A MATERIALIDADE DA PRIMEIRA GUERRA
ROMANO-JUDAICA
Para este trabalho propomos um recorte de análise acerca da
Primeira Guerra Romano-Judaica, ocorrida entre os anos de 66 e 73 d.C. Marcada
por disputas internas e atos de resistência por parte de grupos judaicos, foi a
eclosão de um conflito ligado à insatisfação diante da dominação romana na
região da Judeia, então província romana desde o início do primeiro século.
Iniciada sob o governo de Nero, a revolta se destacou por sua longa duração, se
estendeu pelos governos de Galba, Oto, Vitélio e terminou sob Vespasiano,
através das legiões comandadas por seu filho Tito.
Vale ainda considerar que dispomos hoje de duas importantes
e consagradas narrativas sobre esta guerra: a Guerra dos Judeus de
Flávio Josefo e as
Histórias
de Tácito. A primeira
foi escrita em grego, em um período bem próximo ao fim da guerra, provavelmente
entre os anos de 75 e 79 d.C.; a segunda foi escrita em latim aproximadamente entre
os anos de 104 a 109 d.C., abarcando o período entre a guerra civil
de 69 d.C. e o fim do principado de Domiciano, em 96 d.C., estando o relato
sobre o conflito em questão presente no livro V.
Considerando adequado
diversificar as fontes e explorar outros discursos que pudessem contribuir para a reflexão, buscamos através da cultura material novos elementos
para observação. Mas em que
medida a cultura material pode oferecer informações diferentes dos documentos
literários? Como analisá-la à luz da discussão que propomos? Para além das
escritas sobre o conflito, os testemunhos arqueológicos apresentam
perspectivas e discursos que permitem reconhecer aspectos do tema que não
estavam contemplados no suporte, forma, linguagem e conteúdo pelos textos de
Flávio Josefo e Tácito.
Guerra,
identidade étnica e cultura material
Dentre os muitos vestígios do período,
é possível destacar pelo menos três grandes referências que possuem contato
direto com a Primeira Guerra Romano-Judaica e que representam parte dos
esforços empenhados. Em
primeiro lugar estão os vestígios do Templo e do muro que cercava sua
esplanada, o chamado Muro das
Lamentações [Figura 1]. Este é o local mais sagrado para os judeus
atualmente, onde oram e se lamentam pela destruição do Templo.
Fonte: Arquivo pessoal.
Após a vitória sobre a Judeia em um arrasar da cidade de
Jerusalém, sob o comando de Tito em abril do ano 70 d. C., é destruído o
Templo, que teve os seus pertences e objetos de culto saqueados e
posteriormente expostos na procissão de vitória em Roma [Josefo, Guerra dos judeus, VII, 130-162]. Tal
evento, que é descrito por Josefo em sua obra, se torna o marco da Primeira
Guerra Romano-Judaica, tanto nos anos que a seguiriam como no âmbito do próprio
entendimento do judaísmo atual, estabelecendo daquele dia em diante uma ruptura no proceder e na
configuração do judaísmo. Foi a partir deste momento que o judaísmo rabínico de
fato começou a se transformar naquele que, em tempos modernos, seria
identificado na religião.
No livro “A História do
judaísmo” [2020], Martin
Goodman, ao expor sua percepção sobre os muitos momentos vividos pelos judeus
ao longo da história, considera a destruição do Segundo Templo em Jerusalém um
acontecimento que define o período, sendo referencial na opção de recorte feita
no seu livro exatamente por perceber como este episódio, em suas palavras, “deu
início a um novo período no desenvolvimento do judaísmo que causou um efeito
profundo em todas as formas de judaísmo que sobrevivem hoje” [Goodman, 2020, p.
17]. De maneira geral, Goodman trata o judaísmo como preservador de uma
identidade distinta, o que influencia toda a história dos judeus, entendida nas
relações estabelecidas com Roma e no próprio fazer e perceber da guerra,
pontualmente aqui identificada nos conflitos da Primeira Guerra Romano-Judaica.
Em outro olhar, o
destaque no Lácio fica com o conhecido Arco
de Tito [Figuras 2 a 4], construído no período pós-guerra sob o governo
de Domiciano [80 d.C.], e que se localiza perto do Fórum Romano, aos pés do
Monte Palatino. Erguido como marco honorífico após a morte de Tito, como louvor
à sua liderança na vitória final da subjugação dos judeus. Esta dedicatória
pode ser vista na inscrição presente na parte frontal do arco [Figura 2]:
SENATVS
POPVLVSQVE·ROMANVS
DIVO·TITO·DIVI·VESPASIANI·F[ILIO]
VESPASIANO·AVGVSTO
"O Senado e o Povo
Romano [dedicam este arco] ao Divino Tito Vespasiano Augusto, filho do Divino
Vespasiano" [CIL, VI, 945].
Figura 2.
Visão geral do Arco de Tito, localizado na Via
Sacra, a sudeste do Fórum Romano. Fonte:
ThePhotografer, CC BY-SA 4.0
<https://creativecommons.org/licenses/by-sa/4.0>, via Wikimedia Commons. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/3/30/
Arch_of_Titus_%28Roma%29.jpg. Acessado em 20
de novembro de 2024.
É preciso ainda evidenciar
os relevos encontrados no interior do arco: de um lado a cena que retrata os
soldados romanos carregando os objetos sagrados do Templo, tomados como espólio
da conquista a exemplo da menorah e
da bacia de lavagem ritual [Figura 3]; e no lado oposto [Figura 4] o relevo que
apresenta a procissão imperial feita pela vitória no conflito em que são
representados, em posição de igualdade, o imperador Vespasiano, seu filho e
general responsável pela vitória, Tito, e a deusa Nike, que simboliza o êxito
militar [cf. Buonfiglio, 2017; Carvalho, 2009]. Assim, os pertences do Templo e
a derrota dos judeus comemorada no triunfo pelas ruas de Roma em 71 d.C., ainda
podem ser vistos representados no Arco de Tito.
Figura 3.
Relevo interno do Arco de Tito que mostra os espólios de guerra saqueados do
Templo de Jerusalém. Fonte: © José Luiz Bernardes
Ribeiro. Disponível em: https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/
4/41/Spoils_from_Jerusalem_-_Arch_of_Titus_-_Rome_2008.jpg. Acessado
em 20 de novembro de 2024.
Figura 4.
Relevo interno do Arco de Tito que mostra a procissão da vitória romana. Fonte:
https://www.almendron.com/artehistoria/arte/escultura/las-claves-de-la-escultura/el-relieve/.
Acessado em 20 de novembro de 2024.
Em adição a estes, um
documento que oferece um conjunto de informações importantes sobre as
identidades étnicas são as diversas moedas que, sob ambas as perspectivas da
guerra, apresentam o relato da disputa em representações fortemente marcadas
por questões identitárias. Em geral, temos então dois grupos de moedas: as
chamadas moedas da resistência, cunhadas pelos judeus ao longo dos conflitos [a
saber, a Primeira Guerra Romano-Judaica e a Segunda Guerra Romano-Judaica ocorrida
entre 132 e 135 d.C.], e as séries Judaea
Capta e Recepta, cunhadas pelas
autoridades romanas dos governos de Vespasiano, Tito e Domiciano [dinastia Flaviana],
em louvor à vitória de Roma.
No caso das moedas, seu uso nos contextos das guerras e
disputas políticas atua no reforço de posições sociais, bem como estabelecem
visões sobre o inimigo. Dessa forma, nos permitem uma compreensão mais acurada
das diferentes visões sobre as identidades em conflito e, sobretudo, dos usos
políticos da cultura no marco da manutenção das fronteiras étnicas. Cláudio
Umpierre Carlan [2013], aplicando a metodologia de análise de conteúdo proposta
por Harold Laswell, considera que o corpo de informações percorre o caminho que
vai dos interesses e motivações do emissor à interpretação por parte do
receptor [público alvo].
Em mesma medida é preciso entender que dentro do Judaísmo os
símbolos e imagens têm papel fundamental e definidor do próprio entendimento
étnico-identitário, tanto no campo religioso quanto cultural e social [Fine,
2005; Rocha, 2001]. Destarte, no caso específico dos judeus,
algumas moedas exibem preclara oposição aos romanos e/ou evocam símbolos partilhados pelos
judeus em sintonia à sua relação com o território em uma percepção
simultaneamente cultural e religiosa. Nas moedas da resistência a declaração de reconhecimento
público da própria identidade revela, através de símbolos importantes para o
viver e fazer do judaísmo, o desejo de redenção do povo. Nesse contexto, se destaca a representação da
tamareira, identificada como um símbolo chave em comum, que em função
eminentemente política se torna frequentemente utilizada como
representação identitária que por força de sua relação vincula o povo judeu e a Judeia [cf. Bittencourt, 2022].
Do ponto de vista metodológico, a investigação se concentra
nos símbolos que, associados ao suporte material, produzem uma mensagem
associada às fronteiras étnicas, quer seja em termos de resistência ou como um
marcador da memória e/ou identidade étnica. Assim, os símbolos atuam em suas
particularidades no amalgamar das ferramentas usadas, transmitindo a imagem que
pretendem reafirmar e que, pelo uso, se tornam conhecidos pelo expectador.
É fundamental entender que o
estudo da cultura material é de imprescindível importância nesse contexto. Não
obstante, o uso das moedas como fonte histórica possibilita a compreensão sobre
a atuação da moeda e o papel que o homem antigo atribuía a ela. Ao perceber
então as marcas nelas impressas, cabe considerar que: “a representação inclui
as práticas de significação e os sistemas simbólicos por meio dos quais os
significados são produzidos” [Woodward, 2012, p.
17]. As moedas são assim importantes
meios de difusão de ideias, e como os discursos literários, são a representação
de tempos através de mensagens. O Império Romano, por exemplo, tinha essa como
uma das suas estratégias de propaganda, já que sua constante exposição e
circulação funcionavam como o marcar e comunicar dos feitos alcançados,
fixando-os no imaginário coletivo.
Este suporte às mensagens não foi escolhido
por acaso, afinal, as moedas como objeto de uso cotidiano na sociedade possuíam
circulação ao longo do Império. Por meio de uma linguagem simbólica pode-se
perceber a transmissão de discursos políticos e mensagens cívicas. De mão em
mão, conseguiam penetração em diferentes classes sociais [ainda que a
quantidade de metal em algumas as tornassem inacessíveis aos menos abastados]. Através
da numismática, portanto, é possível resgatar traços culturais importantes que
não costumam constar na documentação literária.
Considerações finais
A fonte imagética ganha “importância não apenas ligada às
suas qualidades estéticas, mas à sua capacidade de representar os imaginários
sociais e de evidenciar as mentalidades coletivas” [Rocha, 2007, p. 119]. Pensando no contexto das narrativas aqui trabalhadas,
se observam identidades que por vezes se chocam com o “outro”,
principalmente quando pensado o acirramento gerado pela guerra que acaba por
destacar de maneira mais vívida as diferenças, sejam esses destaques frutos das
próprias discordâncias entre as partes ou instituídos como uma demarcação de
poder.
Assim, é na análise da
materialidade, ou melhor, dos vestígios arqueológicos do período, que
percebemos na construção e no olhar sobre o próprio espaço os processos de
significação e ressignificação do território da Judeia. A apropriação da
paisagem através da sacralização de construções e espaços pelos judeus, ou o
remodelar das cidades pela imposição da estética romana em edifícios públicos,
implementados ao longo do processo de dominação romana, nos fazem olhar as
estruturas, suas funcionalidades e usos. As fronteiras étnicas, neste sentido,
são percebidas e tensionadas na vida comum, cotidiana. Mais do que propriamente
uma pertença visceral, percebemos o lugar que nos modifica, sendo estas transformações
geradas “através da ‘prática do lugar’, da negociação das trajetórias que ali
se intersectam, sendo inerentes às relações da alteridade assimiladas ou não” [Teixeira-Bastos
e Funari, 2019, p. 100].
Decerto, a historiografia que se constrói na mobilização das
fontes [sejam elas literárias ou materiais], com base em teorias e métodos
vinculados aos problemas e inquietações de nosso tempo, tem o mérito de
permitir um generoso acúmulo e renovação de discussões sobre fatos tão antigos
como tradicionais. A guerra, as diferenças étnicas, as formas de resistência,
as relações dos sujeitos com seus territórios e os exercícios de poder não são
produtos da natureza, mas se fazem presentes o suficiente ao longo do tempo
para que possamos reconhecer a Antiguidade como um interlocutor necessário.
Desta maneira, os esforços atuais no campo de estudo das identidades estão
inseridos em debates para melhor análise e valoração dos grupos sociais.
Referências
Ana Beatriz Siqueira Bittencourt é doutoranda
do PPGHC-UFRJ com bolsa pela FAPERJ, e coordena o canal Cool História que é
voltado à divulgação científica das áreas de Pré-história e História Antiga [https://www.youtube.com/coolhistoria].
BITTENCOURT, Ana Beatriz Siqueira. Guerra e Identidade: O Judeu e o Romano nas
obras de Tácito e Flávio Josefo (séc. I d.C.). Dissertação (Mestrado) –
Instituto de História, Programa de Pós-Graduação em História da Universidade
Federal Fluminense, UFF, Niterói, 2022. Disponível em: https://www.academia.edu/98659345/
Guerra_e_Identidade_O_Judeu_e_o_Romano_nas_obras_de_T%C3%A1cito_e_Fl%C3%A1vio_Josefo_s%C3%A9c_I_d_C_
BUONFIGLIO, Marialetizia. L’Arco di Tito al Circo Massimo: dalle
indagini archeologiche alla ricostruzione virtuale. Bullettino della Commissione Archeologica
Comunale di Roma, CXVIII - n.s. XXV, pp.
163-187, 2017.
CARLAN, Cláudio Umpierre. Moeda e poder em Roma: um
mundo em transformação. São Paulo: Annablume, 2013.
CARVALHO, Vânia Maria Faria Floriano. As
Utilizações sociais da memória nos Arcos Triunfais de Tito, Septímio Severo e
Constantino. II Seminário de Pesquisa da Pós-Graduação em História da UFG/UCG,
2009.
CORPUS
INSCRIPTIONUM LATINARUM (CIL). VI,
945. Disponível em:
https://db.edcs.eu/epigr/epi_einzel.php?s_sprache=en&p_belegstelle=CIL+06%2C+00945&r_sortierung=Belegstelle.
Acessado em: 15 de maio de 2022.
FINE, Steven. Art &
Judaism in the Greco-Roman World: Toward a New Jewish Archaeology. Cambridge:
Cambridge University Press, 2005.
GOODMAN, Martin. A História
do Judaísmo: A saga de um povo: das suas origens aos tempos atuais. São Paulo: Planeta, 2020.
JOSEFO, Flávio. The Jewish War. Tradução do grego para o inglês de H.
ST. J. Thackeray. Cambride, Massachusetts e
Londres: Loeb Classical Library - Havard University Press, 1989.
ROCHA, Ivan Esperança. Imagem e narrativa no
judaísmo antigo. Clássica, v. 13/14, pp. 251-259, 2000/2001.
ROCHA, Ivan Esperança. Imagem no Judaísmo: Aspectos
do “Aniconismo” Identitário. História, v. 26, n. 1, pp. 119-124, 2007.
TEIXEIRA-BASTOS, Marcio e Pedro Paulo Abreu FUNARI.
A presença de Roma no oriente: Iudaea Capta e as tradições culturais da
palestina romana. Humanitas, v. 73,
pp. 81-104, 2019.
WOODWARD,
Kathryn. Identidade e diferença: Uma introdução teórica e conceitual. In: SILVA, Tomaz Tadeu da; HALL, Stuart e
WOODWARD, Kathryn (orgs.). Identidade e diferença: A perspectiva dos estudos
culturais. Rio de Janeiro: Vozes, 2012.
Parabéns Ana Beatriz pelo texto, gosto muito do seu trabalho também no canal Cool História!!!!!!
ResponderExcluirA Primeira Guerra Judaica tem aspectos materiais bem interessantes e, como você menciona no texto, ajudam a esclarecer melhor todo esse fato histórico. Assim, gostaria que você falasse também sobre a Fortaleza de Massada como parte desse legado material e como ainda hoje esse sítio ainda preservar muitos aspectos desee conflito (como as marcas dos acampamentos romanos e a rampa que os romanos construíram para alcançar os muros).
José Raimundo Neto.
Oi, José. Que legal! Fico feliz por já conhecer e acompanhar o canal. Obrigada! :)
ExcluirO sítio de Massada é realmente muito impressionante e uma ótima lembrança sobre a materialidade do conflito. Construída inicialmente pelo reis asmoneus, Massada era uma fortaleza encravada em uma montanha no deserto da Judeia. Tendo passado por inúmeras reformas durante o período de Herodes, foi mais tarde tomada pela Resistência Judaica que empreendeu adaptações na estrutura e construiu uma sinagoga.
A análise sobre o triste episódio vivido em Massada carece da consideração de suas especificidades meio a esta guerra. Depois da destruição de Jerusalém, este foi o último foco de resistência, com quase mil judeus, que sucumbiu em 73 d.C.
É verídico que a Primeira Guerra Judaica foi a revolta interna que mais deu trabalho ao governo romano (como josefo menciona no seu relato)?
ResponderExcluirJosé Raimundo Neto.
Obrigada pela pergunta!
ExcluirCom certeza a Primeira Guerra Romano-Judaica deu muito trabalho! Um dos destaques fica por conta de sua longa duração. Considerando o tratamento das revoltas por parte do Império Romano, o historiador Greg Woolf destaca que as tropas romanas de maneira geral conseguiam em poucos meses reestabelecer a ordem em suas províncias, entendendo que no caso judaico a guerra teria durado tanto tempo
devido à presença de fortificações que os cercavam. Vale destacar que tanto Josefo na "Guerra dos Judeus" quanto Tácito no Livro V de suas "Histórias" apontam para as muitas fortificações que, por exemplo, cercavam a cidade Jerusalém.
ANA BEATRIZ PARABÉNS PELO TEXTO. Nos sabemos que Roma tinha como objetivo a expansão do Império e com isso mostra seu poder pelo seu poderoso exército. Tenho pesquisado o império Romano e sua relação com o Cristianismo, com base as diversas pesquisas sobre o Jesus Histórico em que o Professor André Chevitarese tem produzido importantes trabalhos e que tenho seguido. Neste contexto qual seria sua opinião se após a queda de Jerusalém nos anos 70 por TITO, Ocorreu mudanças dentro do Movimento Judaicos e proto cristãos nesse período?
ResponderExcluirAtenciosamente
ELOIS ALEXANDRE DE PAULA
Olá, Elois. Muito obrigada!!!
ExcluirEu considero que a Primeira Guerra Romano-Judaica foi um marco importante. A destruição do Segundo Templo em Jerusalém, por exemplo, foi emblemática como um acontecimento que definiu o período e causou um efeito profundo no proceder de todas as formas de judaísmo, tanto nos anos que a seguiriam como no âmbito do próprio entendimento do judaísmo atual. Foi a partir deste momento que o judaísmo rabínico de fato começou a se transformar naquele que, em tempos modernos, seria identificado na religião.
Por fim, a insensibilidade romana com o judaísmo iniciada com as imposições territoriais e econômicas continuam no tratamento pós-conflito. Tendo assim a pensar que o excesso de visibilidade sobre a questão da Judeia, após os sangrentos fins do conflito acabou por alimentar e ampliar ainda mais os clamores por liberdade e redenção da terra. Para uma discussão mais aprofundada dessas questões recomendo dar uma olhada na minha dissertação citada nas referências bibliográficas do texto.
Qualquer coisa pode entrar em contato! De vez em quando eu comento sobre a minha pesquisa no canal do youtube e no instagram do Cool História, então é também um ponto de acesso ao que tenho desenvolvido na pesquisa. Vale conhecer rs :)
ANA BEATRIZ OBRIGADO. Certamente irei olhar seu trabalho e suas pesquisas. ATENCIOSAMENTE ELOIS ALEXANDRE DE PAULA
ExcluirOlá, Ana Bittencourt. Fico feliz por ver esse tema sendo tratado aqui no Simpósio. Acredito que a Guerra Judaico-Romana é um capítulo da história muito importante, todavia muito ignorado - capaz de explicar questões do desenvolvimento da religião judaico-cristã, do império romano, dos conflitos históricos no oriente, etc.
ResponderExcluirApreciei ainda mais você trazer as fontes alternativas às escritas. Senti falta das imagens das moedas. Tive de recorrer a recursos externos para encontrar. Aliás, não encontrei as moedas que foram cunhadas pela resistência judaica. Você poderia me indicar onde encontro mais sobre o assunto?
Finalmente, gostaria de perguntar se no desenvolvimento de suas pesquisas você pôde encontrar conflitos entre aquilo que as fontes escritas registraram e as demais fontes sugeriram. Se sim, qual seria o principal conflito que você encontrou?
Dean Tarik Silva Araújo
Oi, Dean Tarik. Obrigada pelos comentários e pela pergunta! Super concordo com você sobre a importância de estudarmos mais sobre o contexto das Guerras Judaicas.
ExcluirSobre as moedas, acabei não apresentando de forma mais detalhada porque compõem um grande corpus documental e a intenção aqui era uma texto mais objetivo sobre as possibilidades de estudo da materialidade. Adorei que tenha ido procurar mais informações! Então vai a recomendação: Na minha dissertação eu trabalhei com todas essas séries de moedas citadas (Judaea Capta e Recepta, e as moedas da Resistência Judaica) e lá você encontra tanto a imagem quanto a análise delas. Uma das análises que faço é da representação da tamareira em ambos os casos, identificando como uma representação identitária que é tratada de maneira distinta nas cunhagens romanas e judaicas. A referência está nas referências citadas mas você pode também acessar pelo link: https://www.academia.edu/98659345/
Guerra_e_Identidade_O_Judeu_e_o_Romano_nas_obras_de_T%C3%A1cito_e_Fl%C3%A1vio_Josefo_s%C3%A9c_I_d_C_ . Vale conferir! :)
Sobre esse conflito de informações, não vejo nada que de maneira significativa represente uma contestação. Ainda sim, é possível identificar algumas narrativas sobre o espaço e a geografia do lugar que são marcadamente exageradas quando confrontadas com os achados arqueológicos e os estudos sobre a região e o período. Vale citar ainda que os discursos empregados nas narrativas escritas apresentam sempre a visão daquele autor sobre o assunto, que em muitos momentos seleciona o que escreve e as informações que deseja perpetuar como memória a fim de corroborar sua ideia/defesa.
Olá, Ana Bittencourt! Parabéns pela pesquisa.
ResponderExcluirSou defensor de um maior uso da cultura material na historiografia, e seu trabalho me gerou boas reflexões. Irei compartilhar algumas aqui como perguntas.
De que forma a análise da cultura material, como as moedas, arcos e relevos, complementa ou até mesmo desafia as narrativas literárias de Flávio Josefo e Tácito sobre a Primeira Guerra Romano-Judaica? Seria possível identificar contradições ou tensões significativas entre os discursos textuais e as representações materiais desses eventos? Além disso, quais metodologias específicas você utiliza para interpretar a cultura material em sua análise, especialmente no que diz respeito a simbolismo e construção de identidade?
Obrigado!
Ricardo Russo Carvalho
Olá, Ricardo. Muito obrigada! Fico feliz que tenha curtido a leitura, e agradeço pela pergunta!
ExcluirEm resumo, acredito que a junção das narrativas com os vestígios materiais relacionados ao contexto do conflito nos fornecem um panorama mais geral e completo sobre as múltiplas disputas de poder e discursos em ação no âmbito da Primeira Guerra Romano-Judaica. Neste caso específico não consigo identificar contradições significativas; pelo contrário, a multiplicidades de documentações, sejam elas escritas ou materiais, enriquecem ainda mais a percepção sobre as disputas identitárias em voga.
Sobre as metodologias de análise, para pensar identidade a partir da noção de fronteira étnica utilizei o Fredrik Barth (2011), em conceitos como lugar antropológico me referencio em Marc Augé (1994), e para as moedas uma das utilizações , por exemplo, foi a análise de conteúdo proposta por Harold Laswell.
Este comentário foi removido pelo autor.
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