Camilly Evelyn Oliveira Maciel

 

MULHERES DE CONFORTO: UMA ANÁLISE ATRAVÉS DO CURTA-METRAGEM DE ANIMAÇÃO HER STORY DIRIGIDA POR KIM JUN-KI (2011)


Quem foram as “mulheres de conforto”?

O termo “mulheres de conforto” é usado para se referir, de maneira eufêmica, às mulheres que foram submetidas à escravidão sexual pelo Exército Imperial Japonês durante a Segunda Guerra Mundial. Estima-se que, em média, 80 mil a 200 mil mulheres foram levadas pelo sistema a servir como escravas sexuais, entretanto, esse número não é exato, uma vez que a maioria dos documentos relacionados a essas mulheres foram queimados pelos soldados ao final da guerra (Min, 2003).


Mulheres de diversos países foram mobilizadas pelo sistema: chinesas, japonesas, filipinas e tailandesas. Entretanto, a maior parte (cerca de 80% a 90%) era coreana — tendo em vista que, após longas disputas, o Japão conseguiu ocupar a Coréia em 1910, fazendo-a sua colônia (Soh, 1996). Essas mulheres eram forçadas a entrar no sistema de diversas formas: sequestradas, recrutadas à força ou enganadas por meio de falsas promessas de trabalho. Uma vez capturadas, eram mantidas em bordéis militares, nomeados de "casas de conforto", onde eram obrigadas a fornecer serviços sexuais aos soldados japoneses (Sikka, 2009).


Moldura do curta

Her story é um curta-metragem de animação cujo título original é So-nyeo-i-ya-gi ou 소녀이야기 e pode ser traduzido para o português como “a história dela”. Dirigido e produzido, em 2011, pelo diretor sul-coreano Kim Jun-Ki, o curta foi apoiado pelo SBA (Seoul Animation Center) — um museu de animação especializado em desenho animado, localizado em Seul, capital da Coréia do Sul — pela ChungKang College of Cultural Industries — uma faculdade privada com foco nas indústrias culturais, localizada na cidade de Icheon, província de Gyeonggi, Coreia do Sul — e pela Korean Council for the women drafted for military sexual slavery by Japan — uma organização não-governamental coreana que defende os direitos das “mulheres de conforto” e apoia a luta por justiça, pressionando o governo japonês no que tange ao reconhecimento do caso das “mulheres de conforto” como um crime de guerra e a um pedido de desculpas oficial do governo.

Figura 8: Pôster do curta-metragem de animação Her Story.

Fonte: imdb.com.

Em 2012, a animação recebeu o maior prêmio no 서울국제노인영화제 Seoul International Senior Film Festival (5º Festival Internacional de Cinema Sênior de Seul). O curta-metragem possui dez minutos e 55 segundos de duração e é narrado pela voz da protagonista, Chung Seo-Woon.

O curta-metragem foi traduzido para a língua inglesa pela organização “Justice for Comfort Women” — administrado por quatro alunos que lutam para que a história das “mulheres de conforto” se torne mais conhecida — e traduzido para a língua portuguesa pelo “Coletivo Perseguidas” — um grupo feminista brasileiro, centrado em vozes de mulheres não-brancas.

A protagonista do curta

Chung Seo-Woon (1924-2004) nasceu em uma família abastada em Hadong, sudoeste da Coréia, no período em que seu país estava sob domínio japonês. O seu pai, por ser contrário à colonização japonesa, desobedecia algumas ordens impostas pelo governo do Japão às suas colônias — como, por exemplo, utilizar um nome japonês em vez do nome coreano — em uma determinada ocasião ele foi denunciado por enterrar utensílios que as autoridades japonesas queriam confiscar e devido a isso foi levado à prisão (Viddsee, 2017; The Research Team of the War & Women’s Human Rights Center; The Korean Council for the Women Drafted for Military Sexual Slavery by Japan, 2020).

Pretendendo tirar o seu pai da cadeia, Seo-Woon acreditou no que o chefe de sua aldeia disse: que a única maneira de libertar o seu pai era que ela fosse trabalhar em uma fábrica de tecidos no Japão, por esse motivo ela concordou em ir. Chegando a Pusan (atual Busan, Coréia do Sul) ela e outras meninas foram mantidas em um armazém por 15 dias — onde permaneceram isoladas e obrigadas a seguir ordens contra sua vontade: Chung relatou que durante esse período seu cabelo foi cortado sem sua permissão. Depois de dias presas no armazém, Seo-Woon conta que ela e as outras jovens foram levadas em um navio de Pusan até Jacarta, na Indonésia. Lá as meninas foram esterilizadas e enviadas para diversos lugares no Pacífico Sul (The Research Team of the War & Women’s Human Rights Center; The Korean Council for the Women Drafted for Military Sexual Slavery by Japan, 2020).

Figura 9: Mapa apresentando a rota feita por Chung Seo-Woon.

Fonte: The Research Team of the War & Women’s Human Rights Center; The Korean Council for the Women Drafted for Military Sexual Slavery by Japan, 2020.

Em seu posto de conforto, Seo-Woon foi obrigada a utilizar um nome japonês, Kukuko (菊子), proibida de falar em coreano e obrigada a atender, em média, 50 soldados por dia — número que dobrava nos finais de semana. Em seu relato, Seo-Woon conta um pouco da sua experiência dentro das estações de conforto: ao tentar resistir, no primeiro dia, foi espancada e esfaqueada, o que deixou diversas cicatrizes em todo o corpo. (The Research Team of the War & Women’s Human Rights Center; The Korean Council for the Women Drafted for Military Sexual Slavery by Japan, 2020).

Ainda em seu testemunho, ela conta que havia quatorze mulheres em sua estação, sendo ela a mais nova. Das quatorze meninas, duas foram espancadas até a morte. Em sua estação, alega que os quartos eram pequenos, onde havia apenas “uma cama e nada mais”. Além disso, também relata que nenhuma das mulheres tinha permissão para sair da estação e que não havia como fugir do local, principalmente por ser um país diferente e distante da Coréia. (The Research Team of the War & Women’s Human Rights Center; The Korean Council for the Women Drafted for Military Sexual Slavery by Japan, 2020).

Em relação ao fim da guerra, conta que as “mulheres de conforto" da sua estação não foram notificadas de que o Japão havia perdido a guerra e quando ela foi liberta, voltou para casa após um ano. Órfã, se livrou do vício em ópio e mais tarde, casou-se com o viúvo e criou dois enterrados, uma vez que não pôde ter filhos devido às consequências de ter sido uma vítima do sistema de conforto. Em 1995, representou as sobreviventes na Quarta Conferência Mundial Sobre as “Mulheres de Conforto” que aconteceu em Pequim, China. Por anos, lutou a favor do reconhecimento do caso das “mulheres de conforto” e faleceu em 2004, aos 81 anos, sem ouvir um pedido de desculpas oficial do Japão. (The Research Team of the War & Women’s Human Rights Center; The Korean Council for the Women Drafted for Military Sexual Slavery by Japan, 2020).

Segundo Seo-Woon, a coisa mais difícil foi “suportar os estupros contínuos” — ela inclusive relata que só vestia uma peça de roupa (uma vez que, devido a quantidade de soldados para serem atendidos “não havia tempo para usar calcinha”) — e que o que a manteve viva foi a crença de que deveria sobreviver para voltar para o seu pai, já que ela era filha única. Chung Seo-Woon tinha dezoito anos de idade, e foi apenas uma das mais de 200 mil mulheres que foram obrigadas a servir como “mulher de conforto” pelo Exército Japonês. (The Research Team of the War & Women’s Human Rights Center; The Korean Council for the Women Drafted for Military Sexual Slavery by Japan, 2020).

Figura 10: Chung Seo-Woon, a protagonista do curta-metragem Her Story.

Fonte: womenandwar.net

A história contada: análise do conteúdo

A animação começa com Chung Seo-Woon já na terceira idade comentando sobre como ela possuía uma vida confortável vivendo com seus familiares. Entretanto, a protagonista explica que seu pai, assim como muitos coreanos, não aceitava de forma alguma a situação em que a Coréia estava passando mediante a colonização e controle japonês. Por conta dessa situação, o pai de Seo-Woon se recusa a entregar os materiais pedidos pela polícia japonesa — “na última etapa da colonização, entre 1937 e 1945, o governo japonês utilizou-se da Coréia principalmente como fornecedora de alimentos, minerais e materiais de guerra.” (Okamoto, 2013, p. 95) — e, junto com outros, enterra todos os utensílios no campo de arroz, durante a noite (Viddsee, 2017).

Após alguém deletar à polícia o que estava acontecendo, o pai da protagonista foi  enviado para a prisão e, poucos dias depois, o responsável pela administração da cidade foi a casa da família Chung e a convenceu de que ela deveria trabalhar em uma fábrica japonesa por alguns anos, explicando que em troca disso, o seu pai seria liberado da prisão (Viddsee, 2017). Assim, Chung Seo-woon foi recrutada para o sistema de conforto através de uma falsa promessa de trabalho pelo chefe de sua cidade. De acordo com Howard (1995, p. 19), “O método mais utilizado era tentar as mulheres com falsas promessas de emprego no Japão. Os civis foram os principais responsáveis aqui, mas também registámos casos que envolveram a cumplicidade de pessoas com autoridade, tais como chefes de aldeia, oficiais comunitários, soldados e funcionários civis”.

Ainda sem saber que seu destino não era uma fábrica japonesa, Seo-Woon foi levada, junto com outras treze garotas, para Semarang, na Indonésia. Ao desembarcar, ela percebeu que não estava no Japão, “mas em outro país mais distante”. Logo na primeira noite, ela conta que um oficial bastante bêbado entrou em seu quarto e a abusou, em suas palavras declara: “tão assustada que eu estava tremendo de medo [...] foi assim que tudo começou” (Viddsee, 2017).

Devido a sua resistência — chutando e empurrando os soldados constantemente — Seo-Woon conta que os homens da estação de conforto injetaram ópio em seu corpo para “acalmá-la” e devido ao uso constante, ela se tornou viciada na droga, a utilizando para aguentar o sofrimento pelo qual passava (Viddsee, 2017). Chung não foi a única “mulher de conforto” a recorrer ao ópio para aliviar a angústia, em seu trabalho, Hicks (1997), traz a história de Kaneda Kimiko — a primeira mulher a falar sobre seu passado como “mulher de conforto” — que também utilizou o ópio durante seu período dentro do sistema.

Figura 11: Trechos do cura que mostram soldados injetando ópio em Chung Seo-Woon

Fonte: Viddsee.com

Ao continuar a narrar sua história, a protagonista explica sobre a quantidade de soldados que as meninas-mulheres tinham que atender: “Não consigo nem contar quantos soldados entravam, principalmente nos finais de semana, fazendo fila, ainda uniformizados” (Viddsee, 2017). O número de soldados que as “mulheres de conforto” tinham que atender diariamente variava de estação para estação e também de dia para dia — os diversos testemunhos de sobreviventes relatam que o número de soldados aumentava durante os finais de semana, chegando a duplicar o número (Hicks, 1997). De acordo com Ariel (2022, p. 91), as “mulheres de conforto” “eram obrigadas a manter relações sexuais com soldados japoneses, sendo em média de 10 a 30 vezes por dia, mas em certos casos podendo chegar a até 60”.

Figura 12: Trecho do curta que exibe uma fila de soldados ao lado de fora da casa de conforto.

Fonte: Viddsee.com

Chung Seo-Woon também relata ao longo do curta sobre os maus tratos praticados pelos soldados: em sua estação de conforto duas das treze meninas morreram e “foram enterradas como cães”. Esse episódio demonstra a falta de humanidade que os soldados tinham com as mulheres, tratando-as de forma degradante (Viddsee, 2017).

Infelizmente, muitas mulheres não conseguiram resistir as torturas diárias e acabaram tentando ou cometendo suicídio. Em seu trabalho Hicks cita, entre outros exemplos, uma estação de conforto que teve que aumentar a rigidez de sua guarda após casos de suicídios (Hicks, 1997). Seo-Woon foi uma delas: o curta de animação apresenta o episódio em que Chung ingeriu, em uma só noite, 40 pílulas contra a malária com o intuito de cometer suicídio. Após tomar os medicamentos em grande quantidade, a protagonista passa mal, sangrando pelo nariz e pelos ouvidos, e acredita que conseguiu obter êxito na tentativa, porém, os soldados e administradores da estação encontram Chung e a resgatam. Ela passou três dias desacordada (Viddsee, 2017).

Figura 13: Trechos do curta que demonstram a tentativa de suicídio por overdose.

Fonte: Viddsee.com

Ao longo do curta-metragem de animação, podemos analisar as meninas-mulheres da estação de Chung Seo-Woon, sendo levadas a um hospital fora da estação — como anteriormente mencionado no trabalho, as “mulheres de conforto” passavam por check-ups médicos, para prevenir gestações e infecções sexualmente transmissíveis — durante a saída do carro com as mulheres, é possível observar a organização da estação, com cercas e soldados em vigia cercando o lugar — o que nos possibilita compreender o quão difícil, ou impossível, se dava qualquer tentativa de fuga das “mulheres de conforto” (Sikka, 2009; Viddsee, 2017).

Já no final do curta, mostrando o período em que se estava próximo ao final da guerra, Chung Seo-Woon conta que na sua estação as mulheres não foram informadas sobre as derrotas do Eixo e a rendição final do Japão. Assim, a animação apresenta as mulheres vendo os soldados incinerando documentos e outras provas e após isso, Chung Seo-Woon relata que os soldados levaram três ou quatro meninas para o abrigo e as mataram (Viddsee, 2017).

Segundo Sarah Soh (2008, p 177), “muitas mulheres de conforto coreanas foram simplesmente abandonadas e foi relatado que, em alguns casos extremos, o exército japonês em retirada matou as mulheres levando-as para trincheiras ou cavernas onde as bombardearam, queimaram ou atiraram nelas, criando valas comuns no local.” (tradução nossa).

Figura 14: Trechos do curta que mostram o abrigo onde os soldados levaram algumas das “mulheres de conforto” para serem mortas a tiros.

Fonte: Viddsee.com

A protagonista ainda comenta que, se não tivesse sido por um soldado coreano convocado pelo serviço militar japonês que servia na sua estação — que escreveu uma carta pedindo ajuda às forças aliadas através de um indonésio local que buscava as roupas dos oficiais para lavar — todas as mulheres teriam sido mortas naquele abrigo. Graças a esse soldado, as forças aliadas encontraram a estação de conforto e as meninas e mulheres foram libertas (Viddsee, 2017).

Nos últimos momentos do curta, vemos a protagonista conseguindo voltar para casa e para sua família apenas para descobrir que todos tinham falecido. Sozinha em uma casa abandonada, Chung Seo-Woon teve que lidar por conta própria com os traumas e lutar contra o vício do ópio. Finalizando sua história, a protagonista explica de onde tirou forças para enfrentar todas essas situações sem ninguém para apoiá-la: “Continuei dizendo a mim mesmo que só precisava permanecer vivo, eles podem ter matado meu corpo, mas não meu espírito. Foi assim que sobrevivi.” (Viddsee, 2017).

Her Story apresenta uma excelente combinação entre o sonoro e o visual, trazendo a voz da protagonista para narrar sua história enquanto o curta demonstra os fatos por meio de uma animação. Entretanto, o curta vai para além do relato de Chung Seo-Woon e, através do visual, traz mais fatos relacionados ao caso do sistema de conforto. Mostrando, por exemplo, (1) a idade das meninas — a maioria das “mulheres de conforto” estava na faixa dos 14 aos 18 anos de idade, algumas até mesmo menores que 14 anos (Okamoto, 2013); (2) as emoções sentidas pelos personagens nas diversas situações — como o constante medo na face das meninas-mulheres; (3) as péssimas condições das casas onde as mulheres ficavam, com quartos pequenos que possuíam apenas uma cama — “as jovens ficavam confinadas em quartos minúsculos, de cerca de 1,85 m” (Ariel, 2022, p. 89); (4) os designs das estações-prisões onde essas jovens eram obrigadas a permanecer. E, além disso, (5) a dor da protagonista mesmo após a libertação, apresentando o cansaço, não só na voz, mas na expressão da halmoni (termo utilizado para se referir às “mulheres de conforto” na Coreia do Sul) ao continuar falando sobre o trauma que a tirou parte da vida, mas também mostrando a perseverança em continuar lutando pelos seus direitos, e de todas as sobreviventes, mesmo após anos.

Referências

Camilly Evelyn Oliveira Maciel é Licenciada em História pela Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Crushed Her Body But Not Her Soul // Viddsee.com. 2017. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eXu_0in6_lM.Acesso em 13/09/2022.

HER STORY. Imdb.com. Disponível em: https://m.imdb.com/title/tt2087946/. Acesso em: 12/07/2024.

HICKS, George. The comfort women: Japan’s brutal regime of enforced prostitution in the Second World War. WW Norton & Company, 1997.  

HOWARD, Keith. True stories of the Korean comfort women. 1995.

MIN, Pyong Gap. Korean “Comfort Women”the intersection of colonial power, gender, and class”. Gender & Society, v. 17, n. 6, p. 938-957, 2003.

OKAMOTO, Julia Yuri. As Mulheres de Conforto na Guerra do Pacífico. Revista de Iniciação Científica de Relações Internacionais, v. 1, n. 1, 2013.

PARRILHA, Ariel da Silva. As “mulheres de conforto” coreanas e a violência sexual estratégica: uma análise. Universidade Estadual Paulista (Unesp), 2022. Disponível em: <http://hdl.handle.net/11449/236504>.

RESEARCH TEAM OF THE WAR & WOMEN’S HUMAN RIGHTS CENTER; THE KOREAN COUNCIL FOR THE WOMEN DRAFTED FOR MILITARY SEXUAL SLAVERY BY JAPAN. Stories that Make History: The Experience and Memories of the Japanese Military› Comfort Girls-Women‹. De Gruyter, 2020.

SIKKA, Nisha. The official marginalization of comfort women. Honours Thesis. Communications 498. Simon Fraser University. December 11, 2009. (33 fls.) [Disponível em: http://summit.sfu.ca/item/15225].

SOH, Chunghee Sarah. “The Korean ‘comfort women’: Movement for redress”. Asian Survey, v. 36, n. 12, dec. 1996, pp. 1226-1240.

SOH, Chunghee Sarah. The comfort women: sexual violence ad postcolonial memory in Korea and Japan. Chicago: The University of Chicago Press, 2008.

11 comentários:

  1. Camilly, o seu trabalho é importante para que mais pessoas conheçam as histórias das mulheres forçadas a escravidão sexual pelo Japão. Só fiquei com uma dúvida, você poderia me informar em qual fonte tem a informação que o termo halmoni significa “termo utilizado para se referir às “mulheres de conforto” na Coreia do Sul”? Eu não conhecia esse termo dessa maneira. Segundo o Naver dictionary 할머니 [halmoni] significa:

    “1.

    (조모) grandmother, (informal) grandma, (informal) granny
    2.

    (노인) old woman[lady], Ma'am”

    [1. (조모 - avó em Hanja) avó, (informal) avó, (informal) vovó 2. (노인 - envelhecimento, idoso, velho) velha[senhora], senhora]

    Por isso, fiquei muito confusa com essa associação. Até onde eu entendo, essas senhoras são chamadas dessa maneira como uma maneira carinhosa e educada pela população sem essa correlação direta com as mulheres submetidas a escravidão sexual. Por isso, se você puder me dizer sua fonte para que eu estude, agradeceria demais!

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    1. Maria Clara Pessoa de Moraes2 de dezembro de 2024 às 11:36

      [Só para corrigir o meu nome... Tentei editar o comentário acima e não consegui...]

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    2. CAMILLY EVELYN OLIVEIRA MACIEL2 de dezembro de 2024 às 18:23

      Olá, Maria Clara! Obrigada por suas considerações.

      O termo halmoni significa avó e é utilizado para se referir de maneira educada à senhoras coreanas mais velhas, porém ele também passou a ser utilizado para se referir, de maneira carinhosa, às sobreviventes do sistema de conforto, que na atualidade também são mulheres já idosas.

      Além de ser um termo que mostra respeito, muitos estudiosos optaram por utilizar “halmoni” para se referir às sobreviventes no lugar de “mulheres de conforto” ou “escravas sexuais”, pois estes termos remetem ao passado doloroso dessas mulheres.

      Desse modo, os recentes estudos optaram por adicionar essa nomenclatura, como exemplo de fonte cito o livro “Stories That Make History — The Experience and Memories of the Japanese Military Comfort Girls-Women”, onde eles explicam o porquê da utilização do termo halmoni: “In general, halmoni is the common term used to refer to the Japanese military comfort girls-women since halmoni is a friendly term and has the advantage of making the comfort girls-women more approachable, as they are otherwise associated with a very somber image.” (The Research Team of the War & Women’s Human Rights Center, The Korean Council for the Women Drafted for Military Sexual Slavery by Japan, 2020, p. 8)

      [Estou apresentando outro trabalho nesse simpósio, intitulado “uma história, muitas histórias: a importância da história oral no ensino do caso das “mulheres de conforto” e a utilização do curta her story como suporte pedagógico”, nele falo um pouco mais sobre esse livro aqui citado, caso você se interesse :)]
      Novamente, obrigada pelas considerações!

      Camilly Evelyn Oliveira Maciel.

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    3. Obrigada pela resposta, Camilly!

      Vou dar uma olhada nesse livro que você comentou e vou tentar ler o seu outro texto sim. Já tinha separado ele para ler. ^^

      Acho que a maneira como está no texto me levou a uma interpretação diferente realmente. Eu conhecia o uso do termo, mas não como sinônimo.

      Mais uma vez, muito obrigada pela resposta!

      Maria Clara Pessoa de Moraes.

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  2. Olá Camilly!

    Parabéns pela analise, interesse e necessária. Este tema é pesado mas, também, fundamental de ser apresentado e discutido em aula. Quando fui ministrar uma aula sobre essa temática senti receio aborda-la em sala, gostaria de saber como você aborda ou abordaria esse assunto em sala de aula. Afinal, não consigo falar de participação japonesa na 2° guerra mundial sem falar sobre as mulheres de conforto e nem vejo motivos para não falar.

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    1. CAMILLY EVELYN OLIVEIRA MACIEL3 de dezembro de 2024 às 19:39

      Olá, Heloísa! Obrigada!
      Esse tema realmente é pesado, porém necessário de ser apresentado em sala de aula, principalmente devido à crescente onda de militarismo e fascínio por conflitos no Brasil. O caso das “mulheres de conforto” pode ser utilizado para mostrar os horrores e as diversas formas de violências que acontecem em períodos de instabilidade e em guerras.

      Eu apresentei o tema em sala utilizando o curta-metragem her story como apoio pedagógico, já que esse curta de animação traz a história na voz de uma das vítimas, fazendo com que os alunos se sintam mais próximos e tocados pela história. Antes de passar o curta, questionei se eles já tinham ouvido falar sobre o caso delas e logo depois dei uma breve explicação, além de explicar o porquê é necessário falar sobre esse tema.

      Estou apresentando outro trabalho nesse simpósio, onde falo um pouco mais sobre como utilizei o curta como apoio pedagógico, esse texto também fala um pouco sobre a importância da história oral no ensino sobre o caso e traz um plano de aula desenvolvido para falar sobre esse tema! O trabalho está intitulado “uma história, muitas histórias: a importância da história oral no ensino do caso das “mulheres de conforto” e a utilização do curta her story como suporte pedagógico”, caso você tenha interesse em ler mais sobre :)

      (obs: não se esqueça de assinar seu nome para que o pessoal do evento contabilize como participação! :)


      Camilly Evelyn Oliveira Maciel.

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    2. Obrigada, Camilly!

      Vou ler seu outro texto :)

      Maria Heloisa Andrade Pinheiro

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  3. Olá Camilly,
    Parabéns pela análise! Já havia visto algumas abordagens a respeito das mulheres de conforto coreanas na mídia antes, sendo uma das mais recentes no episódio 13 do drama “Tomorrow” de 2023, mas nunca havia ouvido falar dessa animação. Fiquei bastante instigada pela sua análise a procurar o curta. A respeito da abordagem midiática das mulheres de conforto, há outras que lhe chamem atenção? Como você acha que seria adequado o uso dela para o fortalecimento da preservação dessa memória que tantas vezes há uma tentativa de apagamento?

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    1. CAMILLY EVELYN OLIVEIRA MACIEL6 de dezembro de 2024 às 21:05

      Olá, Karen! Obrigada! Além do ep do K-drama Tomorrow e do curta Her Story, conheço um outro curta chamado “The never ending story" (link: https://www.youtube.com/watch?v=SYxhBzXp8v8&t=4s). Infelizmente esse curta possui legendas apenas em inglês!
      Em relação à segunda pergunta: meu projeto de TCC foi voltado a utilização do curta her story como apoio pedagógico em sala de aula. Como fiz licenciatura em história, meu foco foi o ensinamento do caso delas para os alunos. Antes de passar o curta, expliquei um pouco sobre o caso das vítimas do sistema de conforto e a importância do estudo de casos como os dela, que pouco ouvimos falar e sugeri como textos complementares a HQ Grama e o romance Herdeiras do Mar, além do ep do dorama tomorrow!
      Att Camilly Evelyn Oliveira Maciel

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  4. Anna Luiza Sousa Tararam5 de dezembro de 2024 às 19:59

    Olá, Camilly! Gostaria de parabenizar pelo texto. Descobri sobre a existência das mulheres de conforto este ano, infelizmente. Sendo assim, gostaria da sua opinião sobre a espera de um pedido de desculpas do Japão, que ao meu ver, é muito pouco perto do que estas mulheres passaram. Digo isso pois mesmo se um pedido vier, não seria muito sincero dadas as circunstâncias em que esse assunto é tratado no Japão. Existiria talvez uma maneira melhor de demonstrar o arrependimento e pedir o perdão à essas vítimas?

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    1. CAMILLY EVELYN OLIVEIRA MACIEL6 de dezembro de 2024 às 21:23

      Olá, Anna! Obrigada!
      Anna, realmente, apenas um pedido de desculpas não é o suficiente!
      Por isso, para além do pedido de desculpas, as sobreviventes, familiares e os movimentos que apoiam a causa das “mulheres de conforto” também pedem um reconhecimento oficial dos crimes cometidos, bem como a divulgação completa dos fatos e indenizações justas como forma de reparação aos danos. Além disso, pedem para que o governo não minimize a história delas e que as escolas ensinem sobre o sistema de conforto e seus males.
      Acredito que somente ao seguir as exigências das vítimas, eles estarão mostrando que se importam de verdade com essa situação.

      Camilly Evelyn Oliveira Maciel

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