que escreveu
uma carta pedindo ajuda às forças aliadas através de um indonésio local que
buscava as roupas dos oficiais para lavar — todas as mulheres teriam sido
mortas naquele abrigo. Graças a esse soldado, as forças aliadas encontraram a
estação de conforto e as meninas e mulheres foram libertas (Viddsee, 2017).
Nos últimos
momentos do curta, vemos a protagonista conseguindo voltar para casa e para sua
família apenas para descobrir que todos tinham falecido. Sozinha em uma casa
abandonada, Chung Seo-Woon teve que lidar por conta própria com os traumas e
lutar contra o vício do ópio. Finalizando sua história, a protagonista explica
de onde tirou forças para enfrentar todas essas situações sem ninguém para
apoiá-la: “Continuei dizendo a mim mesmo que só precisava permanecer vivo, eles
podem ter matado meu corpo, mas não meu espírito. Foi assim que sobrevivi.”
(Viddsee, 2017).
Her Story apresenta uma excelente combinação
entre o sonoro e o visual, trazendo a voz da protagonista para narrar sua
história enquanto o curta demonstra os fatos por meio de uma animação.
Entretanto, o curta vai para além do relato de Chung Seo-Woon e, através do
visual, traz mais fatos relacionados ao caso do sistema de conforto. Mostrando,
por exemplo, (1) a idade das meninas — a maioria das “mulheres de conforto”
estava na faixa dos 14 aos 18 anos de idade, algumas até mesmo menores que 14
anos (Okamoto, 2013); (2) as emoções sentidas pelos personagens nas diversas
situações — como o constante medo na face das meninas-mulheres; (3) as péssimas
condições das casas onde as mulheres ficavam, com quartos pequenos que possuíam
apenas uma cama — “as jovens ficavam confinadas em quartos minúsculos, de cerca
de 1,85 m” (Ariel, 2022, p. 89); (4) os designs das estações-prisões onde essas
jovens eram obrigadas a permanecer. E, além disso, (5) a dor da protagonista
mesmo após a libertação, apresentando o cansaço, não só na voz, mas na
expressão da halmoni (termo utilizado
para se referir às “mulheres de conforto” na Coreia do Sul) ao continuar
falando sobre o trauma que a tirou parte da vida, mas também mostrando a
perseverança em continuar lutando pelos seus direitos, e de todas as
sobreviventes, mesmo após anos.
Referências
Camilly
Evelyn Oliveira Maciel é Licenciada em História pela Universidade Federal do
Maranhão (UFMA).
Crushed Her Body But Not Her Soul //
Viddsee.com. 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eXu_0in6_lM.Acesso em
13/09/2022.
HER STORY.
Imdb.com. Disponível em: https://m.imdb.com/title/tt2087946/. Acesso em:
12/07/2024.
HICKS, George.
The comfort women: Japan’s brutal regime
of enforced prostitution in the Second World War. WW Norton & Company,
1997.
HOWARD,
Keith. True stories of the Korean
comfort women. 1995.
MIN, Pyong Gap. Korean “Comfort
Women”the intersection of colonial power, gender, and class”. Gender & Society, v. 17, n. 6, p.
938-957, 2003.
OKAMOTO,
Julia Yuri. As Mulheres de Conforto na Guerra do Pacífico. Revista de Iniciação Científica de Relações Internacionais, v. 1,
n. 1, 2013.
PARRILHA, Ariel da Silva. As “mulheres de conforto” coreanas e a
violência sexual estratégica: uma análise. Universidade Estadual Paulista
(Unesp), 2022. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/236504>.
RESEARCH
TEAM OF THE WAR & WOMEN’S HUMAN RIGHTS CENTER; THE KOREAN COUNCIL FOR THE
WOMEN DRAFTED FOR MILITARY SEXUAL SLAVERY BY JAPAN. Stories that Make History: The Experience and Memories of the Japanese
Military› Comfort Girls-Women‹. De Gruyter, 2020.
SIKKA,
Nisha. The official marginalization of comfort women. Honours Thesis. Communications 498. Simon Fraser University.
December 11, 2009. (33 fls.) [Disponível em: http://summit.sfu.ca/item/15225].
SOH, Chunghee Sarah. “The Korean
‘comfort women’: Movement for redress”. Asian
Survey, v. 36, n. 12, dec. 1996, pp. 1226-1240.
SOH, Chunghee Sarah. The comfort women: sexual violence ad
postcolonial memory in Korea and Japan. Chicago: The University of Chicago
Press, 2008.
Camilly, o seu trabalho é importante para que mais pessoas conheçam as histórias das mulheres forçadas a escravidão sexual pelo Japão. Só fiquei com uma dúvida, você poderia me informar em qual fonte tem a informação que o termo halmoni significa “termo utilizado para se referir às “mulheres de conforto” na Coreia do Sul”? Eu não conhecia esse termo dessa maneira. Segundo o Naver dictionary 할머니 [halmoni] significa:
ResponderExcluir“1.
(조모) grandmother, (informal) grandma, (informal) granny
2.
(노인) old woman[lady], Ma'am”
[1. (조모 - avó em Hanja) avó, (informal) avó, (informal) vovó 2. (노인 - envelhecimento, idoso, velho) velha[senhora], senhora]
Por isso, fiquei muito confusa com essa associação. Até onde eu entendo, essas senhoras são chamadas dessa maneira como uma maneira carinhosa e educada pela população sem essa correlação direta com as mulheres submetidas a escravidão sexual. Por isso, se você puder me dizer sua fonte para que eu estude, agradeceria demais!
[Só para corrigir o meu nome... Tentei editar o comentário acima e não consegui...]
ExcluirOlá, Maria Clara! Obrigada por suas considerações.
ExcluirO termo halmoni significa avó e é utilizado para se referir de maneira educada à senhoras coreanas mais velhas, porém ele também passou a ser utilizado para se referir, de maneira carinhosa, às sobreviventes do sistema de conforto, que na atualidade também são mulheres já idosas.
Além de ser um termo que mostra respeito, muitos estudiosos optaram por utilizar “halmoni” para se referir às sobreviventes no lugar de “mulheres de conforto” ou “escravas sexuais”, pois estes termos remetem ao passado doloroso dessas mulheres.
Desse modo, os recentes estudos optaram por adicionar essa nomenclatura, como exemplo de fonte cito o livro “Stories That Make History — The Experience and Memories of the Japanese Military Comfort Girls-Women”, onde eles explicam o porquê da utilização do termo halmoni: “In general, halmoni is the common term used to refer to the Japanese military comfort girls-women since halmoni is a friendly term and has the advantage of making the comfort girls-women more approachable, as they are otherwise associated with a very somber image.” (The Research Team of the War & Women’s Human Rights Center, The Korean Council for the Women Drafted for Military Sexual Slavery by Japan, 2020, p. 8)
[Estou apresentando outro trabalho nesse simpósio, intitulado “uma história, muitas histórias: a importância da história oral no ensino do caso das “mulheres de conforto” e a utilização do curta her story como suporte pedagógico”, nele falo um pouco mais sobre esse livro aqui citado, caso você se interesse :)]
Novamente, obrigada pelas considerações!
Camilly Evelyn Oliveira Maciel.
Obrigada pela resposta, Camilly!
ExcluirVou dar uma olhada nesse livro que você comentou e vou tentar ler o seu outro texto sim. Já tinha separado ele para ler. ^^
Acho que a maneira como está no texto me levou a uma interpretação diferente realmente. Eu conhecia o uso do termo, mas não como sinônimo.
Mais uma vez, muito obrigada pela resposta!
Maria Clara Pessoa de Moraes.
Olá Camilly!
ResponderExcluirParabéns pela analise, interesse e necessária. Este tema é pesado mas, também, fundamental de ser apresentado e discutido em aula. Quando fui ministrar uma aula sobre essa temática senti receio aborda-la em sala, gostaria de saber como você aborda ou abordaria esse assunto em sala de aula. Afinal, não consigo falar de participação japonesa na 2° guerra mundial sem falar sobre as mulheres de conforto e nem vejo motivos para não falar.
Olá, Heloísa! Obrigada!
ExcluirEsse tema realmente é pesado, porém necessário de ser apresentado em sala de aula, principalmente devido à crescente onda de militarismo e fascínio por conflitos no Brasil. O caso das “mulheres de conforto” pode ser utilizado para mostrar os horrores e as diversas formas de violências que acontecem em períodos de instabilidade e em guerras.
Eu apresentei o tema em sala utilizando o curta-metragem her story como apoio pedagógico, já que esse curta de animação traz a história na voz de uma das vítimas, fazendo com que os alunos se sintam mais próximos e tocados pela história. Antes de passar o curta, questionei se eles já tinham ouvido falar sobre o caso delas e logo depois dei uma breve explicação, além de explicar o porquê é necessário falar sobre esse tema.
Estou apresentando outro trabalho nesse simpósio, onde falo um pouco mais sobre como utilizei o curta como apoio pedagógico, esse texto também fala um pouco sobre a importância da história oral no ensino sobre o caso e traz um plano de aula desenvolvido para falar sobre esse tema! O trabalho está intitulado “uma história, muitas histórias: a importância da história oral no ensino do caso das “mulheres de conforto” e a utilização do curta her story como suporte pedagógico”, caso você tenha interesse em ler mais sobre :)
(obs: não se esqueça de assinar seu nome para que o pessoal do evento contabilize como participação! :)
—
Camilly Evelyn Oliveira Maciel.
Obrigada, Camilly!
ExcluirVou ler seu outro texto :)
Maria Heloisa Andrade Pinheiro
Olá Camilly,
ResponderExcluirParabéns pela análise! Já havia visto algumas abordagens a respeito das mulheres de conforto coreanas na mídia antes, sendo uma das mais recentes no episódio 13 do drama “Tomorrow” de 2023, mas nunca havia ouvido falar dessa animação. Fiquei bastante instigada pela sua análise a procurar o curta. A respeito da abordagem midiática das mulheres de conforto, há outras que lhe chamem atenção? Como você acha que seria adequado o uso dela para o fortalecimento da preservação dessa memória que tantas vezes há uma tentativa de apagamento?
Olá, Karen! Obrigada! Além do ep do K-drama Tomorrow e do curta Her Story, conheço um outro curta chamado “The never ending story" (link: https://www.youtube.com/watch?v=SYxhBzXp8v8&t=4s). Infelizmente esse curta possui legendas apenas em inglês!
ExcluirEm relação à segunda pergunta: meu projeto de TCC foi voltado a utilização do curta her story como apoio pedagógico em sala de aula. Como fiz licenciatura em história, meu foco foi o ensinamento do caso delas para os alunos. Antes de passar o curta, expliquei um pouco sobre o caso das vítimas do sistema de conforto e a importância do estudo de casos como os dela, que pouco ouvimos falar e sugeri como textos complementares a HQ Grama e o romance Herdeiras do Mar, além do ep do dorama tomorrow!
Att Camilly Evelyn Oliveira Maciel
Olá, Camilly! Gostaria de parabenizar pelo texto. Descobri sobre a existência das mulheres de conforto este ano, infelizmente. Sendo assim, gostaria da sua opinião sobre a espera de um pedido de desculpas do Japão, que ao meu ver, é muito pouco perto do que estas mulheres passaram. Digo isso pois mesmo se um pedido vier, não seria muito sincero dadas as circunstâncias em que esse assunto é tratado no Japão. Existiria talvez uma maneira melhor de demonstrar o arrependimento e pedir o perdão à essas vítimas?
ResponderExcluirOlá, Anna! Obrigada!
ExcluirAnna, realmente, apenas um pedido de desculpas não é o suficiente!
Por isso, para além do pedido de desculpas, as sobreviventes, familiares e os movimentos que apoiam a causa das “mulheres de conforto” também pedem um reconhecimento oficial dos crimes cometidos, bem como a divulgação completa dos fatos e indenizações justas como forma de reparação aos danos. Além disso, pedem para que o governo não minimize a história delas e que as escolas ensinem sobre o sistema de conforto e seus males.
Acredito que somente ao seguir as exigências das vítimas, eles estarão mostrando que se importam de verdade com essa situação.
Camilly Evelyn Oliveira Maciel